Estrábica
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Estrábica - Blima Bracher
Agradecimentos
Ao meu pai, que fez os desenhos e pinturas e nunca duvidou de mim.
À Flávia Costa, que de forma brilhante realizou o design e meu desejo de capa tríplice.
À minha mãe, com suas poéticas vinhetas.
Ao marido, Ricardo Correia de Araújo, que testemunhou o surgimento de muitos textos.
À irmã, Larissa Bracher, que vivenciou comigo o trajeto dessas memórias.
Ao amado sobrinho e afilhado, Valentim, profunda razão de minha esperança.
Aos familiares, dos troncos Gomes e Bracher, que me edificaram a existência.
Ao cunhado Paulinho Moska e aos amigos, esses irmãos que reconhecemos pelo caminho.
Aos meus leitores, aos que escreveram sobre mim e àqueles que me deram força.
In memoriam, aos tios Décio e Nívea Bracher e à vovó Marina de Castro Gomes.
Dedico este livro ao meu pai, mestre de vida e arte.
Prefácio
Estrábica claridade
Pedro Augusto Graña Drummond – Rio de Janeiro, 2022
Quem é ou quem são Blima? Blima é Minas Gerais, é Brasil, é alma, arte, música, é mar, montanha, floresta e tudo o mais.
Bastaria dizer que Blima Bracher é criativa por si só. No entanto ela cresceu no seio de uma família de artistas e intelectuais que estão acostumados a fazer uso permanente da imaginação e transformam boas ideias em obras que fazem parte do legado cultural de nosso país.
Filha dos queridos e talentosos artistas Fani e Carlos Bracher, Blima carrega desde o berço, no corpo e em sua alma essencialmente mineira, aquilo que os especialistas chamam de herança genética
. Junto da Larissa, a irmã multiatriz, Blima faz parte de uma tradição que remonta a várias gerações de personalidades inquietas, engenhosas, que transitam com total naturalidade pelos vários caminhos das artes plásticas, das artes cênicas, da literatura, do cinema, da música e da ciência.
Por isso é difícil definir Blima. Ela está em todas as partes: nestas páginas, na televisão, produzindo filmes, na internet, montando exposições, alimentando redes sociais com humor e inteligência, ensinando a boa culinária e dando aulas de bem viver. Não há futilidade nas muitas cores de Blima. Seus gestos expressivos carregam anseios de justiça e votos de profunda esperança. Sua alegria de viver é a maior lição que recebemos dela: Nem sempre é fácil, mas vamos em frente!
— parecem dizer seus olhos incrivelmente claros. E, como todos em sua família, ela não para de trabalhar.
Os textos que compõem a coletânea Estrábica são reflexos poéticos e jornalísticos de sua própria vida, misturada com as artes, com suas raízes ouropretanas, com as influências nutridas por amizades notáveis, com vivências que, de uma forma ou de outra, fazem parte da vida de todos nós. Nestas páginas, de encontros e boas lembranças, podemos identificar nossos próprios sentimentos.
Não me cabe fazer uma análise crítica do trabalho literário da autora. Sou um humilde leitor e apenas posso dizer que faz bem ler o que ela escreve em prosa e verso, porque conta histórias comoventes de nosso tempo, porque nos emociona com sua eloquente perspicácia engajada em bons sentimentos. A estrábica claridade de Blima é um convite a olhar o mundo em nosso redor com mais dedicação e amor.
Parafraseando um certo poeta, não me engano se digo Blima Bracher, essa pessoa tudo
.
Prefácio Sublima
Walter Navarro – Barbacena, 2022
"Sorry, désolé,"; nasci flanando no Sublime. Sinto-me em casa.
Sublime! Sublima vem de sublimar. É algo ou alguém que te eleva, aperfeiçoa, aprimora, apura e requinta.
Exaltar ou enaltecer é tornar algo sublime. Alguém também, às vezes. O negócio vai esquentando quando sublimamos paixões. E ferve, literalmente, quando vamos, quimicamente, do estado sólido para o gasoso, sem passar pelo líquido. Um perigo! E o pior de tudo, quando o gelo do meu whisky sublima-se. Ou evapora-se. Derrete também, às vezes...
