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Possuída
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E-book245 páginas4 horas

Possuída

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Sobre este e-book

Lucifer possui um plano muito bem engendrado. Um ser das trevas ultrapassa os limites do tempo-espaço e rasga o véu da realidade mundana.Um corpo humano é roubado e servirá perfeitamente para os planos do submundo. Para piorar a situação, um anjo guardião é sequestrado. Entre sussurros, arrepios e mensagens do além, Alicia se vê numa intrincada rede que envolve céu, inferno e o apocalipse. O que Alicia, uma garota de dezessete anos, tem a ver com tudo isso? Será que Lucifer conseguirá atingir o seu intento? Com uma narrativa empolgante, Possuída prenderá você do início ao fim. Mergulhe de cabeça nesse romance sobrenatural que levará você aos céus... ou ao inferno.
IdiomaPortuguês
EditoraBookerang
Data de lançamento2 de mai. de 2013
ISBNB00CMIRZLA
Possuída
Autor

Vanessa Bosso

Olá, seus literalindos! Meu nome é Vanessa Bosso e a literatura é minha segunda paixão na vida. A primeira, sem dúvida, é a minha família. Sou formada em publicidade, propaganda e marketing, coaching emocional e terapia cognitiva e comportamental. Neste momento do tempo-espaço, estou estudando física quântica, neurociência, teoria da simulação e outras loucuras do bem. Onde isso vai me levar? Só o universo sabe... mas uma coisa é certa: muitos livros serão escritos no futuro. Conecte-se comigo

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    Possuída - Vanessa Bosso

    96

    CAPÍTULO 1

    O suor escorria aos montes e a respiração era rápida e inconstante. Sentia-me exausta, mas com aquela boa sensação de dever cumprido.

    Enxuguei a testa com a grossa manga do kimono trançado. O sensei sorriu após quase duas horas de treino pesado. Curvei meu corpo em agradecimento e tentei esboçar um sorriso, em vão. O cansaço e a falta de ar eram muito maiores que meus comandos mentais.

    Sentei-me em seiza e aguardei que o sensei fizesse o mesmo. Eu ainda lutava para respirar. Já ele, parecia estar apenas se divertindo.

    Como conseguia?

    O tatame estava frio assim como o clima. O suor, que molhava meus trajes, fazia meu corpo todo tremer. Ajeitei o kimono desalinhado, buscando respirar pausadamente.

    Ainda em seiza, agradeci ao quadro do fundador do Aikidô, curvando meu corpo para frente por duas vezes. Duas palmas e mais uma reverência ao mestre Morihei Ueshiba.

    O sensei, agora voltado para mim, cumprimentou-me curvando seu corpo até quase tocar o chão. Repeti o gesto e agradeci com as palavras: "Domo arigato gozaimashita."

    Fim do treino.

    Levantei devagar e comecei a desamarrar o meu hakama negro. Desde que me tornei faixa preta, essa tradicional vestimenta japonesa tornou-se parte do meu uniforme de treinamento. Ainda não sabia ao certo como dobrá-lo. Existia todo um ritual para isso e eu simplesmente achava o máximo, apesar de nunca acertar.

    Notando minha frustração, o sensei aproximou-se, ainda com aquele sorriso nos lábios, e me ensinou, pela milésima vez, como dobrar um hakama.

    - Mas que droga, será que nunca vou aprender?

    - Não diga palavras desse tipo sobre o tatame. Esse é um lugar sagrado. – o sensei apontou para o quadro de Murihei Ueshiba.

    - Mas é sério, Kadu, você já me ensinou zilhões de vezes e eu não aprendo.

    - Vai aprender quando estiver por inteira aqui em cima. – Kadu bateu firme com a mão direita sobre o tablado.

    Ele tinha razão. Eu não estava ali por inteira. Há muito tempo eu não estava inteira e isso acabava não só comigo, mas com ele também. A minha não presença o fazia infeliz.

    Mas o treino havia sido bom. Entreguei-me de corpo e alma àquele momento. Procurei não pensar em mais nada, só na luta, nos golpes, nas quedas, em suas palavras de incentivo.

    - Como consegue terminar um treino pesado desses, sorrindo? – indaguei, arrancando o kimono que se agarrava ao meu corpo suado.

