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Caçando Borboletas
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E-book299 páginas4 horas

Caçando Borboletas

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Sobre este e-book

April e Beth escaparam, e seu sequestrador está morto. A Liberdade ao seu alcance - se, pelo menos, soubessem onde estavam. 

Com o retorno de algumas memórias, April e Beth lutam para encontrar respostas. O que sabem é que foram vacinadas contra um estranho vírus. Mas o que houve com sua famçiia, e o resto do mundo? 

Ao longo do caminho, as irmãs encontram, por acaso, o complexo onde seus pesadelos começaram, mas o vazio edíficio apenas carrega mais mistérios para suas vidas. Pouco depois, as duas encontram outros vagando pelas inúmeras trilhas da floresta. Para April, encontrar sua família é a prioridade número um; mas para Beth, é permanecer na trilha.

Como April pode convencer a irmã a deixar a floresta... e por que estão sendo perseguidas? 

IdiomaPortuguês
Data de lançamento5 de fev. de 2021
ISBN9781071587454
Caçando Borboletas

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    Pré-visualização do livro

    Caçando Borboletas - Sandra J. Jackson

    Dedicação

    ––––––––

    Para minha mãe

    Reconhecimentos

    Como sempre, um enorme obrigada à minha família por tolerar meu sumiço, mesmo quando eu estava fisicamente na sala.

    Agradeço aos meus leitores que aguardaram pacientemente por este segundo livro da trilogia. O terceiro já está escrito, então deve se lançado em breve.

    Obrigada aos meus leitores-beta, Leslie e Denis Brown. Suas opiniões foram de extremo valor.

    Ao meu Editor de Criação, Ron Bagliere, cujos 30 anos de experiência em redação e edição me ajudaram a ver em quais pontos minha história precisava ser melhorada.

    Obrigada à Creativia. Continuo ansiosa por este e outros trabalhos publicados.

    Um

    Encruzilhadas

    A pequena criatura enchia, com avidez, a barriga com sangue. Depois de um tempo, vermelha de tão inchada, alçou voo, balançando no ar devido ao peso do corpo. O inseto voou em direção à grama e pousou em um graveto. Cerrei os olhos e tentei lembrar o nome do inseto. Mosquito! A palavra me veio à mente. Apesar da melhora da minha memória, algumas palavras e eventos dos últimos cinco anos ainda me escapavam.

    – De nada! – falei antes que desaparecesse no mato.

    – April, com quem você está falando? – Beth abriu os olhos azuis-claros e bocejou. Paramos para mais um descanso, o quarto desde que escapamos do enclausuramento, mas ainda não estávamos muito longe. E mesmo tendo enchido nossos estômagos com o máximo de comida possível antes de sair, nossos corpos continuavam fracos. Uma árvore caída ao lado da estrada era o ponto de descanso perfeito.

    – O mosquito que eu alimentei – acenei na direção em que o inseto estofado pousou, um sorriso orgulhoso no meu rosto por ter ajudado uma criatura viva.

    Beth torceu o nariz e balançou a cabeça. Ondas marrons emaranhadas deslizaram sobre seus ombros. Provavelmente nã... não deveria ter feito isso.

    – Depois de você mesma passar fome, achei que apreciaria minha generosidade.

    – Ah, aprecio sim, é só que há a... algo sobre eles. Eu não consigo...

    – Droga! – Senti uma contração no estômago e meu coração acelerou o ritmo. As informações que Jasper compartilhou vieram à mente. – Essas pragas carregam o vírus – uma respiração lenta escapou por entre os meus lábios enquanto eu me esforçava para acalmar a crescente ansiedade.

    – Sim, mas não era isso que eu estava pe... pensando, era outra coisa. De qualquer forma, ele também disse que qualquer contato próximo com alguém infectado e nós...

    – Ah! – interrompi e, com um movimento frenético, arranhei o local onde o inseto havia se alimentado. – Isso coça tanto! – Marcas de arranhões vermelhas cobriram meu antebraço, e uma pequena protuberância apareceu.

    – É isso aí! – Os olhos de Beth se arregalaram e ela sorriu. – Os mosquitos causam muita coceira.

    – Podia ter lembrado disso um pouco antes – por um instante, a coceira no meu braço apagou qualquer preocupação de contrair um vírus.

