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Entre a Serra e o Mar
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E-book452 páginas6 horas

Entre a Serra e o Mar

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Sobre este e-book

Uma história de amor na Guerra Civil Espanhola

Em janeiro de 1937, Elizabeth, uma jovem inglesa, decide permanecer na Espanha quando o resto de sua família retorna à paz da Inglaterra.  Sozinha na cidade devastada de Málaga, ela faz amizade com dois jovens, Juan, um espanhol idealista e Alex, um inglês pragmático.  Juntos, eles fazem sua fuga da cidade devastada pela guerra ao longo da costa de Almería.  Em meio à morte e a carnificina ela se apaixona por Juan, perdendo-o pouco depois, quando ele é gravemente ferido.  Acreditando que ele está morto, ela retorna para a Inglaterra com Alex, com quem mais tarde se casa.

Setenta anos depois, Kate, a neta de Elizabeth,recebe um legado após a morte de seu avô, um que abre uma caixa de segredos e revela mentiras em uma caixa de Pandora que Kate só consegue desvendar retornando à Espanha.

IdiomaPortuguês
EditoraBadPress
Data de lançamento12 de jun. de 2021
ISBN9781386855583
Entre a Serra e o Mar
Autor

Joan Fallon

Dr. Joan Fallon, Founder and CEO of Curemark, is considered a visionary scientist who has dedicated her life’s work to championing the health and wellbeing of children worldwide. Curemark is a biopharmaceutical company focused on the development of novel therapies to treat serious diseases for which there are limited treatment options. The company’s pipeline includes a phase III clinical-stage research program for Autism, as well as programs focused on Parkinson’s Disease, schizophrenia, and addiction. Curemark will commence the filing of a Biological Drug Application for the first novel drug for Autism under the FDA Fast Track Program. Fast Track status is a designation given only to investigational new drugs that are intended to treat serious or life-threatening conditions and that have demonstrated the potential to address unmet medical needs. Joan holds over 300 patents worldwide, has written numerous scholarly articles, and lectured extensively across the globe on pediatric developmental problems. A former adjunct assistant professor at Yeshiva University in the Department of Natural Sciences and Mathematics. She holds appointments as a senior advisor to the Henry Crown Fellows at The Aspen Institute, as well as a Distinguished Fellow at the Athena Center for Leadership Studies at Barnard College. She is also a member of the Board of Trustees of Franklin & Marshall College and The Pratt Institute. She currently serves as a board member at the DREAM Charter School in Harlem, the PitCCh In Foundation started by CC and Amber Sabathia, Springboard Enterprises an internationally known venture catalyst that supports women–led growth companies and Vote Run Lead, a bipartisan not-for-profit that encourages women on both sides of the aisle to run for elected office. She served on the ADA Board of Advisors for the building of the new Yankee Stadium and has testified before Congress on the matters of business and patents and the lack of diverse patent holders. Joan is the recipient of numerous awards including being named one of the top 100 Most Intriguing Entrepreneurs of 2020 by Goldman Sachs, 2017 EY Entrepreneur of the Year NY in Healthcare and received the Creative Entrepreneurship Award from The New York Hall of Science in 2018.

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    Entre a Serra e o Mar - Joan Fallon

    ENTRE A SERRA E O MAR

    A novelista escocesa Joan Fallon, nos dias de hoje, vive e trabalha no sul da Espanha. Ela escreve tanto romances contemporâneos como históricos, e quase todos os seus livros trazem uma protagonista forte. Ela é autora de:

    FICÇÃO:

    The House on the Beach

    Loving Harry

    Santiago Tales

    The Only Blue Door

    Palette of Secrets

    The Thread That Binds Us

    Love Is All

    A série al-Andalus:

    The Shining City (Book 1)

    The Eye of the Falcon (Book 2)

    The Ring of Flames (Book 3)

    NÃO FICÇÃO:

    Daughters of Spain

    (todos disponíveis em brochura e em e-books)

    www.joanfallon.co.uk

    Joan Fallon

    ENTRE A SERRA E O MAR

    Para María Matilde Ramírez, cujos relatos sobre os eventos de Málaga durante a Guerra Civil Espanhola me inspiraram a escrever este romance.

    PREFÁCIO

    Uma guerra é sempre um acontecimento confuso e a Guerra Civil Espanhola foi ainda mais. Este pequeno prefácio é uma tentativa de dar ao leitor uma breve descrição acerca dos protagonistas principais de uma guerra civil que dividiu um país em dois.

