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Socioeconomia pernambucana: mudanças e desafios
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Socioeconomia pernambucana: mudanças e desafios
E-book407 páginas3 horas

Socioeconomia pernambucana: mudanças e desafios

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Sobre este e-book

Este livro foi escrito para ser lido por quem acredita que o liberalismo econômico puro e simples não vai resolver, por si só, a miséria e as desigualdades de uma região como a nossa. É uma homenagem aos que dedicaram suas vidas a promoção do desenvolvimento de Pernambuco e um convite a todos para que entendam melhor o que vem acontecendo aqui e contribuam com ideias e votos conscientes para construir um estado próspero e melhor para todos.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento3 de out. de 2018
ISBN9788578586850
Socioeconomia pernambucana: mudanças e desafios

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    Socioeconomia pernambucana - Tania Bacelar de Araujo

    Folha de rosto

    Ficha catalográfica

    © 2018 Tania Bacelar de Araujo | Tarcisio Patricio de Araujo

    Direitos reservados à

    Companhia Editora de Pernambuco – Cepe

    Rua Coelho Leite, 530 – Santo Amaro

    CEP 50100-140 – Recife – PE

    Fone: 81 3183.2700

    S678

    Socioeconomia pernambucana : mudanças e desafios / Tania Bacelar de Araujo, Tarcisio Patricio de Araujo (orgs.). — Recife : Cepe, 2018.

    317p. : il.

    Inclui referências.

    1. Desenvolvimento econômico — Pernambuco — Ensaios.

    2. Desenvolvimento social — Pernambuco — Ensaios. 3. Pernambuco —

    Condições econômicas. 4. Desenvolvimento econômico — Pernambuco —

    História. I. Araujo, Tania Bacelar. II. Araujo, Tarcisio Patricio de.

    CDU 338.1(813.4)

    CDD 338.9

    PeR — BPE 18-523

    ISBN: 978-85-7858-685-0

    Pernambuco no início do século xxi

    João Recena

    Este livro traz uma preciosa coletânea de estudos sobre o estado do desenvolvimento socioeconômico de Pernambuco no início do século XXI, complementada por um ensaio elaborado pela professora Tânia Bacelar, que buscou sintetizar o esforço de análise da equipe de especialistas, bem como apontar para os desafios mais relevantes para o futuro. O que se depreende dos textos e da síntese é que Pernambuco, no período em foco, vive a experiência e as consequências da realização de metas que elegeu para si na década de 50 do século passado. Consolidou um porto de grande calado, implantou um polo petroquímico, dois estaleiros e uma montadora de automóveis. Para completar a lista talvez tenha faltado construir uma planta siderúrgica. Afinal, um mal menor. O leitor, porém, vai constatar que, apesar de o sonho ter se realizado, o maior problema do Estado e da Região – o reflexo aqui das imensas e renitentes desigualdades regionais e sociais do País – está longe de ser resolvido.

    E é com um misto de nostalgia e de grande reverência que se dá adeus a uma era em que os investimentos econômicos no Estado foram guiados pelos planos do Condepe e da Sudene, de Lebret e de Celso Furtado. Sem menosprezar a ajuda do Governo Federal, que foi grande, Pernambuco deu lições de planejamento, de perseverança e de continuidade administrativa ao levar adiante, por vários governos sucessivos, a realização de um plano que veio contar com o apoio político da população. Aos resultados alcançados no início deste século talvez se compare o que representou implantar, na década de 1960, uma unidade de produção de borracha a partir do etanol. Engenheiros químicos pernambucanos pressentiam à época a necessidade de se viabilizar uma indústria baseada em matéria prima renovável, e um governo empreendedor fez o resto.

    E agora, implantadas as grandes unidades industriais, o que fazer? Essa parece ser a indagação que brota deste livro. Deixados para trás os planos de Lebret e Celso Furtado, o que propor?

    Poderíamos começar por uma crítica – respeitosa e construtiva – aos planos do passado. Por serem de mais fácil abordagem, tomemos as quatro propostas principais do Grupo de Trabalho de Desenvolvimento do Nordeste - GTDN, de 1958, inspiradoras dos programas de desenvolvimento logo a seguir conduzidos pela Sudene. O que se propunha para o Nordeste norteava o projeto de Pernambuco também: i) a intensificação dos investimentos industriais; ii) a transformação agrícola da faixa úmida, com produção de alimentos; iii) a elevação da produtividade e da resistência à seca da economia do Semiárido; e iv) a incorporação à economia da região do hinterland maranhense.

