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Mestres da Poesia - Augusto dos Anjos
Mestres da Poesia - Augusto dos Anjos
Mestres da Poesia - Augusto dos Anjos
E-book446 páginas2 horas

Mestres da Poesia - Augusto dos Anjos

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Sobre este e-book

Bem-vindo à série de livros Mestres da Poesia, uma seleção das melhores obras de autores notáveis. O crítico literário August Nemo seleciona os textos mais importantes de cada autor. A seleção é realizada a partir da obra poética, contos, cartas, ensaios e textos biográficos de cada escritor. Oferecendo assim ao leitor uma visão geral da vida e obra do autor. Esta edição é dedicada a Augusto dos Anjos, foi um poeta brasileiro, identificado muitas vezes como simbolista ou parnasiano. Todavia, muitos críticos, como o poeta Ferreira Gullar, preferem identificá-lo como pré-modernista, pois encontramos características nitidamente expressionistas em seus poemas. É conhecido como um dos poetas mais críticos do seu tempo, focando suas críticas ao idealismo egocentrista que se emergia em sua época, e até hoje sua obra é admirada tanto por leigos como por críticos literários. Este livro contém os seguintes textos: Textos introdutórios e críticos por Pereira da Silva, Nazareth Menezes, Martins Junior e Antonio Torres.Poesia: Livro "Eu" completo e mais de 50 poemas selecionados.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento16 de ago. de 2020
ISBN9783969443835
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    Mestres da Poesia - Augusto dos Anjos - Augusto dos Anjos

    O Autor

    Augusto dos Anjos nasceu no Engenho Pau d'Arco, atualmente no município de Sapé, Estado da Paraíba. Foi educado nas primeiras letras pelo pai e estudou no Liceu Paraibano, onde viria a ser professor em 1908. Precoce poeta brasileiro, compôs os primeiros versos aos sete anos de idade.

    Em 1903, ingressou no curso de Direito na Faculdade de Direito do Recife, bacharelando-se em 1907. Em 1910 casa-se com Ester Fialho. Seu contato com a leitura, influenciaria muito na construção de sua dialética poética e visão de mundo.

    Com a obra de Herbert Spencer¹, teria aprendido a incapacidade de se conhecer a essência das coisas e compreendido a evolução da natureza e da humanidade. De Ernst Haeckel², teria absorvido o conceito da monera como princípio da vida, e de que a morte e a vida são um puro fato químico. Arthur Schopenhauer³ o teria inspirado a perceber que o aniquilamento da vontade própria seria a única saída para o ser humano. E da Bíblia ao qual, também, não contestava sua essência espiritualística, usando-a para contrapor, de forma poeticamente agressiva, os pensamentos remanescentes, em principal os ideais iluministas/materialistas que, endeusando-se, se emergiam na sua época.

    Essa filosofia, fora do contexto europeu em que nascera, para Augusto dos Anjos seria a demonstração da realidade que via ao seu redor, com a crise de um modo de produção pré-materialista, proprietários falindo e ex-escravos na miséria. O mundo seria representado por ele, então, como repleto dessa tragédia, cada ser vivenciando-a no nascimento e na morte. Augusto nega a religião como algo que possa explicar o mundo, sua poesia é composta por muitas ironias contra o cristianismo e a religião de uma forma geral, embora em sua cidade natal, Engenho do Pau D’Arco, o escritor conduzia reuniões mediúnicas e psicografava.

    Dedicou-se ao magistério, transferindo-se para o Rio de Janeiro, onde foi professor em vários estabelecimentos de ensino. Faleceu em 12 de novembro de 1914, às 4 horas da madrugada, aos 30 anos, em Leopoldina, Minas Gerais, onde era diretor de um grupo escolar. A causa de sua morte foi a pneumonia. Na casa em que residiu durante seus últimos meses de vida funciona hoje o Museu Espaço dos Anjos.

    Durante sua vida, publicou vários poemas em periódicos, o primeiro, Saudade, em 1900. Em 1912, publicou seu livro único de poemas, Eu. Após sua morte, seu amigo Órris Soares organizaria uma edição chamada Eu e Outras Poesias, incluindo poemas até então não publicados pelo autor.

