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A face obscura da esfinge midiática: Estudo de recepção junto a adolescentes
A face obscura da esfinge midiática: Estudo de recepção junto a adolescentes
A face obscura da esfinge midiática: Estudo de recepção junto a adolescentes
E-book202 páginas4 horas

A face obscura da esfinge midiática: Estudo de recepção junto a adolescentes

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Sobre este e-book

A face obscura da esfinge midiática: estudo de recepção junto a adolescentes aborda a recepção de informações e imagens de violência, transmitidas cotidianamente na televisão, acerca do jovem em conflito com a lei. Para tanto, a autora faz uma análise das origens e da concepção de violência, buscando problematizar a apropriação midiática desse conceito, e explica o abuso da veiculação dessas imagens e informações, retomando as consequências da globalização para a comunicação – principalmente quando se observa o acirramento da concorrência e a luta pela conquista de audiência. Esta muitas vezes é alcançada quando se apela para as sensações e sentimentos da população, no modelo de telejornal que se convencionou chamar de sensacionalista. Justamente aqueles que mais sofrem a falta de direitos básicos – e aqui poderíamos considerar os direitos de segunda geração, tais como o emprego com carteira assinada –, são os jovens, alvos frequentes dessa manipulação de informações da mídia. Em pleno processo de ressocialização, necessitam da garantia dos direitos civis, políticos e sociais para se inserirem de forma cidadã na sociedade, e são também por isso o grupo selecionado para esta pesquisa de recepção.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento1 de jan. de 2017
ISBN9788547318055
A face obscura da esfinge midiática: Estudo de recepção junto a adolescentes

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    A face obscura da esfinge midiática - Núbia Simão

    Editora Appris Ltda.

    1ª Edição – Copyright© 2017 dos autores

    Direitos de Edição Reservados à Editora Appris Ltda.

    Nenhuma parte desta obra poderá ser utilizada indevidamente, sem estar de acordo com a Lei nº 9.610/98.

    Se incorreções forem encontradas, serão de exclusiva responsabilidade de seus organizadores.

    Foi feito o Depósito Legal na Fundação Biblioteca Nacional, de acordo com as Leis nºs 10.994, de 14/12/2004 e 12.192, de 14/01/2010.

    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO

    À minha mãe, Ivone Simão da Cunha, e ao meu pai, Ademar Souza da Cunha, que tanto se sacrificaram para que eu estudasse. Eles me deram exemplo suficiente para que eu respeitasse pessoas e me preocupasse muito com o outro.

    Ao Aurélio Alves de Melo,

    cujos passos se misturam aos meus.

    À minha irmã Wânia da Cunha Simão,

    que é exemplo de integridade profissional.

    À querida professora

    Ana Carolina Rocha Pessôa Temer, grande pesquisadora.

    E ao professor Magno Luiz Medeiros da Silva,

    pelo apoio e orientação com este texto.

    Aos estimados servidores da TV Brasil Central.

    Em especial, Abadia Lima e Susete Amâncio.

    Apresentação

    Enquanto construtora de identidades coletivas, a mídia tem papel fundamental na história da sociedade brasileira. Por meio de signos e sinais, constrói e transforma imagens e realidades. Imprescindível para a conquista da República e a consolidação do capitalismo, ela desafia a comunidade científica interessada em entender seus reflexos sobre a sociedade.

    Nesse processo, o receptor é um usuário crítico, que ressignifica e transforma as mensagens midiáticas. Em um momento em que dados apontam o crescimento de assassinatos entre jovens e de crimes praticados por esse grupo etário, números indicam o aprofundamento das desigualdades sociais. Diante desse contexto surgem inúmeras reflexões, entre elas, como se dá a recepção das imagens e informações de violência.

    O aumento da criminalidade no Brasil possibilitou que um leque de imagens e informações de violência ganhasse espaço, de maneira generalizada, nos mais variados horários da televisão brasileira. Hoje são comuns os programas do dito gênero popular, orientados ao relato das infrações penais.

    Um dos problemas dessa transmissão, sem precedentes, de imagens e informações da violência, é como jovens em conflito com a lei percebem tal construção imagética e de informações, que é quase sempre transmitida de forma difusa e desordenada.

    A influência da mídia na percepção da violência por jovens em conflito com a lei, por meio da conformação de representações da violência pela televisão, é o objeto de estudo deste livro. Dito em outras palavras, a obra propõe-se a um diálogo sobre as possibilidades de influência da mídia, enquanto colaboradora de identidades coletivas.