    - Já disse, respiração é tudo. Quando aprender a respirar direito, não vai se cansar dessa maneira. – ele apontou para o meu rosto. Eu já imaginava que deveria estar completamente descabelada, como sempre.

    - Eu sinto falta deles, Kadu. – suspirei alto.

    Meu irmão mais velho, meu único irmão agora, sentou-se ao meu lado guardando o sorriso. Quando lágrimas brotaram dos meus olhos, ele me puxou para um abraço suado e bem apertado.

    - Nós vamos superar. – ele sussurrou, afagando meus cabelos rebeldes.

    - Eu não sei, Kadu. Acho que não conseguirei.

    CAPÍTULO 2

    Um banho quente e demorado era tudo o que eu precisava. Deixei a água cair nos ombros, buscando relaxar todos os músculos do corpo. Quando desliguei o chuveiro, já me sentia bem melhor.

    Sequei-me da melhor maneira possível e, mesmo assim, o vestido preto teimava em colar no corpo, irritantemente. O vestiário da academia era úmido demais. Depois de lutar e esbravejar muito, o tecido finalmente cedeu e o vestido foi para o lugar. Procurei meu All Star de oncinha dentro da mochila e o coloquei nos pés, sem ao menos desamarrar o cadarço.

    O secador de cabelos da academia era melhor do que a minha velharia. Sequei as madeixas em menos de quinze minutos. Rímel, blush, uma sombra esfumada e um gloss cor de boca arremataram o visual.

    Estava pronta para a balada.

    Ajeitei uma mecha de cabelo atrás da orelha e verifiquei se o gloss não havia ultrapassado o contorno dos lábios. Ouvi o grito de Kadu na porta do vestiário. Minha carona já estava à espera do lado de fora da academia.

    Soquei a toalha molhada de qualquer maneira dentro da mochila. O zíper não fechou e deixei do jeito que estava. Passei uma alça pelo ombro e saí completamente torta do vestiário. Aquela porcaria estava pesando toneladas.

    - Onde estará? – Kadu perguntou, enxugando o cabelo com uma toalha.

    - No Zirconium. Vai rolar uma banda legal hoje. – a alça da mochila começou a escorregar do meu ombro. Entortei-me mais e dei um tranco para cima.

    - Quem vai? – Kadu deu uma mão com a alça, colocando-a no lugar.

    - A galera de sempre.

    - Quer que eu vá buscar você?

    - Não precisa, Kadu, estou tranquila. A Bianca me leva para casa.

    - Estarei no Podium com a galera da academia. Qualquer coisa me liga, tá bom?

    - Beleza, Kadu. Vou nessa. – dei um beijo estalado na barba por fazer do meu irmão.

    - Se cuida e juízo.

    - Sim, senhor. – não retruquei como de costume. Bom, eu não retrucava mais desde… desde… o acidente.

    Apressei-me e Bianca já aguardava do lado de fora da academia, a bordo do seu Audi super, ultra, mega possante. Ela tamborilava os dedos ao volante. Não bem os dedos, mas as enormes unhas de um vermelho vivo.

    Ela me encarou com aqueles olhos verdes cor de esmeralda. Percebi logo de cara que estava me esperando há mais tempo do que gostaria. Bianca odiava esperar e sua irritação era sempre exarcebada quando isso acontecia. Já me preparei psicologicamente.

    - Desculpe, Bia. Demorei?

    - Para variar. – fez um bico de quem já estava acostumada e jogou os volumosos cabelos, cor de mel, bem na minha cara.

    - Relaxa, vai. Hoje é sexta-feira. – cuspi um fio que grudou em minha boca.

    - Por isso mesmo. Estou doida para relaxar e você fica aí, suando feito uma porca!

    - Relaxa, mulher. – joguei a mochila no banco de trás, de qualquer maneira.

    Morar em uma cidade pequena tem suas vantagens. Em menos de vinte minutos, Bianca estacionava no meio fio, bem em frente ao Zirconium. Vi dois ou três caras bonitinhos na fila e algumas pessoas sendo barradas na porta, coisa básica de acontecer.

    Um manobrista chegou rapidamente e abriu a porta do motorista, quase fazendo uma reverência. Bia e seu Audi zerado tinham esse poder. Ou seria o pai dela a ter esse poder? Acho que nunca saberemos ao certo.

