Memória escrita
()
Sobre este e-book
Zofia sobreviveu à perseguição nazista na Segunda Guerra Mundial graças à mãe, que a deixou aos cuidados de uma família e, em seguida, de madres de um orfanato católico na Inglaterra. Separada da família por três vezes, todos finalmente se reuniram no Brasil, onde encontraram abrigo e construíram a vida na indústria de confecção.
O livro partiu do diário da autora e conta sua trajetória de vida pessoal e profissional, como estilista. Um depoimento sincero e fascinante.
Relacionado a Memória escrita
Ebooks relacionados
Eliseo em 100 perguntas: O roteiro cinematográfico segundo Eliseo Altunaga Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Gente Era Assim Nota: 0 de 5 estrelas0 notasJoão Bosco: Um Caramujo Musical Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Colar De Contos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA gruta: memórias da Amada Imortal Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDiário de um corpo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMr. Mahler Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFantasmas não dizem adeus Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO retorno de Jonas: uma história de resiliência Nota: 0 de 5 estrelas0 notasUm pai: puzzle Nota: 0 de 5 estrelas0 notasElisa Branco: Uma vida em vermelho Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Perdedora de Memórias Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDalida Nota: 0 de 5 estrelas0 notasLugares Escuros: Inspirado em histórias reais Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO Novo Dom Juan Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFlorescendo em prosa e versos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMe Compra Que Eu Te Conto... Nota: 0 de 5 estrelas0 notasRetrato calado Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDois Meninos No Mundo & Outros Contos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasJulia E Jose Luzes Na Eternidade Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMeu pai, um desconhecido? Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA família vai ao cinema Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCrônicas em papel de pão Nota: 0 de 5 estrelas0 notasPátina do tempo: Lembranças da filha de uma imigrante italiana no sul do Brasil Nota: 0 de 5 estrelas0 notas"... e Eles Viveram Felizes Até Seu Fim": Narrativas sobre a Morte na Literatura Infantil Brasileira Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFigura e outras histórias Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOs frutos da figueira Nota: 0 de 5 estrelas0 notasNão Podemos Esperar Nota: 0 de 5 estrelas0 notasA Vida é Caminhar: Histórias de Um Homem de Fé Nota: 0 de 5 estrelas0 notasNo Meio Do Caminho Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Memórias Pessoais para você
O Diário de Anne Frank Nota: 5 de 5 estrelas5/5Noites tropicais: Solos, improvisos e memórias musicais Nota: 0 de 5 estrelas0 notasWill Nota: 4 de 5 estrelas4/5Confissões de um pregador Nota: 5 de 5 estrelas5/5O Ano do Pensamento Mágico Nota: 5 de 5 estrelas5/5Seis Corridas: O que aprendi nos 253 quilômetros das maiores maratonas do mundo Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSexo Com Lúcifer Nota: 5 de 5 estrelas5/5Mãe, eu tenho direito!: Convivendo com o autista adulto Nota: 5 de 5 estrelas5/5Pacientes que curam: O cotidiano de uma médica do SUS Nota: 5 de 5 estrelas5/5Os últimos melhores dias da minha vida Nota: 4 de 5 estrelas4/5Os Devaneios do Caminhante Solitário Nota: 0 de 5 estrelas0 notasFora da lata: Como um brownie mudou a minha vida Nota: 0 de 5 estrelas0 notasAs mentiras que o diabo me contou Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO que fizeram de mim: Sobre traumas e transformações - uma história real Nota: 0 de 5 estrelas0 notasHeróis Atuais Da Fé Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCARTAS DO CÁRCERE - Gramsci Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMinha mãe fazia: Crônicas e receitas saborosas e cheias de afeto Nota: 0 de 5 estrelas0 notasSCHREBER: Memórias de um doente dos nervos Nota: 0 de 5 estrelas0 notasCrônicas de um bipolar Nota: 0 de 5 estrelas0 notasOs meninos que enganavam nazistas Nota: 5 de 5 estrelas5/5A Vida De Um Evangelista Nota: 0 de 5 estrelas0 notasDe moto pela América do Sul: Diários de viagem Nota: 4 de 5 estrelas4/5A dor Nota: 0 de 5 estrelas0 notasMeus desacontecimentos: A história da minha vida com as palavras Nota: 4 de 5 estrelas4/5O caminho imperfeito Nota: 5 de 5 estrelas5/5Um pai: puzzle Nota: 0 de 5 estrelas0 notasTravessia: De banqueiro a companheiro Nota: 0 de 5 estrelas0 notasO sal da vida: O que faz a vida... valer a pena! Nota: 0 de 5 estrelas0 notas
Categorias relacionadas
Avaliações de Memória escrita
0 avaliação0 avaliação
Pré-visualização do livro
Memória escrita - Zofia Davidowicz
Estas memórias são dedicadas aos meus filhos, Harry e Roberto; às noras, Lilian e Raquel; aos meus netos, Vanessa, Tomas e Iury, e às futuras gerações que crescerão longe desses fatos, dessas épocas...
