Representações sociais de jovens de Goiânia:: a negociação de sentidos em relação aos discursos midiáticos a respeito de si
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Representações sociais de jovens de Goiânia: - Gardene Leão Castro
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS SOCIAIS
Dedico este livro à minha filha, Sofia, à minha mãe e às minhas irmãs, e a todos os jovens vítimas da violência no Brasil.
AGRADECIMENTOS
À Prof.ª Dr.ª Dalva Maria Borges de Lima Dias de Souza, pela valorosa orientação no decorrer da pesquisa. Sua sabedoria, paciência e incentivo foram fundamentais para que eu completasse esse percurso.
Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de Goiás, pelos valorosos ensinamentos.
Aos colegas da Faculdade de Informação e Comunicação, pelo apoio e incentivo. Em especial aos colegas do curso de Relações Públicas da FIC – UFG.
À Fapeg, pelo fomento e apoio a esta pesquisa.
À Prof.ª Dr.ª Maria Tereza Canezin Guimarães, incentivadora de descobertas no universo das culturas juvenis.
À Prof.ª Dr.ª Maria Luiza Martins de Mendonça, minha primeira incentivadora para a entrada no universo acadêmico.
A todos do Cajueiro, por apoiarem minha formação acadêmica e humana.
A todos os meus amigos, em especial a Ana Rita, Wolney, Rai, Cris, Divina, Juarez e Fabiano, pelo carinho e apoio durante a produção desta obra. O agradecimento a eles se estende a todos os outros amigos que estiveram ao meu lado durante minha trajetória.
APRESENTAÇÃO
Moscovici nos ensina que as representações sociais nos orientam no mundo por meio de nossas escolhas e julgamentos, sendo anteriores ao indivíduo, transformando o que não é familiar em familiar.
Foi dessa forma, inquietando-me sobre como as representações orientam nossas condutas individuais e coletivas, que iniciei os estudos sobre as representações sociais, buscando, em primeiro lugar, entender quais as representações que a mídia impressa goiana constrói ou reforça sobre os jovens, enfocando especialmente o caso do jornal Daqui. Também tive o desejo de compreender, ainda, como esses jovens se veem representados nesses mesmos enunciados. O estudo das representações sociais sobre a violência entre os jovens ganhou espaço nos últimos anos por meio da Teoria das Representações Sociais. Contudo a recepção de jovens sobre as representações sociais em diversos produtos midiáticos é objeto de poucos estudos. Fruto da própria invisibilidade, as representações sociais produzidas por jovens sobre os diferentes discursos envolvendo a temática da criminalidade não tiveram eco suficiente na academia. Resta a lacuna de compreender os discursos produzidos por esses jovens, a partir do processo de negociação de sentidos com os discursos midiáticos.
A autora
PREFÁCIO
A pesquisa desenvolvida pela Gardene, que vem a público na forma de livro, cumpre uma relevante função analítica e social, pois destrincha mediações importantes que estruturam a violência praticada contra a juventude brasileira: a violência perpetrada por grupos de extermínio, violência policial e violência midiática. Esta, por sua vez, expressa-se no trabalho de imprensa que visa ao domínio intelectual sobre a população para legitimar a violência sofrida pelos jovens e distorcê-los ideologicamente como se fossem um grupo perigoso, naturalizando os processos de exclusão e destituição de seus direitos.
Para além da compreensão de como esse processo se desenvolve em Goiás, a originalidade do trabalho está em compreender qual a representação dos jovens acerca desse discurso dominante que nega os seus direitos de cidadania. A partir dos dados coletados por meio do recurso metodológico de trabalho, com diferentes grupos focais com jovens das classes A, B e C de Goiânia, a autora desconstrói a noção de determinação mecânica do social sobre a subjetividade, indicando que, embora haja toda uma leitura criminalizadora desse segmento pela mídia hegemônica, os processos de subjetivação dos jovens são predominantemente contrários aos estereótipos veiculados sobre eles.