    Beth deu de ombros, e uma expressão mais séria substituiu seu sorriso arrogante. – Nós de... deveríamos ter fi... ficado – ela lançou o olhar à sua frente.

    – O quê? Onde? – esfreguei as rugas profundas na minha testa com as pontas dos dedos.

    – Na casa, nós de-deveríamos ter fi... ficado lá.

    – Com dois cadáveres? E não era uma casa, era uma prisão – a menção da nossa antiga vida evocava imagens de nosso quarto no sótão. Paredes de madeira áspera, berços enferrujados, baldes usados como banheiros, o alto guarda-roupa de madeira cheio de pertences dos mais desafortunados e a janela redonda e suja vieram a minha mente como um estranho filme. O eco do último suspiro rouco de Jasper e as moscas zumbindo forneceram o som cinematográfico. Tínhamos aceitado morrer naquela sala, tínhamos perdido a esperança. Pare, acabou, repreendi, estamos livres. A lembrança desapareceu e eu engoli o ar fresco, relaxando meus punhos cerrados. Mas estamos a salvo? Meus olhos examinaram as árvores; folhas farfalharam, o leve cheiro da morte, um odor que eu conhecia bem, maculava a brisa

    – Pelo menos, havia um a... abrigo, água encanada e eletricidade – Beth não escondeu sua irritação.

    – Um barraco velho em ruínas, torneiras pingando e energia solar gerada a partir de painéis que pareciam desatualizados e nada confiáveis – lembrei Beth. O estilo muito mais antigo de geração de energia ficava no quintal. Se ainda fornecessem eletricidade, teríamos uma lâmpada funcionando, mas isso não significava nada. Era estranho que eu me lembrasse de coisas técnicas, como painéis solares, mas não conseguia nomear os insetos que causam coceira e potencialmente doenças.

    – Mesmo assim...

    – E. Corpos. Mortos – repeti, enfatizando cada palavra. Visões do corpo podre e coberto de moscas de Cecil reluziram na minha cabeça; o odor avassalador era algo que eu jamais esqueceria. E o Jasper. Minha respiração parou quando pensei no pobre Jasper, a dor e angústia que ele deve ter sofrido.

    – Poderíamos ter removido eles – Beth pegou a madeira em decomposição com uma unha dentada. Pedaços pequenos caíram e caíram.

    – Hum! Na verdade, eu teria removido os corpos. Você mal suportava a visão e muito menos o cheiro.

    Beth deu de ombros e abaixou o olhar; o pé dela empurrou um grande pedaço de casca e interrompeu a trilha de uma criatura pequena, viscosa e sem pernas. O corpo se contorceu e se escondeu sob uma pilha de folhas podres. Um tufo de pelo vermelho se agarrava a um arbusto próximo; eu desviei o olhar, preocupada que os restos do animal estivessem escondidos sob os galhos e folhas.

    Nós nos sentamos em silêncio. Insetos cantarolavam e zumbiam; pássaros cantavam nas copas das árvores enquanto eu fechava meus olhos e absorvia os sons do mundo. A natureza dominou meus sentidos. Meus pulmões se expandiram e meu nariz encheu-se com o cheiro das árvores, do ar, da terra e até da madeira apodrecida. Inclinei-me para a frente até meu rosto pairar acima da superfície da árvore caída. O cheiro estranho de madeira podre e mofada era diferente das tábuas do chão e das paredes que nos cercaram por... Por quanto tempo ficamos lá? Os arranhões esculpidos nas tábuas do assoalho vieram a minha cabeça, e contei as linhas imaginadas, acrescentando mais pelos dias que perdi.

    – O quê você está fazendo?

    A voz de Beth interrompeu meus pensamentos e me assustou. – Pensando – um musgo verde, macio, molhado e frio, roçou minha pele. A palma da minha mão passou pelo meu nariz.

    – Parece mais que você está che... cheirando.

    Outro mosquito se preparou para jantar bem ao lado da marca deixada para trás pelo cliente anterior, e eu o afastei. – Não sou um restaurante! – estendi meu braço com coceira e me levantei, esticando meus braços ao céu. Pequenas crepitações e estalos correram pela minha espinha. – Hora de ir.

    – Para onde? – Beth olhou para mim do seu lugar na árvore caída. As sobrancelhas dela se ergueram e se esconderam sob mechas onduladas. – Podemos procurar a tri... trilha? – sua voz cheia de emoção.