    O primeiro objetivo estratégico, o de cunho industrial, é o que se completou no início deste século. Por sua vez, a faixa úmida litorânea resistiu aos esforços despendidos para transformá-la em grande produtora de alimentos. Com o declínio da cana, o litoral perdeu importância na agricultura e ganhou em serviços, com o turismo e o lazer. Por vários meios, não necessariamente pela elevação da produtividade do sequeiro, o Semiárido hoje é bastante mais resistente à seca, resultado, isso sim, de investimentos pesados na construção de infraestrutura hídrica, no suprimento de crédito diferenciado e na transferência de renda. E, finalmente, quanto ao quarto objetivo, ao invés de consolar-se com a emigração para as terras úmidas do Maranhão, os nordestinos, por conta própria, valeram-se dos paus de arara e partiram para São Paulo, salvando-se assim da seca, da sede e da fome. Recentemente tomou-se conhecimento de que Douglas North, futuro Prêmio Nobel de Economia, recomendou em 1961, à semelhança do GTDN, que se providenciasse a migração da população do Nordeste. Naquela época, então, havia pelo menos um plano, tinha-se consciência da importância de promover o desenvolvimento da Região.

    E o que não foi previsto ou proposto nos planos do passado? Talvez a principal ausência tenha sido a falta de prioridade para educação, a falta de percepção da importância do capacity building – a capacitação da população para que ela própria vença a pobreza e a miséria e migre para a classe média. Nesse campo, como se aprende com os artigos que vêm a seguir, Pernambuco se esforçou bastante nos últimos anos. As matrículas no ensino médio quase que quintuplicaram. Segundo o MEC/INEP, no período 2005-2016, o ensino superior expandiu-se 68,9%, contra 47,2% da média do País. No interior de Pernambuco, de forma impressionante, o crescimento foi de 73,4%. Mas resta um desafio monumental pela frente, não só em quantidade, como principalmente em qualidade. Com níveis de analfabetismo que no século XXI ainda beiram os 15% é difícil acreditar-se no progresso de uma região. Aliás, é impossível que esse progresso aconteça. A diretriz primeira para um novo plano de desenvolvimento deve ser, portanto, o investimento massivo em educação de qualidade. O povo que ainda sofre no Semiárido e nos bolsões de pobreza das regiões metropolitanas só vai sair dessa situação se tiver competência para se inserir em uma economia formal, inovadora e competitiva.

    Em Pernambuco e no Nordeste, fica claro a partir da leitura dos textos, o maior desafio ainda é, de longe, o combate às desigualdades sociais. O novo plano deve priorizar esse objetivo. E um investimento de porte em educação, embora fundamental e indispensável, não vai resolver sozinho o problema. É preciso, urgentemente, gerar emprego de qualidade. Infelizmente, após experimentar um período de bonança, o Estado voltou a exibir taxa de desemprego bem superior à média nacional, com a desocupação se ampliando de 8,3% para 17,9% entre 2014 e 2017. A escassez de emprego agride a população e contribui para reforçar mazelas sociais. Além da falta de condições mínimas de sustento, as famílias veem seus filhos largados à rua, desesperançados e sujeitos a toda sorte de infortúnios. Sem emprego, não há produção, não há salário, não se geram impostos nem recursos para a previdência. Não há como prestar bons serviços públicos se não há base de arrecadação tributária suficiente para a geração das receitas indispensáveis.

    Do ponto de vista espacial, a faixa litorânea do Estado continua concentrando a economia competitiva. Embora a cana-de-açúcar tenha perdido força, tornando-se a quinta colocada na pauta de exportações de Pernambuco, foi substituída na Região pela produção de automóveis e o refino de petróleo. A área metropolitana também perdeu protagonismo, na medida em que Suape atraiu investimentos industriais relevantes e a Zona da Mata Norte foi contemplada com uma montadora de automóveis, fábrica de vidros planos e indústria de bebidas. No Recife concentram-se serviços modernos e o litoral abriga turismo e lazer de sol e mar. Em que pese a Região contar com clima ameno e economia mais desenvolvida, a denúncia de Morte e Vida Severina continua válida. O litoral ainda concentra bolsões de pobreza incrustados na zona rural e na região metropolitana. O contraste entre pobreza e riqueza aí é gritante, tornando ainda mais urgentes a geração de emprego e educação de qualidade.

