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Cruz e Criança: A imagem instrutiva do Oeste em 14 estações de Nazaré para Gaza.
Cruz e Criança: A imagem instrutiva do Oeste em 14 estações de Nazaré para Gaza.
Cruz e Criança: A imagem instrutiva do Oeste em 14 estações de Nazaré para Gaza.
E-book765 páginas10 horas

Cruz e Criança: A imagem instrutiva do Oeste em 14 estações de Nazaré para Gaza.

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Sobre este e-book

O livro põe crianças no centro, escutando como elas percebem o homem na cruz. Três capítulos iniciais traçam a vida e morte deste Jesus bar Abbas de acordo com fontes altamente respeitadas, do ventre materno até a morte na cruz dos rebeldes.
Como a imagem da tortura letal do rabino tornou-se o ícone obsessivo do ocidente e até hoje funciona "automatica e pre-conscientemente" (Melvin Lerner) como fonte para aprender ódio aos judeus explica-se graças à sensibilidade de psicólogos como Søren Kierkegaard, Jean Piaget e Helena Antipoff, ilustrada em 74 imagens.
O retorno de detalhes da Paixão na visão cristã dos judeus, a reencenação daqueles detalhes apavorantes em mil anos de "punição justa", a origem do racismo na Inquisição, o tabu da cruz nos países envolvidos no holocausto, o complexo de cruz e sionismo são examinados antes do julgamento kafkiano da Corte de Estrasburgo. Contudo, a obsessão humana com sacrifício merece esclarecimento neste Cordeiro na Cruz cujas pernas pregadas modelaram o uso dos animais no Oeste mais do que o nazareno que na sua última ação lutou exatamente contra sacrifícios dos animais. O exame final "Por que Joana lhe deu o bolo de baunilha" intende sensibilizar a leitora mais uma vez a respeito do assunto de cruz e criança, bem de acordo com o galileu que "chamando um menino, o pôs no meio deles ... "
IdiomaPortuguês
Data de lançamento20 de nov. de 2018
ISBN9783748187141
Cruz e Criança: A imagem instrutiva do Oeste em 14 estações de Nazaré para Gaza.
Autor

Konrad Yona Riggenmann

Konrad Yona Riggenmann chegou em 1952 neste planeta, começou plantando árvores já em 1960 e aprendendo o português em 1968. Com pesquisa sobre Bertolt Brecht tornou-se professor em 1978, publicou uma dúzia das suas peças para teatro escolar, foi premiado no ano 1994 por seu drama New Heimat sobre emigrantes suábios e judeus aos EUA, pós-graduado em 2001 com Escola Nova, Escola Ativa sobre o sistema escolar brasileiro, honrado em 2002 com o prêmio Ossip-Kurt-Flechtheim da União Humanista para sua coragem civil a respeito da cruz obrigatória (e anti-constitucional) nas salas de aula bávaras, assunto que o freiou por muito tempo no outro tema da vida dele, a écologia. Desde 2011 ele vive veg-orgânico no país que seus ancestrais marranos portuguêses, na era quente das fogueiras, chamavam a Terra Prometida ...

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    Cruz e Criança - Konrad Yona Riggenmann

    Em memória

    Elisabeth Riggenmann, née Ritter (1922-2015),

    que como professora aposentada de ensino católico encorajou seu filho a posicionar-se contra cruzes obrigatórias nas salas de aula.

    Johann Riggenmann (1920-2004),

    que em 1937 pintou a Madonna com menino Jesus, dando aos dois, em vez do cabelo loiro e liso da raça superior, o cabelo preto cacheado do mascate Jakob Koschland, amigo judeu do meu avô.

    Jakob Koschland (*1896) e Emma Koschland, née Maier (*1901), com os seus filhos Peppi Lore (*1931) e Justin Koschland (*1934), todos deportados para Polônia na quarta-feira antes da Sexta-Feira Santa, dia 1 de abril, 1942.

    Auschwitz, em maio de 1944: Edith (22 anos), a babá cristã da família de Jolan Wollstein, indo aos chuveiros junto com Jolan e os quatro filhos dela, Dori (11 anos), Judith (5 ou 6), Erwin (8) e a caçula Naomi (2 anos) no colo.

    Sumário

    Prefácio: Buscando chave

    Mamãe, o homem tá com Ai

    Nasceu da vítima Maria

    Mateus: As bisavós do Jesús

    Lucas: Subindo da humildade

    Marcos: Jesús bar Miriam

    João: Mas tu és!

    Toledot Yeshu: Bastardo ousado, expulso da escola

    Maria moça, José ancião

    Palavras expressivas do filho intruso

    Padeceu sob Pôncio

    Oquebrador

    O abolidor

    Este trabalho consciente rumo à morte

    No Monte das Oliveiras: Duas espadas contra uma legião

    Sacrificado o oponente de sacrifícios?

    Preso e cindido: Jesus Bar Abbas

    Santo Pilatos

    Crucificado, morto, resistido

    Revisado por Paulo

    Saulo, por que me persegues?

    Poder de Estado é divino

    Ideias familiares

    Lavar é bobagem

    E fica pendurado no jardim de infância

    Olhos jovens, perguntas infantis

    Progresso na arte e no ódio

    Aprendendo cedo

    Amor paterno

    Um Pai Nosso do genocídio?

    Filhos obcecados

    Seu filho saco de lixo

    Todos os criadores são duros

    Terror paterno

    O Terceiro Homem

    Papéis de caráter

    Traidores

    Endinheirados

    Conspiradores

    Envenenadores

    Crusádicos

    Astutos

    Desmancha-prazeres

    Eleitos

    Reencenando

    Curar repetindo?

    A cruz no palco

    Pregando de novo: De Norwich, 1144 ... a Bavária, 1948

    Entre dois salteadores

    Sem sangue na Espanha: Autos da Fé

    Tão nus

    A cruz é o nervo

    Odoutor seletor

    As professoras seletoras

    A redatora protetora

    Cruzionistas

    Gólgota – Europa, ida e volta

    A criança, a chave

    Ódio cristão e muçulmano: diferênça crucial

    A solução confinada da questão judaica

    O Cordeiro na Cruz

    A mania judaica de direitos animais

    Abate sacro, fica calma nossa alma

    Os torturadores conhecidos

    Cuidem-se da compaixão!

    A sedução terrível para bondade

    A Paixão de Estrasburgo

    O romano viril

    O representante de Jesus

    O judeu pronto socorro

    A multidão clamante

    Os juízes honestos

    EXAME: Porque Joana lhe deu o bolo de baunilha

    Agradecimentos

    Bibliografia

    Imagens e fontes

    Prefácio: Buscando chave

    Boa noite, meu vizinho. Vi você buscando algo no chão e pensei que talvez pudesse ajudar. O que é que tá buscando?A minha chave da casaE sabe por certo que a perdeu aqui sob a lanterna?Não, perdí-a no quintal. Mas aqui a luz é bem melhor.

    Aquele crucifixo inocente? Que chorão iria preocupar-se disso? Deixa pra lá e pronto, esqueça e tudo beleza, não é?

    É sim. É bem assim que tudo funciona. A gente tenta esqueçer a cruz que apresenta o jeito mais cruel de execução jamais invento, e justamente porque a impressão fica trabalhando na alma inconscientemente, um resultado dessa permanência ativa tinha que ser os seis milhões de crucifixões, como um papa honesto e salvador de milhares chamou o fato sem retoque.