    A poesia e a poética de Augusto dos Anjos

    Por Pereira da Silva

    Correspondendo a gentileza do Sr. Augusto dos Anjos, que se lembrou de meu humilde nome, oferecendo-me um exemplar do seu livro ―Eu‖, não poderia em consolência deixar um silêncio as ideias e os sentimentos que me advieram dessa leitura. Não me move a pretensão de fazer um estudo crítico, ideia nobre aliás, mas muito acima de minhas faculdades; pretendo apenas exprimir as impressões pessoais ou subjetivas que me deixaram a sua poesia e a sua poética.

    A sua poética! É ela sem dúvida, muito pessoal. Chega a ser mesmo extravagante, esquisita, esdrúxula. É nessas qualidades excessivas, classificadas por outros defeitos, que se encontra, no entanto, a profunda sinceridade do poeta complexo que é o Sr. Augusto dos Anjos. É impossível acompanhá-lo nas suas cogitações, nas suas dúvidas, em todo o desespero incontido de suas estrofes, por vezes antes de filósofo que de poeta, sem sentir para logo o muito que há, nesse poeta, de intensa angústia inédita e incontida, - resultante lógica de uma concepção filosófica um tanto pessimista.

    Tanto vale dizer que em Augusto dos Anjos a Poesia e a Filosofia se confundem quase sempre, dando à sua expressão emocionante alguma coisa de característico, muito sua: a espontaneidade da primeira com a técnica, não raro rebarbativa, da segunda. O que há a louvar é que, felizmente para as musas, a Ideia, em Augusto dos Anjos, não predomina sobre a sua enorme sensibilidade quase doentia de tão aciculada. É ele um poeta que pensa as suas estrofes, mas se deixa dominar por elas logo que surgem irresistivelmente como uma necessidade morfologicamente nova desse pensamento.

    Daí a espontaneidade que o caracteriza poeta, mas prejudica a profundeza do conceito no arrevesado da forma. Dir-se-ia que sua poesia se faz por um estranho precipitado da imaginação e do raciocínio, que criam, assim, uma entidade emocional nova, quase sui generis.

    É o caso psicológico do ―Morcego, para não citar outras composições suas. Demais a mais, a poesia do Sr. Augusto dos Anjos pode ser resumida, como a de Antero de Quental, num psiquismo dominante, que lhe faz ver o mundo sempre sob a mesma projeção sombria do próprio espírito.

    Mas que diferença de forma entre um e outro poeta! É que Antero era um místico, que tinha, todavia, o raciocínio de um cético; A. dos Anjos é um poeta de viva imaginação, corroído, infelizmente, por uma impenitente filosofia naturalística. A um e outro a concepção restrita da filosofia preme, como um guante de ferro, os movimentos espontâneos do verdadeiro espírito livre. Não se encontra uma estrofe de Augusto dos Anjos, nas suas poesias de caráter abstrato, sem a influência de Heckel, com sua poderosa fascinação de construtor imaginário da Natureza e do homem. A própria técnica do sábio naturalista aí está, obstando sempre, a visão pura do poeta. É já uma necessidade de sua emoção pessoal a fórmula científica consagrada. Houve quem o censurasse por isso. E com razão: um poeta, como A. dos Anjos, não precisa de intermediários para ser o instrumento maravilhoso, como dizia Bergson, dessa natureza, que ele vê tão escura, através dos óculos do naturalista decadente de Yena.

    A poesia foi sempre, por sua natureza, criadora. Não há razão para que não continue a ser tal, malgrado o desenvolvimento assombroso do espírito científico e filosófico.

    O próprio Sr. Augusto dos Anjos é a melhor prova deste acerto. É um poeta, mas um poeta atual, apesar de ter a obstar-lhe os instintos criadores, uma filosofia tão restrita. Não queremos dizer com isto que um poeta do século XIX deve ignorar o dramático e o trágico das ideias, hoje mais que nunca, em crise. Ao contrário: ele e só ele poderá e deverá ficar à margem da história contemplando os variados aspectos da vida, não como filósofo, crítico ou historiador, o que seria detestável, mas como um instrumento vivo e vibrátil da Humanidade, através da sua evolução indefinida.

    Toda a cultura ou toda a civilização do seu tempo deve entrar na sua psicologia, mas como um meio necessário a fazer dela um tipo representativo, cada vez mais perfeito e mais harmonioso. Só assim não perderá o poeta a sua entidade, e acompanhará a evolução das ideias. Sem perda de sua emocionalidade.

