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O perdão imperdoável
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O perdão imperdoável
E-book114 páginas30 minutos

O perdão imperdoável

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Sobre este e-book

O perdão é, por definição, o processo espiritual de cessar o sentimento de raiva por alguém. Uma remissão de culpa. Em seu novo livro, a poetisa Maria Carpi inverte esta visão, afirmando que esta dor só será minimizada no momento em que cada um aprender a se perdoar.
Por meio de poemas sensíveis, mas ao mesmo tempo, afiados, Maria argumenta que, provavelmente, o perdão é o sentimento mais complexo do ser humano. O perdão imperdoável ilustra os diversos tipos de perdão que cada um enfrentará na vida, desde o nascimento até a morte, propondo uma reflexão a respeito do amor e questionando: estarão as pessoas prontas para amar e serem amadas?
IdiomaPortuguês
EditoraBertrand
Data de lançamento24 de nov. de 2014
ISBN9788528619911
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    O perdão imperdoável - Maria Carpi

    2585-2002

    O Direito de Defesa deve ser proporcional à agressão. Assim consagram os códigos.

    E quando a violência é desmedida e injusta, o agressor não se beneficia da lei. Apenas da misericórdia.

    Quem exerce a misericórdia? A santidade da vítima. Mas, como muito bem diz Hannah Arendt, podemos perdoar o agressor, mas não apagar o fato.

    A vítima, ao perdoar, conserva as suas chagas. Cristo perdoou e ressuscitou com as chagas.

    Muito tenho meditado sobre o perdão. E o faço com a razão poética, no melhor sentido da filósofa María Zambrano. E à pergunta bíblica, se devemos perdoar sete vezes, contrapõe-se: não apenas sete, mas setenta vezes sete.

    Não há anistia para o perdão imperdoável. O seu centro sagrado está no coração da vítima: somente ela o pode dar, com a costura das cicatrizes. Essas sempre irão lembrar à humanidade que o erro ficou escrito em sua carne. Ela tem o manuscrito da dor e da impronunciável ofensa, sem defesa dos demais.

    Sempre haverá, nos corações sensatos, a dúvida da culpa. Sempre seremos culpados, não do pecado original, mas de não perceber o próximo, longínquo em seu sofrimento.

    Neles me incluo.

    MARIA CARPI

    O PERDÃO IMPERDOÁVEL

    1.

    Como é difícil se perdoar.

    Mesmo que todos nos perdoem,

    mesmo com a extrema-unção,

    ainda não nos perdoamos.

    Começamos a nos perdoar

    quando perdoamos a genuflexão

    de Deus na morte de seu filho.

    Quando perdoamos o silêncio

    de Deus na nossa própria morte.

    Quando perdoamos aqueles

    que nos antecederam na morte.

    Quando perdoamos a violência

    do nascimento ao sermos jogados

    na existência. A violência

    da letra quando jogados

    na escrita do livro inacabado.

    2.

    Deus não reside nos céus.

    Deus não reside na súplica

    ou no louvor. Deus não

    reside em cilindros de vidro

    ou tabernáculos de marfim.

    Deus não reside. Deus

    não reside nos livros sagrados

    ou páginas incendiadas

    pela paixão. Não reside

    no pano de Verônica.

    Deus não reside na agonia.

    Deus não reside. Deus caminha

    sobre as águas do perdão.

    3.

    O nascimento movimenta

    as hélices da culpa,

    as pás do moinho

    moem a absolvição.

    Somente se nasce

    para o alto, descendo

    os degraus da culpa.

    Ao ler a página que falta,

    lemos a culpa da autoria

    do livro. A página

    que falta soletrada

    à cabeceira da morte

    perdoa o sangue

    da vingança hereditária.

    4.

    Perseverar em desvios

    é permanecer no perdão

    que torna inacessível

    o texto da lei. Ruptura

    às letras. Não perdoar

    a falta, mas o julgamento.

    As páginas da inquisição

    não se fecham com o perdão.

    Sempre há uma brecha

    de onde voa

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