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Poesia reunida: Terêza Tenório
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Poesia reunida: Terêza Tenório
E-book479 páginas2 horas

Poesia reunida: Terêza Tenório

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Sobre este e-book

O universo cósmico e imaginário da poesia de Tereza Tenório é agrupado nesta primeira antologia organizada pela Cepe Editora. A poesia reunida da poeta recifense obedece a ordem cronológica de suas publicações, começando pelo Parábola (1970) e terminando com A casa que dorme (2003), conforme desejo da autora. Musa da Geração 65, Terêza começou publicando seus versos no suplemento literário do Diario de Pernambuco. Em 1994 escreveu o poema O narguilé do xamã de Cybelius Manzini, no livro O corpo da Terra, que se destaca pelo caráter experimental. Uma característica da sua produção literária é o emprego de elementos míticos, de crenças diversas (mitologia européia, ocultismo e tradição judaico-cristã).
IdiomaPortuguês
Data de lançamento5 de dez. de 2018
ISBN9788578587291
Poesia reunida: Terêza Tenório

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    Poesia reunida - Tereza Tenório

    Nota editorial

    Este livro reúne toda a obra poética publicada em livros por Terêza Tenório, iniciando pelo de estreia, Parábola (1970) até o último, A casa que dorme (2003). Não foi incluído A musa roubada (2006, Cepe Editora), que reúne versões de manuscritos inéditos da poetisa, uma vez que esta não participou da seleção dos poemas. O volume Poemas de Terêza Tenório, (Cadernos de poesia n. 6, Fundarpe, 1996), por se tratar de uma seleta de poemas já publicados, tampouco é considerado nesta edição.

    Os livros Parábola (1970), O círculo e a pirâmide (1976), Mandala (1980) e Noturno selvagem (1981) foram reeditados em Poemaceso (1985), com algumas modificações, inclusive a supressão de alguns poemas. Parábola, especificamente, já havia sido republicado em O círculo e a pirâmide, com a seleção reduzida que reapareceria em Poemaceso.

    De Parábola, Terêza havia suprimido, já em O círculo e a pirâmide, os poemas Mensagem, Canção, Páscoa, Árvore, Mar, Praia, Espectro, Rural, Bonzo, Gato e Galopada. Essa seleção é a mesma presente em Poemaceso, em que, adicionalmente, o poema Soneto em metro dissoluto é rebatizado como Soneto, e Paisagem do Nilo vira Paisagem do Recife.

    De Mandala, suprimiram-se os poemas Inconsciente coletivo e Mí(s)tico, substituídos em Poemaceso pelos poemas Claro nome de Deus e Árvore. Noturno selvagem é organizado em dois blocos, com sete e catorze cantos, respectivamente, com epígrafes específicas. Em Poemaceso, Terêza agrupa todas as epígrafes e dispõe os vinte cantos em um único bloco. Além disso, o canto terceiro foi suprimido.

    Por fim, optamos por manter a ordem cronológica das publicações e a ordem dos poemas conforme a publicação original, preservando aqueles que a autora suprimira em O círculo e a pirâmide e em Poemaceso. Adicionalmente, nesta edição tratou-se de preservar a versão mais recente dos poemas, ou seja, a publicada em Poemaceso, sempre que não se identificou um provável erro de revisão deste último.

    No livro O corpo da Terra (1994) a autora publicou o poema longo O narguilé do xamã de Cybelius Manzini, obra de caráter experimental, claramente destacada do resto livro. Apesar de publicadas num único volume, formam dois corpos distintos. Nesta edição, consideramos as duas obras de forma independente.

    Em A casa que dorme (2003), há divergências entre o livro e os originais com respeito à disposição dos versos e quanto ao uso de marcas tipográficas (negrito ou itálico) em alguns poemas. É o que ocorre com Aragem, A fala (nos originais com o título de O pai), Caravela, Caso, Dedalus, De profundis, Documento íntimo, Fausto, Mascarada, Vivendo o nunca mais, Rebelião, Sete vidas e Voo.

    Com efeito, o uso da espacialidade da página, muito recorrente na poesia anterior de Terêza, está ausente em A casa que dorme. Diante da impossibilidade de atestar se isso decorreu de decisão da autora, mantivemos a disposição dos versos presente na publicação original, exceção feita a alguns poemas em que a quebra do verso claramente se deu por um erro de diagramação, como em Absinto e O jardim. Nestes casos, foi mantida a disposição dos originais.

    Recife, novembro de 2018

    p6.jpg

    O poeta, quando começa a criar,

    não é mais senhor de sua razão.

    Platão, Leis

    Chego a mim por mim sem medo

    e busco minha órbita cheia,

    o meu selo incorruptível,

    minha irredimível areia.

