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Conquista: Edição de Aniversário do Legado de Montbryce, #1
Conquista: Edição de Aniversário do Legado de Montbryce, #1
Conquista: Edição de Aniversário do Legado de Montbryce, #1
E-book435 páginas5 horas

Conquista: Edição de Aniversário do Legado de Montbryce, #1

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Sobre este e-book

Comemore o décimo aniversário do início desta fascinante história, que narra a invasão normanda da Inglaterra no ano de 1066 d.C., a patriótica rebelião galesa contra os invasores e o impacto sobre os saxões derrotados e humilhados.

Conquista abrange um período de mais de dez anos e é rico em detalhes do século XI na Inglaterra, Escócia e País de Gales. Primeiro livro do Legado de Montbryce (edição de aniversário), ele apresenta os três irmãos Montbryce, Rambaud (Ram), Antoine e Hugh, filhos de uma nobre família normanda, com uma longa e ilustre história militar.

Ram de Montbryce é um ambicioso guerreiro, ávido por glória e poder, a serviço de seu amigo e duque, William, o Conquistador. O seu heroísmo na Batalha de Hastings ajuda a garantir a vitória normanda. Nada pode ficar no caminho de sua ambição, especialmente no que diz respeito ao amor. Ele reconhece que tem a obrigação de se casar, mas acredita que a mulher que o seu pai escolheu para ele é inadequada.

Mabelle de Valtesse passou anos vagando pela Normandia com o seu pai exilado. Quando as suas terras lhe são finalmente devolvidas e a liberdade está ao seu alcance, o seu pai dá a sua mão a Ram de Montbryce.

Siga a jornada de Ram e Mabelle através do labirinto de perigos no período que seguiu a Conquista Normanda da Inglaterra. Após receber um condado nas Marchas Galesas como recompensa por sua bravura durante a Batalha de Hastings, espera-se que Ram reprima os patriotas galeses rebeldes, liderados por Rhodri ap Owain.

Mabelle, uma heroína forte, é mais do que uma simples união para o seu herói guerreiro. A paixão rapidamente explode entre eles, mas ambos relutam em admitir o seu amor. Ram exige obediência em uma esposa. Poderá nosso herói encontrar o amor com a refugiada voluntariosa, levada à sua cama em um casamento arranjado?

É somente através de provações e tragédias que eles finalmente percebem que não podem mais negar o que os seus corações sempre souberam — o amor vence tudo.

Mas seria o mesmo válido para Rhodri, ou estaria ele fadado a viver uma vida solitária, lutando contra um inimigo poderoso?

Reviva tempos turbulentos através dos olhos de conquistadores e conquistados.

Os amantes do romance medieval e da história britânica durante a época do rei William, o Conquistador, apreciarão esta história intensa de paixão, traição, ambição, vingança e, claro, de amor.

IdiomaPortuguês
EditoraBadPress
Data de lançamento21 de fev. de 2019
ISBN9781547573745
Conquista: Edição de Aniversário do Legado de Montbryce, #1

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    Conquista - Anna Markland

    E, no entanto, as paixões dominadoras subjugam a razão

    ~ Alexander Pope

    Para Don, meu Conquistador.

    Conquista, de Anna Markland

    Livro Um, O Legado de Montbryce, edição de aniversário

    (Partes desta história foram originalmente publicadas sob os títulos "Conquering Passion e Defiant Passion")

    © 2011, 2012, 2018 Anna Markland

    www.annamarkland.com

    Todos os direitos reservados. Este livro é licenciado apenas para seu divertimento pessoal. Não pode ser revendido ou cedido a outras pessoas. Se você deseja compartilhar este livro com outra pessoa, adquira uma cópia adicional para cada destinatário. Obrigado por respeitar o árduo trabalho deste autor. Este livro ou partes dele não podem ser reproduzidos sob quaisquer formatos, armazenados em qualquer sistema de recuperação ou transmitidos sob quaisquer formatos, por qualquer meio — eletrônico, mecânico, fotocópia, gravação ou outros — sem permissão prévia por escrito do editor, exceto conforme estabelecido pela lei de direitos autorais dos Estados Unidos da América.