    Em 17 de julho de 1936 houve uma tentativa de golpe de estado contra o Governo Republicano da Espanha, eleito democraticamente. O que levou a uma guerra entre os Nacionalistas de um lado e os Republicanos de outro. Os Nacionalistas, às vezes chamados de insurgentes, rebeldes ou fascistas, possuíam um exército altamente disciplinado, e bem organizado que incluía a maior parte dos oficiais do Exército Espanhol, milicianos Requete, tropas africanas e a Legião Espanhola Estrangeira. Também traziam o apoio da Falange Espanhola, que teve importante papel no policiamento e na doutrinação. O Governo Republicano possuía tropas, alguns poucos oficiais e muitos voluntários sem treinamento que se juntaram a milícias de cunho político: anarquistas, comunistas, socialistas, grupos pelos direitos das mulheres, grupos separatistas e sindicalistas. Os Republicanos, também conhecidos como Vermelhos, recebeu apoio estrangeiros de Brigadas Internacionais, México e do Movimento Socialista Internacional. Compraram armas da Rússia, o único país que venderia, por causa do Acordo de Não Intervenção elaborado em 1936 por França e Grã-Bretanha e assinado pelas autoridades europeias. Alemanha e Itália também desrespeitaram o acordo e abasteceu os Nacionalistas com tropas, munição, tanques, aviões e navios.

    A força policial era composta pela Guardia de Asalto, leal ao governo e a Guardia Civil, sendo que muitos desertaram para o lado dos Nacionalistas.

    Os Nacionalistas obtiveram apoiadores, em especial da parte mais rica, de direita e conservadora da sociedade, que incluíram a Igreja Católica, latifundiários, monarquistas, fascistas e centristas. Eles alegavam estar lutando pelo restabelecimento dos valores tradicionais e contra a ameaça comunista. Os republicanos eram compostos, em especial, das classes trabalhadoras, classe média escolarizada e intelectuais. Receberam apoio desde de centristas em busca de democracia, a anarquistas e comunistas que queriam revolução.

    ENTRE A SERRA E O MAR

    PARTE UM

    ESPANHA

    JANEIRO DE 1937

    CAPÍTULO 1

    O vento soprava do mar, uma leve brisa que trazia o cheiro de alecrim e tomilho em seu rodopiar pelas encostas das montanhas a sua direita. Ela respirou fundo, apreciando a calmaria da manhã, o ar limpo e fresco depois de quatro doas de chuva ininterrupta, um toque de doçura no ar. Ela se sentiu estranha e distante, havia algo de onírico em tudo. Ancorados em alto-mar ela conseguia ver dois grandes navios, imóveis, sombras negras no Mediterrâneo brilhante. Desta distância poucos detalhes eram perceptíveis, mas estava certa de que eram cruzadores. Ela sabia que deveria estar apavorada pela visão deles, mas de onde estava eram uma mera semelhança dos navios de brinquedo de seu irmão mais novo, Peter, que afundavam todas as noites em sua banheira. Era por isso que sabia se tratar de cruzadores. Seu irmão havia ensinado tudo sobre o formato dos funis e as torres de artilharia, e até mesmo sobre os pavilhões de conveniência. Ela não conseguia distinguir as cores das bandeiras, que se mantinham como silhuetas anônimas e negras, mas sabia a que país pertenciam. Conceição falou sobre elas na noite anterior. Um dos navios era chamado de El Baleares, uma aquisição bem nova da Frota espanhola e o outro era um pouco mais antigo, de nome El Almirante Cervera. Conceição disse que vieram para protegê-los do Terror Vermelho. Fazia dois dias que os navios estavam ali, parece que esperando que alguém desse as ordens. Mesmo assim ela não sentia apreensão alguma. O céu estava azul demais e o sol muito brilhante para temer. Um movimento a fez se virar, o cachorro assustou uma perdiz e o pássaro, apavorado, iniciou um bater de asas frenético para fugir, porém mal saindo do chão. Conforme voava acima do matagal, ela vislumbrou listras vermelhas nos flancos. Seu medo era contagioso e ao voar, outros pássaros assustados tomaram o ar, incertos da natureza do perigo, mas ainda sim voando ante ao pânico.