    A fila para entrar no pub era imensa, tanto que dobrava o quarteirão. Com o bilhete VIP em mãos, Bianca me puxou pelo braço até parar em frente a um segurança gigantesco, que guardava a porta do lugar como se fosse um cofre forte de banco.

    Bia levou uma mão à cintura e com a outra, mostrou o cartão VIP que dava direito a duas entradas. O segurança olhou de Bianca para mim e então para o cartão. Sem nada dizer, ele soltou a corrente e abriu a imensa porta do pub para entrarmos. Ainda pude ouvir murmurinhos e alguns xingamentos vindos da fila quilométrica.

    Paciência! Quem é amigo de Bianca Blumm pode quase tudo. E como éramos amigas desde a infância, eu realmente podia quase tudo ao lado dela.

    O lugar estava abarrotado. Tinha gente saindo pelo ladrão. Enquanto Bia tentava abrir espaço para chegar à ala VIP, me puxando pelo braço, fiquei admirando a beleza daquele lugar. Era impressionante a transformação. Um velho galpão abandonado havia dado lugar a um dos pubs mais legais que eu já tinha visto. Um estilo meio rústico, meio grunge, que se misturava perfeitamente com os toques de modernidade.

    Ali dentro, me sentia em um imenso loft novaiorquino, com o pé-direito alto e aqueles tubos de fiação à mostra no teto e nas paredes de tijolos de demolição. Do teto também pendiam gigantescos lustres cromados, que davam ao lugar um ar industrial. Eu sempre curti esse tipo de decoração, gosto de coisas descoladas.

    Ainda abrindo caminho pelo imenso salão, me puxando como um carrinho de feira, vi Bianca distribuindo algumas cotoveladas por onde passava. Limitei-me a rir enquanto ouvia os xingamentos ficando para trás. Ela pisava duro no piso de cimento queimado e, por vezes, pisava em alguns pés desavisados também. Aquele salto agulha poderia furar!

    Depois de alguns minutos e muitos xingamentos, finalmente chegamos à ala VIP do Zirconium. Também estava abarrotada, mas pelo menos, dava para respirar por ali.

    Eu tinha só dezessete anos e não podia beber. Mas como disse, ser amiga de Bianca Blumm abria muitas portas. Não pude resistir à taça de absinto que fumegava nas mãos do garçom. O gelo seco, ao fundo, dava um efeito cinematográfico à bebida.

    Bebi bem devagar. Já tinha ouvido muitas histórias sobre como o absinto pode alterar os seus sentidos. Eu não estava nem um pouco a fim de ficar alterada ou perder os meus sentidos.

    A banda da noite era bem eclética. As músicas que eu conhecia, cantava junto. As que não conhecia, apenas acompanhava com o balanço do corpo. Não dava para conversar muito, a não ser que gritar o tempo todo fosse uma opção.

    Era final de julho e ainda estávamos em época de férias escolares, então, boa parte da turma não estava no Zirconium essa noite. Apenas Formiga, Buba, Salada, Triolho, Bianca, Tricia e eu dividíamos um dos mini setores da ala VIP.

    Meus amigos têm uns apelidos estranhos, tenho que concordar.

    Buba não tirava os olhos de Tricia. Ela jogava o corpo para lá e para cá e os olhos dele acompanhavam cada movimento que ela fazia. Infelizmente, Tricia não parecia notar que Buba estava super afim dela. E ele me fez jurar, de pés juntos, que eu não diria nada, nem sob tortura. Concordei, relutando. Mas enfim, tudo por um amigo. Esse é um dos meus lemas.

    A noite estava ótima, meus amigos estavam felizes, Bia pulava em cima do sofá, Tricia juntou-se a ela e eu estava prestes a fazer o mesmo quando meus olhos viram o impossível. Não, eu não podia acreditar. O sangue ferveu e senti minhas têmporas pulsando de ódio.

    Isso não iria ficar assim.

    Fiquei cega, surda, muda e louca! Eu estava muito louca! Senti-me possuída por uma força, por algo que me fazia ver tudo em vermelho sangue.

    Peguei a taça de absinto das mãos de Triolho e virei, num só gole. Eu já não ouvia a música que a banda tocava, não via nada além daqueles dois na pista de dança, não conseguia proferir palavra e minha loucura chegou às alturas.

