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Intelectual, educador, mestre: Presença do professor Casemiro dos Reis Filho na educação brasileira
Intelectual, educador, mestre: Presença do professor Casemiro dos Reis Filho na educação brasileira
Intelectual, educador, mestre: Presença do professor Casemiro dos Reis Filho na educação brasileira
E-book213 páginas2 horas

Intelectual, educador, mestre: Presença do professor Casemiro dos Reis Filho na educação brasileira

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Sobre este e-book

A publicação deste livro é, ao mesmo tempo, uma homenagem e um serviço.
É uma homenagem a um dos mais completos educadores que a história da educação brasileira registra. Normalista, pedagogo e doutor em educação, professor primário, secundário e de nível superior, Casemiro dos Reis Filho reuniu como ninguém, em sua pessoa, as figuras do intelectual e do educador, ultrapassando-as e sintetizando-as na condição de verdadeiro mestre como tem sido reconhecido e proclamado por aqueles que tiveram a ventura de com ele conviver. Com efeito, entre as várias acepções do vocábulo mestre, registradas pelos dicionários, a primeira é aquela que o define como a "pessoa dotada de excepcional saber, competência, talento em qualquer ciência ou arte" (Houaiss, p. 1905). E é exatamente por seu excepcional saber, competência e talento na ciência e na arte de educar que o professor Casemiro é reconhecido como mestre. Mas, exatamente por ser educador, ele era dotado, sobretudo, de excepcional sabedoria na ciência e na arte de viver. Eis por que o qualificativo de mestre a ele se aplica por antonomásia.
Ao prestar-lhe homenagem com a publicação deste livro, a Editora Autores Associados está também prestando um relevante serviço aos brasileiros, de modo geral, e, em especial, aos professores, pois o ato de conhecer a trajetória do professor Casemiro e se familiarizar com suas ideias trará grande benefício a todos nós que vivemos nessa conjuntura particularmente difícil para a educação nos dias atuais. De fato, a um discurso ufanista das elites dirigentes que eleva a educação à condição de panaceia para resolver todas as mazelas da sociedade corresponde uma prática que impõe dificuldades inauditas ao trabalho dos professores; ao otimismo fácil dos primeiros, contrapõe-se, portanto, o pessimismo contrafeito e frustrante dos segundos.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento1 de dez. de 2015
ISBN9788574963648
Intelectual, educador, mestre: Presença do professor Casemiro dos Reis Filho na educação brasileira

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    Intelectual, educador, mestre - Autores Associados

    dermeval saviani (org.)

    INTELECTUAL

    EDUCADOR

    MESTRE

    PRESENÇA DO PROFESSOR

    CASEMIRO DOS REIS FILHO

    NA EDUCAÇÃO BRASILEIRA

    Copyright © 2015 E-book by Editora Autores Associados Ltda.

    Todos os direitos desta edição reservados à Editora Autores Associados Ltda.

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

    (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Intelectual educador mestre [livro eletrônico]: presença do professor Casemiro dos Reis Filho na educação brasileira/ Dermeval Saviani (org.) – Campinas, SP: Autores Associados, 2015 – (Coleção memória da educação)

    2 Mb ; ePUB.

    ISBN 978-85-7496-364-8

    1. Educação – Brasil 2. Educação – Brasil – História 3. Reis Filho, Casemiro dos, 1927-2001 I. Título. Saviani, Dermeval.

    15-09911                                                                                      CDD–370.981092

    Índice para catálogo sistemático:

    1. Educadores brasileiros: Vida e obra                                                  370.981092

    Edição digital – novembro de 2015

    EDITORA AUTORES ASSOCIADOS LTDA.