Essa análise é condizente com a perspectiva teórica de que a autora parte e que é expressa no primeiro capítulo, no qual se discutem algumas mediações psíquicas e sociais que geram a violência na estruturação da sociedade brasileira. Acompanha-se como o sentimento de medo e insegurança da sociedade com relação aos jovens é criado e propagado pela mídia, embora se note, por meio da exposição dos principais índices de violência no Brasil, que esse grupo se caracteriza como a maior vítima da violência real nas formas de violações materiais, físicas, simbólicas, psicológicas e morais. Os autores que contribuem para essa discussão realizada por ela são: Misse, Porto, Souza, Zaluar, Adorno, Bourdieu, Chauí, Mangrini, Wieviorka, Elias, Foucault, Pais, Abramo, entre outros.
Ao tratar da Teoria das Representações Sociais de Moscovici, a autora situa, no segundo capítulo, como a imprensa consolida-se como o grupo hegemônico na construção das representações sobre os jovens, tendo como fundamento análises de Jodelet, Bourdieu, Thompson, Souza, Porto, Guareschi, Abramo, dentre outros.
No terceiro capítulo nos deparamos com uma descrição das notícias publicadas no jornal Daqui em três meses, de 2010 e de 2014, que descobre variações no uso do seu poder simbólico de representar os jovens. Já em 2014 há uma variação e a justificativa do assassinato dos jovens é apresentada como atrelada ao uso de drogas. Os requintes de crueldade dos estereótipos presentes nesses discursos seguem na associação de insanidade/loucura vinculada à imagem do jovem; na associação entre dependência química e doença mental; na ideia de improdutivos economicamente e na esfera do consumo.
Esse processo vivido em Goiás expressa as particularidades de um processo mais amplo experienciado no Brasil, que se aguça desde a década de 80, conforme já analisara Zaluar (1992), no qual a violência midiática constrói uma vinculação entre trabalhador (e os membros de suas famílias), pobreza e criminalidade; fazendo com que os trabalhadores pobres e seus jovens sejam vistos como classe perigosa, tendente ao crime.
É curioso que a mídia não parta de nenhuma pesquisa ou dado real que expresse a vinculação entre esses elementos estigmatizantes. Se partisse de alguma pesquisa séria constataria que os jovens constituem o contrário do que ela veicula: eles são as maiores vítimas de violência no país, de acordo com dados levantados pela autora a partir dos maiores indicadores de violência por meio do Mapa da Violência do Brasil
, Relatório da Anistia Internacional
, além de outros dados do Observatório Juventudes na Contemporaneidade
e do Instituto Cidadania
. Este último revela que a juventude figura em somente 1,09 % dos crimes mais violentos cometidos no país.
De costas para a verdade, a mídia distorce a realidade e constrói uma ideologia para justificar os assassinatos da juventude, sobretudo dos pobres e negros, partindo simplesmente dos relatos de policiais para construir seu discurso. Além disso, a autora identifica que a penalização é antecipada pela mídia antes mesmo do julgamento dos jovens ser realizado por sentença transitada em julgado. Essa exposição e os julgamentos antecipados ameaçam as suas vidas, atacam as suas memórias e de seus familiares e obstaculizam a luta por justiça. Essa violência midiática não seria possível em uma sociedade verdadeiramente democrática, tornando-se urgente a responsabilização desse meio de imprensa na sua produção e reprodução de violência.