    Confusa com sua pergunta estranha, pressionei as pontas dos dedos contra minha testa. Eu me virei lentamente em um círculo e mergulhei nos arredores. Árvores altas se encontravam com o céu nublado, seus galhos cobertos de folhas estendiam-se para cima como braços esticados tentando varrer as nuvens cinzentas. Ocasionalmente, o sol aparecia, e eu jurei que as folhas suspiravam ao se banhar com o calor. A estrada de terra percorreu a floresta e desapareceu, engolida pelas árvores. Os galhos pendiam ameaçadores, estendidos para agarrar quem ousasse andar perto o suficiente. A casa do nosso encarceramento não era mais visível quando olhei para o caminho que tínhamos percorrido, mas era fácil de imaginar.

    Arrepios percorreram meu corpo e eu estremeci. – Continue seguindo a estrada – encolhi os ombros.

    – Para onde?

    – Para onde quer que leve – me inclinei e peguei minha mochila. A bolsa verde estava cheia, seus zíperes de prata esticados até o limite, e eu fiquei preocupada que se abrissem sob a pressão.

    Enchemos as mochilas com tudo o que considerávamos necessário e útil. Incapaz de guardar mais itens, amarramos nossa roupa de cama no fundo das mochilas cheias.

    – Provavelmente de... deveríamos ter pego mais comida – disse Beth. Ela se levantou e puxou a bolsa preta. O peso e o movimento repentino a fizeram tropeçar, mas ela recuperou o equilíbrio.

    Ajudei ela a colocar a mochila pesada sobre os ombros. Meus olhos se fixaram em um pequeno buraco em sua camiseta cinza enquanto eu endireitava as alças. Cobertores enrolados pendiam abaixo da mochila e batiam logo acima de seus joelhos.

    O estalo e o clique da fivela da mochila de Beth perfuraram meus ouvidos e me garantiram que ela estava segurando a mochila. – Essa mochila é pesada demais; você nunca foi capaz de carregá-la – me afastei de Beth, joguei minha carga por cima do ombro e esperei que ela ajudasse com a outra alça.

    Com a outra alça segura, fechei o cinto na frente e puxei a barra da minha camiseta azul brilhante; o material se esticou por debaixo do cinto. Havia diversas peças de roupas, de vários tamanhos, em uma das caixas enormes, e cada uma de nós pegou duas camisetas e dois pares de calças de moletom. O material macio e cinza das calças largas parecia estranho, mas reconfortante, enquanto tocava minhas pernas conforme eu caminhava.

    Me virei e olhei para a velha árvore, coloquei o pé em cima e amarrei um cadarço azul. O par de sapatos, encontrado em uma caixa separada, era um tamanho ou dois maior que meus pés. – Sua vez – eu disse ao terminar de amarrar o do outro pé.

    Beth levantou o pé e o apoiou na árvore enquanto eu a segurava por trás. – Nós realmente precisamos lembrar de apertar os cadarços antes de colocar essas mochilas – ela bufou e apertou o cadarço preto de um pé.

    – Na próxima vez – agarrei a mochila de Beth enquanto ela trabalhava no cadarço rosa brilhante do outro sapato.

    Descobrimos calçados em diversas caixas, mas nenhum com cadarços. Depois de procurar por mais caixas, encontramos um pequeno rolo enrolado e esfarrapado, muitos à beira de rasgar. Após vários minutos desembaraçando, dois pares emergiram da bagunça. Beth resmungou que os cadarços não combinavam. Encontrar quatro cadarços intactos já foi difícil o bastante, quem diria combinar os cadarços.

    Um laço azul brilhante prendia meu sapato direito, enquanto um verde mantinha meu esquerdo no lugar. O fato de não combinarem não era motivo de preocupação. – Vamos – eu disse, colocando um polegar em cada alça.

    Beth soltou um suspiro alto, mas não emitiu outra queixa, enquanto continuávamos nos afastando de um passado horrendo rumo a um futuro incerto.

    O crepitar da sujeira abafou os sons da natureza enquanto avançávamos. Meus pés deslizavam dentro dos meus sapatos a cada passo. Amarrar com mais força da próxima vez, pensei enquanto minha atenção se concentrava no chão. Uma pedra ricocheteou do final de um sapato ao ser chutada de lado pelo meu dedo. Uma lagarta amarela e preta se contorceu pelo caminho pouco antes de meu pé pousar, e eu esmaguei o pequeno bicho bem na hora.

