A noite em que as estrelas caíram
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Vanessa Bosso
Olá, seus literalindos! Meu nome é Vanessa Bosso e a literatura é minha segunda paixão na vida. A primeira, sem dúvida, é a minha família. Sou formada em publicidade, propaganda e marketing, coaching emocional e terapia cognitiva e comportamental. Neste momento do tempo-espaço, estou estudando física quântica, neurociência, teoria da simulação e outras loucuras do bem. Onde isso vai me levar? Só o universo sabe... mas uma coisa é certa: muitos livros serão escritos no futuro. Conecte-se comigo
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A noite em que as estrelas caíram - Vanessa Bosso
ÍNDICE
PRÓLOGO
PARTE 1 – INVASÃO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40
CAPÍTULO 41
CAPÍTULO 42
CAPÍTULO 43
CAPÍTULO 44
CAPÍTULO 45
CAPÍTULO 46
CAPÍTULO 47
CAPÍTULO 48
CAPÍTULO 49
CAPÍTULO 50
CAPÍTULO 51
CAPÍTULO 52
PARTE 2 – ALIANÇA
CAPÍTULO 53
CAPÍTULO 54
CAPÍTULO 55
CAPÍTULO 56
CAPÍTULO 57
CAPÍTULO 58
CAPÍTULO 59
CAPÍTULO 60
CAPÍTULO 61
CAPÍTULO 62
CAPÍTULO 63
CAPÍTULO 64
CAPÍTULO 65
CAPÍTULO 66
CAPÍTULO 67
CAPÍTULO 68
CAPÍTULO 69
CAPÍTULO 70
CAPÍTULO 71
CAPÍTULO 72
CAPÍTULO 73
CAPÍTULO 74
CAPÍTULO 75
CAPÍTULO 76
CAPÍTULO 77
PARTE 3 – INSURREIÇÃO
CAPÍTULO 78
CAPÍTULO 79
CAPÍTULO 80
CAPÍTULO 81
CAPÍTULO 82
CAPÍTULO 83
CAPÍTULO 84
CAPÍTULO 85
CAPÍTULO 86
CAPÍTULO 87
CAPÍTULO 88
CAPÍTULO 89
CAPÍTULO 90
CAPÍTULO 91
CAPÍTULO 92
CAPÍTULO 93
CAPÍTULO 94
CAPÍTULO 95
CAPÍTULO 96
CAPÍTULO 97
CAPÍTULO 98
CAPÍTULO 99
CAPÍTULO 100
CAPÍTULO 101
CAPÍTULO 102
CAPÍTULO 103
CAPÍTULO 104
CAPÍTULO 105
CAPÍTULO 106
CAPÍTULO 107
CAPÍTULO 108
EPÍLOGO
PRÓLOGO
É noite no Deserto de Mojave. Uma brisa arenosa golpeia as sentinelas de maneira inconveniente, mas os militares estão tão acostumados ao cenário que não se importam. Vestidos para o combate e com as armas engatilhadas, permanecem em posição, completamente alheios ao que ocorre nos andares subterrâneos ultrassecretos do complexo denominado Área 51.
No nível 7, o setor Gênesis está em plena atividade. Dia e noite se confundem por ali. Médicos vestem seus jalecos brancos e assépticos, cheirando a alvejante. Cientistas acotovelam-se por um ângulo melhor. Militares de alta patente distribuem ordens aos cabos, como se isso fosse realmente necessário. Ninguém entra nestas instalações sem um convite formal. Alguns até tentaram, mas não saíram vivos para contar.
Este laboratório é palco das experiências mais escabrosas envolvendo seres humanos. Há décadas, uma nova espécie foi gerada a partir de combinações genéticas inusitadas. Após anos de aperfeiçoamento, o resultado foi melhor do que o esperado e assim surgiu o primeiro híbrido nascido no planeta Terra, cujo objetivo primário era defender a humanidade de extraterrestres hostis.