    Em qualquer área, pesquisa séria deveria examinar as evidências e concluir delas a explicação mais simples. Ver o crucifixo como a chave e a imagem instrutiva para aprender o ódio aos judeus não é um conceito novo de modo algum. Søren Kierkegaard, no livro dele titulado Prática do Cristianísmo, já em 1850 explicou como a criança aprende esse ódio diante do crucifixo. Em 1935, Richard von Coudenhove-Kalergi repetia essa noção em forma só mais resumida. A grande transformação em realidade começou três anos mais tarde num pogrom cujos horrores foram contadas em muitos idiomas e cujas raízes infantís omitidas em todas.

    Partindo dum menino traumatizado em Nazaré, este livro questiona a imagem cruel da morte dele como uma intrusão estranha à visão do mundo que a criança desenvolve na sua formação, e apresenta uma lição geral sobre o poder de imagens visuais e mecanismos mentais sutis ignorados, minimizados, subestimados por muitos, descuidadamente demais até depois do holocausto. Sempre escutando essas crianças conhecidas por dizerem a verdade como os bebados, os quatorze capítulos defendem as seguintes sete teses:

    A crucificação sendo o método de execução mais desumano já praticado pela espécie humana, o crucifixo é o símbolo mais cruel e mentalmente mais traumatizante jamais inventado pelo ser humano, mostrando o pior ato do qual o ser humano é capaz: matar o próximo por tortura.

    Crianças, sendo os seres humanos mais vulneráveis, olhando para e pensando sobre o simbolo que tanto suscita a compaixão, aprendem ira justa aos torturadores cruéis do bom Jesús.

    Todos os estereótipos anti-judaicos efetivos na história crescem dos textos da Paixão em sinergia com a imagem da crucificação.

    Na persecução dos judeus, os cristãos adultos realizaram punição justa dos alegados torturadores de Jesús, reencenando o crime judaico na tentativa inútil de libertar-se dos impactos doloridos e permanentes dos seus encontros infantis com o crucifixo.

    O antissionismo islâmico, como resistência a um projeto principalmente cristão-europeu, usa o imaginário cristão mas é basicamente incomparável – um fato esperançoso – com o anti-judaísmo ocidental fixado na cruz.

    Enquanto a tortura do Cordeiro de Deus na cruz fica também na base do estereótipo dos judeus cruéis até aos animais, a inexistência de direitos do animal coisificado na cultura ocidental é baseada largamente (1) na reificação do sofrimento na escultura da vítima crucificada, (2) na função do Cordeiro de Deus como desculpador da violência humana aos animais e (3) na ausência de versos pro-animais no Novo Testamento – tudo isso em forte contradição ao vegetariano Jesús que em sua última ação atacou o sacrifício de animais.

    A renúncia a crucifixos não somente vai fazer este planeta um lugar mais humano, mas também aproximará os cristãos deste rabino e rebelde Jesús bar Miriam bar Abbas, que colocou a criança no centro.

    Alguem que quisesse contestar a primeira tese deveria responder à pergunta onde neste mundo e em qual ponto da história existia um símbolo mais terrível, mais cruel, mais desumano. As teses B a G formam o assunto principal deste livro que tem forte ligação com minha biografía. Escrevi com a paixão dum educador que durante três décadas costumava começar ponderações didáticas com a questão: Como as crianças o perceberão? Por isso, e bem naturalmente, o jeito infantil de ver o crucifixo inicía o livro no capítulo 1: Mamãe, o homem tá com ai.

    Revistar a vida deste homem é precondição da deconstrução do símbolo do qual ele faz parte – um desenho simbólico humano que desenvolveu dinâmica própria desde o inicio. Voltando para o inicio da vida dele, o livro empatiza em profundidade biográfica e simpatiza de base estritamente humana com o homem cuja morte cruel o símbolo lembra. Os quatro capítulos seguintes focalizam nele e no seu sofrimento.

    Capítulo 2, Nasceu da vítima Maria, deduz de fontes altamente aprovados que Jesús, na mãe dele, provavelmente foi vítima de soldados romanos desde o inicio, antes que ...

    Capítulo 3, Padeceu sob Pôncio descreve como no fim ele de novo tornou-se vítima do militar romano. Procurando o Jesús autêntico e Filho do Homem terrestre, este livro passa todas as palavras dele pela peneira fina aplicada por Gerd Lüdemann no seu livro Jesús depois de 2000 Anos, marcando em negrito todos os trechos considerados genuínos pelo teólogo alemão, por exemplo a frase O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado (Marcos 2:27) que Lüdemann aprecia como típica do pensamento judaico humano do Nazareno.

    Capítulo 4, Crucificado, morto, resistido, sobre a prâtica crassa de cravar na cruz seres humanos, é necessário para realizar o que as crianças deste mundo, com os seus olhos sensíveis e almas não endurecidas, sofrem por imagens mostrando quanto sofreu o menino do presépio.

    Como é que essa expressão de sadísmo foi transformada num símbolo de salvação?

    Capítulo 5, Revisado por Paulo analiza as distorções introduzidas por este apóstolo romano que nunca viu a Jesus senão em visões que tinham efeito religio-político profundo e sempre bem querido pelos poderosos deste mundo.

    Capítulo 6, E fica pendurado no jardim de infância, investiga o que as palavras cruzadas emanando da imagem causam nas mentes e nos corações de crianças, e portanto é o coração pedagógico do livro, aptamente seguido e aprofundado pelo ...

    Capítulo 7, Amor paterno enfocando o relacionamento da criança com a pessoa masculina mais importante da vida jovem dela, ilustrando-o nas ligações traumáticas de muitos filhos alemães com pais duros, traumas que resultaram em ódio posterior ao povo do pai barbudo e testamento antigo.

    Capítulo 8, Papéis de Caráter illustra como a apresentação plástica e dramática da execução icônica foi o ponto de partida para todos os estereótipos anti-judaicos estabelecidos, antes que ...

    Capítulo 9, Eleitos mostra como o racismo secular moderno originou da limpieza de sangre inquisitorial alvejando o povo expiatório eleito.

    Capítulo 10 é intitulado Reencenações desde que assiste aos remakes sangrentas nos quais os adultos europeus tentaram atuar as impressões infantis, partindo da primeira crucificação de criança atribuída ao povo de Herodes e terminando com a reencenação da décima estação da Via Crucis Jesus é despojado de suas vestes com homens, mulheres, crianças judias tão nus como o rabino crucificado.

    Capítulo 11, sob a manchete alemã A cruz é o nervo detecta sob a superfície de political correctness o anti-judaísmo bem hibernado da Alemanha pós-guerra, revigorado não só por um anti-semitismo secundário que nunca vai perdoar aos judeus este holocausto, mas principalmente pelo tabu das raízes religiosas dele; tabu que fez um jornal muniquense antes falsificar um relato de atriz judia sobre o que ela sofreu na sala de aula muniquense do que mencionar a causa religiosa deste mobbing.