    Para permissões contate: anna@annamarkland.com

    Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e incidentes são produtos da imaginação do autor ou usados ​​ficticiamente. Qualquer semelhança com pessoas reais, vivas ou mortas, estabelecimentos comerciais, empresas, eventos ou locais é mera coincidência.

    Capa de Dar Albert

    UM NOVO ANO

    Arques, Normandia,

    Dia de Ano Novo 1066 d.C.

    Lady Mabelle de Valtesse despiu o avental salpicado de gordura com um suspiro cansado, enrolou-o e jogou um mísero cobertor em torno dos ombros. Exausta, afundou-se nos velhos juncos espalhados no chão de pedra dura, enfiando o avental sob a cabeça inclinada. Seu pai, o exilado senhor de Alensonne, jazia, ressonando, esparramado no espaço destinado a ambos no Grande Salão.

    Ela tomara o cuidado de não pisar nos corpos adormecidos — humanos e de animais — na área de dormir comum do castelo de Arques, tarefa ainda mais difícil devido à penumbra da madrugada. Um manto de fumaça azulada pairava no ar, proveniente do fogo que se extinguia na lareira, irritando seus olhos cansados. Ela se assustou quando o seu imprevisível pai perguntou em voz alta:

    — Por que demorou tanto para vir dormir?

    Mabelle cerrou os dentes e enrijeceu os ombros. Acordá-lo era a última coisa que desejava.

    — Não tive permissão para deixar as cozinhas até que tudo estivesse arrumado. O banquete de Ano Novo foi maior que de costume. Estou cansada até a alma.

    — Isso é intolerável — respondeu ele, não fazendo nenhum esforço para manter a voz baixa. — A única filha de Guillaume de Valtesse, trabalhando como uma criada nas cozinhas.

    — Papai, por favor, agora não — sussurrou ela. — O mordomo do castelo deixou claro que devemos contribuir se quisermos desfrutar da hospitalidade deles.

    Seu irritante pai considerava inferior a sua posição ter que contribuir com qualquer coisa.

    — Hospitalidade — zombou ele. — Onde estão os aposentos que eu deveria ter, como convém à minha posição?

    — Silêncio aí! — pediu alguém. — Estamos no meio da noite!

    Valtesse se encrespou e respondeu, gritando:

    — Não diga para eu me calar! Sou Guillaume de Valtesse, o senhor de Alensonne.

    A resposta veio rapidamente.

    — Não nos importamos mesmo que seja o rei da Inglaterra!

    Esse sentimento foi rapidamente apoiado pelas reclamações de outros que despertaram após um dia dedicado a trabalhar para o seu amo. Os cães latiram. Gatos assustados fugiram, guinchando seu descontentamento por ter sido perturbada a sua procura noturna de alimentos.

    Mabelle conhecia bem o potencial para a discussão se intensificar. Em sua peregrinação, vira o seu pai ser expulso de muitos salões devido à sua incapacidade de controlar a língua e o temperamento. Ela o olhou de soslaio.

    — É por isso que estamos exilados. Se o senhor não tivesse atacado e cegado o senhor de Giroux durante uma discussão, há seis anos, não estaríamos nessa situação.

    O seu pai cuspiu nos juncos.

    — Se o seu meio-irmão bastardo não tivesse ajudado a família Giroux em sua busca por vingança, eles nunca teriam capturado Alensonne e nos expulsado.

    Mabelle esfregou os olhos cansados.

    — Bem, Arnulf governa lá agora, enquanto nós...

    — Não dormirei com servos ignorantes — começou seu pai, tateando para recuperar sua espada.

    Uma dor surda atravessou as têmporas de Mabelle.

    — Papai, silêncio, por favor. Preciso dormir. Você nunca se cansa de reclamar.

    Ele sentou-se.

    — Você é muito impertinente, filha. Jovens nobres não falam com seus pais de forma tão rude.

    Mabelle revirou os olhos, desejando salientar que sua impertinência e desenvoltura haviam salvado a miserável pele dele em muitas ocasiões. Já lhe dissera demasiadas vezes que acreditava que a única pessoa com o poder de pôr fim ao seu exílio era o seu suserano, o conde de Montbryce.

    Murmurando, Guillaume estirou o cobertor sobre o corpo, virou-se para o lado e parecia prestes a voltar a dormir, mas de repente murmurou:

    — Esteja pronta ao raiar do dia. Partiremos para Montbryce.