Salta aos olhos a forma que a mídia hegemônica do Estado de Goiás utiliza para produzir sua violência e criminalização da juventude por meio da dominação intelectual de toda a população. A autora faz uma escolha certeira da análise desse jornal, tendo como critério a constatação de que ele é o de maior circulação impressa do estado de Goiás. Enquanto mídia hegemônica do estado, "o Daqui é voltado para os públicos ‘C e D’ da capital goiana e região metropolitana, e possui uma linguagem mais ‘acessível’, ‘mostrando o que de mais importante acontece de forma simples e dinâmica’. Conforme consta no livro,
A delimitação de um perfil de leitor, que também contempla os jovens moradores das periferias de Goiânia, com idade entre 14 a 29 anos, foi também outro fator que me instigou" (CASTRO, 2020, p 20)
Nota-se então que a mídia desencadeia o efeito perverso de jogar a população, sobretudo das classes C e D
, contra os direitos de seus próprios jovens. A violência se expressa pelos efeitos perniciosos de provocar a adesão da população às medidas mais severas e violadoras de direitos, tais como a adesão e busca de aprovação da Maioridade Penal. Contudo, quando esses mesmos jovens são assassinados injustamente – o que se expressa na maioria dos casos que compõem as maiores vítimas de violência –, a mesma mídia ignora o sofrimento e a versão dos familiares e testemunhas. Ou seja, dá-se curso a um efeito de depósito de confiança na mídia e na polícia pela sociedade; e da constatação repentina pelos grupos mais vulneráveis de que a verdade não prepondera diante das injustiças cometidas, nem mesmo seus relatos e a busca por justiça são escutados, frequentemente, pela mesma mídia.
Além de buscar produzir um enfraquecimento da coesão entre todos os membros da comunidade, uma vez que há uma indiferença ou criminalização de segmentos juvenis, outras graves consequências se associam à violência midiática. Uma delas é a consequência da violência exercida pela política; justificando campanhas feitas por políticos e instituições pela Redução da Maioridade Penal. Além disso, cria-se um sentimento de medo e insegurança nas cidades, aguçando um desejo de exclusão desse segmento e fortalecendo a economia da segurança privada, o avanço do isolamento da sociedade e seus adoecimentos, em detrimento do convívio solidário pelo coletivo.
Contudo, apesar do fortalecimento das violências policiais, midiáticas, políticas, de segmentos da sociedade que projetam seus medos e violência sobre o segmento da juventude – que tem seus direitos violados em todas as esferas (material, física, simbólica, psicológica e moral) –, a obra da Gardene revela as dimensões de subjetivação predominantes que são indicativas de saúde, autonomia e capacidade de discernimento consequente da juventude, ao analisar as representações da mídia sobre eles. Os jovens argumentam que os periódicos jornalísticos destinados a eles e à sociedade subestimam a capacidade de reflexão de todos; são violentos, sensacionalistas, não contextualizam, não discutem o problema estrutural do desemprego e exclusão, incentivam o medo da sociedade, a exclusão e isolamento e a indústria da segurança privada, não levam às reflexões sobre os motivos que geram e mantêm a criminalidade, etc.¹ Além disso, colocaram-se contra a redução da maioridade penal, visto que, para eles, não há possiblidade de recuperação no sistema carcerário brasileiro
(CASTRO, 2020, p. 190), além de retomarem o conhecimento de que os dados revelam que a juventude não é o segmento que mais comete crimes no país.
Os jovens de classe baixa desenvolvem uma interpretação crítica da mídia, sobretudo trazendo à tona exemplos de casos próximos a eles em que testemunharam violência policial, com todo tipo de agressões, torturas e abuso de poder sobre outros jovens. A autora traz à tona também relatos de casos reais em que conheciam as pessoas envolvidas em situação de violência que não estavam diretamente ligadas ao uso ou tráfico de drogas, mas acabaram sendo identificadas no texto jornalístico como vinculadas a tal questão
(CASTRO, 2019, p?). Isso que reforça a tese de Zaluar (1992) de que a juventude, sobretudo pobre e negra das periferias, compõe a maior vítima da violência de Estado – na sua falta de acesso aos direitos –, da violência policial, com as violações históricas no país – o que não seria admitido em nenhum país em que a democracia e os direitos humanos vigorem –, e da violência midiática, que justifica a violência e exclusão desse segmento pelo domínio ideológico da população.