    – Nós de... deveríamos ter procurado mais – a voz de Beth mudou minha consciência de volta para ela.

    – Nós procuramos.

    Minha irmã balançou a cabeça. – Não, havia um lugar que não che... checamos.

    Havia um lugar que não tínhamos verificado. Eu não ia enfiar meus dedos nos bolsos de um morto em busca do molho de chaves de sua caminhonete. – Você também não quis fazer – gritei para Beth, que continuou andando depois que parei.

    Ela parou e virou seu olhar gélido para mim. – Não, mas mesmo a... assim...

    – Mesmo assim?

    Beth esperou por mim enquanto eu a alcançava. Ela deu de ombros e nós caminhamos juntas. – Nada, apenas...

    Caminhávamos juntas, quase nos arrastando; os sapatos frouxos raspavam o chão e criaram uma mini tempestade de poeira.

    – Mesmo que tivéssemos encontrado as chaves, não nos lembramos se sabemos dirigir –dei um pontapé em uma pedra, e a observei saltear e cair fora do caminho.

    – Você não acha que teríamos lembrado quando o caminhão li... ligasse?

    Memória processual, eu não queria arriscar. – Talvez – o silêncio recaiu sobre nós novamente; cada passo nos aproximava do desconhecido.

    A mochila sacudia; o seu peso pressionava o meu corpo, e eu podia sentir todos os conteúdos. Mas o diário, o diário de Jasper, era o mais incômodo. Não tivemos tempo para ler antes de sairmos, e minha ansiedade só aumentava com o pensamento de ler os segredos em suas páginas.

    Pare, eu disse a mim mesma e voltei minha atenção aos meus pés. Era mais fácil do que olhar para as árvores sentinelas, como se estivessem nos observando. Eu até que esperava ver uma câmera, seu olho vermelho-sangue espreitando entre os galhos de uma árvore agourenta. Meus pensamentos cintilaram para as lentes vigilantes no canto do nosso quarto no complexo.

    – Você a... acha que mais alguém saiu? – A voz de Beth mais uma vez quebrou minha concentração.

    Meu olhar se estreitou. – E o nosso irmão? – uma sensação de formigamento se espalhou da nuca até o topo da minha cabeça enquanto eu pronunciava a palavra irmão em voz alta. O sussurro sufocado da verdade de Jasper ecoou em meu ouvido. Saber que tínhamos um irmão mais novo do qual nenhuma de nós se lembrava de ter ainda era estranho.

    – Não da casa – Beth apontou o polegar para trás – do C.E.C.I.L.

    Imagens do complexo brilhavam na minha frente – câmeras, corredores brancos, injeções – cada lembrança, um trecho de uma existência estranha. Quem mais havia escapado? Os trabalhadores foram os únicos que me lembrei de ter visto, embora apenas algumas lembranças da minha vida no C.E.C.I.L. tivessem ressurgido. Até os quartos mais próximos do nosso estavam vazios. Seria possível que tivéssemos sido as últimas? O pensamento me perturbou. – Eu não sei – bati e esmaguei um mosquito que tentou se alimentar em mim de novo. Meu dedo deu um peteleco em seu corpo esmagado, o jogando para fora do meu braço, e deixou para trás uma pequena faixa de sangue. Lambi meu polegar e lavei a mancha.

    – Esta floresta não se parece em nada com a do C.E.C.I.L – Beth acenou com a mão para a floresta que nos cercava.

    Mais uma vez, minha mente se encheu de lembranças de altas árvores de plástico e trilhas sinuosas. – Claro que não – eu ri. – Estas são reais. E você quer dizer que a floresta do C.E.C.I.L não se parecia em nada com isso – uma grande pedra estática ao lado da trilha chamou minha atenção. Me lembrou de uma similar colocada pelo caminho sinuoso do C.E.C.I.L e o dia em que planejei tocá-la. Mas, no último segundo, afastei minha mão, com medo de que eles vissem e percebessem a minha consciência.

    Caminhei um pouco pelo canto quando nos aproximamos e estendi minha mão esquerda. Gotas de suor brotaram na minha testa ao me aproximar da enorme rocha. E se alguém estiver assistindo? – Quem? – questionei de volta em voz alta e ri. A pele do meu rosto tencionou e limpei a testa úmida com a palma da mão.