    Nesse ponto, eu poderia jurar que ouvi um sussurro alto em meus ouvidos. Uma voz masculina que me incentivava a descer do salto – tudo bem que eu estava de tênis – e fazer o que eu estava muito afim de fazer.

    O incentivo funcionou. Mirei o alvo e desci a escada da ala VIP mais do que decidida. E louca!

    As pessoas devem ter sentido minha energia fulminante no ar. Abriram caminho sem eu precisar atropelar ninguém, todos me olhando de maneira estranha, como se eu fosse um extraterrestre ou alguém possuída pelo demônio.

    Meus olhos, ainda colados naquele ser dançante e feliz, se estreitaram quando me aproximei. Leo deve ter notado a minha presença e quando trocamos olhares, ele pareceu querer se explicar. Não eram explicações que eu queria. Não, longe disso.

    Um novo sussurro penetrou meus ouvidos. Ele me incentivava a ir até o fim. Não tive dúvidas: armei um soco e mirei bem no meio daquele nariz empinado e perfeito. A adrenalina correu tão forte que mal senti o baque.

    Não me virei para olhar.

    Eu já estava fora do pub quando a adrenalina baixou e senti a mão latejar. O vento soprava ardido e gelado, fazendo meus cabelos negros esvoaçarem com violência. A fila ainda estava imensa do lado de fora.

    Procurei um lugar para me esconder da multidão. Virei a esquina e recostei o corpo no muro lateral ao pub, segurando a mão direita que agora doía demais. Olhei para meu anel de pedras brasileiras, que tremeluzia sob a luz fraca de uma arandela externa. Contei todas as pedras para ter certeza de não ter perdido nenhuma. O anel estava completo. A marca do coração, em alto relevo, deve ter ficado nas fuças de Leo, como um selo.

    Respirei fundo tentando colocar a cabeça em ordem. A fumaça de cigarro invadia as minhas narinas e resolvi que aquele não era um bom lugar para pensar e muito menos para respirar fundo.

    Antes que eu começasse a andar para longe da névoa tóxica, Bianca me puxou pelo braço.

    Eu avisei! Odiava essas palavras!

    Mas a única coisa que eu realmente queria naquele momento, era correr dali o mais rápido possível. Correr até cansar e então despencar em uma vala, e quem sabe até morrer e só voltar a viver quando ninguém mais se lembrasse da besteira que eu tinha acabado de fazer. Como pude perder a cabeça daquele jeito?

    Minha mão ainda latejava. O pai de Bianca, por sorte, médico ortopedista, disse que não havia nada com que me preocupar. O estranho foi explicar como eu tinha ferido a mão daquela maneira. Eu não gostava de mentiras, então, acabei por contar a verdade sobre o soco no Leo e a vontade que eu sentia de me atirar no pescoço de Valentina.

    O pai de Bianca soltou uma sonora gargalhada e depois completou: Nunca gostei daquele rapaz. Se você o socou, ele provavelmente mereceu.

    Eu estava sentada na bancada da cozinha, com Bianca ao meu lado. Ela beliscava alguns amendoins enquanto o prefeito, fazendeiro e médico ortopedista terminava o curativo, utilizando uma pomada caseira, que ele dizia fazer milagres.

    A cozinha da casa dos Blumm era um capítulo a parte. Gigantesca, ao estilo americano, faria qualquer dona de casa – e as não donas de casa também – suspirarem. Eu era do tipo que odiava cozinhar, mas, naquela cozinha, até eu seria capaz de conseguir preparar um verdadeiro banquete.

    A mãe de Bianca entrou na cozinha, sorrateiramente. Descobri o porquê de não ter ouvido sua aproximação. Ela calçava chinelos de tecido, que combinavam com a camisola de seda preta, rendada na bainha. Os cabelos cor de mel como os da filha, estavam presos em um coque bagunçado. Mesmo sem maquiagem, ela era uma das mulheres mais bonitas que eu conhecia.

    Bianca me atropelou e contou, sem respirar, tudo o que havia acontecido naquele pub. Falou também que tinha me avisado sobre o Leo e a Valentina e que, como sempre, eu não dei ouvidos aos rumores.

    Eu já disse que odeio as palavras eu

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