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Aprendizagens e Prazeres: Ressonâncias poéticas a partir de Clarice Lispector
Aprendizagens e Prazeres: Ressonâncias poéticas a partir de Clarice Lispector
Aprendizagens e Prazeres: Ressonâncias poéticas a partir de Clarice Lispector
E-book193 páginas2 horas

Aprendizagens e Prazeres: Ressonâncias poéticas a partir de Clarice Lispector

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Sobre este e-book

Este livro surgiu de uma pesquisa de Mestrado, e tem como propósito fundamental a busca por ressonâncias poéticas a partir de Clarice Lispector para o teatro. Para esta pesquisa, optou-se pela escolha de duas principais vertentes teóricas: a da Tradução Criativa e a da Imaginação Material. Entende-se que a realização de uma Tradução Criativa não tem como objetivo completar o original, mas sim reverberá-lo, criar com ele uma ressonância de sentidos. É nesse viés que se realiza a análise das relações poéticas. Ainda, estudos de Gaston Bachelard foram utilizados enquanto importantes reflexões sobre os elementos materiais água, ar, fogo e terra que foram usados nas análises dos objetos de estudo aqui propostos. O conceito de Imaginação Material desenvolvido pelo filósofo mostra-se essencial para se entender os elementos materiais como gênese para o devaneio poético. Outras teorias utilizadas neste livro são: Carnavalização e Polifonia de Bakhtin, Processo Colaborativo, Melancolia segundo a Psicanálise, Teatro Pós-dramático e Teatro Performativo, entre outras.

Danilo França é professor, pesquisador e artista. Licenciado em Artes Cênicas pela UFOP e mestre em Estudos de Linguagens pelo CEFET-MG. Atualmente mora em Belo Horizonte.

IdiomaPortuguês
Data de lançamento13 de jul. de 2020
ISBN9781005415136
Aprendizagens e Prazeres: Ressonâncias poéticas a partir de Clarice Lispector
Autor

Danilo França

Danilo França é professor, pesquisador e artista. Licenciado em Artes Cênicas e mestre em Estudos de Linguagens. Incompletude é o seu livro de estreia. Atualmente mora em Belo Horizonte.

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    Aprendizagens e Prazeres - Danilo França

    DANILO FRANÇA

    Aprendizagens e Prazeres

    Ressonâncias poéticas a partir de Clarice Lispector para o teatro

    Copyright © 2020 Danilo França do Nascimento

    Todos os direitos reservados.

    ISBN: 9781005415136

    Um ser sonhador feliz de sonhar, ativo em sua fantasia, contém uma verdade do ser, um destino do ser humano.

    [...]

    Sonhando com toda a ingenuidade sobre as imagens dos poetas, aceitamos todos os pequenos milagres da imaginação.

    GASTON BACHELARD

    SUMÁRIO

    PRIMEIRA PARTE: olhares iniciais

    Apresentação

    Lua de Aura Encantadora

    Chaya Pinkhasovna Lispector

    Tradução intersemiótica

    Criação carnavalizada e polifônica

    SEGUNDA PARTE: a Imaginação Material

    Os elementos materiais e seus simbolismos

    Terra: imagens da intimidade e melancolia

    O fogo e o ar: festa dos sentidos

    A água e suas poéticas

    TERCEIRA PARTE: olhares inacabados

    Fragmentos de criação: incompletude

    Considerações infinitas

    Referências

    Agradecimentos

    Lista de abreviações das obras de Clarice Lispector

    PRIMEIRA PARTE

    OLHARES INICIAIS

    APRESENTAÇÃO

    Este livro se originou a partir da dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos de Linguagens do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais, em 2015, sob orientação da Prof.ª Dr.ª Olga Valeska. O propósito fundamental deste estudo refere-se à busca por múltiplas relações poéticas entre o espetáculo Prazer da Cia. Luna Lunera e a vida e obra de Clarice Lispector, sobretudo o livro Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres.

    O espetáculo Prazer, da Companhia teatral Luna Lunera, de Belo Horizonte (MG), mostra a história de quatro amigos (Camilo, Isadora, Marcos, Ozório) que se reencontram em um país estrangeiro, sem defini-lo exatamente. Eles se veem envoltos em momentos distintos um do outro, porém no decorrer do espetáculo fica evidente que eles estão vivenciando dilemas e angústias semelhantes em suas vidas. Apesar disso, os quatro amigos têm a coragem de procurar pelo prazer de viver. O apesar de revela-se o mote desses quatro seres em processo (constante formação). Prazer estreou no dia 1º de dezembro de 2012 em São Paulo, e conta com a atuação e codireção de Cláudio Dias, Isabela Paes, Marcelo Souza e Silva, Odilon Esteves, e a codireção de Zé Walter Albinati.