Sumário
Prefácio
Introdução
CAPÍTULO 1 - A infância
Primeiros tempos
Dosia, Zosia
A salvo com estranhos
O convento e o catolicismo
O segundo segredo
Retorno a Lódz
Criando uma nova família
Tempos de paz
Irmãs
Ficar e pertencer
Retorno ao judaísmo
Seguir...
CAPÍTULO 2 - Travessias
Atravessando o Atlântico
Anos dourados
Encontros preciosos
Novos voos
CAPÍTULO 3 - Amor e Realizações
Enfim, juntos
Vida a dois
Para o que vier
Família completa
Empresária, esposa e mãe
Espírito inovador
Novas gerações e outros desafios
No inverno da vida
Muitas luzes
Sobre a autora
Prefácio
Eu quero falar a minha história.
Desse desejo profundamente enraizado no mutismo de uma infância atravessada pela guerra, nasce este livro. Antes de assumir essa forma, ele foi uma história de vida registrada a lápis e caneta num caderno espesso. Ao longo de dois anos, Zofia Davidowicz escreveu à mão livre um diário. O polonês é sua língua materna, ela foi alfabetizada em inglês, porém nessa aventura de autobiografar, além de desafiar os meandros da memória, escolheu o português para contar a si mesma.
Para ela, não bastava que eu a ajudasse a organizar a publicação, ela queria dar voz a todos aqueles episódios guardados nas 94 folhas de papel e há muito em sua mente ativa e em seu coração abalado pela perda da interlocução com José. Ele, seu marido e parceiro nos últimos 60 anos, foi perdendo a memória e, aos poucos, os movimentos, a fala, a consciência.
Zofia tinha urgência e queria, literalmente, dar voz a tudo que havia feito parte da construção de seus mais de 80 anos.
E assim tecemos outra parte da história. Durante oito semanas, fui à casa dela, sentávamos na mesinha de jogos no canto da sala principal, ela com seu diário, eu com o laptop em punho e o gravador a postos. E começávamos a nossa leitura-escuta, que ganhou ainda maior sentido por ser partilhada. Zofia lia o que ela mesma havia escrito, eu escutava atentamente e transcrevia. Logo percebi que não era o caso de entrevistá-la e ficar explorando detalhes, ela já tinha depurado muito o que realmente queria contar. Então, eu fazia algumas poucas perguntas e íamos, devagar, avançando, página por página.
José ficava na sala ao lado, na cadeira de rodas ou no sofá, aparentemente sem entender o que se passava, mas talvez pudesse ouvir a mulher amada e a nossa conversa... Quem sabe? Além da voz de Zofia, muito firme e com forte sotaque, por vezes os gemidos de José cortavam o ar, pontuando que estávamos no presente. Em muitos momentos, os mais dramáticos, o silêncio nos aprisionou em longas pausas, quebradas por goles de água de coco ou pelo açúcar de bombons que Beatriz havia deixado ao nosso lado. Confesso que depois desses encontros tão intensos, de emoções tão vivas e de muitos tempos sobrepostos, para voltar ao meu espaço-tempo tinha de fazer longas caminhadas.