Agora, após trinta e nove semanas de espera e monitoramentos realizados segundo a segundo, o segundo híbrido está prestes a nascer. Dois códigos de dez dígitos são inseridos em um teclado e quando o botão vermelho é acionado, a câmara se abre com o som de um suspiro. Automaticamente, o bebê é trazido por mãos mecânicas, ainda envolto em um líquido espesso, inodoro e incolor.
A imensa sala está imersa em expectativa, banhada por uma iluminação clara e artificial. Instrumentos médicos tocam uma melodia contínua e as vozes se calam quando o bebê chora a plenos pulmões.
A expectativa se desfaz em comemoração. Sob o olhar atento de médicos e cientistas de diversas especialidades, a pequena híbrida de aspecto humano urra como qualquer recém-nascido. Mas ela não é qualquer criança, tanto que, imediatamente após seus olhos se abrirem, frascos de vidro se estilhaçam e pequenos objetos flutuam pelo ar.
— Precisamos contê-la ou acabará destruindo o laboratório. – um dos geneticistas diz, nitidamente tenso.
— Quando o chip for inserido, ela estará sob controle.
De maneira emergencial, a híbrida é levada para trás de uma cortina de vidro, onde um bando de extraterrestres baixinhos e cinzentos, conhecidos como Greys, trocam impressões mentais sobre o nascimento, preparando-se para a próxima etapa. O procedimento promete ser rápido e indolor.
Um dos alienígenas aproxima-se e através de seus grandes olhos negros e insondáveis é possível entrever o reflexo daquela linda e pequena híbrida de Classe Alpha, a segunda experiência do gênero a sobreviver.
Indiferente à celebração que reverbera no laboratório, o extraterrestre toma o bebê nos braços, sem demonstrar qualquer tipo de sentimento. Para sua raça, emoções são um sinal claro de fraqueza.
Mantendo uma frieza corriqueira, o Grey deita o bebê sobre uma maca aquecida, aplicando-lhe uma anestesia local gerada por feixes de luzes. Um pequeno corte cirúrgico rasga o pulso, no sentido horizontal. A recém-nascida permanece tranquila, apesar do processo invasivo.
Um minúsculo aparelho é inserido ali e quando atinge o local exato, bem abaixo da epiderme, abre suas garras e se conecta àquele pequeno corpo como parte fundamental de seu sistema biológico. O chip acaba de ser acionado e, no mesmo instante, todos os objetos que flutuam no ar caem ao chão.
A sutura é realizada e não deixará qualquer marca. O bebê suspira profundamente quando entregue nas mãos de uma enfermeira e seu sono permanece inabalado. Os aliens encaram-se com expressões duras e impenetráveis, satisfeitos com o resultado da intervenção.
Esse é só o início do Projeto Gênesis.
PARTE 1 – INVASÃO
CAPÍTULO 1
O ano é 2038 e Nova York continua barulhenta. Em meio ao trânsito caótico do Brooklin, existe um prédio que está a ponto de desmoronar devido à falta de conservação. Alguns sem teto invadiram os apartamentos abandonados e o cheiro de urina, lixo e comida ruim reviram o meu estômago.
É noite e o frio congela os meus ossos. Do alto deste edifício, noto que há poucos transeuntes nas ruas e mesmo se olhassem para cima, não veriam absolutamente nada de anormal. Estou camuflada no cenário, como se fizesse parte dele. Fui treinada à exaustão para permanecer assim, invisível.
Estou na mesma posição há horas e vejo o alvo através do visor. Está sentado numa poltrona esquelética, assistindo a um remake de qualidade duvidosa. De uma forma diabólica, possui o aspecto de um ser humano.
Não está sozinho. Na cozinha do pequeno apartamento, uma mulher de cabelos ondulados prepara algo no fogão. Também vejo um garoto de uns três ou quatro anos dormindo no sofá, abraçado a um ursinho de pelúcia.
Nunca tive um bichinho desses. Meus brinquedos eram outros, do tipo que amedrontariam uma criança comum.