    Portanto, a proposta desta pesquisa é estudar como jovens em conflito com a lei que cumprem medida socioeducativa interpretam e elaboram as informações e imagens de violência veiculadas por um programa considerado sensacionalista.

    Parte-se da hipótese principal de que a superexposição da violência leva os jovens considerá-la como algo comum em suas vidas. Ou seja, a partir da leitura cotidiana da violência os jovens tornam-se insensíveis a tais atos, em um sentido de desvalorização, tanto da vida como das mortes e mutilações veiculadas pelo programa e vividas no cotidiano.

    São elencadas para tal estudo duas hipóteses secundárias. A primeira admite que os jovens reconhecem-se como sujeitos que podem perder a vida, no combate à violência proposto pelo noticiário. Há, em vários momentos do programa, um apelo para que a polícia aja de forma cada vez mais rígida no combate ao crime, matando os acusados sem prévio julgamento. Esse é o pressuposto de que os jovens em conflito com a lei reconhecem-se como não portadores dos direitos civis, em um processo de negação da cidadania.

    A segunda hipótese concebe que os sujeitos receptores percebem que o programa explora de forma apelativa, tanto imagens como informações e comentários sobre a violência e seu combate para garantir a audiência.

    Para se analisar as questões anteriormente referidas, o estudo divide-se em cinco capítulos: Violência: além das práticas e hábitos cotidianos, O campo jornalístico e a globalização, Sobre cidadania e juventude, Sobre recepção e A recepção da veiculação da violência junto ao jovem em conflito com a lei.

    O primeiro capítulo traz uma retomada das origens e do conceito de violência. São apresentadas e discutidas as principais teorias que tentam explicar esse ato. Nesse momento também é explicitado o conceito de violência que oferece embasamento para o livro. Ao final do capítulo tem-se uma problematização sobre a apropriação midiática da criminalidade.

    Para compreender o abuso do uso de imagens e informações pela mídia, especialmente a televisão, faz-se o uso da teoria dos campos sociais de Pierre Bourdieu analisando o campo jornalístico. Dessa forma, no segundo capítulo busca-se fazer uma retomada do conceito de televisão e sobre o apelo às sensações e sentimentos do público, que se convencionou chamar de sensacionalismo¹.

    No terceiro capítulo discute-se cidadania e juventude. Em um contexto em que imagens e informações de violência são exploradas de forma exaustiva, observa-se ainda que a tomada de decisões e ações políticas depende, sobretudo, de informações – item essencial para a cidadania –, e observa-se a necessidade da discussão da informação veiculada, especialmente, na televisão, para a consolidação da cidadania no Brasil. Justamente aqueles que mais sofrem a falta de direitos básicos – e aqui poderíamos considerar os direitos de segunda geração, tais como o emprego com carteira assinada –, são os jovens, alvos frequentes dessa manipulação de informações da mídia. Em pleno processo de ressocialização necessitam da garantia dos direitos civis, políticos e sociais para se inserirem de forma cidadã na sociedade, e são também por isso o grupo selecionado para esta pesquisa de recepção. Nesse capítulo tem-se uma discussão sobre consumo e cidadania e sobre sensacionalismo e cidadania.

    No quarto capítulo tem-se a exposição sistematizada dos métodos empregados para analisar a recepção do programa de televisão junto ao jovem em conflito com a lei. Discute-se para tanto as pesquisas de recepção, fazendo-se uma retomada da forma como o receptor foi tratado nas principais teorias que embasam a pesquisa em comunicação. Explicita-se que, para verificar as hipóteses propostas por esta pesquisa, conjugada à recepção, será utilizado o método de entrevista semiestruturada em profundidade.

    O quinto capítulo é dedicado à análise dos resultados e discussões baseadas nas informações obtidas, junto aos jovens em conflito com a lei, sobre a recepção de informações e imagens de violência. Para tanto é feita uma descrição do Centro de Internação para Adolescentes (CIA), assim como são apresentadas peculiaridades dos indivíduos receptores que vivem a restrição de liberdade. São apontadas as mediações família, escola, igreja, CIA e indivíduo enquanto categorias de análise da recepção das imagens e informações de violência, além do teste das hipóteses.

    A autora

    PREFÁCIO

    O que você vê quando liga a televisão? Se você não tem acesso aos canais por assinatura ou, como milhões de outros brasileiros, prefere acompanhar com regularidade a programação da televisão de sinal aberto, irá encontrar, inserido entre as novelas e outras atrações voltadas para o entretenimento, um modelo muito específico de telejornal que envolve altas doses de sensacionalismo e exposição da violência.

