Uma história das dunas
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Uma história das dunas - H.C. Andersen
Uma história das dunas
Original title:
En Historie fra Klitterne
Translated by Pepita de Leão
Copyright © 1859 Hans Christian Andersen, 2020 Saga Egmont, Copenhagen.
All rights reserved
ISBN 9788726294279
1st ebook edition, 2020.
Format: Epub 2.0
No part of this publication may be reproduced, stored in a retrieval system, or transmitted, in any form or by any means without the prior written permission of the publisher, nor, be otherwise circulated in any form of binding or cover other than in which it is published and without a similar condition being imposed on the subsequent purchaser.
www.sagaegmont.dk
Uma história das dunas
I
Passou-se esta história nos areais da Jutlândia. Ela não começa, porém, lá no Norte: ao contrário, principia a história bem longe, ao Sul, na Espanha. Transporta-te em pensamento para essa Espanha inundada de sol. Que ar quente, e que soberbo país! Por toda a parte viceja uma vegetação esplêndida: a folhagem leve e as flores vermelhas da romãzeira sobressaem no fundo sombrio dos maciças de loureiros. Vem das montanhas uma brisa fresca, que reanima a gente, e vai passar sobre os laranjais e sobre os palácios mouriscos, de cúpulas douradas. Vem pelas ruas uma procissão de crianças, que trazem tochas e bandeiras flutuantes. O céu, de um azul límpido, resplandece. Vem de mais longe o som de canções, o ruído de castanholas: moças e rapazes dançam e saltam à sombra das acácias em flor. Encostado a um mármore antigo, um mendigo os observa, enquanto vai comendo uma melancia: é feliz, lá a seu modo, goza a vida, e parece a meio mergulhado num sonho.
É que a vida assemelha-se a um sonho suave nessa terra encantada. É só abandonar-se a gente a ele. E é o que fazia um jovem casal que possuía todos os bens deste mundo: saúde e alegria, riquezas e honras.
— Nunca houve ninguém no mundo mais feliz do que nós! — diziam eles, do fundo do coração.
Entretanto luzia ainda na sua imaginação um grau mais alto de felicidade: podiam ter um filho, um filho que a ambos se assemelhasse em corpo e alma. Com que transportes de alegria não seria recebida essa criança privilegiada! Que cuidados, que amor a esperavam! E haviam de cercá-la a opulência e alegrias sem fim.
Para eles, os meses passavam-se como um dia de festa.
Um dia a moça disse ao marido:
— A existência é, só por si, um dom da graça divina, um dom maravilhoso e inapreciável (que, pela sua extrema importância, o seu sabido valor, é difícil de ser avaliado em dinheiro ou em apreço)"; e contudo, a existência não basta, e o homem quer ainda que sua felicidade vá aumentando sem cessar, aqui e lá em cima.
— O orgulho humano não se contenta jamais. E é puro orgulho crer que viveremos eternamente; é o que prometia a Serpente, que é a mãe da mentira.
— Não dúvidas, contudo, da vida futura! — replicou a moça.
Pareceu-lhe que, pela primeira vez, uma sombra lhe velava os pensamentos, desabrochados ao sol da alegria.
— A Fé o proclama — respondeu o marido — afirma-o a Igreja. Mas é justamente a plenitude de minha felicidade que me