Berne
De Edmar Camara
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Sobre este e-book
Crimes aterrorizantes onde a vítima é cruelmente mastigada pelo seu assassino, juntamente com várias tramas ao derredor irá desafiar sua elucidação, bem como deixar pasmo, porém fascinado, o leitor que tiver fôlego para encarar este thriller de suspense.
Edmar Camara
Um ativista da arte - pintor, designer, romancista, poeta, contista e produtor de conteúdo digital radicado no Brasil com nascimento em Minas Gerais e vivências em outras territorialidades. Produz textos que se diferenciam por estarem carregados de uma intenção que se adequa ao leitor que o interpreta em sua subjetividade; o que resulta em narrativas que questionam e provocam uma verdade que é exposta, mas que não se apresenta como absoluta.
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Berne - Edmar Camara
CAPÍTULO PRIMEIRO
Me surpreendendo por estar numa espécie de floresta; e não é qualquer uma floresta. As flores emitem uma suave e calmante melodia quase imperceptível a um ouvido menos sensível. Aqui me recolhi – numa dimensão do extinto
Éden. Fica numa vasta região mais ao oriente do infinito mundo dos céus.
Ainda repercute em minha mente as palavras finais de meu irmão moribundo ao citar o sumiço de nosso pai. Ecoa como um mistério a ser desvelado. Traz-me à lembrança as palavras exatas por ele proferidas: Encontrarás a alma no refúgio sob uma clausura sagrada ora profana; ordeira em sua anarquia desafiante. Encontre-o!
Elief recebeu merecidamente de sua Irmandade - os semente de serafin
, um honroso descanso após ter tido sucesso ao desvendar o ardil orquestrado pelo poderoso mal ao promover o perdão negro
fazendo uso do experimento maligno intitulado sopro de hades
que estava recrutando à fossa das tormentas
, almas que estavam a entrar na cidadela dos que dormem
e que ali repousam à espera do chamado para o julgamento final.
Dois homens maduros de compleição robusta vestidos casualmente e marcados por uma barba cerrada e uma careca luzidia, entram em uma Igreja cristã no Cambodja, próxima da fronteira com a Tailândia. Um pequeno cão que ali se abriga, sente-se inquieto e vai atrás. Descobre sangue no piso de um dos cômodos e não se dá por tímido; passa a se extasiar do presente dado, lambendo em frenesi pelo sangue disponível.
Na Igreja, logo em seguida, entra uma mulher jovem. Brinca com o cãozinho. Este, feliz, se aproxima confiante. A mulher levanta o dócil animal e o afaga. Neste gestual vê sangue no focinho do cão. Este, serelepe, sai em disparada ao reencontro de sua recém descoberta e saborosa refeição. Ela segue em seu encalço e se choca com a cena brutal com que se depara.
Ela aciona a milenar Irmandade Semente de Serafim. A Irmandade é a prova viva de que Deus quer e se comunica mais diretamente como o ser humano. Seus membros são dotados de uma unicidade o que se deduz que sejam imbuídos de uma santidade.
Eles representam a Voz como maior argumento sobre a obediência. São a seta e a espada de sangue que ocasionalmente invadem mundos para resgatar a ordenação da Voz inabalável.
A eles deve-se em grande parte a ação de enfrentamento contra os malefícios que afetam a humanidade.
Um jovem membro que atende pelo nome de Ami, chega imediatamente fazendo uso da técnica de transição entre mundos, conhecida como wurmgat
. Poucos estão autorizados a poder fazer uso deste meio de viagem
. É necessário para que este meio de transporte
aconteça, que um dos lados tenha um portal multiversal – como é o caso desta Igreja onde o fato ocorre.
Ao entrar nas dependências descobre o que era antes um corpo humano: estava completamente despedaçado. Todos os seus membros encontravam-se espalhados, cobrindo o espaço de todo o cômodo. Visíveis as marcas - na carne humana ora exposta, de poderosas mandíbulas que haviam provocado todo aquele quadro supra medonho.
Elief se delicia com as saudáveis e agradáveis frutas do idílico pomar. Pensativo, circula entre as sombras do agradável lugar. A grama macia massageia naturalmente a base dos seu pés. O som convidativo de pequena cascata o atrai para um mergulho refrescante e rejuvenescedor.
