A Fonologia Diacrônica do Proto-Mundurukú (TUPÍ)
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A Fonologia Diacrônica do Proto-Mundurukú (TUPÍ) - Gessiane Lobato Picanço
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO LINGUAGEM E LITERATURA
AGRADECIMENTOS
Agradeço principalmente aos povos Mundurukú e Kuruaya, pelos quais sou continuamente bem acolhida, tanto no estado do Pará quanto no estado do Amazonas. Em mais de 20 anos de pesquisa, estiveram sempre dispostos a colaborar com muita dedicação, naturalidade, paciência e carinho. Dedico este livro a esses povos e à memória da Sr.a Maria de Lourdes Curuaia e do Sr. Paulo Curuaia, dois dos últimos falantes da língua Kuruaya. Graças a eles e ao que compartilharam comigo foi possível recuperar boa parte da história da família Mundurukú. Este estudo é resultado desse ensinamento.
Agradeço também ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) o apoio recebido por meio de auxílio à pesquisa, Processo nº 406326/2012-6, MCTI/CNPq /MEC/Capes – Ciências Humanas, Sociais e Sociais Aplicadas; ao Laboratoire Dynamique du Langage (DDL), CNRS e Université Lumière Lyon 2, em Lyon, França, que me acolheu para a realização do pós-doutorado e onde este livro foi iniciado; e à minha instituição, a Universidade Federal do Pará (UFPA), que sempre me apoiou profissionalmente.
Finalmente, agradeço a amigos e colegas da Universidade Federal do Pará, do Laboratoire Dynamique du Langage e do Museu Paraense Emílio Goeldi, e àqueles a quem amo tanto, que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização desta obra.
A todos, muito obrigada!
PREFÁCIO
Esta obra, sobre a fonologia diacrônica do Proto-Mundurukú, é um estudo detalhado e original baseado em anos de pesquisa, tanto em coleta de dados quanto em sua análise. A obra enfoca as protovogais, as protoconsoantes e os aspectos da tonologia histórica. A autora foi uma analista precoce: como estagiária da área de Linguística do Museu Goeldi, ainda aluna de graduação da Universidade Federal do Pará, revisou a análise anterior do sistema tonal da língua Mundurukú, proposta na década de 60 por missionários do Summer Institute of Linguistics (SIL), mostrando que há somente dois níveis contrastivos de tom – as sílabas laringalizadas sendo sempre de tom baixo. Ela continuou seus estudos na Unversity of British Colombia, Canadá, sob a orientação de Douglas Pulleyblank, fonólogo respeitado e especialista em línguas tonais. Sua tese doutoral (2005) foi sobre a fonética e a fonologia do Mundurukú, que, graças a seu trabalho com os últimos falantes da língua Kuruaya na época, podem ser tratadas tanto em seus aspectos sincrônicos quanto diacrônicos. Essa pesquisa com a família Mundurukú continua até os dias de hoje, ainda conduzida pela autora, agora professora e pesquisadora da Universidade Federal do Pará.
O presente trabalho é um grande avanço no entendimento dos sons das línguas Mundurukú e a sua evolução. A qualidade da descrição e da análise de aspectos mais complexos da fonologia, como tom, harmonia nasal e laringalização, permite uma melhor compreensão dos processos que produziram os sistemas fonológicos atuais, bem como do sistema hipotetizado dos sons ancestrais. Esses mesmos aspectos são fundamentais na evolução das línguas do tronco Tupí, e o presente trabalho é uma importante contribuição aos estudos comparativos Tupí e à Linguística Histórica em geral.
A profundidade temporal deste estudo foi possível por causa da inclusão dos dados e da análise da língua Kuruaya, língua atualmente sem transmissão ou falantes ativos. Às vezes as línguas ameaçadas, com poucos falantes, são consideradas sem importância. Porém frequentemente fornecem informações cruciais para a Linguística diacrônica, como nesse caso. Trabalhos recentes de reconstrução, pelo método comparativo, de protolínguas das famílias do tronco Tupí, permitem a comparação de formas reconstruídas, para achar cognatos antigos para a reconstrução da protolíngua do tronco: Proto-Tupí. Os 233 itens reconstruídos em Proto-Mundurukú neste estudo e as evidências para as reconstruções certamente serão muito discutidos e utilizados nos estudos comparativos Tupí futuros, além de estimular a realização de estudos semelhantes sobre outras famílias linguísticas.