    Ela chamou o cachorro para seu lado e continuou a caminhar. Ao alcançar a esquina, ela viu a imensidão do Valle del Guadalhorce se expandir a sua frente, uma colcha de retalhos de campos verdes e pomares laranjas, e um rio sinuoso passando pelas áreas repletas de cana-de-açúcar. Mais além ela conseguia ver o campo de aviação, pontilhado de pequenos aviões e depois dele, a cidade de Málaga propriamente dita. Uma névoa azul acinzentada se formava sobre a cidade, flutuando gentil na direção das montanhas, massas finas de fumaça rodopiavam para cima, então dissipavam, tornavam-se mais claros e raros, e se misturavam ao ar da montanha. Os olhos dela se viraram, como de costume, para a torre inacabada da catedral, vítima dos fundos deslocados para uma causa a muito esquecida, mas hoje invisível por uma nuvem de fumaça densa e negra. Fogo serpenteava pelas ruas. Esse tanto ela soube pelo burburinho dos servos. Haveria calor, fumaça e a queda de vigas. Pessoas correriam para escapar das chamas, o ar ficaria tomado pelo intenso cheiro de tinta e madeira queimada. Ela tentou imaginar como seria, mas o sol brilhava muito forte, e o canto das cotovias a distraiu. Ela permaneceu um pouco mais, observando a destruição mais abaixo, mas ainda sem entendê-la. Então um som a trouxe de volta de seu devaneio, a canhoneira mais próxima disparou em direção à cidade. Assistiu ao canhão do navio recuar e chacoalhar, para então soltar uma rajada breve de fogo, uma fina camada de fumaça e um estalo como se fossem fogos de artifício ao longe. Ela viu a bomba aterrissar próxima às docas, sua posição delineada pela explosão de terra e destroços. Fascinada, ela assistiu a uma bomba atrás da outra ser lançada no mesmo ponto, a terra continuou a ser revirada, mudando de forma diante de seus olhos. Por fim, como se despertasse de um feitiço, ela se virou e chamou o cachorro, para que a seguisse. E correu para a vila. De repente, sentiu-se vulnerável e sonhou com a segurança de sua casa.

    Ao se aproximar dos limites da vila, ela reduziu o ritmo da caminhada. Seu coração ainda batia com rapidez, conseguia sentir o suor descer suas bochechas. Ela passou a coleira com a guia em torno do pescoço de Willow e se forçou a caminhar devagar pelas ruas estreitas. Não havia ninguém por perto. A praça principal, onde os homens mais velhos costumavam sentar e conversar, estava vazia. As portas da padaria e do açougue bem fechadas. Um menino pequeno, levando um burro pelo cabresto, passou por ela sem falar nada. Ele parou ao chegar na mina de água e seu recipiente de pedra, aguardou enquanto o animal bebia e então continuou seu caminho para fora da aldeia e montanha acima. Ela conseguia ouvir os cascos do burro soando no calçamento, sons agudos e duros reverberando nas ruas silenciosas. Ao passar pelo bar do Paco ela viu, por trás dos fios de contas coloridas que mantinha as moscas afastadas, os clientes sentados em silêncio. Ela sentiu vontade de falar com alguém, qualquer pessoa, e perguntar que alguém havia visto os navios de guerra no porto, para assim se certificar que o que ela acabara de ver era verdade e não apenas uma invenção de sua imaginação. Em vez disso, ela se manteve em movimento, seguiu o caminho de paralelepípedos montanha abaixo e para fora da aldeia, em direção de sua casa.

    Ela vivia em uma construção de pedra, que seguia em várias direções, chamada de cortijo, com paredes brancas descascadas. Seus pais alugaram o local de um proprietário de terras da região, Don Francisco. É uma casa construída para aguentar as intempéries do tempo e do clima. Parecia ter sido cortada no sotavento da montanha, usando a parede de granito puro como um muro de proteção. Virada para o sul e protegida dos ventos norte e oeste pelas próprias montanhas, as paredes grossas e sólidas da casa formavam um pátio no seu centro. Era onde sua mãe, uma jardineira romântica desde sempre, plantou vasos de buganvílias, hibiscos, jasmins e a sempre cheirosas e doces damas da noite. Seus caules se apoiavam nas paredes, seguindo o caminho ao longo da parede de pedra, sempre para cima e para onde conseguissem, almejando o sol e as cores brilhantes: vermelhos vivos e fortes, roxos, estames escarlate e pétalas douradas. Muito tempo atrás alguém plantou um limoeiro próximo ao poço e construiu algumas gaiolas suspensas para manter animais. E há pouco tempo sua mãe criou um pequeno jardim para a cozinha. Videiras de tomates verdes se entrelaçavam à cana de açúcar e ao alecrim, tomilho e salsa que cresciam em vasos de terracota perto da porta da cozinha. As janelas da casa eram estreitas e estavam sujas. Protegidas por persianas verdes pesadas e ornadas com grades de ferro. A única maneira de entrar era através de uma porta de madeira maciça guarnecida por pregos de ferro.

    Hoje alguém deixou a porta da frente destrancada, e conforme ela entrou, sentiu a madeira e a uma miríade de mãos quentes e lisas sob a dela. Ela fechou a porta com firmeza, girou a chave de ferro pesada e trancou. Depois deixou a barra de madeira cair no lugar. Enquanto ela descansava na entrada silenciosa apoiada contra o batente da porta, esperando que seu coração parasse de acelerar, ela pode compreender a resistência da casa, a acalmando com a sabedoria de que se manteve de pé por muitos anos e se manteria por muitos mais. Por fim ela sentiu-se calma o bastante para assimilar o entorno familiar: as vigas irregulares de pedra que formavam o chão, o lustre multicolorido que pendia sobre a sua cabeça. O vidro marroquino de cor verde e azul que cintilavam sob a parca luz do sol que adentrava pelas janelas fechadas, o tapete de trapilho que sua mãe havia feito com roupas velhas em um inverno desses. Uma manhã tão bela e ensolarada como essa, pareceu um tanto dramático trancar a porta.