Em Londres, Miguel chega à organização social onde trabalha e que na qual ocupa o cargo de diretor jurídico. É recepcionado pela presidente da Fundação Gaia: Nívea.
Esta, uma mulher madura de postura elegante dominadora encimada por cabelos curtos de tom prateados. Recepciona-o com um sorriso avaliador por observar em seu elegante paletó algumas migalhas de cereais presas no dispendioso tecido, fruto, possivelmente, da primeira refeição do dia – certamente descuidada e frugal; deduz ela; ferinamente.
Miguel, de pele negra ressaltada pelos olhos claros - herança de mãe eslava, sabe que ocupa um lugar de destaque. Esforçou-se para isto ao se dedicar a aprimorar o seu saber e dar a atenção devida a todos os assuntos no qual se empenha com prazer nos seus afazeres.
Confiante, e vindo na direção de ambos, um parceiro de longa data que é o responsável por projetos que envolvam incorporações de habitação para famílias que estejam em situação de vulnerabilidade social e egressa de conflitos étnicos. Rapidamente Nívea o enquadra, exigindo de forma educada, mas firme, que deverá acelerar a agenda do projeto em andamento nos países Norte Africanos.
Contrafeito pelo rígido bem-vindo
, Atsu alega as dificuldades de praxe que comumente encontra em países onde a legislação é frágil em sua aplicação; a qual conjuga com a prevalência de mudanças repentinas interpretativas, o que quase rotineiramente o leva a ter que articular e rediscutir com novas e lenientes autoridades.
Elief sente, mais que percebe, uma mudança sutil no ambiente natural. Uma pessoa desconhecida avança ao seu encontro. Não se alarmou, pois pôde determinar rapidamente – conforme protocolo da Irmandade, ser um dos seus. Isto se dá pela cromatização dos olhos que é representada pela cor e brilho de um diamante. Este ato se manifesta quando os iguais
na Irmandade se olham diretamente, e ocorre por brevíssimo milésimo de segundos. Tudo normal, até agora.
Elief usou da metacomunicação da Irmandade para iniciar um intricado e antigo processo de diálogo onde seus integrantes fazem uso de uma linguagem iniciada em tempo remoto que remete a cidade de Ugarif. As palavra saem em bloco e são compiladas no receptor que as transportam momentaneamente numa bolha estética que reproduz uma imagem do fato dialogado no presente através de mapas sonoros cromáticos.
Em síntese, conclui após ciente dos fatos: um ser humano foi encontrado morto nas dependências de uma Igreja Cristã nas mesmas condições de um outro crime efetivado em data distante e que ainda permanece suspenso por não se ter determinado sua autoria.
Elief na época, suspeitava de uma seita descoberta durante o processo investigatório e que fora devidamente monitorada, sem no entanto, lograr êxito; o que levou-o a concluir pelo arquivamento temporário do caso.
A seita em tela, pertencia à uma ramificação de consumidores de carne humana, conhecida como UGLU
. Esta seita, acreditava-se, mantinha um depositório em suas instalações lotado de cadáveres dos quais se alimentavam regularmente. Justificavam que isto lhes transmitiam um poder advindo da criação do homem.
Esta possibilidade o levou a iniciar a pesquisa. O que causou terror entre os humanos. Elief se lembra por demais disto. Esta matança extraordinária se deu numa prisão brasileira. O local da chacina estava enlameado do sangue das vítimas. Cabeças decepadas, troncos pendurados por ganchos, corpos incompletos dentro de caixas e embutidos em vasilhames. Todos parecendo terem sido ingredientes de um menu exótico servidos para uma festa macabra. Grandes nacos faltando nas partes onde marcas de dentadas ferozes podiam ser facilmente notadas. Uma mastigação aterrorizante.
A conversa dos sementes
feita naquele ambiente de imensa paz ofendia a mais desprezível das pessoas, caso ali estivesse. Elief, contrafeito, permanecia absorto no tempo, relembrando as duras cenas de dor. O pânico tinha se estabelecido naquele sombrio lugar. Como se não bastasse a dura convivência destes humanos pecaminosos, havia o acréscimo desta estupidez. Um