    Uma editora educativa a serviço da cultura brasileira

    Av. Albino J. B. de Oliveira, 901 | Barão Geraldo CEP 13084-000 | Campinas-SP

    +55 (19) 3789-9000

    e-mail : editora@autoresassociados.com.br

    Catálogo on-line : www.autoresassociados.com.br

    Conselho Editorial Prof. Casemiro dos Reis Filho

    Bernardete A. Gatti

    Carlos Roberto Jamil Cury

    Dermeval Saviani

    Gilberta S. de M. Jannuzzi

    Maria Aparecida Motta

    Walter E. Garcia

    Diretor Executivo

    Flávio Baldy dos Reis

    Coordenadora Editorial

    Érica Bombardi

    Revisão

    Aline Marques

    Erika G. de F. e Silva

    Cleide Salme Ferreira

    Capa

    Fotografia de 1973

    cedida pela família

    Arte-Final

    Érica Bombardi

    Produção de ebook

    S2 Books

    www.abdr.org.br

    abdr@abdr.org.br

    Sumário

    Capa

    Folha de rosto

    Créditos

    Apresentação

    Casemiro dos Reis Filho e a educação brasileira

    Textos quase inéditos do professor Casemiro dos Reis Filho

    Modernização da cultura brasileira

    Raízes históricas da educação contemporânea

    O transplante da educação europeia no Brasil

    A revolução brasileira e o ensino

    Casemiro dos Reis Filho sob diferentes olhares

    Casemiro dos Reis Filho e a historiografia da educação brasileira

    Depoimentos

    A sabedoria na orientação

    A motivação para saber mais

    O compromisso com a prática

    A capacidade de formar

    Formando para a autonomia do trabalho docente

    Consciência clara da estreita relação entre educação e política

    Entusiasmo contagiante pela história e pela educação

    Cinquenta e dois anos de convivência, amor e carinho

    Falando do Casemiro

    Mestre amigo e pai

    Pai

    Casemiro – o pai educador

    Quem é meu amigão?

    Referências bibliográficas

    APRESENTAÇÃO

    A publicação deste livro é, ao mesmo tempo, uma homenagem e um serviço. É uma homenagem a um dos mais completos educadores que a história da educação brasileira registra. Normalista, pedagogo e doutor em educação, professor primário, secundário e de nível superior, Casemiro dos Reis Filho reuniu como ninguém, em sua pessoa, as figuras do intelectual e do educador, ultrapassando-as e sintetizando-as na condição de verdadeiro mestre como tem sido reconhecido e proclamado por aqueles que tiveram a ventura de com ele conviver. Com efeito, entre as várias acepções do vocábulo mestre, registradas pelos dicionários, a primeira é aquela que o define como a pessoa dotada de excepcional saber, competência, talento em qualquer ciência ou arte (Houaiss, p. 1905). E é exatamente por seu excepcional saber, competência e talento na ciência e na arte de educar que o professor Casemiro é reconhecido como mestre. Mas, exatamente por ser educador, ele era dotado, sobretudo, de excepcional sabedoria na ciência e na arte de viver. Eis por que o qualificativo de mestre a ele se aplica por antonomásia.

    Ao prestar-lhe homenagem com a publicação deste livro, a editora Autores Associados está também prestando um relevante serviço aos brasileiros, de modo geral, e, em especial, aos professores, pois o ato de conhecer a trajetória do professor Casemiro e se familiarizar com suas ideias trará grande benefício a todos nós que vivemos nessa conjuntura particularmente difícil para a educação nos dias atuais. De fato, a um discurso ufanista das elites dirigentes que eleva a educação à condição de panaceia para resolver todas as mazelas da sociedade corresponde uma prática que impõe dificuldades inauditas ao trabalho dos professores; ao otimismo fácil dos primeiros se contrapõe, portanto, o pessimismo contrafeito e frustrante dos segundos. A esses contraditórios estados de ânimo Casemiro significa forte antídoto representado pela sua visão realista da educação ancorada em rigor analítico, visão esta associada a uma inabalável crença na perfectibilidade humana, o que o tornava um irredutível entusiasta da importância da ação educativa entendida como formadora de homens plenos.

    Procurando colocar ao alcance dos leitores, ainda que apenas parcialmente, a trajetória educativa e um pouco das ideias do professor Casemiro, este livro foi organizado em três capítulos. O primeiro busca oferecer uma visão geral da biografia pessoal e intelectual, assim como da concepção pedagógica de Casemiro dos Reis Filho. O segundo capítulo traz a público quatro textos do próprio Casemiro. Esses textos foram classificados como quase inéditos porque tiveram uma circulação restrita, dada a sua condição de apostilas preparadas para o trabalho pedagógico em sala de aula e também porque um deles foi recentemente publicado pela Revista Brasileira de História da Educação (Reis Filho, 2002). Finalmente, o terceiro capítulo apresenta diferentes olhares sobre a figura do professor Casemiro, envolvendo uma aproximação à sua contribuição para a historiografia da educação brasileira e depoimentos de alguns de seus ex-alunos que por ele foram orientados em seus trabalhos acadêmicos ou que com ele trabalharam como seus auxiliares de ensino ou assistentes. A esses depoimentos acrescenta-se o testemunho de seus filhos e, em especial, de sua esposa, também ela educadora que o conheceu nos bancos escolares da Escola Normal em São José do Rio Preto.

