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Afetos, Cafés e Outras Estórias
Afetos, Cafés e Outras Estórias
Afetos, Cafés e Outras Estórias
E-book137 páginas1 hora

Afetos, Cafés e Outras Estórias

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Sobre este e-book

Esse livro é fruto de alguns desses encontros. Encontros permeados por cafés, pães e muito afeto. Compartilho aqui algumas dessas estórias e espero, sem muitas pretensões, contribuir para que sintam o mesmo acolhimento que ainda sinto ao lembrar desses pequenos pedaços de vida recheados de carinho, amizade e café!
IdiomaPortuguês
Data de lançamento31 de jan. de 2020
ISBN9788568476161
Afetos, Cafés e Outras Estórias

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    Afetos, Cafés e Outras Estórias - Thiago Ramos

    ôh amigo,

    A vida nos ensina suas experiências irrepetíveis; ouça bem, irrepetíveis: o ser aprende a viver, vivendo; aprende a engatinhar, engatinhando; a andar, andando e a amar, amando.

    Não há aprendizado fora da subjetivação das experiências. Aprendemos isso de um jeito ou de outro, cedo ou tarde, novos ou velhos, mas aprendemos. Sou do time dos otimistas!

    O problema está em não conseguirmos ter experiências fora dos relacionamentos. Elas simplesmente não existem. Por isso a necessidade do Outro em nossas vidas. Vez por outra aparecem pessoas, companheiros de caminhada, você pode chamá-los de psicanalistas, filósofos, sábios, etc.. que nos dizem isso de forma mais clara, como um em especial, chamado Lacan.

    Diz este psicanalista que o Outro é o lugar que se situa a cadeia do significante, ou seja, em minha interpretação de psicanalista de boteco, me relaciono com o Outro (outras, amigos,  colegas, pais..), ele me devolve o significado que possui sobre mim e eu, ao contato com a interpretação que faço desse significado, me constituo como sujeito.

    Fácil não é?! Eu sei, parece dar um nó nos neurónios, mas na verdade é muito mais fácil que imaginamos, pois você vive isso 24 horas/dia, 365 dias/ano e nem sequer percebe que o outro lhe auxilia a descobrir quem você realmente é.

    Por isso o ser adoece quando está só. Pela mesma razão, ou seja, para fugir do adoecimento, Robinson Cruzoé tem o seu Sexta-feira, o Náufrago cria o Seu Wilson, o Sô Madruga tem a Dona Florinda e você tem as pessoas que elegeu para estar ao seu lado.

    Também eu, pobre sonhador que vos escreve, tenho aqueles que me auxiliam nessa jornada.  Vários, aliás, graças a Deus. Mas ressalto um, que chamarei de 'meu amigo' e que tinha um jeito particular de me chamar. Quando queria me interpelar, ele dizia: Mas, minino! E continuava a conversa.

    Para não me alongar muito, conto um desses momentos em que eu e meu amigo conversávamos.

    Era Natal, eu fazia minhas compras, como todo mortal faz ou, pelo menos já fez, mesmo a contragosto, nessa época do ano. Quando estava na fila para pagar, esta dobrava quarteirão,  a mulher atrás de mim, como quase todos também já fizeram, começou a reclamar: - Mas não é possível uma coisa dessas! Todo ano a mesma coisa, que fila enorme, assim não pode, assim não dá! E continuou com as lamúrias.

    Meu amigo me perguntou o que eu fiz diante dessa situação. Explique a ele que esperei, silenciosamente, chegar a minha vez para efetuar o pagamento e a cedi para a mulher apressada. Ela olhou para mim e disse: - Mas você é tão bom!. Respondi – Não sou bom não senhora, é o espírito natalino.

    Meu amigo vira-se pra mim e diz - Minino, dessa vez ela acertou, você de bom não tem é nada... e deu uma gargalhada que lhe é característica. - E o quê ela lhe respondeu? Perguntou ansioso. A senhora apressada me disse - Ah entendi, então você está treinando pra ser bom?!.

    Nessa hora tive que me segurar para não lhe dar um beijo nas bochechas rechonchudas, porque vontade eu tive!

