Mulheres de Graciliano
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Mulheres de Graciliano - Marcos Hidemi de Lima
Reitora:
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Diretor:
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Luiz Carlos Migliozzi Ferreira de Mello (Presidente)
Maria Luiza Fava Grassiotto
Maria Rita Zoéga Soares
Marcos Hirata Soares
Rodrigo Cumpre Rabelo
Rozinaldo Antonio Miami
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Dados Internacionais de Catalogação-na-publicação (CIP)
LL732m Lima, Marcos Hidemi de.
Mulheres de Graciliano [livro eletrônico] / Marcos Hidemi de Lima. – Londrina : Eduel, 2015.
1 Livro digital.
Inclui bibliografia.
Disponível em: http://www.eduel.com.br/
ISBN 978-85-7216-785-7
1. Ramos, Graciliano, 1822-1953 – Crítica e interpretação. 2. Literatura brasileira – História e crítica. 3. Mulheres na literatura. 4. Patriarcado. I. Título.
CDU 869.0(81)-31.09
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e-mail: eduel@uel.br
www.uel.br/editora
2015
À Márcia e ao Vinicius
Falo somente com o que falo:
com as mesmas vinte palavras
girando ao redor do sol
que as limpa do que não é faca.
João Cabral de Melo Neto
Graciliano Ramos
SUMÁRIO
Apresentação
Preliminares
A Escrita às Avessas
Os Avessos da Escrita
Escrita a Palo Seco
Considerações finais
Referências
Apresentação
Linguagem direta, ágil e, diria mesmo, despachada: eis como se apresenta Mulheres de Graciliano de Marcos Hidemi de Lima. Aos primeiros contatos com seus escritos e na condição de sua orientadora, confesso, estranhava a organização de suas ideias na elaboração das frases. Lia e relia seus apontamentos e... tudo em ordem, nada que ofendesse as normas de nosso vernáculo. Mas, de onde viria o estranhamento? Não levou muito tempo para enxergar que a resposta estava diante dos meus olhos. Tratava-se de um pesquisador que já se desvencilhara dos clichês e jargões comumente encontrados (tantas vezes exigidos) em pesquisas acadêmicas. Daí um texto de leitura agradável; o que não significa dizer um texto facilitador, que nos acomode em nossas confortáveis e sereníssimas convicções. Ao contrário, seu olhar certeiro atinge direto as incômodas feridas de que é formado o corpo da sociedade brasileira, emerso do processo de colonização e sua obstinada vocação totalizadora.
Agilidade e destreza são percebidas também na forma como maneja seus instrumentos de análise quando põe em diálogo os pressupostos teóricos que alicerçam a pesquisa sem, com isso, perder a consistência crítica, tampouco a agudeza analítica, requisitos que, sabemos, resultam sempre em uma observação consequente do objeto tratado. Desta forma, com ar de informalidade, acompanhamos um ágil, nem por isso menos fecundo, diálogo entre Roberto Reis, Gilberto Freyre, Roberto DaMatta, Antonio Candido, Maria Lúcia Rocha-Coutinho, entre outros, trazendo como tema da discussão o lugar da mulher na estrutura patriarcal da sociedade, refletida na produção romanesca brasileira.
Merece destaque o estudo de Roberto Reis, A permanência do círculo, por constituir o pilar em que se apoia Marcos Hidemi de Lima para desenvolver suas análises, funcionando, desta forma, como foco irradiador do diálogo. Lançando mão dos conceitos básicos como centro, círculo, núcleo, nebulosa (os dois últimos tomados de empréstimo a Caio Prado Jr.) e desenvolvendo metáforas a partir deles, Roberto Reis palmilha a produção ficcional brasileira desde o Romantismo até as produções do final do século XX, para demonstrar uma persistente hierarquização das relações entre as personagens nas obras que averigua.