    César Leal

    Retém eterna a vida

    EU SOU O Lustral face o(r)val(h)ada

    CAMINHO, A e puro amor a(r)mada.

    VERDADE Labareda ancestral

    purificou-te o lábio

    no hálito inicial.

    E A VIDA Na longa pátria antiga

    incendiada ao Sol,

    entre oásis de palmas

    e azulados montes,

    te espera sem revolta

    o cálice da morte.

    Teus passos de silêncio

    deixaram fortes marcas

    na superfície líquida

    sem vela, leme ou barco

    de uma a outra vida.

    Da alumiosa Mão

    traspassada e cindida,

    vinho e pão sem fermento,

    consubstanciados

    na Mística Trindade

    dentre o vão do Sacrário.

    FOI O primeiro holocausto

    CRUCIFICADO foi isento de sangue.

    MORTO E Depois, o corpo exangue

    SEPULTADO aéreo e mutilado.

    Depois, símbolos vivos,

    dormidas trevas, gelo

    e o medo de perdê-Lo:

    — Meu Deus! Meu Deus! Quem é

    que clama no deserto?

    E RESSURGIU Coágulos no peito

    DOS MORTOS teu pobre peito aberto,

    úmido peito: água

    na carne nua e amarga.

    Imóvel luz votiva

    de insensato amor Te

    retém eterna a Vida.

    Eterno

    A César Leal

    Símbolo vivo

    vence demônios

    tira do sono

    temidos sonhos.

    Acende lâmpadas

    com sal e água,

    sem fogo, vela,

    pavio e nada.

    Reabre túmulos

    alvos, floridos,

    devolve à vida

    mortos queridos.

    Cavalga pássaros

    em temporais

    subindo ao vento

    — Mais alto! Mais!

    Sonha com a lua,

    sorri. Desperto,

    chora e o pranto

    rega o deserto.

    Entre piratas

    em alto mar

    de espada em punho

    fá-los recuar.

    Aos abissais

    no chão do mar

    vence-os sorrindo

    sempre a nadar.

    Em Creta antiga

    ama Ariadne

    e ao Minotauro

    transforma em pajem.

    Nu, nas montanhas

    bebe água pura,

    come silvestres

    pinhas maduras.

    Exige ao vento

    novas roupagens

    e parte em busca

    de outras paragens.

    Sobrevoa os Alpes,

    sobe o Everest,

    abençoa o Lama

    sobre o Tibet.

    Vai até o Cosmo

    só, e a aeronave

    desfaz-se em cinzas

    meio à viagem.

    Pousa no Sol

    planta uma árvore

    que produz grãos

    de trigo e vagens.

    Mata o Centauro

    tornado em símbolo,

    toma-lhe o arco,

    cabelos, signo.

    De Escorpião

    tira o veneno.

    Cavalga Touro

    e dá-lhe feno.

    A Aquário, vinho.

    A Áries, que o irrita

    tosa-lhe a lã

    com lazulita.

    A Caranguejo

    amarra as patas

    e à linda Virgem

    que acha graça

    casa-a com Gêmeos.

    Como presente

    dá-lhes Leão

    por todo o sempre.

    Pesa em Balança

    Peixes, em postas

    feitos no ácido

    sumo de rosas.

    A Capricórnio

    que é signo anfíbio

    funde-o no Sol

    após um atrito.

    Voa a Saturno

    furta os anéis

    devolve-os depois

    faltando dez.

    Abre as comportas

    do Universo

    treme de medo

    foge do verso,

    indo até Marte

    para os canais

    e cai nas mãos

    de canibais,

    que o matam. Sangue

    sulca o planeta

    tingindo-o todo

    com a cor vermelha.

    O corpo inerte

    transmuda em rio;

    a voz invade

    o dia vazio.

    As trevas velam

    o corpo líquido;

    soluçam monstros

    nos precipícios.

    Os pesadelos

    riem felizes;

    na Terra as árvores

    matam raízes

    com tantas lágrimas

    tão derramadas.

    As aves partem

    em revoada

    em busca dele

    que habita em Marte

    perene, vivo,

    na outra margem.

    Alfa-centauro

    A paisagem acrílica

    de Alfa-Centauro

    evolui metálica

    ante nossos olhos.

    Antiformas bélicas

    de astronaves mudas

    (a mudez da pedra

    gritante de um Buda).

    Antiformas líricas

    de astronaves puras

    (a pureza fria

    de alvas estruturas).

    Antiformas térmicas

    de astronaves límpidas

    (contra um céu de chumbo

    destacam-se nítidas).

    Na planície densa

    de gases acesos

    de completo caos

    surge um ser coeso.

    É um ser sem alma

    de face mecânica

    (produto arrancado

    à energia atômica).

    Manoplas de aço

    inoxidável.