Denny Moore
Museu Paraense Emílio Goeldi – MCTIC
APRESENTAÇÃO
Este livro nasceu há 13 anos, quando a história da família linguística Mundurukú começou a ser desenhada em minha tese de doutorado Mundurukú: Phonetics, Phonology, Synchrony, Diachrony
(2005). Ele reúne uma série de eventos históricos ocorridos na fonologia diacrônica do Proto-Mundurukú, a língua ancestral que deu origem às línguas Mundurukú e Kuruaya, pertencentes à família Mundurukú, uma das 10 famílias que compõem o tronco Tupí. É a primeira vez que se propõe uma reconstrução completa dos inventários de vogais e consoantes do Proto-Mundurukú, além de uma primeira hipótese sobre sua tonologia.
O livro é composto por três capítulos principais – Protovogais, Protoconsoantes e Aspectos da Tonologia Histórica –, além de Introdução e Considerações Finais. O capítulo introdutório contextualiza geneticamente a família e as línguas Mundurukú em relação ao tronco Tupí e aos estágios abordados na reconstrução histórica. São três os estágios: o Pré-Proto-Mundurukú, estágio que antecede a protolíngua, que representa o ponto de partida para algumas mudanças em vogais e consoantes; o Proto-Mundurukú, que representa a língua ancestral em si; o Pré-Mundurukú, um estágio intermediário reconstruído internamente para a língua Mundurukú e igualmente importante para se estabelecer a cronologia de certos eventos históricos. Acompanhando os sons e suas alterações ao longo desses períodos, chega-se às línguas modernas e suas fonologias sincrônicas.
O capítulo Protovogais
mostra que o Proto-Mundurukú já manifestava contrastes entre vogais orais e nasais, e também de tipos de fonação entre vogais modais e laringalizadas. A reconstrução permitiu recuperar cinco qualidades vocálicas na série de modais, todas com correspondentes nasais, e também na série de laringalizadas orais, com três correspondentes nasais. Entretanto o contraste entre vogais modais e laringalizadas foi uma característica adquirida pela protolíngua, não uma herança genética do Proto-Tupí. Por meio da comparação entre as línguas Mundurukú e outras línguas do tronco, a análise diacrônica mostra que a laringalização emergiu de um processo de fonologização do efeito coarticulatório causado pela oclusiva glotal intervocálica, *VʔV > V̰.
O capítulo Protoconsoantes
reconstrói um inventário de 18 consoantes na protolíngua e acompanha, em detalhes, suas realizações fonéticas em diferentes períodos históricos. Essa visão dinâmica das mudanças, em períodos determinados, ajuda a montar o quebra-cabeça da história dessas línguas e, à medida que as peças se encaixam, percebem-se as diferentes alterações ocorridas em suas respectivas fonologias. Essa história revela que um mesmo som pode ser preservado ao longo do tempo, enquanto outro pode ser tão alterado que chega a ser subdividido em diversos outros sons. É o caso, por exemplo, da oclusiva palatal *c, encontrada somente no Pré-Proto-Mundurukú e que, desde então, foi modificada em diferentes períodos, até chegar a quatro sons diferentes em Mundurukú moderno. Essas mudanças diacrônicas também podem alterar, além do próprio som, sua distribuição: lacunas antes existentes deixam de existir, e lacunas antes não existentes emergem como consequências das mudanças.
No capítulo sobre a Tonologia Histórica do Proto-Mundurukú, poucos, porém importantes, aspectos sobre o sistema tonal da família puderam ser investigados. Mesmo com dados restritos, conseguiu-se investigar a movimentação tonal do tom *Alto para a direita, o que pode ter causado o surgimento da polaridade tonal em Mundurukú, que atualmente é a única língua do tronco Tupí a exibir esse tipo de fenômeno. A dificuldade em reconstruir a tonologia do Proto-Mundurukú deve-se principalmente à escassez de dados e de estudos sobre a língua Kuruaya, que já se encontrava moribunda na época em que o trabalho de campo com a língua iniciou (2004), tornando-se extinta logo depois (2008). Seus últimos falantes poderiam ser classificados como terminais ou lembradores, aqueles cujo processo de aquisição da língua foi pleno na infância, mas, devido a longos períodos de uso de outra língua, no caso o Português, os falantes exibiam um grau avançado de perda da língua materna.
E assim a história das línguas da família Mundurukú é reconstruída, mostrando como os eventos diacrônicos na fonologia de uma língua, em diferentes períodos, são refletidos nas línguas atuais. Porém este estudo vai além disso. Ele tenta chamar a atenção para a importância da preservação e da documentação de nossas línguas. Kuruaya não pode mais ser salva, mas o pouco que foi compartilhado por seus últimos falantes tornou possível recuperar boa parte da história dessa família. Esse é