    — Sim, papai — murmurou ela, tentando não parecer surpresa. Seria um erro manter esperanças. No começo, quando ela tinha 13 anos, seguia seu pai sem questionar, aprendendo rapidamente quais servos eram amigos. Se não conseguisse convencer uma criada das cozinhas a lhes dar as sobras de comida quando a hospitalidade de um lorde era escassa, ela as roubava. Compartilhava comida com garotos famintos dos estábulos e era recompensada com aveia para os seus cavalos. Ajudar as lavadeiras em suas tarefas lhe fornecia roupas limpas. Ela ouvia as fofocas e usava o que sabia a seu favor.

    Viver usando sua inteligência era mais fácil enquanto jovem. Sempre havia algo para trocar. Seis anos depois, tudo tornou-se mais difícil. O triste traje camponês que usava dissimulava o corpo de uma mulher, apesar de seus esforços para escondê-lo. Os homens agora queriam algo em troca, que ela não tinha intenção de negociar. Em um constante jogo de gato e rato, Mabelle raramente se sentia como o gato.

    Apesar de todos os seus defeitos, seu pai mostrara estar ciente dos perigos crescentes e era rápido em protegê-la, mas seu temperamento volátil muitas vezes levava a confrontos e à redução de parte de sua liberdade. Ela apreciava sua proteção, mas tinha medo de sua incapacidade de controlar seu temperamento. No ano anterior, repetidas vezes ele ignorara suas tentativas de convencê-lo a procurar seu suserano. Às vezes, ela preocupava-se por ele estar mais feliz em sua miséria.

    Agora, ele concordara em ir. O que o fizera mudar de ideia? Talvez os rumores sobre a recente morte de Edward, rei dos ingleses, o levaram a tomar conhecimento dos ventos de mudança que sopravam na Normandia. Todos os normandos sabiam que o trono de Edward, o Confessor, usurpado por Harold Godwinson, fora prometido ao Duque William. O conde de Montbryce poderia estar disposto a ser o instrumento para ajudar a recuperar o seu dote, as terras perdidas para Arnulf, agora de importância estratégica para o duque.

    Os roncos altos de seu pai indicavam que ele não estava acordado, preocupado. Ela franziu o nariz, pressionando um dedo e polegar sobre as narinas, bloqueando os odores desagradáveis ​​que emanavam dos juncos. Colocando os joelhos contra a barriga, esperava que o sono chegasse rápido e que, naquela noite, ela estivesse cansada demais para sonhar com roupas finas, comida abundante e com o confortável quarto de dormir que fora dela em Alensonne — antes de Arnulf ter usurpado o castelo.

    Apesar de sua exaustão, o sono mostrou-se fugidio, enquanto sua mente inquieta pensava na viagem para Montbryce. Seria esse o meio de, finalmente, recuperar a vida respeitável típica da nobreza em que nascera? Ela afastou o insistente pensamento de que, se seu dote não pudesse ser recuperado, então a solução seria um casamento com um nobre. Como fazer algo assim? Desejava, de fato, trocar um nobre arrogante por outro? Só podia rezar para que o Ano de Nosso Senhor de 1066 trouxesse uma mudança de sorte para ela, assim como para o seu duque.

    Ela enroscou-se, formando uma bola mais apertada e cobriu as orelhas, protegendo-as dos grunhidos de um camponês que aproveitou seu despertar inesperado para se satisfazer com sua companheira de cama.

    UM ANO AMALDIÇOADO

    Alensonne, Normandia, 1066 d.C.

    Um sol tênue anunciava o primeiro dia do ano, seus raios mal penetravam no casebre onde Simon Hugo estava sentado olhando para o corpo de sua filha. Se precisasse de mais uma confirmação de que este seria um ano amaldiçoado por Deus, só precisaria desviar o seu olhar relutante para o minúsculo pacote sobre o corpo sem vida de sua filha.

    — Pelo menos a alma dela está preservada — murmurou a parteira da aldeia, antes de embrulhar a criança natimorta em um trapo velho. — Esse é o preço do pecado.

    Então ela o deixou sozinho com sua tristeza e raiva.