    O Sr. Augusto dos Anjos, se não fosse fundamentalmente poeta, não teria conseguido com sua técnica científica os efeitos emocionantes que dão a seu livro uma originalidade extravagante, mas incontestavelmente estética. E a sua estética é efetiva, é real – é a expressão viva de um estado d‘alma que não é só seu, mas de todos os espíritos voluptuosamente fascinados pela ciência positiva, que talvez não engane, mas é certo que não satisfaz.

    Livro do dia: Eu, por Augusto dos Anjos

    Por Nazareth Menezes

    A poesia científica propriamente dita, que tem em Martins Junior o seu fundador, entre nós, e Carlos D. Fernandes, o seu mais característico representando, não chegou a fazer escola em nossa literatura.

    Não vem a propósito repetir aqui a discussão muito filosófica e pouco literária que a escola despertou no seio da crítica indígena. Basta acentuar apenas que a poesia científica não predominou jamais nas nossas letras.

    A escola passou, como passou o gongorismo, o nefelibatismo e outras classes diversas de poetas irrequietos.

    A expressão verdadeira da nossa poesia é, sem dúvida, a lírica, poderosa, palpitante, verdadeira, natural e espontânea. Fora daí aparecem ensaios reveladores de talento, muitos deles, porém, falhos, despidos de beleza, sem arte e sem vibração.

    Temos no livro Eu, do Sr. Augusto dos Anjos, um desses ensaios. O volume revela, sem dúvida, a existência de um robusto talento, de um poeta correto, cultivador da forma e que sabe fazer o verso sonoro e cativante.

    A prova disso, encontra-se neste admirável soneto, a melhor produção de todo o livro:

    O MORCEGO

    Meia-noite. Ao meu quarto me recolho.

    Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede:

    Na bruta ardência orgânica da sede,

    Morde-me a goela ígneo e escaldante molho.

    Vou mandar levantar outra parede...

    — Digo. Ergo-me a tremer. Fecho o ferrolho

    E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho,

    Circularmente sobre a minha rede!

    Pego de um pau. Esforços faço. Chego

    A tocá-lo. Minh’alma se concentra.

    Que ventre produziu tão feio parto?!

    A Consciência Humana é este morcego!

    Por mais que a gente faça, à noite, ele entra

    Imperceptivelmente em nosso quarto!

    Infelizmente as demais poesias do poeta não imitam essa sonoridade, envolvendo a pureza filosófica de uma ideia tão perfeita, tão justamente elevada e frisante.

    Nota-se em todas as páginas deste volume a preocupação constante de tecnologia. Os versos do Sr. Augusto dos Anjos perdem, por isso, grande parte do encanto que a fórmula lhes empresta.

    Citaremos, ao acaso, alguns. Vejamos essa quadra:

    É o transcendentalíssimo mistério!

    É o nous, é o pneuma, é o ego sum qui sum,

    É a morte, é esse danado número Um

    Que matou Cristo e que matou Tibério!

    Ora, isso, positivamente, é um amontoado de palavras difíceis e nada mais. Há ainda estas coisas:

    Eu voltarei, cansado da árdua liça,

    À substância inorgânica primeva

    De onde, por epigênesis, veio Eva

    E a estirpe radiolar chamada Actissa.

    Não vale citar mais. Em todas as páginas do livro se encontram essas extravagâncias, muitas vezes atentatórias às regras da ciência.

    Em compensações é, outro tanto, infeliz o autor de Eu. Vejamos estas:

    E a minha sombra enorme enchia a ponte,

    Como uma pele de rinoceronte

    Estendida por toda a minha vida!

    Outra:

    Do carvão da treva imensa

    Caía um ar danado de doença

    Sobre a cara geral dos edifícios!

    Estando em Recife, num clima brasileiro, o Sr. Augusto dos Anjos afirma isto:

    Da roupa pelas brechas,

    O vento bravo me atirava flechas

    E aplicações hiemais de gelo russo.

    Não citamos mais. Todo o livro está cheio dessas ideias e dessas comparações.

    O poeta é moço ainda e tem o talento bastante para abandonar essa poesia técnica, muito imprópria e muito postiça e atirar-se a outros gêneros em que possa mais belamente florir o seu verso.

