O Crime Como Gênero na Ficção Audiovisual da América Latina
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Sobre este e-book
Luiza Lusvarghi
Professora e pesquisadora da Pós-Graduação em Multimeios da Unicamp (Campinas, SP), é integrante do Grupo Genecine (Grupo de Estudos Sobre Gêneros Cinematográficos e Audiovisuais), ex-diretora da Associação Brasileira de Críticos de Cinema (Abraccine), e membro dos coletivos Elviras de Críticas de Cinema, Manifesta e Mais Mulheres do Audiovisual. Graduada em Jornalismo pela PUC-SP, com Mestrado, Doutorado e Pós- Doutorado pela ECA-USP. Autora de MTV a Emetevê (Cultura, 2007), Narrativas Criminais da Ficção Audiovisual da América Latina (Appris, 2018) e coorganizadora e autora da coletânea Mulheres Atrás das Câmeras. Cronologia das Cineastas Brasileiras de 1930 a 2019 (Estação Liberdade, 2018). É coordenadora do Grupo de Pesquisa Cinema da Intercom e organizadora da Coleção Temas e Estudos de Cinema.
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O Crime Como Gênero na Ficção Audiovisual da América Latina - Luiza Lusvarghi
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO
Este livro é dedicado ao meu pai, José Francisco, assinante da Revista Magazine de Mistério Ellery Queen, que me iniciou nas narrativas criminais ainda menina. Passei a infância entre mulheres emparedadas e assassinatos, considerados por ele menos perigosos do que os romances imorais e subversivos de Jorge Amado.
Agradecimentos
Aos companheiros da Escola de Comunicação e Artes. Não posso deixar de mencionar, em especial, os amigos e colaboradores, Maria Cristina Palma Mungioli, Lucas Martins Néia, Lígia Prezia Lemos, Sílvia Góis Dantas, Flávia Arruda Miranda, Simone Biehler Mateos, Aline Arruda, Maurício Bragança, Marcílio Moraes, Marçal Aquino e Cesar Garcia Lima.
Às críticas atentas de Laura Videira e do meu filho, Iuri Lusvarghi Lannes.
Prefácio
Estudar a ficção audiovisual na América Latina tendo como eixo estrutural as narrativas criminais e estabelecer correlações entre globalização e indústria cultural é o desafio ao qual se propôs Luiza Lusvarghi. O enfrentamento dessa questão pela experiente pesquisadora possibilitou-lhe discutir, para além de importantes questões mais fortemente ligadas ao que poderíamos denominar estudos de poéticas do audiovisual latino-americano, as particularidades e as semelhanças da produção audiovisual dos diversos países que compõem essa região geográfica, promovendo o tensionamento entre o popular e o massivo (MARTIN-BARBERO, 2001) e entre o regional e o global.
Outra característica da pesquisa que deve ser destacada é a abordagem de temas que tão fortemente impactam não apenas o imaginário, mas, principalmente, o cotidiano de uma região marcada pelos mais diversos tipos de violência de nossa contemporaneidade. Ficção e realidade imbricam-se e interpelam o espectador e a pesquisadora. Em que aspectos a ficção audiovisual latino-americana, no recorte das narrativas criminais, diferencia-se da produção internacional, sobretudo a estadunidense, que é a mais consumida em nossa região? Que universos ficcionais são construídos nesse espaço geográfico e social? Quais as mediações locais? Que tipo de hibridações (CANCLÍNI, 2001) ocorrem? Quais os modelos de negócio mais presentes nessa região? Essas são algumas das questões que perpassam o livro e que permitem, a partir de sua leitura, conhecer alguns dos caminhos trilhados tanto pela produção cinematográfica quanto pela produção televisiva analisada pela autora.
Outro fator que gostaria de ressaltar é o trânsito da autora tanto pelas questões mais afeitas ao cinema quanto às produções televisivas. O elemento que constrói de forma coerente essa ponte pode ser localizado no estudo dos gêneros e formatos de ambos os meios. A perspectiva adotada de compreensão do gênero a partir de sua dimensão cultural permite esse trânsito que – ao mesmo tempo em que demonstra especificidades de cada meio e de seus instrumentos de análise – possibilita um enquadramento mais amplo do melodrama enquanto eixo articulador tanto de filmes quanto de telenovelas e de séries latino-americanas. Ainda deve ser assinalado que a pesquisa registra também alguns movimentos de apropriação de ferramentas transmídia realizados tanto pela indústria cinematográfica como pela indústria televisiva dos países analisados.