    Capítulo 12 (Cruzionistas) tenta provar as quatro teses seguintes:

    - O anti-judaísmo do Oriente Médio é geralmente um artigo importado da Europa em quatro linhas de produto;

    - As notícias que Europa importa da Terra Santa correspondem às imagens chaves do continente;

    - O antissionismo islâmico usa imagens cristãs, mas difere crucialmente (nota de esperança) do antissemitismo do ocidente cristão;

    - Sionismo é principalmente um projeto europeu e prejudica o judaísmo. Capítulo 13, O Cordeiro na Cruz começa no lugar dos animais na tradição judaica que até hoje fica sendo considerada cruel aos animais; e termina no lugar deles na cultura do Oeste informada profundamente pelo abate salvífico do Cordeiro Santo e a coisificação dele em madeira impassível.

    Capítulo 14 apresenta um Teatro da Paixão de Cristo bem moderno: Uma performance kafkiana na Suprema Corte da Europa, legalizando crucifixos obrigatórios em todas as escolas do continente dos pogroms.

    Enfim, o Exame: Por que Joana lhe deu o bolo de baunilha e outras perguntas fáceis demais resuma o livro em questões facílimas para teólogos fracassando nelas, voltando às personagens primeiros e principais do livro: crianças.

    Antes da solução final tentada, o historiador alemão Theodor Mommsen classificou o antissemitísmo como epidemía horrível, como a coléra - não se pode explicá-la nem curá-la: Após da Shoah, a sobrevivente Esther Jungreis opinou que nós mortais não temos jeito para compreender por que, desde que só na retrospectiva – talvez nem no praço de uma vida - a gente pode ganhar uma centelha de compreensão.¹

    Eu duvido dessa incapacidade nossa com o mesmo argumento usado por Yehuda Bauer: Se a Shoah foi cometida por seres humanos, seres humanos podem descobrir o porquê. E como John Weiss, eu enfatizo quão opressivo seria o não entender: Incompreensível significa inevitável.² O fato que mil anos atrás se pôde ignorar que um símbolo acusador e de suma crueldade iria resultar em crueldade é difícil entender; o fato que resultou é fácil conceber. Violência fique longe das coisas postulou o grande educador Jan Amos Comenius 300 anos antes, pedindo que ela fique longe de criança. Hoje todos nós sabemos quão decisivas são as experiências, aprendizagens e imagens imprimidas na primeira infância. Não se precisa ser desenhador de mídia para saber quão gravemente imagens impactam na psique. O que eu faço neste livro é visualizar a vulnerabilidade infantil junto com o poder visual e a evidência milenar, para enfim chegar a conclusões que em favor da sociedade humana não se devem ignorar. A tarefa crucial em estudo histórico e psicológico é sempre expor as raízes, disse Yerushalmi, acrescentando: A verdade frequentemente é inverossímil.³ O crucifixo como causa de sei miglione crocifissione, na frase franca e revelador do Papa João XXIII, parece inverossímil só para aqueles que subestimam o poder de imagens na infância.

    Aqueles que evitam livros sobre o holocausto porque o assunto os machuca estão certos neste sentimento, mas o crucifixo machuca cada dia. Aqueles que opinam que se deve acabar lembrando Auschwitz e essas coisas, deveriam questionar o símbolo que não para de lembrar um crime bárbaro, cometido dois milênios atrás e que na base de falsas acusações levou a barbaridades indescritíveis. Aqueles que denunciam uma indústria de holocausto deveriam olhar para a indústria de crucifixos que fornece escolas públicas e jardins de infância na Europa.

    Em lugar nenhum deste livro eu peço a leitora confiar nas minhas teses, nem na asserção seguinte: Este livro é profundamente religioso – visto que o termo latino religio não se deriva de religare, ligar para trás (religação não é religião), mas de relegere, ler de novo, considerar, ficar atento. Meu velho dicionário latino defina religio pelas noções principais de escrúpulos, dúvidas, preocupação e ilustra o sentido com a locução religioni mihi est, significando que algo para mim é questão de consciência. Alertar os transeuntes respeito a perigos no espaço público – por exemplo um buraco na calçada – faz parte dos deveres sociais. Como pudesse eu, educador que pesquisou os perigos profundos desta imagem por mais de duas decadas, responder por não escrever este livro?

    Mas sim você falou que sofre de não poder ajudar o Jesus descer da cruz o diretor da minha escola revelou triunfante, diante de quarenta colegas. Bem, admito, é verdade. Eu sempre foi o que na cultura dura alemã se chama um sensibelchen. Tal como o sobrevivente Frank Andermann que depois de Auschwitz prometeu ao seu Jesus: Um dia vou soltar você da cruz. Vou ajudar você descer da cruz infame.⁴ Ajudar assim como estes marranos que por gerações cantaram a saéta Quien me presta una calera? pedindo que alguém lhes prestar uma escada, sabendo bem que com Jesús descido da cruz baixasse o ódio aos judeus. É por isso que com certo prazer me empenhei em traduzir o meu livro das versões alemã e inglesa ao português brasileiro, idioma duma população que na maioria descende de ancestrais fugidos do Santo Ofício que deixou aos condenados a escolha de beijar o crucifixo, ou emigrar, ou queimar vivo.

    A saéta Quien me presta ... não prestou, nem valeram as simpatias fortes de Andermann e Riggenmann para tirar os pregos nos quais o Nazareno tem que ficar. Porém, o leitor vai perceber que até bons cristãos já estão buscando alicate, em boa sintonia com o insight de Irving Greenberg que a religião mais capaz de corrigir si mesma vai provar-se a mais verdadeira.⁵ A mais bem-sucedida, porém, é a religião da cruz, e cruciformes eram na época as asas grandes dos moinhos na terra do cripto-judeu Cervantes, e tanto mais eu espero que os leitores vão apreciar se nesta cavalgada quixotesca de 14 estações às vezes o vento traz piada judaica. Lembrem, por exemplo, o costureiro judeu que encontra o freguês libre-pensador meio descontente quando entrega a calça feita sob medida só no decimo dia em vez da uma semana combinada: Olha, não é que o seu Deus criou um mundo inteiro numa só semana? - Verdade, seu senhor, porém: Olhe pra este mundo, e olhe para essa calça.


    1 Quanto a Mommsen: Pulzer, Peter G.: The Rise of Political Anti-Semitism in Germany and Austria. New York 1969, p.299 (em Perry/Schweitzer, p.107); Jungreis: 2006, p. 243.

    2 Weiss 1997, Prefácio, p.ix.

    3 Yerushalmi, p.17.

    4 Andermann, p.43.

    5 Greenberg 2004, p. 145.

    I Mamãe, o homem tá com ai

    Num parquinho duma cidade alemã, nos anos 1920.

    "Minha mamãe disse que não posso brincar com você, Sarah.

    Por que não?

    Mamãe diz que vocês judeus mataram o bom Jesus.

    Sarah deixa cair a forma de bolo cheia de areia e corre pra casa, indignada. Voltando dez minutos mais tarde, declara:

    Olha, Fritzi. Eu não o fiz, mamãe não o fez também, nem papai nem minha tiazinha Betty. Com certeza, quem fez é os Goldstein do segundo andar.

    Enquanto é a loucura de adultos e grandes homens da história mundial do que trata este livro, os pivôs dele são as crianças, da Sarah com a forma de bola até a Joana com o bolo de baunilha; o discurso focaliza na questão como elas concebem a imagem, o que aprendem nela e como o maltrato deste homem molda a alma delas.