Notando-se, então, todo esse cenário coeso de falsa projeção que pesa sobre as juventudes, o livro de Gardene revela sua atualidade e a necessidade de superação de todas essas formas de violências e de violação de direitos contra esse segmento. Além disso, expressa a resistência das juventudes por meio de processos de subjetivação predominantemente contrários a toda a violência vivida do presente. Ler seu texto é fundamental para que possamos pensar em formas de ultrapassar verdadeiramente as condições que violentam a possibilidade de uma vida digna para todos. A conclusão que fica é a de que, diante desse cenário violento, é confiável acreditar no discernimento das juventudes, que segue em frente e segura o rojão
, indicando a necessidade de transformação social e vislumbrando uma manhã desejada em que possamos garantir uma vida digna para todos os brasileiros.
Uma boa leitura a todos.
Larissa Leão de Castro
Doutoranda em Psicologia Clínica e Cultura pela Universidade de Brasília (UnB)
Foi professora da Universidade Federal de Goiás (UFG/REJ)
Mestre em Educação pela Universidade Federal de Goiás (UFG/FE)
Pós-graduada pelo curso de especialização De Freud a Lacan: Teoria da Clínica Psicanalítica Para o século XXI
, chancelado pela PUC-Goiás
Bacharel em Psicologia
Sumário
INTRODUÇÃO 19
CAPÍTULO 1
VIOLÊNCIA E INSEGURAÇA NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA 25
1.1 As violências: possíveis significados 25
1.2 Violência urbana, medo do crime e o sentimento de insegurança 33
1.3 O novo racismo e a exclusão de jovens pobres 42
1.4 Juventude e violência: a realidade de Goiás 49
1.5 As juventudes: reflexões conceituais 58
CAPÍTULO 2
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE JOVENS NA MIDIA 65
2.1 As representações coletivas 65
2.2 Das representações coletivas às representações sociais 67
2.3 Ancoragem e Objetivação 74
2.4 Representações sociais: a teoria do núcleo central e a perspectiva societal 76
2.5 Representações sociais, mídia e poder simbólico 82
2.6 Representações sobre jovens na mídia 91
CAPÍTULO 3
AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS SOBRE OS JOVENS NO JORNAL DAQUI 93
3.1 As fontes utilizadas e o tratamento dos dados 93
3.1.1 Perfil do jovens citados nos casos de violência no Daqui 94
3.1.2 Cor/Raça do jovem citado em casos de violência no Daqui 96
3.1.3 Fonte consultada nas notícias do Daqui 98
3.1.4 Crimes citados nas notícias do Daqui 99
3.2 A construção do mapa representacional 100
3.2.1 A representação social do jovem no jornal Daqui em 2010: o perigo 100
3.2.2 A representação social do jovem no jornal Daqui em 2014: o uso e envolvimento com o tráfico de drogas 104
3.3 As categorias encontradas 113
3.3.1 Irreversibilidade 114
3.3.2 Periculosidade 117
3.3.3 Insanidade 121
3.3.4 Improdutividade 126
3.3.5 Individualismo 130
3.3.6 Ambiguidade 134
CAPÍTULO 4
AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DOS JOVENS SOBRE O JORNAL DAQUI 139
4.1 A metodologia de pesquisa e as fontes consultadas 139
4.2 O sensacionalismo no jornal Daqui 145
4.2.1 Irreversibilidade 149
4.2.2 Insanidade 161
4.2.3 Improdutividade 165
4.2.4 Periculosidade 170
4.2.5 Individualismo 175
4.2.6 Ambiguidade 177
4.2.7 Jovens pobres e o envolvimento com drogas 181
CONSIDERAÇÕES FINAIS 187
REFERÊNCIAS 193
índice Remissivo 205
INTRODUÇÃO
Desde quando comecei a trabalhar na Casa da Juventude Pe. Burnier², em Goiânia, em 2003, passei a conviver com uma realidade de denúncias sobre a grande quantidade de mortes de jovens pobres, negros, moradores nas periferias de Goiânia. Tais índices de violência foram comprovados, nos últimos 10 anos, tanto no país como em Goiás, pelos principais indicadores nacionais e internacionais de violência, como o Mapa da Violência do Brasil e o Relatório da Anistia Internacional.