Neste ponto, relembro o relatório dos agentes responsáveis pelo rastreamento e monitoramento de alienígenas hostis. De acordo com o laudo, o metamorfo está usando a identidade de um cara chamado John Godman, pai exemplar e marido fiel. É provável que a esposa e o filho ainda não tenham percebido a diferença. Sendo assim, é primordial agirmos o mais rápido possível para salvá-los da ameaça.
A tocaia já dura oito horas. Não estou cansada, pelo contrário. Conforme os minutos passam me sinto mais desperta e focada. A possibilidade de tirar um miserável desses de circulação é uma motivação e tanto para não deixar o desânimo me dominar.
Meu dedo permanece no gatilho, tão firme como se estivesse congelado. Confiro a mira da arma mais uma vez. O alvo não se moveu nem um milímetro e, apesar de estar pronta para atirar, sou obrigada a aguardar a ordem ou estarei encrencada. Resignada, deixo um suspiro frustrado escapar.
Aos 21 anos, sou uma das mais experientes atiradoras de elite da BAH – Bureau of Aliens Hunters. Essa é uma organização ultrassecreta, chefiada e mantida pelo governo. Foram raras às vezes em que desperdicei uma bala, afinal, sou daquelas que preza o lema um tiro, um acerto
.
— Alena? – a voz rouca de Thomas invade meus ouvidos. Já não era sem tempo.
— Em posição. – respondo de imediato.
— Tem visão clara do alvo?
— Positivo.
— Estamos prontos para invadir. Mate o desgraçado.
— Só se for agora. – ajusto a mira e estreito o olhar.
Através do visor, entro na sala de estar do ladrão de vidas. Um pequeno sorriso se forma em meus lábios quando o dedo esmaga o gatilho. O coice atira meu ombro para trás, mas não dói, já estou calejada. Solto o ar preso nos pulmões quando noto que acertei o alvo. Um tiro limpo e silencioso, na cabeça.
Neste instante, o Reptiliano retoma seu aspecto original. A mulher grita e a criança acorda, assustada. Quando nota o extraterrestre morto na poltrona, o garoto desata a chorar descontroladamente.
Os agentes invadem o apartamento e meu coração se estraçalha em mil pedaços com a cena dramática que se desenrola naquela sala. Não que eu seja sentimental, longe disso. Mas odeio quando pessoas choram e gritam nessas circunstâncias. Eles não sabem o que nós sabemos.
Reptilianos infiltrados na Terra.
Todos esses demônios merecem morrer.
CAPÍTULO 2
Os Reptilianos são os piratas do espaço. Vagueiam de mundo em mundo, saqueando novas tecnologias e deixando milhares de mortos pelo caminho. Segundo dados arqueológicos não divulgados ao público, essa raça foi a primeira habitante do planeta Terra.
Altamente evoluídos, abandonaram o habitat na época jurássica, pouco antes de um meteoro exterminar toda a vida sobre a superfície. Desde então, têm aterrorizado planetas inferiores, escravizando populações inteiras e criando assim um exército particular que levará a cabo um plano diabólico para a dominação da galáxia e posteriormente, do universo.
Esses seres são humanoides, com cerca de dois metros de altura, pele esverdeada e escamosa, olhos amarelados sem pálpebras visíveis e pupilas em fenda vertical.
O peito e as costas são envoltos por uma espécie de fibra natural tão dura quanto diamante. O ponto mais sensível é a cabeça alongada e triangular, onde uma bala ou mesmo uma lâmina perfuram com facilidade.
As longas caudas são um capítulo à parte, dotadas de um halo repleto de espinhos. Numa luta corporal, temos que redobrar a atenção. Essas pontas são tão afiadas e mortais que rasgam tranquilamente nossos macacões revestidos de Kevlar.