    O Semiárido continua, porém, sendo o grande desafio em termos de formulação de uma política de desenvolvimento para o Estado e para o Nordeste. Num arroubo de responsabilidade social, Mangabeira Unger, então ministro de Assuntos Estratégicos de Lula, afirmou em relatório sobre a Região que não há solução para o Brasil sem solução para o Nordeste e que não há solução para o Nordeste sem solução para o Semiárido. No que diz respeito a Pernambuco, há ali algumas novidades. Em torno de Caruaru, desenvolveu-se um importante polo de confecções e a cidade hoje impressiona pela acelerada urbanização, destacando-se o segmento terciário moderno, inclusive várias universidades. Na zona rural, a tradicional produção leiteira continua vivendo seus ciclos, lutando para manter importância diante da avicultura que, essa sim, fez fortes avanços no período. A novidade mais espetacular, porém, é a fruticultura irrigada de Petrolina, refletida na imagem do jumbo decolando do aeroporto da cidade, para vencer um percurso de nove horas de voo até chegar com sua a carga de frutas frescas à Europa. O transporte marítimo e o rodoviário completam o escoamento da produção. Por incrível que pareça, Pernambuco exporta hoje, em valor do produto, mais frutas para o Brasil e para o mundo do que açúcar.

    O Semiárido, infelizmente, não pode esperar que a irrigação nos moldes em que ocorre em Petrolina, esse verdadeiro fenômeno de inovação, vá se alastrar por todo o seu território e redimir seu povo da escassez e da miséria. A infraestrutura de irrigação é muito cara e não há água e solos disponíveis para expandir indefinidamente a atividade. Devido à seca o rio São Francisco está com a menor vazão desde que foi regularizado pelo reservatório de Sobradinho, e os maiores açudes do Nordeste encontram-se na cota mais baixa em muitos anos. Mas, desde que o Conselheiro prometeu que um dia o Sertão iria virar mar, o sertanejo aguarda providências. Alguma coisa importante, é verdade, tem sido feita. Os mais de R$ 10 bilhões investidos nas obras da Transposição são prova disso. Consta que Campina Grande salvou-se do colapso de abastecimento d’água porque o Eixo Leste entrou em operação a tempo. Já se fala numa transposição do Tocantins para o São Francisco, que garantiria mais água para o Semiárido. Mas essa política tem limites. Não é racional promover agricultura onde falta água e onde os solos, na maioria das vezes, não são aptos a receber irrigação. A solução tem que ser outra, e sua concepção é um grande desafio. Investimentos paliativos, como a instalação de cisternas, têm sido extremamente bem acolhidos pelas populações difusas. Guardam-se as poucas águas de chuva e tem-se onde armazenar o suprimento trazido por caminhões-pipa. Mais uma vez, educação e geração de emprego são a saída. Uma família não vive isolada, sob a inclemência do sol do Sertão, sem qualquer conforto, se tiver outra opção. E o êxodo rural continua. À medida que polos como Petrolina se consolidam, as famílias vão perdendo a companhia de seus filhos, decididos a encontrar na cidade um futuro melhor. A meio caminho entre a diáspora preconizada por Douglas North e a identificação e o estímulo ao desenvolvimento de atividades geradoras de renda, deve estar a solução para as populações que decidirem permanecer no sequeiro. Desde a exploração da apicultura, a produção de doces a partir de frutas silvestres como o umbu, ou a sonhada modernização da caprino-ovinocultura, vale a pena experimentar de tudo.

    O Nordeste melhorou muito. As fotos do início do século XX, estampando retirantes concentrados nas praças de algumas cidades do interior, são impressionantes. Isso não ocorre mais, embora Raquel e Graciliano, O Quinze e Vidas Secas, não nos deixem esquecer as agruras enfrentadas por almas tão sofridas. Houve melhoras, mas as desigualdades continuam enormes. O problema é que parece que ninguém vê, que todos nos tornamos insensíveis. O recifense normal não sente mais nenhum desconforto quando atravessa a ponte que dá acesso à área mais rica da cidade, uma ponte que passa por cima e ao largo de uma franja de palafitas que deveriam ter sido substituídas por casas minimamente confortáveis desde que Agamenon Magalhães criou em 1939 a Liga Social Contra o Mocambo.

    Este livro foi escrito para ser lido por quem acredita que o liberalismo econômico puro e simples não vai resolver, por si só, a miséria e as desigualdades de uma região como a nossa. É uma homenagem aos que dedicaram suas vidas à promoção do desenvolvimento de Pernambuco e um convite a todos para que entendam melhor o que vem acontecendo aqui e contribuam com ideias e votos conscientes para construir um Estado próspero e melhor para todos.