    Estelle era tudo de precioso que ele possuía, era uma lembrança viva de sua esposa, morta no parto quinze anos antes. Sua vida diária era difícil arando alguns hectares com seu boi, plantando e colhendo. Seu único prazer no final de um dia cansativo, a única coisa que o sustentava, era a visão do rosto angelical de sua filha.

    Então seu senhor, o ganancioso Arnulf de Valtesse, senhor de Alensonne, a engravidou de um bastardo.

    Ele falhara como pai. Por que não prestara atenção aos sussurros entre seus companheiros camponeses? Sabia-se que Arnulf atacava jovens donzelas, mas ainda assim Simon mandou a filha ao castelo para entregar nabos, cultivados no parco terreno que ele alugava. Arnulf era debochado e decadente, embora não estivesse amaldiçoado com o temperamento explosivo do pai que ele expulsara do castelo. Pelo menos com Guillaume de Valtesse, os camponeses conseguiriam prosperar se evitassem irritá-lo.

    As entranhas de Simon se retorceram quando se lembrou da noite em que sua filha voltou para sua cabana, desgrenhada e soluçando. Ele soubera a terrível verdade antes mesmo que ela lhe contasse e revivera aquela noite vez após vez, com as palavras que o assombravam. Finalmente encontrou sua voz, desviando os olhos do rosto sujo e riscado de lágrimas de sua filha.

    — Não vamos contar para ninguém — murmurou ele.

    Por um longo tempo, o único som foi o choro de Estelle. Simon cerrou e afrouxou os punhos, com o coração partido.

    — Você nunca mais terá que ir ao castelo novamente. Arnulf é um porco.

    Que palavras poderia ter dito? Como poderia tê-la consolado?

    — Não é culpa sua, filha. Fui incapaz de protegê-la.

    O silêncio dela o preocupava mais do que seus soluços dolorosos. Desejou correr para o castelo e matar Arnulf, mas só podia bater na mesa tosca com os punhos, sabendo que tal vingança resultaria em ser enforcado e deixar Estelle sozinha. Ele era um colono sem poderes, um camponês. Seu senhor possuía o boi e o arado. Simon não podia fazer nada.

    Finalmente, ficou evidente que ela levava um filho no ventre. As fofocas da aldeia amontoavam censura sobre ela, intensificando a sua raiva.

    Agora ela estava morta. Covarde como era, ele se agachara do lado de fora da cabana, pressionando o manto contra os ouvidos, incapaz de calar os gritos dela, enquanto a parteira de rosto amargo fazia comentários cheios de previsões sombrias.

    Naquele momento, resolveu fazer uma promessa. Algum dia Arnulf pagaria pelo seu crime.

    VOLTA AO LAR

    St. Germain de Montbryce, Normandia, abril de 1066

    Rambaud de Montbryce levantou-se nos estribos e esfregou os músculos endurecidos pelo uso da sela.

    — Depois dos anos que passei em cima de um cavalo, minhas costas não deveriam doer tanto — queixou-se aos irmãos.

    Antoine e Hugh riram, concordando. Eles haviam saído do castelo de seu pai para lhe dar as boas-vindas em seu retorno à casa, enquanto ele se aproximava com um grande contingente de soldados de Montbryce.

    Ram sorriu, sempre feliz em ver os seus irmãos.

    — Quando você chegou com suas brigadas? Deve ter ficado mais ansioso para chegar em casa do que eu.

    — Ontem — respondeu Antoine. — Mas não nos encontrávamos muito longe. Estávamos em Caen.

    Ram limpou a poeira dos lábios com as costas da mão.

    — Espero que você tenha uma grande caneca, já com cerveja. Foi uma longa viagem desde Rouen.

    Hugh sorriu.

    — O pai já está com ela em mãos.

    O coração de Ram se alegrou quando as muralhas acolhedoras do castelo da família em Saint Germain de Montbryce despontaram. Cercada por prados férteis que se estendiam até onde os olhos podiam ver, a construção imponente assentava-se no topo de um promontório estrategicamente importante na junção de dois vales fluviais. Ela se debruçava sobre a propriedade, que incluía extensos pomares de maçã. Os servos preparavam um bom conhaque de maçã para o seu senhor, que era famoso em toda a região de Calvados, assim como o mel dourado e o queijo cremoso que produziam.