    Foi exatamente isso o que eu me perguntei quando no fim das férias de verão de 1993 eu preparei minha sala de aula para os meus novos alunos da terceira série: cantinho de leitura com sofá, estantes de madeira feitos a mão, quadros coloridos. Na parede lateral, sobre a porta, pendurava a cruz obrigatória, vigas escuras com corpus talhado e sangue de tinta. Peguei cadeira de aluno, sentei bem na frente da escultura e me perguntei: Que é que este símbolo tá dando aos meus alunos? – Certamente nada positivo foi minha conclusão após longa consideração. Tirei o símbolo da morte, voltei pra casa, colei em painel de pinho um cartaz bonito da Misereor (ONG católica para solidariedade mundial): duas mãos, branca e preta, compartilhando pão diante do planeta azul. Isso, eu pensei, pudesse visualizar a ética cristã humana mais adequadamente do que a representação de uma execução.

    Errei muito. Num dia da primavera seguinte, um aluno em nome da turma se dirigiu a mim sobre: que tal pendurar um crucifixo? Porém, me diga por que eu respondi perplexo.Porque o Jesús pode nos ajudar em prova de matemática foi a única resposta deles meio não teológica. Sentamo-nos num círculo, escutando um aos outros, e só agora reconheci o professor de religião católica, o pároco do município, atrás do pedido da turma. Atônito pelas razões sérias e claramente inculcadas, eu não queria prevalecer por anos de estudo nem infringir o meu dever de neutralidade religiosa. Vamos votar. Uma maioria grande, um dissidente firme, um não me importo turco alevita, uma menina francesa cujos pais me contaram bem mais tarde quão estranhos sentiram quando não obstante deixaram a filha votar com a maioria previsível. Tirei as mãos compartilhando pão e pendurei as mãos pregadas no pau. E como o Jesus de madeira durante a sua estada no armário tinha perdido a mão direita, contei para a turma sobre um crucifixo que perdeu as duas mãos num ataque aéreo e após a guerra ficou acompanhado por uma placa dizendo Não tenho mãos senão as tuas. Contudo, a intervenção do pároco via votação bem preparada me deixou chocado. Duas questões não abriram mão de mim: Como as crianças percebem o homem na cruz? E por que os adultos o valorizam tanto? Só agora percebi que de fato uma norma da escola pública bávara requeria crucifixo em cada sala de aula: infringimento claro da constituição alemã, mas tolerável na minha opinião pelo menos visto que os nazistas, foi-nos dito, tentaram remover os crucifixos das escolas.

    Dois anos mais tarde eu vi a palavra Kruzifix à luz do sol radiante, nas manchetes de meia dúzia de jornais alemães. Por coincidência estranha, o banco de jornais ficou exatamente dentro do antigo gueto judaico de Praga. Os jornais relataram um julgamento da Corte Constitucional da Alemanha, decidindo em favor da família bávara Seler: A colocação obrigatória de cruz ou crucifixo nas salas de aula de escola pública obrigatória (não sendo escola confessional) infringe o artigo 4 da Lei Básica Alemã.

    Puxa! O Estado de direitos alemão, pensava eu, tá funcionando ainda! Peguei o próximo trem para dar suporte ao julgamento da Suprema Corte que já estava sendo atacado exacerbadamente. A mais curta das minhas cartas para editor tinha apenas três frases: Quando os nazistas queriam remover as cruzes das salas de aula, um temporal de revolta despertou no povo bávaro. As cruzes ficaram. Afastados foram os alunos judeus.

    Em dezembro de 1995 a maioria cristã-conservadora na câmara de deputados bávara passou uma nova lei que esclarece tudo já na primeira sentença: Em cada sala de aula uma cruz é colocada. De verdade, a lei admite exceções em caso de objeções sérias. Eu pedi, com 22 páginas de objeções sérias, para remoção do crucifixo na minha sala de aula. O ministério de educação respondeu de carta circular constatando que, contrário aos pais, os professores não podem contestar contra a cruz. Espertos, os juristas do governo me avisaram: Pode processar, sem dúvida. Pois quem iria processar contra o santo símbolo, na Bavária?

    Não tem melhor passatempo? Isso foi a última pergunta do juíz presidente no tribunal administrativo de Augsburgo, após ter rejeitado minha queixa para soltar o Jesus torturado, embora a júri explicitamente reconheceu minhas razões credíveis e convincentes. Guiei meus alunos adolescentes aos exames finais no verão de 1998, tomei um ano de licença não remunerada para formação, fiz mestrado em pedagogia; e quando a corte ainda adiou o julgamento, eu continuei no doutorado, com tese de 479 páginas sobre a influência de John Dewey na escola brasileira. E como a corte ainda não tinha tempo para o caso meu, achei editora para meu livro de 448 páginas com o titulo Kruzifix und Holocaust.

    Em dezembro de 2001 enfim, quando a ministra, filha do ex-governador e manda-chuva bávaro Franz-Josef Strauss, não tinha conseguido jogarme fora do processo nem por esfomear-me paciente nem por relocar-me deliberadamente, venci na segunda instância numa corte no centro de Munique. Igreja Fica Enfurecida proclamou a manchete do tablóide BILD, e Der Mann muss raus, raus, raus! (Fora, fora, fora este cara!) o secretário geral do partido União Cristão Social (CSU) ralhou na TV, declarando-me professor inapto. Quase diariamente o carteiro entregou mais uma ameaça de morte, medida apta para corrigir o julgamento ultrajante dos juízes que, a título excepcional, tinham concedido ao caso singular atípico o direito de dar aula sem cruz acima. O que me rendeu atípico foi minha fé cristã intensa, os juízes explicaram. Quando protestei contra essa distorção que me pôs ao lado daqueles anônimos ferozes, o juíz presidente Thomas respondeu que não há espaço para alterações, mas talvez eu pudesse achar consolo no fato que o tribunal também recebeu cartas contendo insultos parecidos. Seja como for, além das afrontas e ameaças que recebi no telefone, por correio ou andando de bicicleta, ganhei também apoio forte por cristãos corajosos.

    Por exemplo a avó muniquense Lisa Wanninger que relatou numa carta:

    Só quando, uns 15 anos atrás, meu netinho de três anos olhando para um crucifixo na beira da rua me perguntou: 'Avó, o homem não tem dó?' eu percebi qual símbolo bárbaro eu tinha admirado nos estilos gótico, barroco et cetera. E o que este símbolo causa nas almas tenras de crianças. Agradeço muito o seu comprometimento e sua teimosia contra este sinal desumano. Obviamente, a avozinha Lisa entendeu como uma criança tenta conceber o sinal internamente: Que isso – um homem – tá nu mas tem jeito de cueca – mãos acima, pegam viga – mas posso ver todos os dedinhos e nem cai – por que? – deixa eu ver ... Upa! – Avozinha ...