    De modo similar, o livro Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres conta uma história simples, porém potente. Clarice Lispector escreveu nesse livro a procura individual e compartilhada da aprendizagem entre duas pessoas: Lóri e Ulisses. Ambos estão vivendo momentos diferentes um do outro, e por isso mesmo que recebem e doam constantemente entre si. Lóri é uma professora de educação básica, Ulisses é um professor universitário de Filosofia. Ela se encontra fechada ao mundo, e se vê ansiosa por isso. Ele não tem muito mais o que provar a ninguém, mas deseja aprender. Ambos estão à procura de algo, ainda que não saibam exatamente do que se trata. No livro, Lóri e Ulisses se completam sem se fechar, cada um a seu tempo, pois estão em processo. Uma aprendizagem foi publicado pela primeira vez em 1969, contendo diversos recortes de outros textos já publicados anteriormente por Clarice, sobretudo em sua coluna no Jornal do Brasil.

    Para esta pesquisa, a escolha por Clarice Lispector se dá principalmente devido a dois motivos: sua importância para o cenário literário do Brasil desde a década de 1940, e a teatralidade contida em suas obras. Mais de setenta anos após o lançamento de seu primeiro livro, a escritura de Clarice ainda é objeto de estudo em diversos livros, artigos, teses e dissertações, além de muitos espetáculos teatrais realizados a partir de sua vida e obra. Já a escolha de Prazer se dá tanto pela representatividade da Cia. Luna Lunera no cenário teatral de Minas Gerais, quanto por ser Clarice Lispector uma importante fonte de criação desse espetáculo. A Companhia é considerada como uma das principais referências do teatro contemporâneo em Minas Gerais, devido ao seu processo criativo investigativo, tendo como foco o trabalho dos atores-criadores. Assim, este livro se mostra significativo por abarcar estudos sobre o universo de Clarice Lispector em diálogo com o fazer teatral da Cia. Luna Lunera, enquanto linguagens distintas e relacionadas.

    Há uma escolha por duas principais vertentes teóricas: a da Tradução Criativa, e a da Imaginação Material de Gaston Bachelard, conforme são especificadas ao longo do livro. Outras teorias que foram aportadas para as análises aqui realizadas são: Carnavalização e Polifonia de Mikhail Bakhtin, Processo Colaborativo, Melancolia segundo a Psicanálise, Teatro Pós-dramático e/ou Performativo, entre outros.

    Esta pesquisa não tem como pretensão exaurir todas as possibilidades de estudo acerca de relações entre Clarice Lispector e Prazer. Também não se pretende reconstituir a experiência estética que o espectador teve quando assistiu ao espetáculo Prazer ao vivo. Pois, conforme elucida o teatrólogo francês Patrice Pavis (2003, p. 6), quer a encenação date de ontem ou dos gregos, já é passado irremediável e não conservamos dela nem a experiência estética nem o acesso à materialidade viva do espetáculo. Busca-se, sim, analisar a linguagem da obra clariceana em relação com Prazer, tendo como instrumento de análise, além das referências teóricas apontadas acima, o processo criativo dos atores-codiretores da Cia. Luna Lunera e os possíveis efeitos de sentidos que são lançados ao espectador, em relação com o universo de Clarice Lispector. Ainda, procura-se aqui contribuir enquanto um registro histórico do espetáculo Prazer da Companhia teatral mineira Luna Lunera.

    Nesse sentido, foi necessária uma investigação inicial sobre a Companhia, quando houve a participação do pesquisador em uma oficina de criação cênica e em um bate-papo sobre o processo criativo de Prazer oferecidos pela Cia. Luna Lunera, além da função como espectador crítico em diversas apresentações do espetáculo. Também foi realizada a coleta dos seguintes elementos para análise: a) entrevistas exclusivas com três artistas envolvidos no processo criativo de Prazer; b) roteiro dramatúrgico e projeto de montagem de Prazer; c) registro do espetáculo Prazer em vídeo para uma análise pormenorizada; d) textos diversos (dissertações, matérias de jornais, revistas e sites na internet) sobre a Cia. Luna Lunera; e) obras literárias de Clarice Lispector; f) textos diversos (livros, artigos, entrevistas) sobre a vida e obra de Clarice Lispector.