    No pátio, Ram dispensou os seus homens. A seu sinal, uma multidão excitada avançou para dar as boas-vindas aos cavaleiros, enquanto eles desmontavam beijavam suas esposas e erguiam seus filhos, colocando-os sobre os ombros. Era uma cena feliz, mesmo quando Ram aliviou da sela o seu cansado corpo de 1,80 de altura e rapidamente afastou a pontada de pesar por perceber que a única pessoa que saíra para cumprimentá-lo junto com seus irmãos foi o pai deles.

    — É bom ver você, meu filho — declarou o conde Bernard. — Já faz muito tempo. Você está em forma. A campanha o fortaleceu.

    Ele socou o filho no ombro e Ram fingiu estar ferido. Eles estenderam os braços e se abraçaram, seu pai deu-lhe uns tapinhas nas costas.

    — Seu cabelo está muito comprido. Você não o corta para o dever militar?

    Ram sorriu, esticando-se, enquanto passava os dedos pelos cabelos.

    — Vaillon corta meu cabelo, quando necessário. Encorajo meus homens a fazer o mesmo, embora eles não precisem de mim para lhes dizer o que é mais confortável de se usar sob um elmo. Mas meu cabelo cresce rapidamente.

    — Gostaria de poder dizer o mesmo de mim — lamentou o seu pai, passando a mão sobre as poucas mechas grisalhas restantes. Ele riu e desarrumou o cabelo de Ram. — Não admira que o chamem de Rambaud, o Negro. — Ele apontou para os céus ameaçadores. — Vamos entrar.

    Ram encolheu-se, lançando olhares irritados para os seus sorridentes irmãos que, sem dúvida, tinham grande prazer com a provocação de seu pai.

    — Acredito que o apelido de Rambaud, o Negro, tenha mais a ver com a disciplina que espero dos meus homens — retrucou ele.

    Seu pai pareceu sentir seu desconforto.

    — É bom ter vocês três juntos em casa. Estou orgulhoso de todos vocês. Estão seguindo a nobre tradição militar desta família, ao servir à Normandia. Que tenham permanecido vivos nestes momentos perigosos é a prova de seu talento. Muitas famílias nobres não tiveram a mesma sorte.

    Ram tinha dezesseis anos quando lutou pela primeira vez ao lado de seu pai e lembrou-se com carinho do orgulho nos olhos dele, enquanto enfrentavam os angevinos¹ juntos.

    — Aprendemos com você, papai. Você é um grande guerreiro.

    Antoine e Hugh expressaram sua concordância.

    O conde deu um tapa leve nas costas de Ram.

    — Se ao menos ainda pudesse me juntar a vocês, rapazes. Com as terríveis notícias da Inglaterra, sinto que vocês irão para a guerra de novo.

    Ram concordou.

    — O Duque William está enfurecido. Harold Godwinson reivindicou o trono do Confessor. Você está certo. Isso significará guerra.

    — Então suas muitas habilidades serão ainda mais importantes para o duque.

    Quando chegaram ao solar, Ram se deixou cair sobre uma cadeira e usou os pés para arrastar um banquinho.

    — William é agora nosso soberano incontestável. Durante minha última visita ao tribunal ducal, toda grande família enviou um representante. No entanto, o talento militar não será suficiente. Se ele se tornar o rei dos ingleses, precisará de administradores capazes e quero que ele me veja como mais do que um guerreiro.

    Duas criadas entraram e serviram canecas de cerveja.

    Seu pai esperou até que as mulheres saíssem.

    — Como meu herdeiro, qualquer esforço que dedique à gestão eficiente de nossas propriedades o beneficiará. Você continuará nossa herança orgulhosa como descendente dos originários homens do norte.

    Ram ofereceu um brinde.

    — Pela honra da família Montbryce.

    — Montbryce... Fide et Virtute² — ecoaram os demais.

    Os quatro ficaram sentados por um tempo, bebendo com satisfação.

    Ram lambeu os lábios e arrotou, batendo no peito.

    — Boa cerveja. Exatamente o que precisava depois da longa jornada. — Ele se virou para o pai. — Perguntei ao duque se eu poderia passar um tempo ajudando você na administração de nossas propriedades. Antes de irmos para a guerra, vou me certificar de que tudo esteja em ordem.