Purificar; separar-se daquilo que é impuro: sublimava os sentimentos. Na religião e na psicanálise, a sublimação é considerada como a transferência da libido... Melhor deixar pra lá!
Mas que falta de absurdo! Estou aqui é para falar da Blima que, de dez em dez anos, reaparece. Como no 22 de junho de 2022, pelas frias ondas do WhatsApp.
Blimíssima enviou textos de seu primeiro livro, Estrábica.
Junto às crônicas, algumas "selfies interferidas por papai", um tal de Carlos Bracher, com Fani, culpado de tudo. Até então, eu só conhecia seu talento por e-mail, Facebook ou Instagram.
Oi, Waltinho, poderia te pedir para escrever uma frase para colocar no prefácio de meu livro?
E eu lá sou homem de escrever uma frase? Acabei ganhando uma lauda.
Comecei a ler. São muitas crônicas. Como escreve! Como escreve bem! Mas já vou avisando, Blima não é para principiantes de segunda viagem. Seus textos também não.
Cana na Bahia, ouro em Minas
lembrou-me o conterrâneo de Blima, Pedro Nava, revirando açúcar em Baú de Ossos
.
Por que me chamas, Vinicius?
. Porque é preciso.
‘Blima, Blima, Blima. Você passeia de Rolls-Royce no meu coração!’, dizia Tio Décio quando eu ia visitá-los no Castelinho
.
Conheci Tio Décio e o Castelinho dos Bracher, na Juiz de Fora de Nava. Bom lugar para caçar fantasmas de madrugada.
Não espalhem, mas eu e Décio conversamos, longamente, sozinhos, conversa de homem.
Não queiram comer um torresmo com Blima, mas se for inevitável, recomendo o Bar do Bigode e Xororó, no centro de Juiz de Fora.
Queria todas as mulheres em mim
. Eu também. Você se alimenta da minha angústia
. Você também.
As máscaras caem no Carnaval
. E na Quarta-feira de Cinzas também.
Para Ferreira Gullar
, ler e reconhecer suas pastilhas de aniversário e domingos de futebol
. Para Emeric Marcier, rosas de Barbacena.
Para Nello Nuno, moscas em sua sopa.
Para os dias de vampira, absorventes e vinho também.
E já que Blima confessou ser uma velha menina, vou cometer uma inconfidência bem mineira. Ela diz que gosta de música francesa, porque é a cara de Brigitte Bardot quando jovem.
Mentira! Ela adora mesmo é a banda Velhas Virgens e o Snoop Dogg.
Acabou a segunda lauda, preciso acabar a terceira.
PS.: Eu não avisei que a Blima era Sublima? Sublime também, sempre.
Apresentação
Múltiplos olhares
Rogério Faria Tavares – Belo Horizonte, 2022
Leitura que flui, elegante e agradável, por esse delicioso Estrábica desfilam personagens fundamentais para as artes brasileiras, como Vinícius de Moraes, Ferreira Gullar e José Celso Martinez Corrêa. Acompanhar os passos deles por Ouro Preto é privilégio que Blima Bracher divide agora com o público, por meio de textos saborosos e divertidos, que confirmam a autora como cronista sagaz, atenta ao seu entorno e é capaz de lançar sobre ele olhares argutos e surpreendentes.
A saudade dos colegas de ofício do pai, o imenso Carlos Bracher, é motivo para evocar nomes como Nello Nuno, Amadeo Lorenzato e Ivan Marquetti, de novo em cena, em movimento que valoriza o legado de todos eles, o que é traço distintivo do que Blima escreve: o apreço pelo patrimônio artístico brasileiro percorre o volume inteiro. O entusiasmo da autora pelas coisas da Cultura — herdado e cultivado — se comprova, ainda, pelo modo como anda pelas ruas de Vila Rica, reverenciando sua Arquitetura e a História que emana de seu casario, de cada esquina, de cada viela. Sua relação com o espaço urbano, atravessada por afetos e memórias, se reinventa nas páginas postas à fruição de quem aprecia a boa literatura. De tal relação emergem não só os nomes célebres, mas também os inesquecíveis tipos populares,