    — Elizabeth, é você?

    A voz de um homem invadiu a quietude, soava preocupado.

    — Sim, pai. Sou eu.

    Ela deixou seu lugar de descanso e seguiu na direção do som. Ela sabia que seu pai estaria no escritório a essa hora.

    — Graças a Deus. Estávamos preocupados com você. Por onde esteve? São quase onze horas.

    Seu pai estava em sua escrivaninha, papéis e livros espalhados a sua frente. Willow já estava deitado em seus pés. Ele espreguiçou os longos braços e recostou na cadeira, olhando-a.

    — Sim, creio que demorei bastante, mas foi uma manhã tão agradável que fomos até a La Puerta del Diablo e então voltamos por dentro da aldeia.

    Ela se inclinou e beijou seu pai na bochecha. As linhas eu seu rosto, sempre calmo, pareciam estar mais evidentes hoje, e a carranca deixaram suas sobrancelhas grossas e cinzas em uma linha reta. Isso o deixou com uma expressão preocupada, porém quase cômica.

    — Eu prefiro que se mantenha mais perto de caso neste momento, querida. Há muita agitação na aldeia. As pessoas estão apavoradas. Não quero que se machuque ele disse, pegando na mão dela.

    Ela se afastou dele.

    — Nada vai nos acontecer. Eles sabem que somos ingleses. Somos amigos, afinal.

    — Eu sei que parece assim, mas as pessoas podem ser imprevisíveis, ainda mais quando estão com medo. Nunca se sabe quem irão culpar.

    — Bem, não estou surpresa por estar com medo. Consegui ver, lá das montanhas, os disparos em Málaga. Há dias que estão intensos. E as canhoneiras no mar, começaram a ser usadas agora. Ouviu quando foram acionadas?'

    — Sim. Receio que estão piorando. Não creio que seja uma boa ideia que fiquemos no meio disso, entende. Timothy me ligou esta manhã. Ele acha que devemos partir.

    Ele olhou para a filha para ver sua reação.

    — Partir? Isso é um pouco extremo, não é?

    Elizabeth tentou se manter despreocupada, mas seu coração acelerou diante da notícia. Ela foi até a janela e sentou-se no vão, pegou uma das almofadas de forma automática, e a manteve sem perceber, abraçada ao peito. Quando viu seu pai a encarando, ela soltou a almofada, os dois sabiam que este hábito que trazia da infância assinalava algumas preocupações profundas.

    — Bem, ele falou que o Cônsul britânico afirmou que todos os expatriados deveriam voltar para casa enquanto podem. Há um contratorpedeiro britânico, vindo de Gibraltar, chegando em alguns dias para nos levar.

    Elizabeth não respondeu.

    Uma dúzia de emoções diferentes a confrontaram. Ela precisava admitir que estava apavorada, mas também animada. Algo muito importante estava para acontecer e ela queria estar ali para testemunhar. Ela levantou-se.

    — Acho que vou me refrescar. Onde está mamãe?

    Seu pai havia retornado aos livros. Ele levantou os olhos, distraído.

    — Acho que sua mãe está na cozinha, tentando acalmar Conceição. Ela está em um estado de nervos que não sei se teremos almoço. — disse ele, a sombra de um franzir de cenho passando em seu rosto mais uma vez.

    Ela decidiu ir ao seu quarto antes de procurar pela mãe. Ela passou a mão no cabelo de seu pai, carinhosa, ao passar por sua cadeira, e recebeu um grunhido abafado em reconhecimento. Willow se espreguiçou desajeitada e levantou para segui-la.

    O quarto dela, como todos os da casa, tinha vista para o pátio. Ao lado da horta, bem abaixo de sua janela, ficavam cada muda que sua mãe e Pepe plantaram: uma variedade de vegetais e ervas, ela também poderia ver além dos telhados terracota e do afloramento selvagem da montanha logo atrás. Muito pouco crescia, salvo alguns arbustos de lavanda espanhola e uma ocasional esteva; às vezes ela ouvia as sinetas das cabras e conseguia olhar a tempo de ver as criaturas esqueléticas cavando atrás de brotos, mas, na maior parte do tempo, a montanha era um grande descampado. O seu quarto não era muito espaçoso, havia uma cama de solteiro, um guarda-roupa embutido estreito na parede oposta e uma penteadeira com um espelho.