    Aliás, eu escrevi telejornal? A definição mais simplória para o telejornalismo é que se trata do jornalismo na televisão, ou o jornalismo feito para a televisão. O telejornalismo é uma instituição social historicamente reconhecida, cujos fundamentos estão no princípio ético, na busca da verdade e no compromisso com a pluralidade de opiniões, mas cujas práticas envolvem a exposição controlada dos fatos. Dessa forma, o (tele)jornalismo é instituído pelas relações sociais que lhe envolvem, como também é instituinte dessas relações. Ou, ainda, embora o jornalismo não seja um serviço público, no sentido de serviço essencial subsidiado pelo Estado, é igualmente um serviço ao público, uma vez que sua base utópica se constrói a partir da noção ética do dever de informar de forma clara, objetiva e imparcial sobre o que é importante ou essencial para a vida cotidiana. E é justamente em função do seu papel como serviço público que os discursos sobre a ética jornalística envolvem a necessidade de uma relação de distanciamento das diferentes formas de poder (o Estado, o grande capital, os partidos políticos e as assossiações sindicais, entre outros), o que lhe proporcionará atuar como uma espécie de consciência social, o guardião da moralidade e veículo de denúncia dos desvios e corrupções, mas também o defensor da democracia, dos direitos humanos e de todas as ações que podem levar para uma vida melhor e uma sociedade mais justa.

    Convém, portanto, rever a afirmação de que a televisão brasileira expõe hoje para grande parte da sua audiência, em diferentes versões e em diferentes emissoras, um tipo de programa cujo conteúdo é, ao mesmo tempo, repetitivo e agressivo, no qual um apresentador carismático e verborrágico se coloca em frente ao público como defensor da liberdade de expressão e dos oprimidos – ou a mesma coisa na ordem inversa – apresentando uma série de imagens, comentários e narrativas rechedas de violência e questionamentos sobre a eficiência da política, do Governo e do Estado, além de inúmeras curiosidades, insinuações e conteúdos que vão do assistencialismo insinuado à obtenção de benefícios expressos e imediatos, em uma linguagem contundente e óbvia que se conecta e intercruza com momentos de exposição e televendas de produtos de vários tipos.

    Mais uma vez, portanto, voltamos à pergunta: podemos chamar esses conteúdos de telejornal?

    A resposta não é fácil. Sem dúvida, trata-se de um gênero televisivo que, tendo sido capturado do rádio, ganhou uma identidade própria, embora ainda não claramente delimitada, que obedece a algumas das bases essenciais do jornalismo: é atual, tem periodicidade e universalidade. Também apresenta formatos tradicionais do jornalismo, como a reportagem. Mais ainda, seus produtores, autores e repórteres (?) apresentam-se como jornalistas, comumente declarando que – como em geral se propõe a fazer o bom jornalismo – estão prestando um serviço público.

    Será isso suficiente para afirmar que tal modelo é jornalismo? Ou, pelo menos, para classificá-lo como um tipo menor ou secundário dessa atividade?

    Talvez essa fosse a resposta mais fácil. Mas, certamente, não a melhor.

    Afinal, como secundarizar um modelo – um gênero? – que cada vez ocupa mais espaço e conquista maior número de telespectadores?

    Núbia Simão optou pela resposta mais difícil, buscando não apenas entender esses conteúdos, como também entender o seu alcance. Nesse sentido trata-se de um trabalho cuja contribuição está em entender a violência em uma mídia violenta, que por sua vez serve a uma sociedade estruturalmente violenta.

    Uma vez que o conteúdo da televisão se constitui de um conjunto fragmentado, cuja lógica da distribuição/realização e veiculação nem sempre é perceptível, funciona como uma forma de desvendar relações violentas, mas também ocultas, ou pouco claras, que estruturam a própria sociedade.

    Essa questão, é claro, está presente em todos os conteúdos das mídias e em todos os setores da sociedade, mas a regra da ordinariedade – ou de quem se conforma com o obvio – é obliterar (intencionalmente ou não) aquilo que mais nos incomoda ou nos envergonha.

    O mérito do texto que se segue, portanto, é trazer à tona relações que, estando expostas todos os dias na televisão, estão também ocultas. Nesse sentido, o termo obliterar é intencional, pois revela o que existe de oculto nesse mecanismo.

    Além de todos esses pontos, é claro, não é possível deixar de lado também que, ao buscar desvendar a relação entre mídia e violência a partir de um conteúdo em si

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