    A primeira parte deste livro possui quatro capítulos. No primeiro, é realizada uma breve contextualização da Cia. Luna Lunera, com a sua trajetória artística. É também realizada uma primeira análise do espetáculo Prazer, de acordo com o seu projeto de montagem e entrevistas com artistas da Companhia. No capítulo seguinte, é elaborada uma introdução sobre a vida e obra de Clarice Lispector, bem como a sua relação com o teatro. Para tanto, são utilizados estudos sobre o conceito de escritura de acordo com Roland Barthes, sobre a biografia da escritora segundo Benjamin Moser, além de críticas literárias de Antonio Candido, e pesquisas de André Luís Gomes. No decorrer do livro, são também utilizados importantes estudos sobre a escritora, como os realizados por Nádia Gotlib, Edgar Nolasco, Olga de Sá, entre outros.

    Diversos pesquisadores da área teatral são utilizados neste livro, a fim de lançarem luz acerca de muitos temas específicos do Teatro. Alguns destes pesquisadores são: Adélia Nicolete, Denis Guénoun, Erika Fischer-Lichte, Hans-Thyes Lehmann, Josette Féral, Luís Alberto Abreu, Marco De Marinis. Outro importante teórico teatral refere-se a Patrice Pavis, professor de teatro na Universidade de Paris VIII, que realiza diversos estudos sobre a teoria dramática, a encenação contemporânea e o teatro intercultural.

    Ainda na primeira parte deste livro, o terceiro capítulo contém uma análise da Tradução Intersemiótica entre a obra teatral e a literária. Para tanto, são utilizados estudos sobre a Semiótica de Charles S. Peirce, Lucia Santaella, e sobre o conceito de Tradução Intersemiótica de Julio Plaza. Além disso, são consultados escritos de Haroldo de Campos no que tange ao conceito de Tradução Criativa. No quarto capítulo, são analisados o espetáculo Prazer e o livro Uma aprendizagem utilizando os conceitos de Carnavalização e Polifonia, desenvolvidos pelo filósofo russo Mikhail Bakhtin.

    A segunda parte do livro possui quatro capítulos, nos quais os estudos do filósofo francês Gaston Bachelard são utilizados. Estes se referem a importantes reflexões sobre a imaginação poética de acordo com os elementos materiais água, ar, fogo e terra. Bachelard foi um filósofo, crítico literário, poeta, professor de Filosofia em Dijon (Faculdade de Letras), e professor de História e Filosofia da Ciência em Sorbonne. O conceito de Imaginação Material desenvolvido pelo filósofo mostra-se essencial para se entender aqui os elementos materiais como gênese para o devaneio poético. Considera-se então este conceito como um importante aporte teórico, enquanto um instigador criativo para as análises dos objetos de estudo.

    A terceira parte do livro possui um único capítulo. Neste, é evidenciado com mais profundidade o caráter de incompletude em Prazer e em Clarice Lispector. Para tanto, é analisada a fragmentação tanto no processo de criação, quanto nas obras propriamente ditas, tendo em vista também o ser humano em crise. Por fim, as considerações finais retomam as reflexões elaboradas ao longo da pesquisa, evidenciando a dimensão permanentemente inacabada que se atribui às obras analisadas.

    LUA DE AURA ENCANTADORA

    Antes de se deitar foi ao terraço: uma lua cheia estava sinistra no céu. Então ela se banhou toda nos raios lunares e se sentiu profundamente límpida e tranquila.

    CLARICE LISPECTOR

    Luna Lunera é uma expressão hispânica que possui como sentido poético a Lua de Aura Encantadora. Esse sentido pode sugerir, dentre diversas outras possibilidades, uma qualidade de transformação que a Lua possui como potencialidade simbólica. Seria, assim, encantador conseguir sempre se metamorfosear, assim como a Cia. Luna Lunera particularmente consegue. Como exemplo disso, vale ressaltar as características da primeira e da última montagem teatral da Companhia. O espetáculo Fuleirices em fuleiró foi o primeiro, criado pelo grupo de estudantes que no ano seguinte se constituiria oficialmente como Cia. Luna Lunera. A montagem estreou em 2000 no Curso de Teatro do Centro de Formação Artística do Palácio das Artes (CEFAR), em Belo Horizonte (MG). Fuleirices em fuleiró contou com a direção de Marcos Vogel e com o texto de Mario Brasini, contendo características de teatro de rua, concebidas a partir de estudos desenvolvidos sobre bufonaria e tradições populares.