    Ou, por exemplo, o pároco Ludwig Dallmeier, nem o único clérigo que simpatizava comigo. Ele tinha tirado o crucifixo grande e escuro do jardim de infância da sua paroquia já antes do escândalo desencadeado pelo julgamento de Munique, e após dele ele ousava ir a público. Crucificado Inapto Para Crianças o tablóide muniquense TZ o citou na manchete.É a apresentação brutal de um homem maltratado o padre explicou aos leitores e apontou ao momento chave quatro anos antes, quando uma das educadoras do jardim contou que os pequenos tem medo do crucificado. A confissão audaz do pároco teve grande repercussão; ele pediu para minha argumentação jurídica e respondeu que durante a leitura as escamas caíram dos meus olhos ... Sim, quando criança (nasci em 1940) eu vi os judeus como assassinos do Filho de Deus! ... Por décadas eu não lembrei estes sentimentos da minha infância, também não posso lembrar as minhas aulas de religião na escola, mas este desdém meu aos judeus agora de repente voltou ao presente como tivesse acontecido ontem! O pároco anexou cartas de apoio que ele tinha recebido, respondendo a uma carta dele ao editor que o Jornal de Dingolfing tinha publicado sob a manchete Tem que ser um crucifixo absoluto? Aqui um supervisor de escola chama a coragem do pároco um sinal de esperança, lá um diretor de escola lhe garanta o apoio do pessoal completo, enquanto um professor de religião consente cem por cento com a opinião dele: Tem que ter mais vida nisso! E uma católica fiel contou ao pároco: Sendo uma das mães acompanhadoras, eu estive perto quando durante o ensaio da celebração para ação de graças uma menina grega do jardim de infância sofreu um choque quando viu o crucificado pela primeira vez! A menina só chorou e chorou e ninguém conseguia acalmá-la, ela tinha entrado em pânico mesmo! ... Porque nas igrejas se ora a um morto? ... As suas palavras no artigo, dizendo que é a brutal apresentação de um homem maltratado, eu enfatizo plena e profundamente!

    A menina grega é caso para terapeuta? Crucifixo, criança, medo – com esta combinação de palavras chave, google apresentou as seguintes perguntas infantis, relatadas por pais despreparados; perguntas de pequeninhos que chegaram neste mundo só dois ou três anos antes:

    "Olá mamães, minha filha (dois anos e meio) tá no jardim de infância desde setembro. Como tinha mãe-de-dia antes, já era acostumada a ser cuidada por mulher estranha. Porém, desde que vai pra jardim da infância ela diz todas as manhãs que tem medo do crucifixo grande no jardim. O 'homem de pregos' a assusta. Entrementes nem sei mais se deveria reagir e sobretudo o que falar. Eles certamente não vão removê-lo por causa dela. Todos os meus apaziguamentos e explicações só acabam agravando o problema. Devo comentar que a cruz no jardim é realmente coisa feia monstruosa tamanho dois metros e pendurada exatamente na altura dos olhos dos pequenos (aliás com figura real de Cristo). Na idade de criança pequena eu provavelmente também tivesse medo do objeto. Alguém me pode dar conselho como lidar com minha filha? Cujo filho tem medo da cruz também? (huxe 91, on netmoms.de).

    Nota: Se uma criança de dois anos e meio fica assustada fortemente pelas pregos nas mãos de Jesus, devemos supor que ela já observou adulto martelando prego na madeira. Esse trabalho manual – uma das primeiras tarefas adultas que os pequenos tentam fazer mesmo – para eles representa quase o arquétipo de fazer e força física: Batendo o martelo de som e tom ruidoso, forçando o prego penetrar na madeira de cor de pele. E caso o martelo falha e bate o seu dedo, dói muito, ai mamãe! "

    "Olá, e uma boa tarde de sábado para todos. De qualquer modo a gente já sabe que sempre tem que ter um estoque de respostas dando sentido para filha de três anos e meio. Porém, ontem ela nós apresentou desafio bem sério, quer dizer a pergunta por que Jesus tá pendurando na cruz e por que ele tá sangrando? E isso cinco minutos antes da hora de dormir!" (Mac, em chefkoch.de/forum)

    Em vez de dar conselho ao papai Mac, o usuário Syldron do mesmo fórum alemão cozinheiro chef acrescenta experiência própria: Ainda lembro como meu irmão mais novo ficou com medo da cruz no quarto de dormir quando visitamos os nossos parentes católicos. Felizmente, não tínhamos de visita-los tão frequentemente.

    "Minha neta tem quatro anos e medo do crucifixo, escreve a avó Christa que nasceu em 1939. A igreja na nossa vizinhança tem cruz grande na parede exterior. Minha netinha não mais quer passar por lá porque tem medo da cruz. Ela chora porque o homem tem ai e deita sangue. Como posso explica-lo pra ela de modo adequado para criança? Saudações, Christa.

    A pergunta da avó Christa inicia um debate entre uma mãe de alta inteligência emocional mas menos alta escolaridade que se chama SubsTanz (Tanz é dança), e um homem mais racional, mais eloquente que escolheu o nome Adept (no alemão um iniciado de doutrina secreta).

    SubsTanz: "Eu mesma tinha este problema uma vez e bem entendí o meu filho. Em quase todas as igrejas tem uma cruz na qual pendura um homem torturado.... Não existe proteção de menores quanto a tais imagens e histórias. O homem pendura lá com pregos nas mãos e nos pés, empurradas através da carne viva. Você iria confrontar a sua neta regularmente com um quadro mostrando mulher quase nua pendurada numa arvore por outros seres humanos, fixada cruelmente por pregos? Imagine isso, visto pelos olhos de criança! Porque nós não mostramos isso aos nossos filhos de uns três ou quatro anos? Talvez porque isso não é imagem religiosa, mas sádica?

    Adept: Conforme a convicção cristã, aquele que foi pregado na cruz superou a morte também. Por isso, ninguém precisa de ter medo dele.

    SubsTanz: Aha, entendo ... e por isso sim se pode mostrar este imagem a crianças mas não aquela da mulher torturada.

    Adept: Com certeza você já sabe que cruzes são obras de arte que nem podem ser comparadas com cenas reais de jeito algum. Nas representações da crucificação, o crucificado de jeito algum não é só o homem do sofrimento mas também já o vencedor da morte, fato que já está sendo expresso formalmente na postura ereta dele quando fixado na cruz. Para cristãos, a realidade da cruz é suportável pela realidade da ressurreição. Para quem não compartilha a crença na ressurreição eu não recomendaria confrontar os filhos seus com a morte na cruz.

    SubsTanz: Oha ... então se os pais são pios, os filhos aguentam. Se não são pios, a cruz os assusta e eles sofrem demais tendo compaixão com ele?

    Adept: "Caso os pais são pios, deveriam ser capazes de contar para seus filhos algo sobre cruz e ressurreição. Pode-se até assumir que pais ateus ou não-cristãos têm condições para transmitir aos filhos seus a visão própria a respeito do símbolo dos cristãos. Não consigo captar a vantagem de estilizar si mesmo ou os seus filhos como vítimas neste contexto. Ou será que você tem complexo de vítima?

    SubsTanz: "Rsrsrs, não tenho. Quanto a complexos, não tenho algum, mas vítima sim sou. Uma vez eu tinha que ajoelhar-me no altar como castigo e rezar o Pai Nosso dez vezes com o Jesus crucificado diante dos meus olhos que me deu mais do que susto porque eu era um sensibelchen, eu tinha tanta compaixão com o homem coitado e também nojo porque essa coroa de espinhos perfurava a cabeça dele e o sangue corria sobre o rosto agonizando dele. Aqueles pregos nas mãos e pés, eu sempre tentei desviar meus olhos deles. Recusei olhar para eles e é assim que começava ... Se você recusa, o padre disse, você vai ser punido severamente para os seus pecados no inferno, e assim por diante. E então ele ameaçou que se meus pais não forem pra igreja mais frequentemente, eles também seriam punidos, e depois disso eu desisti, e o fiz ... E agora, você mostraria imagem de mulher pregada numa arvore, para criança de quatro anos, e explicar a ela: 'Ela sofre para os pecados seus'? Eu também pudesse perguntar se alguém deveria pregar criança numa arvore e mostrar isso para outra criança. Tá dura, a ideia, né? Coisa tão cruel ninguém nem deveria pensar, certo? Eu não desisto." (Novembro 4-8, 2011, spin.de/forum).