    Quando ela era criança, seu pai colocou algumas prateleiras simples em uma das paredes e era onde ela deixava seus livros e algumas reminiscências de sua infância: a boneca favorita, um tanto avariada e desgastada, um relógio de cuco que sua avó mandara da Suíça, um boneco de neve enclausurado em um globo que parecia nevar ao ser agitado, e uma caixa de música de madeira onde ela mantinha algumas joias. A penteadeira estava vazia exceto por sua câmera, um bloco de notas pautado e alguns lápis. Ela havia retirado todas os badulaques infantis que ainda estavam ali quando retornou da Inglaterra da última vez. Debaixo da cama estava sua mala.

    Ela se deitou de costas. Olhou para o teto e abraçou o travesseiro. Tudo era tão familiar, mas ainda assim estranho. Três anos na universidade na Inglaterra a mudaram. Ela via as coisas diferentes agora. Seus pais sempre a protegeram do mundo, mas agora ela havia visto por si mesma como as coisas estavam mudando. Havia tanta incerteza. As pessoas estavam aterrorizadas pelo que vinha acontecendo na Europa. O Fascismo estava crescendo e todos os dias ouvia-se conversas sobre Hitler e os nazistas, além dos rumores inenarráveis acerca do que acontecia aos judeus. Josef Stalin governava a Rússia com punho de ferro e Mussolini havia declarado o Império Italiano. O mundo parecia ter enlouquecido.

    Porém ela não podia ignorar. Ela sabia que era parte de uma sociedade ainda maior, uma com muitos que não conseguiam lutar contra a insanidade. Ela precisava tomar certas decisões para a sua vida se quisesse fazer a diferença. Não sabia como ou onde, mas algo dentro dela dizia que esta era a hora. Quando ela terminou os estudos se viu relutante em deixar os amigos e retornar à Espanha, só o natal e a insistência de seus pais a atraíram de volta. Mas agora que estava aqui, não queria partir assim tão cedo.

    *

    A porta da cozinha estava entreaberta e o cheiro de comida foi levado até ela. Sua mãe estava à mesa arrumando as flores silvestres e um velho jarro azul com girassóis pintados. Ela fez um arranjo estratégico com lavanda selvagem, seus ramos azuis de fragrância pungente, de modo que complementavam uma variedade de flores mais delicadas apoiadas ali meio desajeitadas. Apesar das tentativas de Margaret de as ajeitar.

    Em seguida, aparou algumas margaridas brancas e amarelas e as fincou bem na água. Do outro lado da mesa Conceição sovava a massa para o pão do dia, erguia, dobrava e esticava antes de fincar as mãos outra vez na massa pegajosa. As mangas estavam erguidas com os braços escuros e fortes expostos. Farinha os salpicava, assim como ao avental, que era insuficiente para cobrir as volumosas camadas da saia preta, e estava amarrado em torno de seu corpo roliço com um laço. Seu cabelo liso estava esticado para trás em um coque apoiado à nuca. Refletia a luz por conta do fio de óleo que ela havia aplicado cabelos pela manhã. Esse reflexo escondia os fios brancos que Elizabeth sabia serem mais numerosos a cada a ano. Satisfeita com a sova, Conceição e suas mãos hábeis moldaram a massa em forma de cilindro, cobriu-a com um pano de prato e a colocou para descansar. Então começou a esfregar a superfície da mesa com movimentos circulares grandes. O calor do fogão à lenha recobria o cômodo e fazia a empregada suar. Ela fez uma pausa por um instante para limpar o rosto largo e redondo no avental e então continuou a fazer seu trabalho enquanto conversava com a mãe de Elizabeth em seu tom de voz andaluz carregado. A notícia da partida da família havia chateado a mulher, e toda essa infelicidade que sentia estava sendo canalizada para as tarefas domésticas.

    Conceição trabalhava para a Família Marshall desde que se mudaram para a Espanha, quando Elizabeth só tinha onze anos e Peter nem havia nascido. Para Elizabeth, ela era parte da família, seu trato maternal e rosto gentil era o mesmo que de sua mãe. Os pais de Elizabeth eram artistas, ou assim havia dito sua mãe. E artistas não poderiam viver na fria e úmida Inglaterra, precisavam de sol para aquecê-los e trazer suas criações à vida. Então, quando ainda estavam na casa dos 30, mudaram para o sul da Espanha, onde Margaret podia pintar suas aquarelas um tanto banais, e o pai de Elizabeth podia dividir seu tempo entre a pesquisa acerca da vida de João de Gante e escrever sua melancólica poesia. A cansativa tarefa de fazer dinheiro era resolvida através de algumas resenhas literárias aqui e ali que ele escrevia para o Times e bastante reforçada depois de alguns anos pela herança que recebeu com a morte de seu pai, um empresário bem-sucedido.

