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Pátina do tempo: Lembranças da filha de uma imigrante italiana no sul do Brasil
Pátina do tempo: Lembranças da filha de uma imigrante italiana no sul do Brasil
Pátina do tempo: Lembranças da filha de uma imigrante italiana no sul do Brasil
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Pátina do tempo: Lembranças da filha de uma imigrante italiana no sul do Brasil

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Sobre este e-book

Lembranças da filha de uma imigrante italiana no sul do Brasil. A trajetória de uma família do Vêneto no século XIX ao século XXI na Serra Gaúcha. A escultora Dilva Conte resgata neste livro lembranças que a acompanham há quase um século, narrando a história que a constituiu como cidadã inserida em uma extensa família. Antes de chegar à sua própria história a autora retrocede algumas gerações e viaja a outro continente para entender a trama que liga seus antepassados, na Itália, aos seus descendentes, no Brasil e pelo mundo. Ao longo do texto compõe o cenário que levou seus avós a abandonarem a Europa no final do século XIX e buscar uma nova vida na América. Continua com ricos detalhes afetivos narrando a história que seus pais construíram, fala da família que constituiu no século XX e termina com os sonhos que tem para seus netos no século XXI, tendo sempre como linha mestre o espírito arrojado dos imigrantes que segue nas veias familiares contribuindo para que seus descendentes compreendam sua origem, os desafios enfrentados e superados, e ciente de que todos são o resultado desta história – individual, familiar e coletiva. Esta epopeia da imigração deve tocar a todos cujas famílias passaram por percursos similares, e desta forma resgatam, por meio deste relato pessoal, as vivências de tantas outras famílias e comunidades.
Boa viagem!
IdiomaPortuguês
Data de lançamento14 de nov. de 2018
ISBN9788583384458
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    Pátina do tempo - Dilva Conte

    viagem!

    A SITUAÇÃO NORDESTE DA ITÁLIA NO SÉCULO XIX

    A decisão de abandonar a terra natal é sempre muito dolorosa, ainda mais numa época que tal decisão era um ato definitivo, pois emigrar no século XIX significava, provavelmente, nunca mais poder rever os familiares que lá ficavam. Nas próximas linhas tento apresentar o quadro sociopolítico e econômico da Itália no final do século XIX, que levaram meus avós a tomarem essa dramática atitude que dilacerou a trajetória familiar que aqui tento recompor neste mosaico de fatos históricos e resgate de lembranças familiares.

    No início do século XIX a Península Itálica era dividida em várias unidades políticas, resultantes do mapa político europeu redesenhado após a derrota de Napoleão. Em 1848, o Rei do Piemonte-Sardenha liderou a primeira tentativa, malsucedida, de reunificação declarando guerra à Áustria que dominava o norte da Itália. A unificação foi finalmente conquistada em 1860; no entanto, as guerras e a instabilidade política e social, aliada à crise econômica, deixam a vida na região nordeste da Itália, de onde somos oriundos, ainda mais difícil. Fatores como superpopulação, falta de emprego, falta de habitação e escassez de alimentos pioram a situação do povo já abatido por tantas tribulações.

    A SITUAÇÃO DOS NOSSOS ANTEPASSADOS

    Os relatos familiares contam de situações de fome avassaladora e condições precárias de vida com várias gerações de uma mesma família morando amontoadas dentro de uma pequena casa do proprietário das terras, ao qual ainda tinham de pagar aluguel. Além dessa situação de miséria, havia epidemias na Itália como a malária, cólera e pelagra, doença causada por carência alimentar, com centenas de milhares de mortes.

    A vida é tão dolorosa e amarga, que pouco difere da morte. Cultivamos o trigo, mas não experimentamos o sabor do pão que só o dono das terras come. Mortos por mortos, vamos tentar uma saída para fugir destes tormentos, que nos massacram tanto, um relato representativo que apresenta a imigração como única opção para a sobrevivência – cenário que se repete hoje, em pleno século XXI, em áreas do Oriente Médio e norte da África, atingidas pela fome e guerras.

    Este cenário conduz à saga da imigração por meio da qual o povo esfomeado e sem terra própria almeja buscar no além-mar o sonho de uma vida melhor. Eram populações inteiras que buscavam abrigo fora da pátria que amavam, mas que as mantinha em situação de penúria. Meus avós estavam nessa condição, pois a exigência para participar do processo de imigração era ser comprovadamente pobre. Para provar o estado de pobreza era expedido um atestado pelo pároco local com o carimbo de "Miserabile no alto do documento. Nós, os descendentes daqueles arrojados refugiados econômicos de outros tempos, trabalhamos arduamente para mudar esse status" – ficando impregnado nas sucessivas gerações o valor do trabalho para a prosperidade e inserção social.