    Recife, junho de 2018

    *Engenheiro, consultor, ex-secretário de Planejamento de Pernambuco

    Agradecemos a Ademilson Saraiva,

    economista da Ceplan, pela contribuição

    no tratamento e na análise inicial de dados

    em vários ensaios deste livro.

    A dinâmica da economia e transformações relevantes

    1. A dinâmica da economia e transformações relevantes

    1.1. Introdução

    Este ensaio examina a trajetória recente da economia de Pernambuco, apontando as principais transformações ocorridas nos últimos anos, bem como os impactos decorrentes da crise em curso, para, em seguida, discutir as oportunidades e desafios para o futuro. Articula, aos já tradicionais enfoques macroeconômico e setorial, considerações sobre os agentes empresariais que tomaram parte em dito processo.

    O texto está dividido em três partes. A primeira examina a evolução da economia estadual na sua fase mais dinâmica, registrando as transformações mais relevantes; a segunda analisa tanto a fase de desaceleração como a crise recente da economia, procurando identificar os impactos sobre os segmentos econômicos mais representativos de Pernambuco; e na terceira parte são apresentados os desafios da economia pernambucana.

    A perspectiva territorial do desenvolvimento econômico no Brasil remete ao processo de integração produtiva nacional, que coincide com a mudança de escala e escopo da industrialização brasileira na década de 1960, cujo marco principal foi a implantação da Superintendência para o Desenvolvimento do Nordeste – Sudene. Muitas das características ainda hoje vistas na realidade socioeconômica dos estados nordestinos, e de Pernambuco em particular, baseiam-se neste processo. Não se pode eludir, por exemplo, o fato de a dinâmica econômica do Nordeste ter sido, desde os anos 1960, produto de macro decisões definidas não só em escala estadual, mas também nacional e internacional (FURTADO, 2013).

    Com efeito, permanece válida a constatação da soldagem da dinâmica de crescimento das economias nacional, regional e estadual. Conforme atesta o Gráfico 1.1, ainda que se vislumbrem ritmos distintos, há uma convergência das trajetórias econômicas do Brasil, da região Nordeste e do estado de Pernambuco, no sentido de aceleração/desaceleração da expansão, que remete ao início dos anos 1960. Vale destacar que no gráfico referido são utilizadas médias móveis trienais. Posteriormente serão apresentadas, para as fases identificadas numa primeira aproximação, as taxas anuais de crescimento.

    Gráfico 1.1 - Brasil, Nordeste e Pernambuco: médias móveis trienais das taxas de variação do Produto Interno Bruto (PIB) – valores em percentual - 1963 a 2016

    Fonte: Contas Nacionais/ IBGE; Contas Regionais/IBGE; FGV; SUDENE; PIMES e Agência Condepe-Fidem.

    (*) Os dados oficiais para o Nordeste estão disponíveis até o ano de 2015.

    Reconhecer essa soldagem dinâmica equivale a considerar que, nas últimas décadas, o processo de integração produtiva do Nordeste ao resto do País contém os principais condicionantes do desempenho da economia regional e dos estados que dela fazem parte, cabendo dele resgatar as seguintes características centrais:

    • o translado de empresas de médio e grande portes, controladas por grupos econômicos do Sudeste e do exterior, para o Nordeste, operacionalizando a ideia de uma economia nacional regionalmente localizada e diferenciada, posicionando a região em uma divisão inter-regional do trabalho (GUIMARÃES NETO, 1989);

    • o acirramento da concorrência com parâmetros pautados pela dinâmica das maiores empresas em atuação no País (OLIVEIRA; REICHSTUL, 1973; GOODMAN; ALBUQUERQUE, 1974);

    • o atrelamento da economia da região ao ritmo e aos requerimentos da acumulação do Sudeste, delimitando a expansão da economia de Pernambuco (ARAÚJO, 1982);

    • a centralidade do setor industrial na transformação da estrutura produtiva, acarretando o aumento da renda agregada e modificando a demanda de bens e serviços, exigindo certa modernização dessa oferta (PIMES, 1984);

    • a progressiva redução da importância dos capitais locais em relação aos processos decisórios relativos à dinâmica econômica estadual (OLIVEIRA, 2014).