A língua bifurcada expele um veneno letal para os seres humanos quando em contato com a pele. A princípio, a vítima fica paralisada por alguns segundos. No segundo estágio, entra em convulsão e é exatamente neste ponto que os Reptilianos agem, assimilando o aspecto físico do indivíduo através de uma espécie de válvula de sucção, localizada abaixo da língua. Essa característica metamórfica garante uma tremenda vantagem a esses seres. Infiltram-se facilmente numa sociedade despreparada, sendo impossível detectá-los.
Mas nós não somos qualquer sociedade e temos a tecnologia necessária para identificá-los. A Visão Biônica, como foi batizada a invenção, é resultado da colaboração entre cientistas humanos e os baixinhos cinzentos denominados Greys. Só de mencionar esses aliens meu corpo todo estremece. Não gosto desses cabeçudos de jeito algum.
Também estamos protegidos contra o veneno Reptiliano. Uma espécie de vacina foi desenvolvida para os agentes de campo e esses alienígenas sabem que se nos atacarem com sua língua nojenta, terão um fim nada agradável.
Desde 1900, essa raça tem estudado o novo clima terrestre e seus habitantes. Abduções e infiltrações tornaram-se corriqueiras a partir de 1950. Tudo leva a crer que a Terra é um alvo futuro e nos preparamos para uma possível invasão. Infelizmente, ainda não estamos estruturados para resistir, mas seremos obstinados, até o último suspiro.
CAPÍTULO 3
A missão está concluída. Após a invasão do apartamento, mãe e filho tiveram as memórias apagadas por agentes do governo, mais conhecidos como os Homens de Terno Preto. O corpo do alienígena foi devidamente embalado para estudos e será queimado posteriormente.
Neste momento, estou a bordo de um furgão negro sem qualquer identificação. Seremos levados a uma área militar, onde uma aeronave nos aguarda. Finalmente, o sono dá as caras e fecho os olhos entre sacolejos, me permitindo descansar.
Sonho com estrelas caindo dos céus, queimando a atmosfera com um brilho etéreo. A imagem é linda. Quando dou por mim, naves rasgam o espaço acima da minha cabeça em direção às luzes. A guerra está para começar.
Acordo com Dave chacoalhando meus ombros, avisando que chegamos. Esfrego os olhos e me aprumo, descendo do furgão com a maleta do rifle em mãos. Sempre carrego o meu armamento, odeio que mexam nas minhas coisas.
Não ficamos muito tempo por ali. Após o corpo do Reptiliano ser entregue aos militares e o comandante assinar alguns papéis, seguimos para a aeronave que nos levará para casa.
Esse é um veículo espacial incomum, fabricado com tecnologia extraterrestre e usado apenas para o transporte de agentes da BAH pelo espaço aéreo do planeta. Visto de fora, assemelha-se a um charuto, comprido e abaulado. Não se veem portas, janelas ou emendas.
A ponte se abre e a luz nos cega momentaneamente. Certa vez, alguém me disse que essas naves são produzidas com um metal inexistente na Terra, comercializado por aliens provindos da galáxia de Andrômeda.
A propulsão muda de acordo com o projeto. Essa gigante à minha frente funciona através de um intrincado sistema de eixos giratórios e não necessita de combustível.
Atravesso a ponte e me sento numa das primeiras cadeiras metálicas que vejo, afivelando o cinto de segurança de cinco pontos. Aparentemente, o interior desse veículo não tem nada de especial, se tirarmos o fato de possuir um design futurista.
A mágica começa quando decolamos. As paredes se tornam transparentes e temos uma visão de trezentos e sessenta graus de tudo o que acontece do lado de fora.
Percorremos a distância entre Nova York e a Califórnia em exatos oito minutos. É impossível detectar uma nave como esta, o sistema de invisibilidade foi projetado com o que há de mais moderno na galáxia.
Suspiro quando vejo Dreamland ao longe.
Estou em casa.
CAPÍTULO 4
Entre montanhas e um deserto sem qualquer atrativo, localizam-se três instalações militares ultrassecretas, que despertam fascínio nos aficionados por fenômenos extraterrestres e também conspiradores de plantão.