    O conde Bernard pareceu indignado.

    — Você acha que estou ficando velho demais para o trabalho, hein?

    Ram trocou um olhar com os irmãos, balançou a cabeça e sorriu.

    — Vai ser bom deixar a vida militar por um tempo, e o duque reconhece que você é um tutor competente. Ele sabe que já aprendemos muito com você.

    Relaxando no conforto do castelo onde crescera, Ram precisava admitir que seu pai envelhecera rapidamente após a morte de sua mãe, uma mulher amorosa que sempre fora dedicada ao marido. Ele esperava vir a ter uma esposa igual, se algum dia decidisse se casar.

    Seu pai continuou falando, enquanto Ram permanecia perdido nos próprios pensamentos.

    — Bem, há um assunto no qual devo envolvê-lo.

    Ram esperou, curioso para saber o que poderia ser tão importante que precisava ser discutido naquele exato momento.

    Seu pai caminhou até a janela, tomou outro gole de cerveja e depois mexeu na renda dos punhos de sua túnica. Finalmente, limpou a garganta e começou.

    — O exilado senhor de Alensonne, Guillaume de Valtesse, nos fez um apelo com reclamações de que seu filho bastardo, Arnulf, usurpou suas terras. Valtesse e sua filha, Mabelle, foram obrigados a fugir. No começo, parecia um problema menor. Vocês, rapazes, podem não se lembrar do alvoroço. Guillaume de Valtesse era um senhor competente, mas imprevisível. Agora, aquelas terras se tornaram estrategicamente mais importantes, e Arnulf está formando alianças com os nossos inimigos, seus vizinhos angevinos.

    Antoine se inclinou para frente.

    — Acredito que ouvi algo sobre eles em minhas viagens. Um trovador em Caen canta uma balada que narra a história de Valtesse cegando outro nobre. Não pode ser verdade.

    Seu pai o corrigiu.

    — Quase seis anos atrás, houve uma disputa acirrada pela terra. Valtesse é um sujeito irascível. Ele perdeu a paciência e atacou. Além de cegar Charles de Giroux, cortou as orelhas do infeliz demônio. Isso levou Giroux ao furor.

    Hugh estendeu a caneca vazia.

    — Nunca ouvi essa história. E quanto a Arnulf?

    Seu pai encheu suas canecas de novo.

    — Se ao menos fosse uma história. Vendo uma oportunidade para promover sua própria riqueza, Arnulf ficou do lado da família Giroux. Eles desafiaram Valtesse a sair e lutar, mas sem o apoio de seu próprio filho, sua coragem falhou. Ele se rendeu e foi exilado, levando sua filha com ele, por insistência de Arnulf.

    — Ele e a moça estão perambulando desde então? — perguntou Hugh.

    — Sim, a única vida que sua filha conheceu é a de um pária, ela é vista com desprezo e, provavelmente com desconfiança, como a filha sem-terra de um cruel assassino e mutilador.

    — Assassino?

    — Há suspeitas de que Guillaume de Valtesse tenha assassinado sua esposa. Ela foi estrangulada.

    Ram coçou a cabeça. Por que seu pai virou a conversa para a garota?

    — Esta mulher – como é o nome dela, Mabelle? – ou é tão má quanto o pai ou tem inteligência e aprendeu a sobreviver, apesar da loucura dele.

    Seu pai parecia decidido a continuar a história.

    — Não há dúvidas de que ela viveu uma vida difícil. Acredito que o dinheiro tem sido um problema, e eles foram forçados a depender do código de hospitalidade. Imagine uma jovem mulher, nascida na nobreza, mas incapaz de ocupar seu lugar por direito. Nunca teve a oportunidade de ser aquela que estava destinada a ser. A única maneira de recuperar sua posição seria... o casamento.

    Ram não gostou do ar especulativo nos olhos de seu pai.

    — Quem se casaria com uma refugiada sem-terra, sem dote, e o que isso tem a ver conosco? — perguntou ele, com cautela, largando a caneca.

    Seu pai deu de ombros, piscando para Ram.

    — Posso não gostar daquele homem desagradável, mas ele é meu vassalo e o legítimo senhor das terras em questão. Não podemos ter filhos impertinentes usurpando as propriedades de seus pais, podemos?