    Nessa longa trajetória, apresentada no Gráfico 1.1, concentrando a análise na economia estadual, constata-se que entre os anos iniciais dos anos 1960 e os finais dos anos 1970, o Brasil, após as reformas na segunda metade da década de 1960, retomou o crescimento da economia baseado na expansão industrial. Pernambuco apresentou taxas significativas de crescimento, seguindo a trajetória do Brasil e do Nordeste. Nesse período, que contempla a fase das intervenções da Sudene centradas no setor industrial, com a modernização de parques produtivos pré-existentes e a implantação de novos empreendimentos, o avanço de atividades comerciais e de serviços ocorreu na esteira do crescimento proporcionado pela indústria de transformação.

    Entre 1985 e 2000, as economias nacional, regional e estadual não apresentaram o mesmo dinamismo do período anterior. Nessa época, de baixo crescimento e estagnação, ocorreram as crises fiscal e financeira do Estado Nacional (anos de 1980), a intensificação do processo inflacionário e a sucessão de planos malsucedidos de estabilização. Seguiu-se, nos anos de 1990, uma fase de estabilização (Plano Real – 1994) sem crescimento, caracterizada pela adoção de políticas liberais de ajustes fiscais, abertura comercial e a financeira (ABREU, 2014; MONTEIRO NETO; VERGOLINO; MONTEIRO DOS SANTOS, 2014).

    Nesta fase, a economia pernambucana registrou ainda mudanças relevantes no terciário, com o comércio e a prestação de serviços mantendo como característica principal a heterogeneidade, com presença marcante da informalidade e a emergência de atividades modernas, a exemplo do varejo de larga escala. O setor industrial, por sua vez, sofreu um precoce processo de desindustrialização, em meio ao acirramento concorrencial promovido pelo movimento de integração regional e pela abertura comercial (FIEPE, 2013).

    Nos anos entre 2000 e 2015, a trajetória do país, da região e de Pernambuco compreendeu uma fase inicial de retomada que, após os anos críticos do início da primeira metade dos anos 2000, alcançou o patamar médio de crescimento em torno de 4% ao ano, para as três economias consideradas. Tal crescimento foi sustentado pelas condições internacionais favoráveis para a economia nacional (dinamismo da demanda externa e preços favoráveis das commodities) e também pelas políticas ativas de investimentos do setor público e de políticas de redistribuição de renda, aliadas às de expansão do crédito, e tem continuidade até o momento de ocorrência da crise internacional desde 2008, amortecida, nos primeiros momentos por políticas anticíclicas. A partir da década de 2010, os impactos mais severos da crise marcaram presença, inicialmente através de um processo de desaceleração e, em seguida, com taxas negativas nos últimos anos (LACERDA, 2017). Estas duas fases serão examinadas mais adiante.

    1.2. A dinâmica da economia de Pernambuco no contexto nacional: 2000-2010

    O período iniciado no ano 2000 foi marcado, em geral, como se fez referência anteriormente, por condições favoráveis à dinâmica econômica brasileira, após duas décadas de dificuldades. Em um primeiro momento, a expansão da economia esteve associada à maior demanda asiática por commodities, resultando em exportações cujo valor foi potencializado em virtude de preços internacionais favoráveis e uma forte desvalorização cambial. Após 2004, a tendência de expansão das exportações foi consolidada, sendo a China o principal país comprador de produtos brasileiros (CANO, 2007; BELLUZZO; ALMEIDA, 2002).

    A década de 2000 também foi caracterizada pela ampliação dos empregos formais e o aumento da renda das famílias, com importante impacto no consumo agregado. A criação de novos postos de trabalho e a intensificação da valorização real do salário-mínimo consolidaram consequências positivas, inclusive a melhoria no poder de compra da população, que disseminou a ampliação de um efeito-renda por todo o país, incrementado ainda por políticas sociais de transferência direta de recursos e pela expansão do crédito para consumo (SARTI; HIRATUKA, 2011).

    No que diz respeito à política macroeconômica, manteve-se, no processo, formas de gestão das quais resultou um grau de estabilidade que permitiu ao setor público nacional capacidade de intervenção na economia. Isso ocorreu por meio, inclusive, de novas modalidades institucionais, como as parcerias público-privadas e as concessões, favorecendo a retomada de investimentos em infraestruturas econômica e de caráter produtivo, apoiados pela disseminação de maior volume de crédito público para empresas, mesmo com a ocorrência da crise financeira mundial de 2008 (SARTI; HIRATUKA, 2011).