    Eu realmente espero que essa mãe não vai desistir mais uma vez como ela foi forçada a desistir na infância, não obstante que a visão dominante continua escarnecendo os sensíveis que sofrem vendo crucifixos. Será que eles são casos raros, excepcionais e esquisitos de verdade? Abordagem cautelosa à questão é dada pelo Wilhelm-Griesinger-Institut alemão na internet, num texto no qual marquei o aspecto quantitativo por itálicos:

    "Muitos adultos relatam que eles mesmos na idade de três ou quatro anos tinham medo de cruzes que eles viam numa igreja ou na casa de parentes que tinham cruz na parede. Para a maioria das pessoas, a cruz é um símbolo cristão que significa a ressurreição [sic!] de Jesus Cristo. Como crianças mais novas na maioria das vezes não conhecem o fundo religioso, acontece em casos não raros de modo algum que para elas a cruz representa algo medonho e ameaçador, ainda mais quando a cruz contém figura de Jesus visualizando o sofrimento de Cristo. Para adultos, o medo infantil da cruz eventualmente pode ser incompreensível visto que para eles é um símbolo ordinário de religião. Não ajuda muito neste contexto minimizar o medo da criança dizendo 'Jesus te protege' ou coisa parecida, porque para crianças no mundo delas não é concebível que uma pessoa, sobre a qual não têm conhecimento mais detalhado mas que visivelmente sofre na cruz, pudesse os proteger. No entanto, o medo de cruzes na maioria das vezes desvanece por si só quando as crianças ficam um pouco mais velhos e chegaram a entender o fundo religioso da cruz e do crucifixo pelo menos aproximadamente."

    Nota: Na física nada desvanece, só se transforma.

    A transformação de impressões infantis em efeitos posteriores na psique de adultos sensitivos e inteligentes revela-se no relato de um estudante de farmácia no site psicológico "suite101.de". Sua sequência de sonhos próprios pudesse representar o útero (caverna) e o falo (crucifixo), porém mais sucintamente parece refletir a sequência no credo católico onde o nasceu da Virgem Maria é seguido imediatamente pelo padeceu sob Pôncio Pilatos, foi crucificado ...: Tenho pesadelos tão horríveis. Já os tenho desde minha infância. Vivo numa caverna grande. Tudo ao meu redor é escuro. Na distância vejo uma luz pequena. De repente, sinto que sou amarrado à cruz e vejo figuras terríveis se aproximando de mim. Eles me chicoteiam duramente. Uma cadeia é posta sobre o meu rosto. Sinto desamparado e tenho um medo louco das surras dessas figuras implacáveis ... Acordo com coração pulsando e na escuridão primeiramente tenho que orientar-me até que percebo que estou deitado na minha cama.

    Citei o caso deste estudante como exemplo dos efeitos a longo prazo em adultos sensitivos, porque quero encorajar o leitor a praticar coragem civil, quer dizer não ter medo de aparecer como um hipersensível tímido. Quanto à relação entre inteligência e sensitividade, Søren Kierkegaard já no ano 1848 constatou concisamente: Quanto mais intelecto, tanto mais medo.⁷ Andrea Brackmann enfatiza o forte sentimento de justiça e a delicadeza pronunciada de crianças superdotadas. Dois exemplos: "Quando Ina presencía alguém sendo tratado injustamente, ela fica tão consternada e afetada que não se recupera por muito tempo, ficando agitada, assustada e apavorada. - No jardim de infância foi falado sobre Páscoa e Sexta-Feira Santa. Pelo fato que Jesus foi crucificado, Ben ficou tão abalado que nos feriados chorou e chorou e perguntou: 'Por que Jesus tinha que morrer?'"⁸

    Isso não quer dizer que apenas crianças superdotadas sofrem de crucifixos. Meu ex-aluno Stefan Gassner me contou sobre o trabalho dele como educador numa escola especial para crianças deficientes: "Um dia Karin disse pra mim: 'Aquele Jesus, não gosto dele:" O Jesus de Karin é o crucificado que, pendurado calado na sala de aula dela, tem que explicar também a crianças com deficiência como pregar um homem na madeira trouxe salvação para a humanidade. Quem, de verdade, é deficiente aqui?

    1847: Crianças que mal conseguem balbuciar, uma mãe cristã lamentou, "aprendem detestar o nome Juden como demônio, e bem cedinho são ensinados que os judeus feios têm pregado o Senhor na cruz."

    1893: O pequeno Dov Berkovitz já tinha sido inculcado, como todas as crianças judias na Bielorrússia, a desviar o olhar de qualquer crucifixo na beira da estrada, para não contaminar os olhos pelo ídolo. Porém, um dia ele quer saber – e vira-se! O que é que isso significa? É ele? ... A impressão foi estranha, pavorosa na sua estranheza ... mas lá veio um camponês na carroça de cavalo, parou e fez o sinal da cruz no seu rosto e peito. Quando me viu estando lá de pé, o rosto dele escureceu, ele expressou uma maldição e tentou bater-me de chicote.¹⁰

    1925: O pequeno Michael, filho de romancista Prêmio Nobel, estava com medo do pequeno homem pendurado na cruz. Será que isso teve de ver com os ancestrais judeus da mãe dele, née Katia Pringsheim, ou até da mãe brasileira do pai, née Julia da Silva-Bruhns? Seja como for, a provada terapia alemã criançã tem que passar por isso funcionou assim: O homem nu crucificado o pai pregou lhe por cima do travesseiro, explicando que isso é parte integrante da nossa cultura ocidental e o menino tem que acostumar-se disso.'¹¹ É a Elisabeth, irmã do menino, que lembrou assim o ato educacional. Dois dos irmãos dela, o Michael e o Klaus, acabaram suicidando-se: sensíveis demais para essas palavras cruzadas na parede ou para este pai alemão Thomas Mann?