    Quem escreve versos como o soneto citado acima e os intitulados Sonetos, a seu Pai, certamente tem emoção e pode vencer.

    A Poesia Científica

    Por Martins Junior⁷⁸

    Eis aí a nova fórmula, o novo credo, a nova lei, nos domínios da inspiração metrificada, na esfera das emoções sujeitas à sonoridade igual e ondulante do verso.

    É convicção minha isso, e para cimentar essa convicção tenho argumentos de toda ordem, raciocínios de toda natureza.

    E que os não tivesse... Bastava-me, para correr atrás dessa prometedora intuição poética, a necessidade moral de sentir e gozar uma chimásia esquisita, o desejo de provar um fruto ainda não mordido...

    Da trajetória, cheia de cambiantes admiráveis, que Ela - a Poesia - tem descrito no tempo, isto é, na História; dos fenômenos artísticos que podem ser observados atualmente; dos recentes processos de exegética literária, dominados pela lei da filiação; enfim, do conjunto das idéias modernas, da orientação mental que têm tomado as civilizações mais avançadas; deduzo eu motivos para crer no evento da Poesia Científica

    Vou precisar, ou antes: - vou justificar a asseveração que aí fica.

    Em toda a longa desenvolução afetiva ou emocional da Humanidade, a partir do estádio iniciante do fetichismo, a Poesia tem representado um papel eminentemente útil, construtor, filosófico.

    Foi preciso que a anarquia mental e moral, resultante do esfacelamento do regímen católico-feudal que jungia os povos do Ocidente, viesse, até o princípio deste século, anormalizar os espíritos, para que se pudesse negar essa verdade e ver simplesmente nas produções do gênio poético um artifício palavroso, destinado a sensibilizar o ouvido e a seqüestrar o homem das lutas intelectuais e práticas do seu tempo.

    Raciocinemos:

    No mais baixo degrau do primitivo estado da mentalidade humana, no período fetichista, as faculdades poetizantes, isto é, sensitivas e imaginativas, se deviam ter confundido com a potência propriamente intelectiva.

    O homem fetichista, o tímido e supersticioso adorador da longínqua estrela faiscante, da grande árvore seivosa e da pedra bruta que avultava no chão, sincretizou, decerto, num só ato psíquico espontâneo, a sua compreensão intelectual dos fenômenos ambientes e as suas impressões propriamente sentimentais.

    Portanto a sua poesia, se a teve, se a externou, se a compôs sob uma forma e por um modo qualquer, devia ter sido um reflexo vivo, uma quase cópia da concepção teológica do mundo na sua primeira fase.

    A arte, aí, esteve, pois, estreitamente unida à ciência, à síntese filosófica que se impunha naquele tempo.

    Esteve-o também, e então mais sensivelmente, no período das civilizações politéicas, que se seguiu ao primeiro.

    O que são os poemas do divino Melesigenes, senão compêndios sonoros a lecionarem todo o antropomorfismo majestoso daquela filosofia e daquela religião da Grécia heróica?

    Ali, a poesia, como a ciência, foi e não o podia ter deixado de ser, politeísta.

    Durante toda a comprida dominação do monoteísmo católico, que substituiu as intuições greco-romanas, sempre o mesmo fato, a manifestação da mesma lei: a poesia a vulgarizar as idéias filosóficas reinantes.

    Se Tomás de Aquino escrevia a Summa, encerrando inteiro em seu livro, e estereotipando nos traços de sua pena, o espírito da idade mediévica, Dante Alighieri forjava as brônzeas estrofes da Divina comédia, imortalizando as criações fantasmagóricas do inferno, do purgatório e do céu, e poetizando a teologia...

    E assim por diante. Sob a Metafísica, através da Renascença, como dos pródromos da reação romântica que veio em seguida, a poesia refletiu sempre o status mental predominante.

    E a diretriz que ela, com a positivação dos conhecimentos humanos, vai tomando agora, não é mais do que a acentuação dessa tendência.

    De fato: o Conjunto da fenomenologia artística atual a que ainda há pouco me referi confirma, como disse, a tendência a que aludo.

    Por toda a parte, na Europa inteira e nas zonas civilizadas da América, o espírito científico que se alarga vai dando lugar à eclosão de fórmulas afetivas adaptadas ao estado de positividade das

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