    Conforme indicado no Gráfico 1.2, a trajetória da economia brasileira foi, entre 2000 e 2010, caracterizada, na fase inicial, por taxas reduzidas de crescimento nos anos 2001 e 2003, o que se repetiu na região e em Pernambuco. A partir de 2004, a economia nacional seguiu uma trajetória mais dinâmica até os impactos da crise no final do período. Vale registrar que as medidas anticíclicas tiveram sucesso no ano inicial da crise internacional (2008) e no último ano do período (2010).

    Ainda com base no Gráfico 1.2, é possível destacar que as economias da Região Nordeste e do Estado de Pernambuco descreveram uma trajetória de expansão mais acentuada do que a brasileira. No referido gráfico a escala dos valores do PIB (ano 2000=100) é apresentada na margem esquerda, enquanto a dos valores das taxas anuais estão na margem direita.

    Esse desempenho diferenciado foi influenciado, como se assinalou, por aspectos específicos da escala subnacional. No Nordeste, destaca-se a expansão da fronteira agrícola – principalmente no Oeste da Bahia, no Sul do Maranhão e no Sul do Piauí. Vale fazer referência à retomada de culturas tradicionais. Assim, na esteira de uma maior demanda internacional (asiática) por commodities na década de 2000, os polos e complexos agroindustriais foram dinamizados (BNB, 2014).

    A ênfase no mercado interno, levada a cabo a partir de 2004, foi outra fonte de impulso para o crescimento regional brasileiro. Para tanto, um conjunto de políticas regionais – explícitas e implícitas – estimulou, naquela fase, a periferia nacional. No caso do Nordeste, tal impulso se deu em razão da criação de empregos formais, relacionada à implementação de importantes empreendimentos industriais na Região, da política de valorização real do salário-mínimo e das transferências diretas de renda, tidos como os principais determinantes do dinamismo econômico recente (BNB, 2014).

    Convém destacar, por outro lado, que as ações governamentais estiveram longe de uma articulação, tal qual propunha a Política Nacional de Desenvolvimento Regional (PNDR), de 2004. O desenvolvimento regional brasileiro careceu de um norte político, dada a pulverização de intervenções, razão pela qual, embora se esteja tratando de um momento favorável, em termos econômicos, a disseminação regional do dinamismo ocorreu sem uma tendência bem definida (BRANDÃO, 2016).

    Gráfico 1.2 - Brasil, Nordeste e Pernambuco: taxas de variação anuais do PIB (valores em percentuais) e números-índices do volume do PIB (base 2000 = 100) - 2000 a 2010

    Fonte: IBGE/Contas Regionais. Elaboração Ceplan.

    Esse padrão perdurou até a crise financeira de 2008. Desde então, a economia mundial vem tentando se recuperar do impacto recessivo, com medidas ainda imprecisas e de pouca efetividade quanto à capacidade de regulação do sistema financeiro internacional. Em termos nacionais, o que se viu foi uma gestão de política econômica, na fase inicial da crise, orientada à tentativa de sustentação da estratégia de crescimento dos anos 2000, mas que se revelou incapaz, na fase seguinte, de dar continuidade à mobilização de recursos voltados para a política anticíclica. Com isso, já a partir de 2011, definiram-se tendências de desaceleração e de crise da economia (LACERDA, 2017).

    1.3. As transformações na estrutura produtiva de Pernambuco: segmentos mais relevantes e atividades emergentes

    A análise das transformações na estrutura produtiva estadual compreende o exame da dinâmica apresentada pelos três setores produtivos, com base na evolução do valor adicionado bruto (VAB). Parte relevante das considerações apresentadas a seguir tem por base as informações e constatações da tese de Oliveira (2014).

    Antes do exame específico das transformações ocorridas em cada um dos setores é importante examinar, nas duas fases consideradas, os componentes da oferta e da demanda que determinam a evolução da economia. Na Tabela 1.1 são apresentadas, para o período da primeira fase considerada (2000-2010), as taxas de crescimento que mostram a trajetória dos referidos componentes para o Brasil, e dos componentes da oferta para Pernambuco, que não dispõe de estimativas atualizadas dos componentes da demanda.

    No que se refere à economia nacional, não obstante as oscilações das taxas de crescimento dos componentes da oferta (agropecuária, indústria e serviços), seus valores são significativos, notadamente em 2009, ano imediatamente posterior à deflagração da crise econômica mundial.

    Nas taxas registradas pela maioria dos componentes nacionais da demanda chama a atenção o grande dinamismo, a partir do ano 2004, dos investimentos, das exportações e do consumo das famílias.

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