    Ao nos empenharmos na organização desta obra, estamos materializando a convicção de que seu manuseio pelos professores contribuirá significativamente para abrir-lhes os horizontes intelectuais e aquecer-lhes a esperança numa educação mais consistente, mais digna, mais justa e, sobretudo, viável apesar das condições precárias em que se desenvolve sua prática pedagógica.

    Campinas, 17 de abril de 2003

    Dermeval Saviani

    CASEMIRO DOS REIS FILHO

    E A EDUCAÇÃO BRASILEIRA

    [1]

    Dermeval Saviani

    _____________________________________________________

    As origens

    Os ascendentes do professor Casemiro vieram de Portugal. Os avós paternos são originários de Trás-os-Montes. O avô materno, Antonio do Espírito Santo Duarte, veio de Pé na Cova e a avó materna, Antonia Pereira Duarte, de Coimbra. O avô paterno, João dos Reis, veio para o Brasil em 1894, tendo fugido por razões políticas, uma vez que era republicano[2].

    O Partido Republicano Português surgiu em 1873, tendo se tornado uma força política respeitável a partir do final dos anos oitenta. Com efeito, a última década do século XIX e a primeira década do século XX correspondem a um período em que a ideia monárquica vai perdendo gradualmente a sua legitimidade e as próprias instituições monárquicas vão mergulhando numa crise cada vez mais irreversível (Pintassilgo, 1998, p. 47). Assim, embora a Insurreição Republicana do Porto, que eclodira em 31 de janeiro de 1891, tenha fracassado, a receptividade dos republicanos junto à opinião pública crescia continuamente. E, proporcionalmente a este crescimento, crescia também a resistência dos monarquistas, interpondo obstáculos de toda ordem à ação dos republicanos, especialmente nos anos de 1890. É provavelmente esse quadro que explica a fuga para o Brasil do republicano João dos Reis em 1894. Nesse momento o Brasil já contava com cinco anos de regime republicano, enquanto Portugal ainda iria esperar mais 16 anos para instalar a República em 1910.

    Casado com Joaquina Rosa da Silva dos Reis, que veio para o Brasil em 1898, João dos Reis fixou-se na região de Ribeirão Preto, onde trabalhava numa fazenda de café junto com seu filho Casemiro dos Reis –este nascido em Sertãozinho. Com o produto desse trabalho fundou uma casa comercial de secos e molhados que, como fornecedora das fazendas do Sr. Schmidt, se tornou muito próspera. De fato, com a expansão do café para o oeste paulista, Ribeirão Preto cresceu em importância, vindo a ser cognominada de capital do café. Segundo o testemunho de Fernando de Azevedo na obra significativamente denominada Um trem corre para o oeste, foram de notável previdência os fazendeiros de Campinas quando, sob a inspiração de Saldanha Marinho, Governador da Província e o principal fundador da Paulista, se decidiram a organizar essa Companhia destinada a transformar-se em pouco tempo na maior transportadora de café no mundo. Inaugurada em 1872 com 45 km a Companhia Paulista de Estradas de Ferro chegou, em 1948, a 1537 km transportando 61% do total de exportações do país e servindo aos principais centros agrícolas e industriais de São Paulo, na diretriz de Ribeirão Preto e na do Triângulo Mineiro (Azevedo, s/d, p. 46).

    Assim, a prosperidade da família Reis refletia a prosperidade dos cafeicultores paulistas que, por sua vez, impulsionavam a urbanização do país por meio do capital que ingressava em decorrência dos crescentes índices de exportação do café. E essa progressiva urbanização trazia consigo a exigência de expansão e melhoria do atendimento escolar, traduzida nas reformas do ensino que se manifestaram nos diferentes estados brasileiros ao longo da década de 1920, iniciando-se com a Reforma Paulista de Sampaio Dória (1920) e tendo sequência com as reformas de Carneiro Leão no Rio de Janeiro (1922), de Lourenço Filho no Ceará (1923), Anísio Teixeira na Bahia (1924), José Augusto no Rio Grande do Norte (1925), Francisco Campos e Mário Casassanta em Minas Gerais (1927), Fernando de Azevedo no Distrito Federal (1928) e Carneiro Leão em Pernambuco (1928).