Por fim, destaco a abrangência da pesquisa que pode ser demonstrada pelo grande número de produtos (filmes, telenovelas e séries) que compõem o corpus da pesquisa e seu recorte temporal (2000 a 2017), bem como pelos 11 países cujas produções foram objeto de análise: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, Estados Unidos, Equador, México, Peru, Venezuela e Uruguai.
Ainda a título de finalização, gostaria de mencionar que a pesquisa de pós-doutorado, intitulada Transmidiação, transnacionalismo e interculturalismo: a Lei, o Crime e a Nova Ordem na Ficção Seriada da América Latina
, e que deu origem ao presente livro, desenvolveu-se na linha de pesquisa Linguagens e Estéticas da Comunicação, do Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. A pesquisa desenvolveu-se no âmbito do Programa Nacional de Pós Doutorado da Capes (PNPD/Capes), programa de concessão institucional que financia estágios pós-doutorais em programas de Pós-Graduação stricto sensu acadêmicos recomendados pela Capes.
São Paulo, março de 2018.
Maria Cristina Palma Mungioli
Docente do Departamento de Comunicações e Artes
da Universidade de São Paulo
Sumário
Prólogo ou Ponto de partida
A construção do imaginário criminal no Cinema
1.1 Principais tendências
1.2 Mocinhos e bandidos no Brasil
1.3 O policial como gênero na Argentina
1.4 Neopolicial, coyote, narcotraficante e mexicano
1.5 Hibridações de gêneros
As Narrativas Criminais na Televisão
2.1 Crimes, paixão e ficção seriada
2.2 A expansão das séries
2.3 Policial e criminal
2.4 Gênero como categoria cultural
Tramas Híbridas: Transnacionalismo, Transmidiação e Interculturalismo
3.1. Historicização dos conceitos
3.2 Assassinos seriais, feminicídio e webdocs
3.3 Práticas culturais, artefatos diegéticos e streaming
3.4 Filme, série & telefilme
O Marginal Romântico
4.1 Banditismo como uma questão de classe
4.2 Narrativas criminais e marginalidade
4.3 Justiceiros, vingadores e revolucionários
4.4 Mocinhos, mocinhas ou bandidos?
De Femme Fatale a anti-heroína: Protagonismo e Relações de Gênero
5.1 Arquétipos de gênero
5.2 Traficantes e sicárias
5.3 Policial e justiceira
5.4 Marginal, revolucionária e libertária
Epílogo: Considerações Finais
Referências
Prólogo ou Ponto de partida
Aquela moça continua sendo assassinada
todos os dias e de diferentes maneiras.
(Carlos Drummond de Andrade, referindo-se a Angela Diniz, a pantera de Minas)
Do ponto de vista do imaginário, o conceito de ato criminal e punição é tão antigo quanto a própria civilização. Do ponto de vista literário, o conto Os Assassinatos da Rua Morgue (The Murders in the Rue Morgue, 1841), de Edgar Allan Poe, representa o marco para a narrativa moderna policial e criminal do Ocidente com a criação do detetive Monsieur C. Auguste Dupin. Consta que sir Arthur Conan Doyle se baseou em Dupin para criar seu personagem Sherlock Holmes. Poe é também referência para as narrativas fantásticas e de terror por seu famoso poema O Corvo (The Raven, 1845).
Juridicamente, o crime é algo que se define pela gravidade da penalidade aplicada a uma infração. Não existe definição universal para o crime. Substantivo masculino em português e espanhol, tecnicamente significa a transgressão da lei. Diversos autores entendem o ato criminoso como um conceito em evolução, que pode ser afetado pelo desenvolvimento da sociedade, por questões religiosas e políticas. Essas mudanças impactam o entendimento do gênero criminal na ficção e no nosso imaginário. A alegação de crime passional livrou muitos homens de serem culpados por homicídio. O ciúme patológico ou mórbido é também conhecido na literatura como Síndrome de Otelo
, alusão ao personagem de uma das principais obras de William Shakespeare. Otelo mata Desdêmona por suspeitar de sua fidelidade. A questão que ganhou mais importância nas últimas décadas é a que menos é abordada nas narrativas criminais ficcionais: o feminicídio (SILVESTRINI, 2014), que é tipificado ora como crime passional ora como delito derivado de perturbações psicológicas do assassino em diferentes países.