    1938: O pequeno Victor, descendente dos muitos Pereiras que escaparam da inquisição ibérica, cresceu em Guatemala, mimado pela babá de 17 anos: Chata, a moça católica crescida no vilarejo Cobán na montanha, era determinada a salvar minha alma judaica da perdição; ela muitas vezes furtivamente me levou para a catedral onde eu tinha que ajoelhar-me nos pés do Cristo crucificado e rezar a Ave Maria. Meus sentidos foram cativados pelos cheiros misturados de incenso e a blusa de Chata que apertou os seus seios firmes às costas do meu pescoço; foi isso o jeito dela de aliviar o meu medo da figura nua aterradora na cruz.¹²

    Em 1967 ela tinha sido menina de quatro anos, a professora de arte e mãe de duas filhas que em 2002 me contou que nessa altura costumava mirar curioso as imagens devocionais no livro de orações da minha mãe. Uma carta ... eu memorizava profundamente: as punções da coroa de espinhos, as mãos perfuradas com dedos torcidos de dor, o rosto coberto de sangue. Então não pude dormir. Minha mãe considerou tudo como teatro, mas não me deixou ver mais as cartas de santinhos. De verdade, eu senti muito, mas muito dó de Jesús Cristo e ao mesmo tempo culpa porque ele tinha morrido 'por nós'. Às vezes, quando foi feito barulho demais no quarto das crianças, eu tive que dormir no dormitório dos meus pais, mas lá houve crucifixo acima da cabeceira. Estilizado de verdade, mas instantaneamente me lembrou da carta cruel e tudo subiu de novo. Comecei a chorar mas minha mãe pensou que foi por causa da expulsão. Quando recentemente abordei o assunto, minha mãe disse que na época ela tirou o crucifixo para eu poder dormir. Porém, até a cruz tirada continuou me perseguindo tanto que lisei as dobras no edredão de pluma porque nas suas formas de arco semicircular elas me lembraram da Mãe Maria, como eu a desenhei de quatro ou cinco anos, e do destino (?) do filho dela.

    1970: Posso lembrar dum tempo bem cedinho estando numa igreja – devo ter tido uns cinco anos – e quando olhei para cima ao crucifixo, eu estava bem consciente que estava lutando na minha aceitação de Jesus como Deus, eu tinha medo de Jesus na cruz. Tinha medo porque foi muito explícito, mas isso foi um segredo meu que guardei para mim. A menina escolheu o nome Shlomit anos mais tarde quando se converteu ao judaismo.¹³

    1985: A dona de casa Terry Kallet ficou mais que pasmada quando um dia o seu filho Nathan voltou da pré-escola e disse: Protege-me de papai! Eu disse: Por que, por que, o que aconteceu? A professora de pré-escola tinha contado para ele que os judeus mataram Jesus e que Jesus foi filho de judeu. Daqui meu filho voltou pra casa pensando que como o pai dele é judeu e ele filho de judeu, por isso papai iria matar a ele. E essa conversa toda aconteceu quando eu estava preparando um seder!¹⁴

    1993: Porque enquanto um ser humano não é autorizado a ver certa coisa, ele vai ter que negligenciar, entender mal, repelir de um ou outro modo, escreveu a psicoterapeuta Alice Miller, suíça nascida judia polonesa.¹⁵ Do mesmo sobrenome foi o carpinteiro católico A. Miller em cuja serraria eu comprei algumas ripas para fazer cenário de teatro quando ele, por nenhum motivo concreto, me contou uma história que visivelmente o ocupava: ‘Tira o crucifixo desse quarto', exigiu a jovem mulher quando chegou no hospital para parto. 'Não quero meu filho ter que ver isso quando nasce.' E quando o nenê nasceu, foi – cego!

    Posso interpretar os sentimentos do pai e avô probo assim? A cruz é horrível. Mas deus o quer. E ai daqueles que desviam o olhar!

    2001: Preparando a audiência de segunda instância na corte de Munique, o procurador do governo me reprovou por ter argumentado pedagogicamente, isso não sendo a tarefa do demandante, razões pedagógicas sendo inaptos para suportar a queixa dele. Então educador tem sim o dever, mas não o direito, de agir pedagogicamente responsável?

    2010: O pessoal docente nada revolucionário da escola primária de Röfingen perto de Günzburg (veja também capítulo XI) decidiu remover do hall de entrada um crucifixo grande porque a vista dele foi insuportável para os alunos da primeira e segunda série. O escândalo foi tornado público pelo pároco durante a procissão de Corpus Christi; apenas o diretor e uma professora resistiram às pressões subsequentes. Num fórum da internet, uma mãe de 40 anos que sob o codinome Dembara se descreveu como católica romana, conservadora comentou o assunto pedagógico: Meu filho (3 anos) precisa de crucifixo para reconhecer a pessoa Jesus. Caso Jesus é representado de outra forma meu filho fica confuso porque não conhece a Bíblia ainda. Nunca reparei ele sendo particularmente chocado pelo Jesus sangrando. Porém, é verdade: Conheço igrejas que, devido a muitas representações de mártires, realmente parecem mais com cámaras de tortura do que espaço santo. Mas também creio que ver a verdade pode ser algo exigível. Acho que 99,9 por cento de todos os crucifixos são apresentações mais ou menos embelezadas daquela técnica de tortura e por isso deve-se supor que são toleráveis até para crianças. Um crucifixo é grotesco apenas se alguém não sabe o que significa. Neste caso o cristianismo de repente parece câmara de sado-maso. Mas porque 'anteriormente' as pessoas comuns sabiam por que Jesus foi apresentado desta maneira, elas não tinham problema com isso. Hoje muitos nem sabem que Jesus é pessoa histórica. Então o crucifixo inevitavelmente se torna conto de fada malicioso, jeito Hansel e Gretel. Visto assim, não é tão importante redesenhar o crucifixo num estilo mais ou menos inofensivo ou oculta-los do que apontar aos fundos da apresentação. Porque, atrás da cruz, Dembara sabe, está a nossa redenção - qualquer que seja o significado dessa palavra final para crianças.

    Será que o filho dela entende o que é essa re-den-ção? Como pudesse uma menina de dois anos, um aluno do primeiro grau embutir o conceito paulino do sacrifício do Filho na sua visão inocente, jovem, vulnerável deste mundo?

    E caso todas as crianças citadas nessa coleção pequena são sensíveis acima da média - quem seria tão ingênuo a dizer que as crianças mais robustas vão simplesmente ignorar o homem que tem Ai, sem armazenar sequer um traço dele nas suas almas? E se todas essas crianças, aquelas com as antenas finas tanto como as ignoradoras, enfim se acostumaram ao objeto visual – então tudinho certinho? Ou vai ficar gravado o emoticon homem-pregos guardado na amígdala, cada prego e espinho funcionando como sinapse pronta para transmitir um impulso elétrico sempre quando a criança, o adulto, o velhinho ouvirá o nome destes judeus que judiaram este homem de pregos e espinhos?

    Contemplando a vida e a morte deste homem, tanto os fatos quanto as falsidades acerca do tormento dele expostas globalmente, deveriamos seguir o caminho humilde mas honesto que Hyam Maccoby sugere para reconstruir o Jesus histórico (e o José, a Maria e o Judas, outro filho dela): Temos que ler entre as linhas nos documentos acessíveis para nós, apanhando pistas de passagens que parecem ter sobrevivido de relatos anteriores. Este inquérito não é meramente acadêmico e teórico. Ajuda-nos a entender como mitos origínam, e ajuda dissipando preconceitos ainda remanescentes da doutrinação baseada em mitos. Mesmo se finalmente ficarmos com um ponto de interrogação e uma teoria que alcança apenas ao verossímil, não obstante fortalecemos a abordagem racional que alveja primeiramente ao provável e evita o rigor fanático de mentes imbuídas de mitos e fantasias.¹⁶

    Paixão de Cristo: Durante uma apresentação nas ruas de uma cidade brasileira, uma criança ingênua, espontaneamente socorrendo a Jesús, atrapalha o drama artificial por sua compaixão genuína e infantilmente atíva.