    Elizabeth foi enviada para estudar da Inglaterra porque seus pais consideravam a escola internacional local adequada apenas para crianças com até 10 anos. Ela retornava para o Natal, Páscoa e para os dois meses de verão. Agora por fim, sua educação estava completa com uma graduação terminada com honras e um diploma da Faculdade de Datilografia e Estenografia para Jovens Moças, ela estava livre para permanecer onde quisesse. Ou ao menos, achava que sim.

    Agora eles estavam de partida, de volta para a Inglaterra, para a umidade e névoa, e esperavam que ela fosse junto. Ao abrir mais a porta ela percebeu que havia outras pessoas na cozinha: um jovem rapaz com o rosto bem sujo estava sentado com as costas apoiadas na parede e observava a porta com atenção e duas mulheres mais velhas sentavam em um banco próximo ao fogão. Ao ouvi-la entrar, Conceição virou o rosto marcado pelas lágrimas em sua direção e abriu um sorriso encharcado.

    — Elizabeth. Aí está você. Já tomamos café, mas pode comer alguma coisa. Que tal pão fresco? Tem um pouco no forno; ficará pronto logo, logo. — disse a empregada apontando para o forno — Ou prefere uma empanada? Talvez um ovo? Pepe acabou de trazer ovos frescos. O que gostaria, minha querida?

    — Nada, Conceição. Obrigada. Não estou com fome.

    — Mas precisa comer, minha linda. Você está muito magra. Nunca conseguirá um marido se ficar muito magra.

    Elizabeth riu, sempre tinham essa conversa. Se fosse qualquer outra pessoa a incentivando a comer e ganhar peso, ela teria ficado irritada, mas as exortações de Conceição era pura ternura em um ritual familiar que falavam mais de afeto mútuo do que preocupações com o futuro.

    — Eu não quero um marido, obrigada. Ao menos, não agora. E, de qualquer forma, ser magra está na moda.

    — Mas não aqui na Espanha, querida. Os espanhóis gostam de mulheres em que se possa pegar. Como eu. — completou ela, e colocou as mãos nos quadris largos e rindo com sua Marshall preferida.

    — Conceição, pare de mimá-la. Se ela tiver fome pode se servir de algo sozinha. — disse a mãe de Elizabeth.

    Sua natureza plácida de costume parecia ausente e havia um toque de irritação em sua voz por conta da frivolidade testemunhada. Enfim parecia satisfeita com o arranjo de flores, e antes de colocá-lo em uma mesa pequena perto da porta, ela sentiu seu aroma. Ela ficou ali apreciando seu trabalho por alguns segundos e então se virou para a filha.

    — Falou com seu pai?

    — Sim, agora a pouco. Ele me pareceu um pouco preocupado.

    — Bem, a situação não é boa. Fomos aconselhados a partir, sabe. O vice-cônsul vai nos avisar quando o navio chegar.

    Elizabeth pôde ouvir Conceição recomeçar a chorar. Era um som indistinto, intercalado com longas fungadas e Ais abafados. As duas mulheres à porta começaram a se mover.

    — Vai mesmo, então? —ela perguntou para sua mãe.

    — Não creio que tenhamos escolha, querida. Ao menos pelo bem de Peter. Precisamos levá-lo para um lugar seguro.

    — Mas você ama este lugar, mãe. Você não será feliz na Inglaterra. De qualquer maneira, para onde iria?

    — Já pensamos nisso, iremos para a cada de seu tio Brian em Dorset. É muito bonito por lá, e como sabe, o clima é bom, acredito eu. Podemos matricular Peter na escola primária alguns meses mais cedo. Estou certa de que não teremos problemas quanto isso. Brian faz parte da Assembleia de Governo. Acho que será o melhor a fazer.

    O rosto de Margaret estava pálido. Ela tentava se manter positiva e calma para o bem de todos, Mas Elizabeth conseguia ver que estava começando a sentir a pressão da situação. Ela não era uma pessoa muito organizada. Gostava de deixar o dia a levar na direção que quisesse. Agora ela precisava tomar decisões rápidas e importantes sobre a evacuação dela e da família, e seus olhos azuis tristes diziam ao mundo que ela não conseguiria.

    — Quem são aquelas mulheres? — Elizabeth sussurrou em inglês.

    Sua mãe se virou para as mulheres como se só as tivesse notado nesse instante. Estavam sentadas lado a lado, fungando em silêncio. As duas estavam vestidas de preto dos pés à cabeça. Os vestidos já haviam tido melhores dias e agora estavam desbotados pelas lavagens consecutivas de modo que pareciam ser marrons e não pretos. Xales negros cobriam suas cabeças, escondendo os rostos e os sapatos estavam tão gastos que parecia impossível andar sem mancar.