Segundo Roque (2015), diretor da Anistia Internacional no país, o Brasil obteve um dos índices mais altos de homicídios no mundo. O relatório aponta que se cultiva, entre a população, a ideia de um país pacífico, mas convive-se com números de homicídios que superam conflitos armados, com cerca de 56 mil vítimas de homicídios por ano, sendo a maior parte dessas vítimas jovens pobres, negros, moradores das periferias urbanas.
Diante dessa realidade, me senti motivada, em primeiro lugar, a entender quais as representações que a mídia impressa goiana constrói ou reforça sobre os jovens, enfocando especialmente o caso do jornal Daqui. Também tive o desejo de compreender, ainda, como esses jovens se veem representados nesses mesmos enunciados.
Escolhi o Daqui por dois motivos: o primeiro é que o diário é um importante veículo formador de opinião em Goiás, possuindo, atualmente, a maior tiragem de jornais impressos do Estado e a 5.ª maior tiragem de impressos no Brasil, segundo a Associação Nacional de Jornais (http://www.anj.org.br/maiores-jornais-do-brasil. Acesso em 25 de março de 2016), ficando atrás somente do Super Notícia, O Globo, Folha de São Paulo e O Estado de São Paulo. Para se ter um índice de comparação, em Goiás, enquanto o Daqui está em 5.º lugar no ranking nacional, com tiragem de ١٥٣.٧٦١ exemplares, o jornal O Popular, segundo com maior circulação do estado, aparece em 47.º lugar no ranking nacional, com tiragem de ١٧.٦٨٥ exemplares.
O segundo motivo de escolha está vinculado ao perfil editorial da publicação. Conforme anunciado na página virtual da Organização Jaime Câmara (2014), o Daqui é voltado para os públicos C e D
da capital goiana e região metropolitana, e possui uma linguagem mais acessível
, mostrando o que de mais importante acontece de forma simples e dinâmica
. A delimitação de um perfil de leitor, que também contempla os jovens moradores das periferias de Goiânia, com idade entre 14 a 29 anos, foi também outro fator que me instigou.
A cobertura midiática³ sobre criminalidade envolvendo jovens e o seu impacto sobre as medidas de endurecimento penal orientadas a esse público tem sido alvo de meu interesse há vários anos. Iniciei os estudos sobre a temática em 2007, produzindo uma pesquisa durante o curso de pós-graduação lato sensu sobre juventude, no qual analisei a cobertura feita pelo jornal O Popular sobre os casos de violência policial contra jovens goianienses no período de 15 de abril a 15 de maio de 2006.
Na pesquisa citada, por meio da teoria do agendamento e do enquadramento, instrumentos de análise do conteúdo midiático, foram verificados enunciados que orientavam o público a uma determinada interpretação dos fatos. No trabalho ainda foram feitas entrevistas com Divino Rodrigues Barco, membro do Comitê Goiano Pelo Fim da Violência Policial e com Silvana Bittencourt, editora do caderno Cidades de O Popular no ano de 2006.
Diante da análise das informações, percebi, na época, que o enquadramento feito nas matérias do O Popular teve enfoque nos depoimentos e laudos da Polícia Militar do Estado de Goiás, sem dar espaço de resposta ou apresentar depoimentos das famílias das vítimas da violência policial ou do Comitê Goiano Pelo Fim da Violência Policial. A partir dessas reflexões, pude constatar, naquela época, que o jornal O Popular, em seus enunciados, acabou contribuindo para reforçar um imaginário que representa os jovens como violentos e criminosos (MENDES, 2007).
Durante pesquisa de mestrado, continuei a refletir sobre o discurso midiático envolvendo a temática: juventude, criminalidade e violência
, analisando, especificamente, a cobertura do jornal Daqui durante os meses de fevereiro, março e abril de 2010. Ao analisar as notícias desse jornal, percebi, na época, que os jovens compareciam diariamente em suas manchetes tendo suas mortes relatadas de forma espetacular devido a alguma infração cometida, ao envolvimento com o