    — Não, suponho que não podemos — disse Ram, com uma risada. Como ele, seu pai provavelmente estava oferecendo uma oração silenciosa de agradecimento pelo vínculo de confiança existente, garantindo que nada desse tipo aconteceria com os Montbryce. Em tempos tão incertos, a traição familiar poderia colocar tudo em risco.

    A voz de seu pai interrompeu sua reflexão.

    — Além disso, é hora de você ter uma esposa.

    Ram se arrepiou. De repente, a cerveja adquiriu um sabor amargo. Ele se levantou, endireitou os ombros e encarou o pai firmemente, cruzando os braços. Seus irmãos se mexeram nervosamente em seus assentos. Não era a primeira vez que seu pai insinuava a possibilidade de um casamento, mas nunca o fizera tão abertamente.

    Ram resolveu permanecer calmo.

    — Em primeiro lugar, tenho bastante tempo para tais assuntos. — Por dentro, ele reconhecia que já passara da idade em que a maioria dos jovens tomava uma noiva, mas seguiu em frente. — De qualquer forma, William tentará expulsar Harold e haverá guerra. Não é o momento certo para se casar. E o que isso tem a ver com o problema dos Valtesse?

    Seu pai assumiu uma postura igualmente desafiadora.

    — Você tem cinco e vinte anos – já passou da hora de se casar. Já deveria estar gerando filhos enquanto está em seus melhores anos. Além disso, estou ficando velho e gostaria de ver meus netos. Mabelle de Valtesse já se tornou uma mulher.

    A raiva de Ram aumentou, mas ele preferiu não perder a paciência. Conseguira até então desviar as tentativas de seu pai de fazer com que ele se cassasse. Ram gostava da liberdade de sua vida de solteiro.

    — Por que eu iria querer me casar com uma pirralha que passou a sua vida vagando e que não tem herança, títulos ou dotes? Ela não seria uma condessa adequada.

    — Um dia ela pode ter essas qualidades. Venha, Valtesse nos espera em seus aposentos.

    — Ele está aqui? Agora? Mas...

    — Sim, agora.

    Ram ansiava por protestar. Acabara de chegar em casa, mas uma vez que seu pai já havia decidido, era inútil discutir. Embora não tivesse vontade de conhecer esse nobre mal-encarado, ele não desobedeceria.

    — Vamos acabar com isso então — resmungou ele, olhando para o sorriso de Antoine.

    — Se o senhor concordar, eu não vou participar —pediu Hugh. — Não terminei minha cerveja.

    — Muito bem. Não há necessidade de você estar lá, mas Antoine, você deve vir.

    O sorriso de Antoine desapareceu enquanto eles seguiam o pai até a sala reservada a Valtesse. As apresentações foram feitas. A postura arrogante de Valtesse e sua expressão fechada adicionaram desconfiança ao aborrecimento de Ram. E onde estava a filha dele?

    Bernard de Montbryce explicou que seus filhos se comprometiam a viajar até Alensonne, para negociar com Arnulf. Ram arqueou as sobrancelhas e olhou para Antoine, que parecia igualmente perplexo e confuso. Desconfiado do que soubera sobre o nobre errante, ele abordou o assunto cuidadosamente.

    — Diga-me, milorde, seu filho...

    Guillaume olhou para ele.

    — Arnulf é um bastardo gordo e preguiçoso. Ele roubou minhas terras e as de Mabelle, minha herdeira legítima. Assumiu o papel da família Giroux para os seus próprios fins e deve ser deposto. Não tem direito às propriedades que ocupa.

    — Alensonne é fortificada? — perguntou Antoine.

    Os olhos de Guillaume se arregalaram, enquanto andava de um lado para o outro.

    — Todos os meus castelos são fortificados. Arnulf nos obrigou a fugir para o sul, para a vizinha Anjou. Tivemos que sair de lá por causa da animosidade dos angevinos contra os normandos.

    — Mas...

    — Por causa de Arnulf e do senhor de Giroux, nos foi negada nossa posição por direito, e vagamos de Caen até Fécamp, de Arques até Avranches. Que tipo de vida é essa para minha filha? Às vezes, ela precisa ajudar os cozinheiros nas cozinhas. Minha única filha, uma criada. É intolerável.