É debaixo de toneladas de areia que foram construídas as Áreas 51, 52 e, mais recentemente, a Área 53. A Dreamland, como esse local é conhecido, faz parte do Condado de Lincoln e ocupa aproximadamente 12.000 quilômetros quadrados. O governo norte-americano só admitiu a existência da Área 51 em meados de 1994, ainda assim, as principais atividades permanecem sigilosas. As Áreas 52 e 53 nunca foram admitidas oficialmente e só restam especulações acerca do que realmente acontece por aqui.
A nave pousa bem próxima a entrada principal da 53. Sempre que retorno, sinto-me abraçada por mãos familiares. Essa é a minha casa e sei que dentro desse complexo estou em segurança.
Inspiro o ar arenoso do deserto e fito os primeiros raios de sol no horizonte. As pálpebras pesam e caminho um tanto trôpega, forçando-me ao equilíbrio. A equipe quer comemorar e não terei como escapar.
Dave passa o braço sobre meus ombros retesados, pedindo que eu relaxe. Não consigo, a tensão pós-execução é mais forte do que eu. Ainda assim, lanço um sorriso sonolento em sua direção, dizendo que ficarei bem.
Como sempre, o general aguarda na entrada fortemente guardada, com os braços cruzados e um sorriso satisfeito entre a barba aparada. Desvencilho-me de Dave e aperto o passo em sua direção. Quando estamos frente a frente, junto os pés e bato continência.
— À vontade, agente. – ele diz, aos risos.
Relaxo os ombros e me atiro nos braços do meu pai. Ele alisa meus cabelos carinhosamente e me sinto bem, como se nenhum mal pudesse me abater. Num sussurro orgulhoso, ele inicia:
— Soube que a missão foi um sucesso e sua participação primordial. Essa é a minha garota.
— Só dei o tiro, pai. – reviro os olhos.
— O tiro que matou um Reptiliano. Você deveria ganhar uma medalha.
— Ah, claro. – desdenho e me afasto para fitá-lo. — Fiquei tanto tempo na mesma posição que meus músculos estão cheios de nós.
— Dê uma passada no nível médico, eles saberão o que fazer.
— Só quero tomar um banho e cair na cama. Nada de médicos hoje. – levo a mão ao braço direito, que lateja de forma desconfortável.
— Bem-vinda de volta, Alena. – ele beija a minha testa e, em seguida, aponta para os agentes da célula 1. — Pelo visto, só estão esperando por você. Acredito que o banho e a cama terão que esperar.
— Droga. – choramingo. – Não quero comemorar.
— Vá lá, filha. Um Reptiliano a menos sobre a Terra precisa de uma celebração à altura.
— Você não vem? – questiono, erguendo as sobrancelhas.
— Tenho uma reunião tática em meia hora. Mais tarde nos falamos, está bem?
— Me tire dessa roubada, pai. – peço, num muxoxo.
— Nada disso. Vá comemorar. – ele me empurra pelos ombros e não tenho forças nem para reclamar.
CAPÍTULO 5
A Terra mudou muito desde que a Nova Ordem Mundial foi instaurada. As fronteiras entre os países foram derrubadas e há um único governo no poder. Focos rebeldes surgem por todos os lados e ninguém está seguro nos dias de hoje. As milícias não são suficientes para conter as massas e batalhas estouram sem aviso, levando civis inocentes à morte.
Ah, se eles soubessem que estão lutando contra o inimigo errado...
A população não sabe nada sobre os extraterrestres. Nem desconfiam que a Terra possui acordos de cooperação com várias raças e que estamos à beira de uma invasão Reptiliana. Nem sonham que a BAH existe e que agentes como eu foram treinados para defendê-los da grande ameaça.
Compreendo que haveria caos e desespero se a imprensa noticiasse o que ocorre nos bastidores do planeta. Mas isso não quer dizer que eu aceite essa situação. As pessoas têm o direito de estarem informadas, de se armarem para a guerra que está para eclodir.