Marcos Hidemi de Lima palmilha este caminho elegendo como corpus de sua investigação três obras de Graciliano Ramos: São Bernardo, Angústia e Vidas Secas. Elege também uma das figuras que compõem a ‘horda’ da nebulosa: a figura feminina. A mulher a travar uma luta constante contra as forças que emanam do centro representado pelo homem, determinadamente branco, de vocação patriarcal. Ao percorrermos as páginas de Mulheres de Graciliano, percebemos o esmero de uma meticulosa investigação, verdadeiro trabalho de garimpo, onde nem mesmo as figuras femininas menos representativas da obra de Graciliano escapam ao olhar atento e penetrante de Marcos Hidemi de Lima; olhar afiado como a querer traduzir o olhar ‘só lâmina’ do autor de Vidas Secas.
Revolvendo até o limite os três romances que compõem sua proposta de trabalho, Marcos Hidemi de Lima perfaz sua trilha de investigação rastreando os silêncios, vazios e omissões instalados nos textos, procurando nos avessos do tecido narrativo o veio-fio condutor que o conduza à (re)construção de um painel de figuras femininas inscritas na obra de Graciliano. Mais que garimpeiro, faiscador, recupera um elenco de mulheres estrategicamente lançadas ao esquecimento nestas narrativas. Mulheres silenciadas à espera desse olhar afiado e desafiador que as façam emergir das malhas embaraçadas de um narrador não raro afeito a princípios patriarcalistas.
Mulheres silenciadas, estranguladas pela força de uma ordem que não reconhece sua individualidade. Silenciadas, mas inquietas – de Madalena a Sinha Vitória, passando por Margarida, Quitéria, Germana – é possível acompanhar em Mulheres de Graciliano um desfile de mulheres mal acomodadas numa ordem em que os valores pautam-se no aniquilamento de sua representatividade. Entretanto, se nas linhas visíveis da escrita narrativa são apresentadas como pó de limalha, nebulosa a gravitar ou mesmo a se perder dentre as camadas sociais dos subalternos, o olhar garimpeiro de Marcos Hidemi de Lima percebe a jogada-provocação de Graciliano. E é o que se depreende da leitura de Mulheres de Graciliano: uma linhagem de mulheres que, ao contrário de como são retratadas nas linhas visíveis do tecido narrativo, ressumam constante ameaça à perdurável montagem do discurso masculino que se queria único.
Mulheres insubordinadas na medida mesma em que são eclipsadas como pessoas e personagens nas tramas narrativas. Mulheres que, não raro, involuntariamente denunciam a artificialidade da ordem patriarcal no instante mesmo que fazem ruir seus alicerces, descerrando as fragilidades e contradições dessa lógica, prenunciando as lutas femininas que se dariam somente trinta anos depois e que a visão premonitória de Graciliano foi capaz de antecipar.
Este é o mérito do estudo de Marcos Hidemi de Lima: visitar para revistar e retirar dos escombros estas figuras. Ler pelo avesso e estruturar o corpus de sua pesquisa a partir dos silêncios instalados nas três obras de Graciliano Ramos. Trabalhar com restos. Eis como se efetiva a pesquisa e se apresenta como convite irrecusável para leitores e pesquisadores após a leitura de Mulheres de Graciliano.
... E Madalena, mesmo depois de morta, ainda vem assombrar o sono-consciência do empedernido Paulo Honório.
Gizêlda Melo do Nascimento
Preliminares
Apesar de pouco extensa, a obra de Graciliano Ramos (1892-1953) representa uma literatura distante dos modismos de escolas e tendências literárias no século XX. A crítica considera-o um clássico graças à linguagem enxuta e exata que utilizou em todas as suas obras, bem diferente da contumaz verborragia de seus contemporâneos e amigos pessoais, como, por exemplo, Jorge Amado e José Lins do Rego.
Saído em 1933, Caetés, o primeiro livro publicado, quando o autor já contava com mais de quarenta anos, passou um pouco despercebido, pois não havia ali ainda as marcas pessoais que o tornariam célebre, mas sim alguns elementos da prosa de Eça de Queirós, como alguns críticos observaram. Com a publicação do segundo romance, S. Bernardo, em 1934, perceberam no autor muito mais que um simples escritor, constataram que ele possuía um estilo inconfundível aliado a uma economia verbal.