    — Meu pai sugeriu...

    Valtesse não fez nenhum esforço para ouvir e continuou, com a boca agora retorcida em um sorriso feio.

    — Minha filha e eu fomos forçados a dormir em catres, em quartos mofados e há muito tempo sem uso, isso quando tínhamos a sorte de encontrar tal coisa.

    Ele esticou os braços e jogou as mãos para o alto, para contemplar as vigas, como se buscasse a vingança de qualquer espírito que estivesse ali.

    Ram abriu a boca para falar de novo, mas Valtesse retomou seu ritmo e seu discurso.

    — Outras vezes, a palha rançosa sobre o chão de terra foi o nosso lugar de descanso. O senhor de Alensonne, Belisle e Domfort, dormindo com servos e criados. Deus nos abandonou.

    Foi bom que o bispo não estivesse presente para ouvir esse discurso herético sobre os maus-tratos de Deus. Ram olhou para o pai, que apenas deu de ombros. Antoine estava mordendo o punho, aparentemente achando a situação divertida. Ram sentia pena do povo de Alensonne, caso esse fanático furioso recuperasse suas terras. Ele experimentou uma pontada momentânea de pena da jovem que fora forçada a andar pela Normandia com seu pai irascível. Provavelmente, ela era tão irascível e perturbada quanto ele.

    Após saírem da conflituosa reunião, Antoine e o pai partiram em direção ao Grande Salão, mas Ram se voltou para uma direção diferente.

    — Você não jantará no salão? — perguntou o seu pai.

    — Não, tenho um compromisso em outro lugar.

    Seu pai balançou a cabeça e se afastou.

    Antoine apontou o dedo para o irmão.

    — Ah, a provocante Joleyne — brincou.

    Ram colocou um dedo sobre os lábios.

    — Fale mais baixo.

    Antoine fez um muxoxo.

    — Acha que papai não sabe? Além disso, Mabelle de Valtesse provavelmente estará no salão. Não quer conhecê-la?

    — Nada resultará da ideia de me fazer casar com ela. Ela não é adequada. Por que deveria abrir mão de um encontro tão esperado para passar uma hora conversando com uma garota ignorante?

    Antoine franziu a testa.

    — Joleyne também não é adequada. É uma camponesa, uma mulher para gerar bastardos, não herdeiros.

    A mandíbula de Ram se contraiu.

    — Estou ciente disso e não tenho intenção de ser pai de bastardos com minha amante. Eu amo você, meu irmão, mas não interfiro em seus muitos relacionamentos amorosos. Irei jantar a sós com Joleyne. Até amanhã de manhã, o pai terá esquecido Guillaume de Valtesse. Desejo-lhe boa noite.

    O pensamento de Ram mostrou-se errado no dia seguinte, já que seu pai continuava insistindo. Ele e Antoine não tiveram escolha senão partir em direção a Alensonne, para forçar uma solução para o problema das terras em causa.

    O tempo piorara consideravelmente. A brigada dos cavaleiros de Montbryce avançou lentamente pela estrada, com os arneses chiando. Embora cavalgasse orgulhosamente à frente da coluna bem armada, Ram espiava através da chuva, olhando amargamente para o caminho lamacento.

    Por que estaria papai irredutível sobre esse assunto?

    — Ficarei aliviado quando chegarmos a Alensonne — reclamou Antoine. — Malditas chuvas de abril – elas transformam a terra em lama.

    Fortis bufou, aparentemente de acordo, enquanto batia seus grandes cascos a cada passo. Ram não via nenhuma boa razão para lidar com essa missão trivial. Estava em casa havia apenas um dia. Pelo menos, tivera a chance de aproveitar os talentos de Joleyne. A lembrança de seu encontro acalmou seu descontentamento.

    ¹Angevino - oriundo da antiga província francesa de Anjou. (N.T.)

    ²Fide et Virtute – Do latim, Fé e Poder (N.T.)

    UM MAL REPARADO

    Uma figura encapuzada espremeu-se através do minúsculo portão de Alensonne e fez uma pausa para ouvir à sua volta, seus olhos se moviam de um canto escuro para outro. A noite sem lua convinha aos planos de Simon. Nuvens pesadas ameaçavam mais chuva, mas o dilúvio

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