Meu pai diz que confia em nossos governantes. Que esses homens e mulheres conseguirão entrar num acordo com os Reptilianos e que o impasse será resolvido. Não acredito nisso, os Répteis são violentos e não há qualquer traço de humanidade em suas ações.
— Alena, em que planeta está? – Dave estala os dedos na altura dos meus olhos.
— Hein? – demoro algum tempo para me situar.
Estamos no bar panorâmico mais disputado da Área 53. Fica no nível térreo e daqui é possível vislumbrar todo o complexo lá embaixo. São quinze andares subterrâneos, incrustados nas areias do deserto. É tão metálico, tão asséptico, tão gélido, que às vezes tenho a sensação de que fui enterrada viva. Ainda assim, não troco esse lugar por nenhum outro.
O comandante se levanta e bate com uma caneta no copo. Imediatamente, o murmurinho cessa. Ele ergue a bebida no alto e repetimos o seu gesto, celebrando mais um Reptiliano eliminado.
— Réptil bom é Réptil morto! Um viva para Alena! – um dos agentes grita e eu coro de imediato.
— Mandou bem, garota!
— Na cabeça! Que tiro perfeito!
Agradeço com um aceno tímido e viro a cerveja de uma só vez. Ainda estou vestindo o uniforme de campo que consiste num macacão preto de Kevlar, justo ao corpo, com um zíper que sobe da altura do umbigo até o pescoço.
Debaixo da jaqueta sem identificação, carrego duas pistolas presas nos ombros. No cinturão, levo uma faca e acessórios de necessidade básica. Na perna direita, sustento um coldre com uma arma de energia direcionada e nos bolsos espalhados pelo uniforme, muita munição. Dentro do coturno, carrego um saquinho preto que contém uma pílula para o caso de captura. Chamamos a drágea de viagem sem volta
.
Neste momento, inclino o corpo sobre a mesa, segurando o copo suado entre as mãos. Dirijo-me a Thomas, num sussurro:
— Tem certeza de que a mulher e o menino estão bem? Não se lembrarão do alien morto no sofá da sala? – o comandante cruza os braços e estreita o olhar, perscrutando-me.
— Ficarão bem, Alena. – ele faz uma pausa. — É impressão minha ou está se sentindo culpada?
— Nunca me sentirei culpada por matar um Reptiliano, fique tranquilo, Tom. – rebato, levemente irritada.
— Só estava testando. Faz parte do meu trabalho, você sabe. – ele dá de ombros.
— Vamos parar com esse lance de culpa e encher a cara. Reptilianos mortos sempre me deixam muito feliz. – arremato e ele se dá por satisfeito.
Thomas é um cara bonitão, desses que não passam despercebidos. Seus cabelos, estrategicamente desgrenhados para todos os lados, são de um castanho médio, com as pontas mais claras. Os olhos são do tom de amêndoas torradas e brilham como esferas luminosas. O nariz é pequeno e levemente arqueado na ponta. Os lábios são volumosos, aveludados e bem desenhados. Não gosto quando ele faz a barba, prefiro como está agora, conferindo-lhe um ar de cara mau.
Nunca perguntei sua idade, mas acho que beira os vinte e cinco anos, talvez um pouco mais. É o comandante da célula 1 e um dos melhores agentes que já vi em campo. É um matador, um verdadeiro especialista na arte de rastrear e exterminar extraterrestres invasores.
Sou pega em flagrante, admirando sua beleza. Constrangida, baixo o olhar e, de esguelha, noto que Thomas sorri, ainda que brevemente. Vejo quando se levanta e, como que atendendo ao meu pedido silencioso, faz o anúncio que tanto esperei para ouvir:
— Ok, agentes, a farra acabou. A missão no Brasil será perigosa e precisamos descansar. Secando esses copos e cama!
— Pô, Tom, mas já?
— Qual é, comandante?!
— Só mais uma rodada!
Apesar de sustentar uma pinta de durão,