    A cabeça e o tórax

    eletronizados.

    Mil computadores

    de urânio e cobalto

    testam a resistência

    do ser automático

    e monstros em série

    (pois tal ser mecânico

    é, em verdade, um monstro)

    brotam do outono.

    Outono sem árvores

    ou folhas caídas

    ao sopro do vento

    pelas avenidas.

    Outono sem chuvas,

    sem sol, sem ocaso,

    sem fruta madura

    com sabor de acaso.

    Outono só fim

    túmulo do verde

    das cores da vida

    em todo planeta.

    E das astronaves

    os seres sintéticos

    alçam voo clássico

    com destino bélico

    indo, céu a dentro,

    para a Terra — lívida,

    descarnada, trêmula,

    semiapocalíptica.

    Nave

    Buscando o fim do Universo

    partiu a nau supersônica

    forte nave de metal

    movida a energia atômica.

    Grande nave inconformada

    da época espacial

    em mil detalhes testada

    partiu, e nenhum sinal

    deixou nos confins do mundo

    da procura entre as estrelas,

    na Via Láctea, planetas,

    civilizações inteiras.

    Nebulosas e asteroides

    com estranhas formas de vida,

    imensos desertos áridos,

    aves de asas partidas.

    Frágeis seres vegetais

    cor da verde clorofila

    em perene fotossíntese

    silenciosos, tranquilos.

    Nos planetas submersos

    eternamente na água

    brotada além do arco-íris

    sem uma única vaga,

    fluídos seres submarinos

    homens-peixes e sereias

    com a maldição da máquina

    e insuperável tristeza.

    Mil mundos de fogo líquido

    e rubra lava fervente

    altíssimas atmosferas

    planetas incandescentes.

    A mais longínqua galáxia

    de anos-luz de distância

    que jamais serão contados

    não interrompeu a andança

    da forte nau supersônica

    de corpo esbelto e maciço

    solidamente firmada

    em seu rumo ao infinito.

    Horóscopo

    Animais-signos

    encadeados

    pelos demônios

    ao Sol atados.

    Doze, ligados

    entre si, místicos,

    percorrem rápido

    todo o zodíaco.

    Como os planetas

    de massa cósmica

    os animais

    perfazem órbita

    de forma elítica

    no infinito

    e marcam o tempo:

    são os doze signos.

    Capricórnio*

    A grande cabra marinha

    das zodiacais regiões

    alimenta-se de estrelas

    desfaz as constelações.

    Em suas andanças noturnas

    percorre o Cosmo sem-fim,

    e sob o frio Saturno

    torna-se em gelo-marfim.

    E sob o calor de Apolo

    que fez do Sol sua morada

    a cabra do mar degela

    e despe a pele prateada.

    Suspensa sobre o Oceano

    com o lúcido corpo anfíbio

    a grande cabra mergulha

    no Universo marítimo.

    Mas a terra firme vela

    pelo animal de Saturno:

    retira-o do meio do mar

    e guarda-o no seio escuro.

    Com a cabeça caprina

    e corpo de aquonauta

    o animal se liberta

    galga as montanhas mais altas.

    Depois, regressa ao zodíaco

    sob a seta do luar

    formando várias conjunções

    no infinito solar.

    E sua influência anfíbia

    se faz sentir poderosa

    sobre os que nascem na hora

    das conjunções misteriosas.

    * Em Parábola o poema é dedicado a Ariano Suassuna (N. do. E.)

    Mensagem

    Através das escotilhas

    abertas na noite acesa

    a inesquecível beleza

    da estranha maravilha:

    Flores-de-lótus azuis,

    um longo terço de sóis,

    ave-marias ao sul,

    e ao norte, formando a cruz

    As letras iniciais

    do nome não pronunciado

    com reflexos tomados

    à chama dos temporais,

    que ampliam o infinito

    qual misteriosa mensagem

    de incentivo à viagem

    do espaçonauta místico.

    Parábola**

    Incandescentes nuvens

    de ferro em brasa acesas

    no céu sempre poente

    sem noite e sem manhã

    protegem os caminhos

    da longa terra origem

    suspensa em frio sono

    de mística estação.

    As flores, todas mortas,

    sem cor e sem perfume

    soluçam inutilmente

    no limbo vegetal.

    Caminham enfileirados

    nas brancas avenidas

    tristonhos cajueiros

    de ouro desnudados.

    Os rios silenciosos

    e as fontes sem murmúrio

    debruçam-se nas pedras

    e fluem ao vazio.

    O vento, de inconsútil

    roupagem cinza envolto

    arrasta-se vencido

    no corredor do espaço.

    E o céu, sempre poente

    sem noite e sem manhã

    não sabe mais o brilho

    nascente do luar.

    ** Em Parábola

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