Na América Latina, 16 países adotaram finalmente medidas punitivas contra o chamado crime passional, que tirou tantas vidas e dizimou famílias: Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, El Salvador, Equador, Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Peru, República Dominicana e Venezuela. O país de maior índice de feminicídios, Honduras, não tem logrado êxito em combater esse crime cujas atenuantes já livraram muitos da cadeia, em todos os estratos sociais¹. Os filmes de ficção seriada criminal e de ação que abordam o tema, no entanto, são raros, como o filme Os Amores da Pantera (1977), baseado em livro de José Louzeiro livremente inspirado pelo assassinato da socialite Ângela Diniz, conhecida como "a pantera de Minas pelo playboy Doca Street. O caso Ângela-Doca suscitou campanhas de mídia e manifestações, contra e a favor do assassino, a ponto do poeta Carlos Drummond publicar uma crônica em que afirmava que o assassinato se perpetuava nas notícias. Nem sempre os feminicídios ocorrem para
lavar a honra", mas a questão moral parece justificar esses atos, sobretudo se a vida da mulher assassinada não for exatamente o modelo dentro do sistema patriarcal. É o que ocorreu com os feminicídios de Ciudad Juarez, México, por exemplo, que atingiram, em sua maioria, prostitutas (MODELLI, 2016).
O termo homicídio na acepção etimológica significa destruição da vida de um ser humano, provocada por ato voluntário (ação ou omissão) ou involuntário; crime que consiste em tirar a vida de outrem; assassinato
(HOUAISS, 2018)². O crime de tirar a vida de outro, portanto, tem suas atenuantes, mesmo nos termos da lei. Essas interpretações da lei abalam questões de gênero ficcional, sobretudo quando aplicadas à realidade de um país, de uma região, confrontadas por hábitos culturais e práticas sociais arraigadas. Essas práticas foram alicerçadas há anos, e encontram diferenças entre as sociedades ocidentais e orientais, e nas diversas regiões do mundo, mas também muitos pontos em comum. A classificação de gênero ficcional criminal passa por todas essas nuances, daí a dificuldade de se estabelecer de forma categórica os seus limites sem detalhar as circunstâncias.
Filmes sobre investigações criminais, trazendo policiais ou detetives particulares como protagonistas, e temas como lei, ordem e justiça, não constituem novidade desde a virada do século. Os curtas The Litttle Train Robbery (1905) e The Great Train Robbery (1903), ambos dirigidos por Edwin S. Porter, são considerados os primeiros filmes do gênero nos Estados Unidos³, que ainda produziriam os longas-metragens A Career of Crime (1908) e The adventures of Sherlock Holmes (1905). O formato longa-metragem levou mais tempo para se consolidar nos Estados Unidos do que na Europa. Os filmes sobre crimes costumavam ser média-metragens, e muitos foram exibidos em episódios no cinema. O famoso vilão francês Fantômas foi recriado em cinco produções seriais de Louis Feuillade, produzidas entre 1913 e 1914, inspiradas pela obra literária criada por Marcel Allain e Pierre Souvestre. O vampiro de Dusseldorf (1931), de W. Murnau, foi o primeiro grande filme alemão sobre um serial killer. Filmes de detetive, crimes e roubos famosos eram inspirados por romances, ou por casos verídicos. Foram as versões hollywoodianas, entretanto, sempre mais voltadas para o entretenimento do que para a reflexão, que popularizariam o gênero na América Latina, tanto no cinema quanto na televisão.
Em sua obra sobre o estudo de gêneros em Hollywood, Steve Neale (2000, p. 161) propõe a classificação Crimes Contemporâneos como uma categoria que compreende os subgêneros Detective Films, Gangster Films e Suspense Thrillers. É a televisão, certamente, ainda mais do que o cinema, que vai ser a referência maior das narrativas criminais em suas versões locais nos principais países produtores de audiovisual da América Latina, México, Brasil e Argentina.
A discussão de gênero ficcional no que se refere às narrativas criminais na América Latina vem quase sempre marcada por um imaginário ancorado na produção hollywoodiana, predominante nas telas e circuitos de exibição audiovisual da região desde os primórdios do cinema, e que se perpetuou nas obras televisivas. No entanto esse modelo herdado das séries estadunidenses⁴ e hollywoodianas não predomina nas narrativas seriadas criminais e nem mesmo nas obras cinematográficas, que incorporam outras tradições culturais locais e regionais, mesclando o thriller de ação, suspense e policial ao melodrama. A estrutura de algumas dessas produções remete ao formato das populares telenovelas, e até mesmo ao docudrama e às cinebiografias, caso da Colômbia, embora mantendo o foco narrativo no drama criminal. Além disso, a virada do milênio assinalou o surgimento e o empoderamento de narrativas criminais no cinema, com destaque para a Argentina, que possui larga tradição no