    A SITUAÇÃO NO BRASIL

    No século XVIII a situação no extremo sul do Brasil era instável com disputa de fronteiras entre as terras das colônias portuguesas e espanholas. Pelo Tratado de Madrid, de 1750, a colônia de Sacramento, brasileira, passa definitivamente para o reino da Espanha, e os portugueses necessitam povoar as terras sulinas para garantir sua soberania. Em 1824, começa a primeira onda migratória alemã, com 5.350 alemães se estabelecendo no Vale do Rio dos Sinos. Porém, o movimento separatista da revolução Farroupilha, que vai de 1835 a 1845, suspende o movimento imigratório. Passado o conflito, o poder imperial percebe que ainda é maior a importância de colonizar a região com imigrantes europeus não envolvidos com as ideias separatistas locais e retoma uma política oficial imigratória.

    Além disso, desde 1850 a importação de escravos estava proibida, e o governo opta pela mão de obra europeia para substituir os escravos que fariam falta nas lavouras. Corretores de imigração atraíam ao sul do Brasil alemães e italianos, que sofriam com as dificuldades dos movimentos de unificação em seus países, oferecendo a viagem gratuita, 50 hectares de terra fértil, seis meses de alimentação, sementes, ferramentas e habitação. Eram ofertas tentadoras para quem estava sofrendo penúrias em sua terra natal.

    O governo italiano nada fez para impedir a emigração. Quem lamentava eram os donos das terras que perdiam braços fortes para cultivar suas vastas propriedades. Foi nesse quadro que entre 1885 e 1895, 40 mil italianos foram assentados na região montanhosa do nordeste do atual estado do Rio Grande do Sul, entre eles meus avós maternos e paternos.

    AS ORIGENS DOS LAIN NO VÊNETO

    A história que passo a relatar dos meus avós Lain e Slomp é representativa do processo de imigração italiana e similar à trajetória das demais famílias que abandonaram suas raízes e construíram, juntas, uma nova vida na Serra Gaúcha. Assim também aconteceu com as famílias Piccinini e Conte, de meu esposo, e de grande parte da comunidade de descendentes italianos com quem convivi a maior parte da minha vida.

    Inicio com a trajetória de minha mãe, Vergínia Lain, que faz a travessia entre dois continentes e é o elo entre dois séculos. De acordo com pesquisa realizada pelo meu sobrinho Sérgio Bassanesi, "o local de origem da família Lain se acreditava ser uma cidadezinha chamada Suvizzo, hoje com 6 mil habitantes na província de Vicenza, região do Vêneto, no norte da Itália. Examinando como se distribuem os nomes de família no território da Itália, mostra que em Suvizzo hoje ainda tem pelo menos uma família de sobrenome Lain e que em toda a Itália existem 155 famílias, das quais 122 na região do Vêneto, e 93 estão na província de Vicenza. O município, ou comuna, que tem a maior concentração de famílias Lain é a Comuna de Malo, uns 18 quilômetros para o norte de Vicenza. Nessa comuna existem 13 mil habitantes, e a prefeita, em 2017, era Paola Lain. Como provavelmente seria essa a comuna de origem de todos os Lain, examinei uns livros antigos sobre a inscrição de jovens para o serviço militar na Itália, e encontrei o registro de vários irmãos da avó Vergínia, filhos de Giovanni Battista Lain e Maddalena Pietrobiasi Lain. Nos registros consta que nasceram em Malo, o irmão mais velho Giuseppe Lain, em 1 de janeiro de 1883, pai do estimado primo Guido Lain; e Antônio Lain em 20 de setembro de 1884. Já Virgílio nasceu em Suvizzo no dia 6 de maio de 1886, bem como Vergínia, a quarta filha, que nasceu lá em 2 de fevereiro de 1888. Logo se conclui que Giovanni e Maddalena Lain eram de Malo e, por volta de 1885, entre o segundo e o terceiro filho, eles se mudaram para Suvizzo. Vergínia Lain, minha mãe, teria uns quatro anos quando a família decidiu emigrar do Vêneto para a

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