    Foi nesse contexto que Casemiro dos Reis se enamorou de Ingrácia Duarte, nascida em Jaú, vindo com ela a se casar. Desse casamento nasceu o primeiro filho que, tendo recebido o nome do pai, passou a se chamar Casemiro dos Reis Filho.

    ________________________________________________

    Do meio rural à cidade do interior

    Casemiro nasceu em Pontal, pequeno município do estado de São Paulo, a 28 km de Ribeirão Preto no dia 15 de novembro de 1927. Nesse momento a fase de prosperidade vivida por sua família estava prestes a se encerrar. A crise econômica mundial, que adquiriu visibilidade com a quebra da Bolsa de Nova Iorque em 1929, estancou as exportações de café, lançando o setor numa crise de superprodução de grandes proporções. Em consequência, os negócios de Casemiro dos Reis retraíram-se, obrigando-o a vender sua casa comercial para comprar uma pequena fazenda no distrito de Poloni, município de Monte Aprazível, situado 50 km além de São José do Rio Preto.

    Foi aí, em Poloni, que Casemiro dos Reis Filho concluiu o curso primário em 1941, portanto, já com 14 anos, o que evidencia as dificuldades de frequência à escola para a população do meio rural naquela época. Após uma sofrida passagem por Campinas para cursar o ginásio como interno no Colégio Ateneu, onde permaneceu até a conclusão da terceira série, Casemiro regressou à sua região concluindo a quarta série em Mirassol. Nessa ocasião, como filho mais velho, foi consultado pelo pai, que se encontrava muito doente, sobre se queria tomar conta da fazenda, recebendo o pai como resposta do filho que ele só queria trabalhar para poder se dedicar aos estudos, único sonho de sua vida (Carta de Aldaíza, cf. nota 2 deste capítulo). Decidiu-se, então, pela venda da fazenda, que possibilitou a compra de um bar que Casemiro administrou entre 1947 e 1949 em Mirassol, distante apenas 17 quilômetros de São José do Rio Preto. Nessa época ele realizou na Universidade do Ar do Senac o curso comercial radiofônico, tendo obtido o certificado de aprovação em 24 de fevereiro de 1949.

    Ao mesmo tempo, a situação mais favorável propiciada pela condição de dono de bar permitiu-lhe frequentar simultaneamente o curso técnico em contabilidade da Escola Técnica de Comércio D. Pedro II e o curso normal do Instituto de Educação Estadual Monsenhor Gonçalves, ambos em São José do Rio Preto, cursos esses concluídos em 1950. A essa altura, já com 23 anos de idade, decide mudar-se para São Paulo a fim de continuar os estudos em nível superior. Vende, pois, o bar para reunir os recursos que lhe permitiriam instalar-se em São Paulo e perseguir, por esse caminho, o único sonho de sua vida que era o de se dedicar aos estudos.

    ________________________________________________

    De Rio Preto para a capital

    Em 1951 Casemiro ingressa simultaneamente no curso de pedagogia e no curso de economia, ambos na Universidade de São Paulo (USP), frequentando o primeiro no período diurno e o segundo no período noturno. Ao mesmo tempo, exerce a função de professor substituto na escola primária anexa ao Instituto de Educação Caetano de Campos, a famosa escola da Praça da República da capital paulista. Entretanto, o salário intermitente característico do professor substituto tornava muito difícil sua subsistência na capital, o que o levou a aproveitar a oportunidade surgida com a abertura de um concurso público de professor secundário na disciplina de sociologia da rede estadual de ensino. Eis como ele próprio relata o episódio do concurso:

    Era muita gente e o Antônio Cândido me deu umas dicas. Estava fazendo o concurso e ele entrou no saguão da Faculdade de Filosofia da USP que ficava na Maria Antônia. E eu estava saindo da sala e o Antônio Cândido me chamou: Oh Casemiro! O que você está fazendo aqui?. Estou fazendo o concurso de sociologia. Ele olhou para mim e disse: Entre seus concorrentes, há gente que cursou quatro anos de sociologia e você só fez dois anos de sociologia comigo. Já deu, eu falei. Já deu? Eu vou ver. Ele era amigo do pessoal lá da banca. Olha, já deu!. Ele virou e disse: Foi meu aluno, foi meu aluno, com aquela alegria que todo mundo via [R

    eis

    F

    ilho

    , s/d., p. 122].

    Em decorrência do concurso, Casemiro foi nomeado por ato do governador do estado de São Paulo de 21 de setembro, publicado no Diário Oficial do Estado em 25 de setembro de 1953, para exercer o cargo de

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