    O espetáculo Prazer – até então o último da Companhia, já formada e consolidada no cenário teatral de Minas Gerais –, possui características diferentes: não há somente um diretor, mas cinco atores-codiretores que compartilham de suas distintas experiências em prol de um espetáculo de cunho principalmente existencialista. Nesse contexto, as diferentes características entre o primeiro e o último espetáculo da Companhia evidenciam a constante transformação que a Cia. Luna Lunera busca em/com sua arte no decorrer de sua trajetória artística. Ademais, a escolha de um nome estrangeiro ainda pode ser relacionada com outra característica presente nos artistas da Companhia: a constante busca pelo desconhecido.

    Posteriormente ao Fuleirices em fuleiró, no ano de 2001 o grupo de alunos do Palácio das Artes montou o seu espetáculo de formatura, Perdoa-me por me traíres, do texto de Nelson Rodrigues e direção de Kalluh Araújo, com características de teatro-dança. Em 2003 a Cia. Luna Lunera, já contando com um nome, montou o espetáculo Nesta data querida, devido à participação dos atores no projeto Cena 3x4, em que pesquisaram a criação cênica a partir do Processo Colaborativo. O espetáculo teve direção de Rita Clemente e dramaturgia de Guilherme Lessa. Após, Não desperdice sua única vida ou... foi o quarto espetáculo que os integrantes da Companhia (também conhecidos como lunos) montaram, estreado em 2005 e dirigido por Cida Falabella, contendo características de criação coletiva e autobiográfica. O espetáculo foi contemplado pelo Prêmio Sesc-Sated 2006 como Melhor Direção (Cida Falabella) e como Melhor Ator (Odilon Esteves). Foi também contemplado como Melhor Dramaturgia Inédita pelo Prêmio Usiminas-Sinparc 2006.

    Em seguida a essas quatro montagens cênicas, em 2007 os lunos propuseram estudar os conceitos de Contato Improvisação (Steve Paxton) e das Ações Vocais (Constantin Stanislavski). Alguns textos foram utilizados durante suas experimentações, contudo foi o conto Aqueles dois do escritor Caio Fernando Abreu que mais chamou a atenção dos lunos. Com exercícios próprios de direção e dramaturgia compartilhadas – por meio de métodos do Processo Colaborativo com improvisações e imersões nesse texto do escritor –, traduziu-se então para o teatro o conto Aqueles dois, sob título homônimo. O espetáculo foi contemplado por muitos prêmios, com apresentações em importantes festivais de teatro, como o Festival de Teatro de Curitiba, Festival Internacional de Artes Cênicas da Bahia, e o Festival Internacional de Teatro Palco e Rua de Belo Horizonte (FIT-BH). No ano de 2010, Aqueles dois foi selecionado para integrar o projeto Palco Giratório, do Sesc Nacional, com apresentações em quinze estados brasileiros.

    O sexto espetáculo da Cia. Luna Lunera, Cortiços, estreado em 2008, teve como livre inspiração criativa o romance O Cortiço, de Aluísio Azevedo. O espetáculo foi realizado a partir da investigação dos atores e do diretor convidado acerca da dança contemporânea e das relações entre o teatro e a dança, como uma forma de aprofundar a pesquisa nos âmbitos citados, iniciada sobretudo em Perdoa-me por me traíres. O espetáculo contou com a direção do renomado coreógrafo mineiro Tuca Pinheiro. Cortiços ganhou o Prêmio Usiminas-Sinparc 2009 nas categorias: Melhor Ator Coadjuvante (Marcelo Souza e Silva), e Melhor Iluminação (Felipe Cosse e Juliano Coelho).

    No ano de 2011, após um processo de avaliação do que foi realizado nos últimos dez anos da Cia. Luna Lunera, os lunos decidiram montar um novo espetáculo, com o mesmo tipo de processo criativo que já haviam experimentado anteriormente, sobretudo em Aqueles dois. Esse processo, realizado com base no Processo Colaborativo, refere-se ao trabalho de direção e dramaturgia compartilhadas, quando cada ator-codiretor desenvolve o seu próprio projeto de direção com os demais. Foi a partir disso que surgiu

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