    6 Tz München (jornal tablóide muniquense), 19/20 de janeiro, 2002, p.1.

    7 Kierkegaard: Der Begriff Angst; em: Kierkegaard 1982, p.377.

    8 Brackmann, p.22, 48 e 59.

    9 Erika Weinzierl: Stereotype christlicher Judenfeindschaft; em: Jüdisches Museum, Die Macht der Bilder, p.131.

    10 Lapide 1985, p.17.

    11 Roggenkamp, p.125. Viola Roggenkamp supõe que o corpo masculina com a tanga frouxa pudesse significar algo homossexual para o bissexual Thomas Mann. Veja também o capítulo Kruzifixus na novela de Michael Degensobre a família Mann (Familienbande, Reinbek 2011, p.11-21).

    12 Perera, p.231.

    13 Myrowitz, p.193.

    14 Myrowitz, p.72. O seder é o jantar festivo comemorativo na véspera do Pessach, com participação ativa das crianças.

    15 Miller 1983, p.24.

    16 Maccoby 1992, p.128.

    II Nasceu da vítima Maria

    Tremem, judeus! gritou o monge,

    "diante o deus que surrado

    e vexado de espinhos

    vós na morte têm empurrado.

    Por mania de vingança,

    é que vós, povo judeu

    sempre matam Jesus Cristo

    que pra salvar vocês nasceu ..." Heinrich Heine, Disputação

    O monge de Heinrich Heine descreve aquele que faz os judeus tremer de modo tríplice: de deus, de salvador –e de vítima dos judeus.

    Apenas um destes papéis foi atribuído a Jesus pelos ebionitas, aquela comunidade cristã liderada por pessoas que eram familiarizados com o Nazareno, sendo seus parentes biológicos.

    Para eles, o irmão, ou seja tio, ou seja tio-avó era simplesmente "o justo (saddiq), o único que cumpriu a lei completamente [e por isso] foi indicado para ser o Cristo ...' Caso outro homem tivesse cumprido os preceitos da lei igualmente, ele também se tivesse tornado Cristo, como relata o Padre da Igreja Hippólito (ca. 170-235): Jesus, além disso, cumpriu a lei como homem, não como Filho de Deus (huiós theoú)... não por preexistência real mas pelo ato de adoção, anunciado no Salmo 2:7 ..."¹⁷

    Neste verso do salmo, Deus mesmo afirma Tu és mei filho, eu hoje te gerei para o mesmo Rei Davi a quem promete em outro verso bíblico: Eu lhe serei por pai, e ele me será por filho; filho que responderá para Ele em outro salmo: Tu és meu pai, meu Deus, e a rocha da minha salvação (Salmo 2:7; 2 Samuel 7:14; Salmo 89:27).

    Este rei deste povo Israel que em Êxodo 4:22 é adotado de forma Israel é meu filho, meu primogênito por Yahve mesmo, deste povo chamado Filhos do Senhor vosso Deus em Deuteronômio 14:1, este ancestral real de Jesus, o rei Davi, porém não é considerado filho genuíno de Deus por cristão ou judeu algum. A resposta mais adequada à pergunta quando e onde Deus gerou o Seu Filho com a Virgem seria: cerca de 50 d.C., perto de Damasco, na cabeça de Saul.

    Este perseguidor dedicado da seita cristã, por ordem dos Saduceus, no decorrer da sua investigação sem dúvida tinha ganhado e colhido toda informação acessível (lugar de nascimento, pai, mãe, irmãos ...?) a respeito de Jesus. Tudo isso ficava comprimido no cérebro dele, junto com todos os mitos de filhos divinos que ele tinha aprendido na sua formação grega, aqueles famosos Osíris, Átis e Adônis, Héracles e Dioniso. Note que estes filhos auto-sacrificadores das religiões de mistério eram todos figuras humano-divinas. Frequentemente a mistura necessária de humano e divino no sacrifício foi conseguida pelo acordo que um dos pais era humano e o outro divino.¹⁸

    Todos estes pedaços coloridos para a mito-manta de retalhos só precisaram de ser costurados juntos e postos neste homem nu na cruz que tanto tinha falado do pai dele. A costura aconteceu poucas milhas antes de Damasco, quando de repente a agulha cintilante ou seja um resplendor de luz do céu o cercou, o Saulo caiu em terra (Atos 9:3) e ficou cego, até que três dias depois as escamas cairam dos olhos seus (9:18) e Saulo, tendo romanizadose de Paulo, proclamou nas sinagogas que este é o Filho de Deus (9:20).

    Por que justamente este homem?

    Antes de Saulo-Paulo, nos 1800 anos da vida de Yahve Elohim, ninguém tinha ousado atribuir a Ele, o invisível impenhorável Eu sou o que serei (Éxodo 3:14) tais atitudes viris do jeito que os gregos curtiram de contar do deus chefe deles, o Zeus que, sendo filho de Cronos ele mesmo, foi o pai de tantos filhos semidivinos dos seus diversos casos amorosos terrestres.

    Atribuir tais coisas a Yahve obviamente foi difícil para Paulo o judeu. Aos Romanos ele escreveu já na primeira frase da epístola que Jesus nasceu da descendência de Davi segundo a carne, mas aos Gálatas especificou com nova fórmula (4:4) que vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher. Quinze anos mais tarde, o primeiro evangelho não sabe nada sobre uma virgem Maria, mas descreve o ato de adoção como Filho de Deus jeito Davi de maneira bem ebionita: E ouviu-se uma voz dos céus: 'Tu es o meu Filho amado em quem me comprazo (Marcos 1:11). Mais quinze anos depois, Mateus e Lucas relatam a origem virgem do redentor em duas histórias de conceição bem diferentes que concordam em pouco mais detalhes do que, nas palavras de Mateus, o que nela está gerado é do Espirito Santo (1:20). Das narrações simultâneas más obviamente independentes deles, Reza Aslan conclui que a tradição do nascimento virginal gerou-se cedo, talvez antecedendo o evangelho primeiro, de Marcos.¹⁹

    Aslan está certo, logico: O que gerou-se cedo foi a visão de Saulo que chegou a prevalecer aqui, depois de décadas de tradição.

    Neste mundo da causalidade, nada ocorre por acaso. Existiam talvez, no CV do suspeito Nazareno que Saulo tinha estudado atentamente, indícios propícios para ver nele o fruto de geração sobrenatural? Houve fio condutor na biografia deste homem, apto e forte o bastante para costurar a conjunção estranha hebraica-grega?

    Houve sim. No sexto capítulo do evangelho primeiro, escrito provavelmente em Roma em torno do ano 70 por um escritor romano não-judeu de nome Marcos, os antigos vizinhos de Jesus em Nazaré perguntam entre si: Não é este o carpinteiro, filho de Maria, e irmão de Tiago, e de José, e de Judas e de Simão? E não estão aqui conosco suas irmãs?

    Filho de Maria? Pai nem se menciona? Cada judeu então sabia por certo: Upa, um ilegítimo. E ainda por cima, tem irmãos um, dois, três, quatro, mas ele é filho da mãe?

    Avanço rápido: Se meu bom amigo Dr Gasparri falar palavrão contra minha mãe, ele pode esperar soco. É normal. Bem normal. Não pode provocar.²⁰

    O homem que iria defender a honra da mãe dela de maneira tão viril é o Papa latino-americano Jorge Mario Bergoglio. Ele fez este comentário

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