Esse não era apenas mais um trabalho editorial. Eu estava compartilhando com ela um momento muito delicado e também conhecendo um fragmento vivo da história social. Como no belíssimo filme Ida, dirigido por Paweł Pawlikowski, Zofia foi uma das centenas de crianças judias polonesas entregues a famílias católicas, como estratégia para salvá-las dos nazistas. A personagem Anna/Ida e a Devora/Zofia de carne e osso trocaram de nome, de religião e viveram num convento durante a juventude. Na ficção e na vida real, salvaram-se.
Apesar de eu conhecer várias obras sobre as atrocidades da Segunda Guerra, o filme que me proporcionou uma compreensão do que era a Lódz de Zofia e José foi A Vida em Filmes, documentário de Laurent Bouzereau, sobre a vida do cineasta Roman Polanski, descendente de judeus poloneses que nasceu em Paris, em 1933, e mudou-se para Lódz aos 3 anos (no mesmo ano de nascimento de Zofia) e viveu grande parte de sua infância na Polônia. A partir da belíssima seleção de imagens do cotidiano, pude ver a ocupação nazista, a invasão das casas, a cons- trução dos muros delimitando o gueto, a opressão e a morte habitando tudo e todos.
Outra peça importante do recontar dessa narrativa social é o depoimento de Luba Sztyft, mãe de Zofia, ao Instituto de História Visual e Educação da Fundação Shoah, criada pelo cineasta Steven Spielberg e sediada na Universidade do Sul da Califórnia, nos Estados Unidos. A gravação em vídeo, feita nos anos 1990, foi fundamental para tecer os fatos da primeira infância, pois sem isso seria quase impossível reconstituir como a família viveu os acontecimentos do início da guerra.
Além das sessões de fala-escuta
, fizemos outros dois encontros para escolher as fotografias que ilustram o livro. Nesse dia, Zofia me recebeu muito ansiosa e afetada pelo mergulho nas imagens do passado. Muito organizada, ela dispôs os álbuns e fotos soltas sobre a grande mesa da sala de jantar e, no centro, o álbum com as fotos da primeira infância, álbum que acompanhou a mãe em todos os seus deslocamentos. Depois, um intervalo, pois a guerra não inclui registros fotográficos domésticos.
O viver na Inglaterra, a chegada ao Brasil, a ida a Nova York, o encontro com José, a carreira como estilista e empresária desbravando o território da moda, as viagens a trabalho, os filhos em muitas idades, noras, netos, festas tudo ali formando a linha do tempo, do tempo de Zofia. As imagens deram corpo ao som das palavras e ficou explícito que aquela vida tinha sido plenamente vivida, em todas as fases. Fomos selecionando enquanto ela recontava e acalmava...
A revisão dos capítulos fizemos lado a lado, em uma salinha do Hospital Albert Einstein, durante uma internação de José. Naquele ambiente, criamos um oásis e revisitamos todas as cenas, checamos palavras, reformulamos frases, incluindo tudo que é da vida na realidade e no texto.
Aliás, as palavras texto e tecido têm a mesma raiz, do latim tessitum. Zofia dedicou-se aos tecidos da moda, porém construiu um texto muito coerente, conciso e bem organizado. Coube a mim alinhavar melhor as partes, fazer costuras finas, alfinetar pontualmente, arrematar o português e deixar visível a sensibilidade e a capacidade de transformação dessa mulher inteira. Confiança, afeto e reciprocidade foram fios importantes desse nosso tecer. Sem dúvida, um aprendizado. Agora, o que era voz solitária, depois de tantas camadas e atravessamentos, pode ser compartilhado neste livro. Uma inspiração.
E aludindo à obra Universo da Consciência, do neurologista Gerald Edelman, pergunto: será o passado recontado uma forma de dar corpo ao presente? Nesse caso, será do presente constantemente relembrado que a vida extrai sua seiva para, unicamente, prosseguir?
Liliane Oraggio
Inverno-primavera de 2016
Introdução
Hoje faço 78 anos e me convenci de que é a hora