    — São as irmãs Fernandez, lá da aldeia.

    — Por que estão aqui?

    — Sentem-se mais seguras aqui pelo que dizem. Contaram que os soldados não vão atacar esta casa porque há ingleses morando aqui. — explicou a mãe.

    — Mas e as famílias delas? Onde estão as famílias?

    Sua mãe mostrou um olhar confuso. Não pensou em perguntar. Elizabeth se virou para Conceição, que havia parado de chorar e agora se ocupava de cortar alguns legumes em pedaços pequenos para fazer uma sopa.

    — Conceição, o que houve com as famílias destas senhoras? — perguntou, acenando a cabeça na direção das duas mulheres que continuavam ansiosas e gemendo. Balançavam-se devagar e em harmonia.

    — Rosário e Mercedes são da aldeia. — explicou. — Eu as conheço há tempo. Ouviram dizer que os soldados rebeldes torturaram mulheres em Artipena para obrigá-las a revelar onde os homens estavam. Então ficaram apavorada que pudessem fazer o mesmo a elas. Elas querem que nós as protejamos.

    As duas olharam para cima quando ouviram Conceição dizer seus nomes. Elizabeth percebeu que não deviam ser tão velhas quando pensou, mas má alimentação e uma vida de trabalho pesado e físico vinham com um preço. A mais nova sorriu para ela, um sorriso sem dentes que implorada piedade.

    — Mas e as famílias delas? — repetiu. — Não têm maridos ou filhos para cuidar delas?

    — Mercedes é viúva. Tem dois filhos, porém os partiram para lutar pela República. Não tem mais ninguém além da irmã.

    Ela baixou a voz e continuou:

    — Mercedes sempre precisou cuidar da irmã. Ela é o que podemos chamar de loca, um pouco maluca. Não pode cuidar de si mesma e sempre diz bobagens. Mercedes está apavorada de que a irmã diga aos soldados onde seus filhos estão e os matem.

    Elizabeth olhou com mais cuidado para a irmã mais nova. Havia certa selvageria em seus olhos e algo estranho no jeito como ficava jogando a cabeça de um lado para o outro.

    — Bem, Conceição, já disse a elas que estamos partindo e que a casa vai ser trancada?

    — Sim, mas querem ficar por aqui até lá.

    Elizabeth se virou para a mãe.

    — Bem, não vejo problemas, vê mãe? Afinal, não estão prejudicando ninguém.

    Sua mãe acenou. Parecia ter deixado toda e qualquer decisão acerca do futuro das duas mulheres para Elizabeth. Agora ela abria todos os armários da cozinha e removia alguns itens.

    — Mãe, o que está fazendo?

    Parecia haver certa loucura nas ações de sua mãe. E isso a deixava nervosa.

    — Precisamos esconder todas as coisas boas antes de partirmos. Não podemos levá-las conosco. Só permitem uma mala para cada pessoa. Só devemos levar o essencial. Já disse a Peter, ele está arrumando a dele agora.

    — Adela pode ajudar você?

    Adela era uma garota da aldeia que vinha duas vezes na semana para ajudar Conceição com a roupa.

    — Não. Adela não virá mais. Ela precisa cuidar da mãe e dos irmãos. Todos estão apavorados demais para sair de casa.

    Elizabeth percebeu que ainda não havia visto o irmão naquela manhã. Ela imaginava como seu irmão escolheria entre seus navios. Quais deveria levar e quais ficariam.

    — Então pretende voltar, mãe?

    — Sim, claro. Essa confusão não vai durar. Timothy diz que tudo passa em alguns meses. Aí poderemos retornar. O problema é o que vai acontecer à casa nesse período. Os Vermelhos estão queimando todos os grandes cortijos; tudo que pertence à aristocracia está se tornando um alvo. Pepe estava nos contando hoje de manhã que uma das casas dos Larios foi incendiada na semana passada. A família escapou, mas a casa foi destruída.

    — Então, o que vai fazer?

    — Bem... — sua mãe baixou a voz e continuou a falar em inglês com a filha — Pepe encontrou uma passagem secreta que liga o porão à montanha. Há um pequeno cômodo lá. Parece bastante com os buracos do padre que encontramos em muitas casas jacobinas na Escócia. Deve ter sido construído por um motivo parecido: esconder alguém ou algo em tempos de crise. Pensamos que seria um bom lugar para esconder nossos itens valiosos até que os confrontos acabem que possamos retornar para pegá-los.