Angústia, que se seguiu a S. Bernardo, é de 1936 − período em que o romancista encontrava-se preso, sem nenhum processo –, como nas obras anteriores, a narrativa é feita em primeira pessoa. O único romance em que os fatos são narrados em terceira pessoa vem a ser Vidas secas, de 1938.
Nestes romances, há configurações de mulheres fortes, decididas, dentro de uma sociedade em que seus papéis não possuíam muita relevância. Mesmo tendo sido escritas há mais de meio século, estas obras apresentam mulheres que prenunciam muitas das conquistas femininas obtidas posteriormente. Emergem como figuras que oscilam entre santas e prostitutas, entre trabalhadoras e mães, entre analfabetas e letradas.
A partir da ótica apresentada, este trabalho pretende analisar as personagens femininas destes três romances de Graciliano Ramos. Neles, as mulheres são retratadas sob o jugo de uma ordem patriarcalista que as desconhece como individualidade, vistas como meros objetos, embora resistam a essa concepção por meio de artifícios sutis.
Além disso, também se almeja demonstrar como, já na década de 1930, bem antes dos movimentos de emancipação feminina da década de 1960, os romances de Graciliano Ramos antecipam algumas lutas e conquistas das mulheres. Ao descrever o ambiente do interior nordestino, onde a ordem patriarcal apresenta-se mais rígida, o autor mostra as inquietações de suas personagens femininas à procura de uma identidade questionando a ordem a que são submetidas.
O alicerce teórico deste estudo apoia-se principalmente nas seguintes obras e autores: A permanência do círculo, de Roberto Reis; A casa & a rua, de Roberto DaMatta; O canibalismo amoroso, de Affonso Romano de Sant’Anna; Casa-grande & senzala, de Gilberto Freyre; e Ficção e confissão, de Antonio Candido.
Em seu estudo, Roberto Reis analisa os romances caracterizados pela forte presença da ordem patriarcal, valendo-se dos conceitos retirados do pensamento de Caio Prado Júnior, para a conceituação de núcleo e nebulosa. Segundo Reis (1987, p. 32), "no centro ou núcleo está a figura do senhor e patriarca, junto com os que habitam a casa-grande. Na nebulosa ou periferia, a bem dizer, todos os restantes".
No núcleo, complementa Reis, está a figura do homem branco, do senhor, do patriarca, juntamente com os que o rodeiam, obviamente dentro de uma ordem social hierarquizada; na nebulosa, categorias étnicas como o negro, o mulato, o índio; categorias sociais como o jagunço, o trabalhador do eito, o vaqueiro, também submetidos à hierarquização imposta pelas figuras do núcleo.
A partir da compreensão de que no núcleo localiza-se o poder, o senhor, o homem, o patriarca; e na nebulosa o dominado, a mulher, o empregado, o escravo, pensa-se em forças que convergem para esse núcleo e forças que divergem dele. Os círculos concêntricos que o rodeiam, aqueles que estão mais próximos ou mais distantes do poder central, esforçam-se por dirigir-se ao centro, ao núcleo, numa ação que doravante passará a se chamar forças centrípetas. O seu contrário, o afastamento do poder, a dispersão das forças, chamar-se-á forças centrífugas.
As oposições existentes entre núcleo e nebulosa remetem para outras duas forças antagônicas: as definições espaciais de casa e rua, espaço público e espaço privado que provêm de A casa & a rua, estudo de Roberto DaMatta no qual são estabelecidos os códigos diferentes que regem cada um deles. De um lado há o código da casa e da família (que é avesso à mudança e à história, à economia, ao individualismo e ao progresso)
, do outro lado o código da rua (este aberto ao legalismo jurídico, ao mercado, à história linear e ao progresso individualista)
(DAMATTA, 1987, p. 52). Do lado de dentro, as mulheres; do lado de fora, os homens.
Evidencia-se, por meio dessa linha de raciocínio, que era no interior da casa onde a mulher permanecia e exercia suas atividades, quase uma reclusa, cuja única comunicação com o exterior dava-se, de acordo com Maria Lúcia Rocha-Coutinho,