    Apenas lhe agradeci e disse que ela estava certa, eu realmente estava treinando para ser bom, pois como bem disse Joanna De Ângelis A bondade cresce por meio do exercício, tornando-se um hábito de vida ou desaparecendo por falta de ação.

    Digo-lhes que são nos relacionamentos que nos moldamos. Por vezes desejamos a solidão, também necessária, quando na medida certa, mas sem o outro para me dar o feedback de minhas ações, não existe possibilidade de autoconhecimento. 

    Também por isso eu e meu amigo sentávamos, quando as exigências do dia a dia permitiam, para um café. Nesses cafés sorríamos, contávamos casos, piadas, chorávamos e nos cumpliciávamos em nossas estórias, fortalecendo aquilo que eu chamo de amor fraterno deliberado, ou seja, amizade direcionada livremente para aqueles que temos como companheiros de vida e que às vezes chove em forma de amor.

    Esse livro é fruto de alguns desses encontros. Encontros permeados por cafés, pães e muito afeto. Compartilho com vocês estas estórias e espero contribuir para que sintam o mesmo acolhimento que senti e ainda sinto ao lembrar desses pequenos pedaços de vida recheada de carinho e café!

    Boa leitura!

    ...que Deus lhe abençoe, filha!

    Estávamos meu amigo e eu em meio a um destes cafés filosóficos recheado de pães, brioches e como não poderia faltar, café, muito café. Dizíamos ser cafés filosóficos, mas não passava de uma tarde gostosa de reflexões e que, vez ou outra, evocávamos algum companheiro de caminhada melhor dotado de sabedoria para nos ajudar em nossas inquirições sobre a vida e seus sentidos.

    Quando meu amigo evoca o maior pensador que passou por estas bandas e soltou esta pergunta: - Você deve se lembrar daquela famosa frase:

    Ouviste o que foi dito: não adulterarás. Eu, porém, vos digo que todo aquele olha para uma mulher para desejá-la, já adulterou com ela em seu coração.

    - Lembra? - Como não?! Respondi. E então ele continua: - Minino, te contar uma coisa, fazer caridade até que vai. Amar os inimigos, com muito custo até que desce, mas seguir essa aí a risca, dá não viu!! E ria gostosamente.

    - Mas pense bem - eu disse a ele - não precisa se auto supliciar pensando ser o pior dos seres por desejar algo que não é seu. Quando você sentir a tentação mais de perto, olhe para a provocadora de desejos que passeia sob os seus olhos e a abençoe. Diga para você mesmo, ao olhar para a deusa que lhe incita os desejos: Que Deus lhe acompanhe, minha filha...  E pronto, deixe-a ir.

    Passado um mês, encontro-o novamente e lhe pergunto sobre o método. Ele vai logo dizendo: - Mas minino, até que tá dando certo viu! Abençoar os desejos distorcidos que temos sem nos entregar a eles, ajuda e muito. Bem melhor que brigarmos contra ou fazer de conta que não os temos. Só há um problema - continuava ele - agora todos pensam que eu virei padre. - Padre? Perguntei - Padre uai, pois quando saio às ruas, fico abençoando todo mundo. Que Deus lhe acompanhe, filha. Jesus lhe abençoe, querida. Rimos muito e ele se foi.

    Antes que ele saísse da minha vista, ainda consegui ouvir um - Que Jesus lhe proteja, minha filha!

    Reconcilie consigo mesmo! Você vai adorar e se surpreender com a força dos desejos que carrega, quando bem direcionados!

    o carro

    Durante uma conversa bem animada entre meu amigo e eu, ele interrompe um gole de café e me pergunta: - Mas aqui, me diz uma coisa, você gosta de falar em solidão, em aprender a estar sozinho, gosta de citar Sartre quando diz que ‘se estamos sozinhos e sentimos tédio é porque estamos em péssima companhia’, mas você mesmo não fica sozinho. Toda vez que lhe vejo você está com gente ao redor, principalmente quando dirige seu carro. Eu tenho um Lada-Laika, ano 93, velhinho que só vendo, as portas não trancam e quase sempre pega só no tranco. Meu amigo continuava: - Você só anda com ele cheio de gente. Por que, afinal, se você flerta com a solidão, como costuma dizer?

    E então tive que lhe explicar

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