    Sua mãe parecia satisfeita com essa solução. Elizabeth se indagou, e não pela primeira vez, como sua mãe nunca perdeu a habilidade de surpreendê-la. Ela dançava pela casa, ajustando algumas almofadas, fazendo arranjos de flores, cuidando dos tomates, aparentando ignorância acerca dos acontecimentos a sua volta e, então, de repente, surpreendia a todos com um lampejo de intuição ou mesmo de senso comum. Qualquer que fosse o problema que surgisse, seria resolvido e ela retornava à serenidade de seus pensamentos privados.

    Ela ouviu a voz de um homem pedir água e se virou em sua direção. Havia esquecido da pessoa apoiada na parede. As roupas dele estavam sujas e rasgadas, estava descalço. Ela se perguntou se era um pastor de ovelhas ou algum outro animal. Ao pegar a caneca de água que Conceição ofereceu, ela pode notar como suas mãos tremiam e que ele precisou da outra mão para firmar a caneca antes que pudesse beber. Quando ele a viu o observando, ele colocou a caneca no chão ao seu lado e se levantou para tirar o chapéu da cabeça.

    Buenos días, señora. — iniciou — Meu nome é Alberto, sou cunhado de seu jardineiro, o Pepe.

    Buenos días, Alberto. — respondeu educada. — Veio de longe?

    O homem sentou-se e encarou o chão. Achou difícil responder à pergunta.

    — Ele é de La Puerta de Miel. — sussurrou Conceição — Ele andou desde lá através das montanhas para se reunir à irmã e sua família. Ele levou três dias. Precisou caminhas durante a noite pelo interior, evitando as estradas por estar com medo que soldados o pegassem.

    — Irmã dele? Imaculada? A esposa de Pepe?

    Conceição assentiu e uma lágrima escorreu pelo seu nariz e caiu no avental. A esposa de Pepe havia morrido no verão anterior, no parto de seu quinto filho. Ela fora uma jovem forte, cheia de vida e energia, mas isso não a ajudou quando o bebê decidiu chegar ao mundo com os pés primeiro e o cordão umbilical enrolado no pescoço. Elizabeth gostava da jovem. Ela se lembra de ver a mulher caminhando morro acima até a casa, trazendo o almoço de Pepe: pão e queijo de cabra. O filho mais jovem em suas costas e mais três crianças em seu encalço. Imaginou quem estaria cuidando das crianças agora. As pessoas mal tinham o que comer agora. Era difícil imaginar que alguém estaria cuidando dessas quatro bocas extras.

    — Ele não sabia de Imaculada? — perguntou, sentindo pena do pobre rapaz que havia andado tanto para nada.

    — Não. Não havia meios de avisá-lo. Pepe esperava que o senhor que viaja pelas aldeias amolando facas o avisaria em algum momento, mas são tempos incertos.

    Ela parou e olhou para o homem.

    — Me pergunto se ele poderia ficar aqui por alguns dias até decidir o que fazer. — perguntou.

    Elizabeth não entendia porque a pergunta era direcionada a ela e não a sua mãe. Então olhou para a progenitora que parecia não ter ouvido a pergunta. Ela havia disposto sua melhor louça na mesa da cozinha e se ocupava de analisar cada peça para encontrar qualquer rachadura ou lascado e as colocava em outro canto.

    — Estou certa de que não há problemas nisso, Conceição. Vou confirmar com meu pai, mas sei que ele não se importará. — respondeu.

    Será que o homem era Comunista?

    — Então, o que está acontecendo em Puerta de la Miel? — perguntou ao homem — Aconteceu...

    Ele a olhou com tanto horror nos olhos que não conseguiu continuar. Ao menos ele falou.

    — Os soldados africanos chegaram em uma noite, pouco antes do amanhecer. Ainda estávamos na cama. Pareciam demônios com seus cavalos negros enormes, cartucheiras no peito e turbantes verdes na cabeça. Marcharam na rua principal disparando os rifles para cima e, quando corremos para fora para ver o que acontecia, começaram a atirar na gente. As pessoas iam caindo na entrada de suas casas, alguns soldados desciam dos cavalos e iam checar se estavam realmente mortos. Se estivessem apenas feridos, os atingiam com a baioneta. Não importava se eram jovens ou velhos. Meu pai tinha setenta e três anos e eles o puxaram de sua casa e atiraram como se ele fosse um cachorro. Alguns de nós fugiram e nos escondemos nas montanhas, mas era possível ouvir os gritos das mulheres e precisamos voltar para ver o que estava acontecendo. Os Mouros haviam partido, mas dava para ver meia dúzia de caminhões no centro da aldeia. Outros soldados rebeldes estavam entrando nas casas e interrogando as pessoas, em sua maioria mulheres e crianças pequenas, porque a essa altura os homens ou estavam mortos ou haviam fugido. Até atiraram em meninos pequenos, de oito anos. A gente não sabia o que fazer. Não temos armas, nem nada para lutar com eles. Ficamos escondidos até escurecer, e então fomos até

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