Pedagogia do ensino de arco e flecha

De Ana Luiza de Mesquita

A presente obra tem como finalidade apresentar o arco e flecha como uma manifestação corporal humana capaz de contribuir com as finalidades educativas da educação física escolar. Ao longo deste trabalho explorou-se conceitos como a finalidade da escola, da disciplina de educação física, identidade da manifestação arco e flecha, sua relação com a educação física escolar e, ao final, cunhou-se uma proposta de estudo do arco e flecha nas escolas em formato de guia didático.

• Idioma: Português
• Editora: Fontoura Editora
• Data de lançamento: 26 de nov. de 2019
• ISBN: 9788583340652

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Bibliografia

Capítulo 1

O que é arco e flecha?

Primeiro vamos fazer uma brincadeira! Anote em algum lugar quais são as cinco primeiras palavras, termos ou frases que vêm à sua cabeça quando você pensa em arco e flecha. Guarde esta anotação que ao final do capítulo vamos voltar a ela.

Prossigamos...

Imagine um arco e flecha.

Provavelmente a imagem que veio à sua mente é muito parecida com o arco e flecha do personagem Legolas, de Senhor dos Anéis. Ou talvez tenha se lembrado das gravuras de Debret sobre os indígenas brasileiros usando arcos com os pés. Nos dois casos, o formato dos arcos é bastante semelhante. Experimente pesquisar na internet por longbow (nome do arco tradicional inglês), ou, ainda, por archery eskimo (arco e flecha esquimó), korean traditional archery (arco tradicional coreano) e arco mongol. Apenas com as imagens já poderá notar quão semelhantes eles são, mesmo em localidades tão diferentes.

O arco e flecha é um artefato cultural que está presente em vários momentos da história, em diversas sociedades. A presença de diferentes registros visuais ao longo da história, de diferentes regiões do planeta, permite rapidamente a identificação desse artefato e é uma demonstração da onipresença do arco e flecha na humanidade.

Utilizar uma peça de madeira tensionada com algum tipo de fio para arremessar um projétil é uma invenção que se repetiu em tantos lugares que podemos até imaginar que esta ferramenta possivelmente teve um caráter decisivo no desenvolvimento das civilizações.

Mas não é apenas como ferramenta que o arco e flecha nos marcou e nos marca até hoje. Investigando sobre os usos do arco e flecha encontramos registros dele como utensílio para a caça, como arma de guerra (arte marcial), como um jogo e como esporte. Peço que não pense apenas nessas finalidades como marcos históricos que expressam uma ordem cronológica. É necessário lembrarmos que, apesar de costumeiramente desenharmos uma linha do tempo para descrever a vida humana, nossas ações são permeadas de significados e sentidos que nem sempre seguem a lógica descrita por esta linha. Segurar um material, arqueá-lo através da extensão de um filamento e usar da energia acumulada neste arqueamento para impulsionar um projétil é uma prática, um movimento capaz de receber inúmeras significações, algumas mais simples de pressupormos apenas com observação, como vencer uma competição ou matar um animal, e outras mais difíceis de identificar, como motivações pessoais, que modulam não apenas a decisão de fazer a ação, mas também de como ela será executada, como a busca pela realização pessoal, prazer estético, etc. Diante de uma sequência de movimentos que constituem o manuseio do arco, sendo ele bastante parecido entre os vários usuários deste instrumento, e sabendo que existem sentidos e significados da prática para esses usuários que muitas vezes não conseguimos acessar, não podemos ser levianos afirmando haver simplesmente uma ordem cronológica da relação do ser humano com o arco e flecha e ignorar a variedade de relações que os diferentes significados e sentidos criam, sobrepõem e mesclam. Além da consideração sobre a diversidade de significados e sentidos, é importante pontuar o resultado disso para a relação das diferentes pessoas e povos que utilizam o arco e flecha de diferentes formas: não há como julgar alguém como subdesenvolvido ou atrasado a partir de uma linha