    – O que você está fazendo?

    – Vou tocar nisto – apontei e fui em direção a pedra. Meus pés pararam na frente da grande massa cinza. Pequenas fissuras percorriam sua superfície, ramificando-se em todas as direções. Um inseto preto com pernas vermelhas desapareceu por uma fenda profunda que quase partia a pedra.

    Minha mão esquerda tremia. Um zumbido alto encheu meus ouvidos conforme minha palma se aproximava da rocha. Minha mão voltou rápido quando vi um inseto zumbindo acima de mim. Inspirei e deixei o ar escapar através dos lábios franzidos; meu coração desacelerou. Com muita cautela, estendi minha mão novamente; meus dedos tremeram.

    – Toca logo – os dedos finos de Beth envolveram meu pulso, e antes que eu pudesse resistir ao puxão, minha mão descansou sobre a rocha. Sua superfície áspera arranhou minha pele. Uma frieza viajou pelo meu braço, e eu tremi. A mão quente de Beth deu uma leve palminha no topo da minha. – Pronto, agora vamos.

    Eu balancei minha cabeça e ri ao seguir atrás da minha irmã com os olhos fixos no chão. Nenhuma de nós falou enquanto seguíamos o caminho, para onde quer que levasse.

    – E agora? – Beth disse depois de alguns minutos, sua voz soou derrotada.

    – O quê? – Eu parei e olhei à frente. A estrada em que estávamos viajando havia terminado, e outra cruzava seu caminho. Precisávamos tomar uma decisão na nossa encruzilhada.

    Duas

    Longe

    – Então, para onde vamos? – Beth olhava de um lado para o outro.

    Fui para perto dela e contemplei cada direção da encruzilhada. Não havia placas e parecia a estrada que tínhamos percorrido – longa, deserta e empoeirada. Esquerda ou direita, nenhuma ajuda prometida.

    – Me diga quando você decidir – Beth soltou a fivela da mochila e deixou a carga pesada cair. Ela se sentou no chão, puxou as pernas para si e apoiou o queixo sobre os joelhos.

    Incapaz de decidir, suspirei e fiz o mesmo. Momentos depois, minha irmã se deitou de costas, com os tornozelos cruzados, as mãos cruzadas sobre o peito e os olhos fechados. As respirações superficiais produziram um leve movimento da sua barriga, a única parte de seu corpo que se movia. Mesmo uma formiga rastejando pelo seu antebraço não a fez mover um músculo.

    Meus dedos arrancaram as folhas verdes de várias plantas minúsculas ao meu redor. O caule quebrado liberou um forte aroma amadeirado quando o rolei entre o polegar e o indicador. As sutis diferenças de cada folha me surpreenderam, suas formas, cores – diferentes e semelhantes. Todas projetadas para capturar energia do sol e transformá-la em alimento para a planta. Fotossíntese, outra palavra relembrada.

    Sem prestar atenção, peguei uma erva daninha com três folhas fixadas em um caule verde-escuro. Duas folhas me lembravam braços e a única folha no final, uma cabeça pontuda. A vegetação era familiar, mas eu não sabia o porquê. O pequeno 'corpo' girou entre meus dedos enquanto folhas de três, cantava em meu ouvido.

    – Deixe isso de lado! – a planta caiu da minha mão.

    – O quê? – Beth falou, mas não se mexeu.

    – Folhas de três, deixe isto para lá. Se levanta! – eu disse mais alto que o planejado e me levantei.

    – Por quê? – Beth se sentou.

    – Hera venenosa – se foi o nome da planta ou a palavra 'venenosa', eu não tinha certeza, mas fez Beth ficar de pé.

    Meus olhos examinaram os cantos da floresta e avistaram as plantas venenosas. As ervas daninhas rastejavam da floresta e se amontoaram em trechos ao longo da estrada. Eu investiguei onde descansávamos; nosso peso havia achatado tudo abaixo de nós. Me agachei e inspecionei o chão; um suspiro de alívio escapou dos meus lábios.

    – O quê? – Beth disse.

    – Está tudo bem. Não há muitas aqui, apenas a planta estranha, mas eu tinha que ir e escolher a mais próxima.

    – O que é?

    – Uma erva daninha que pode causar comichão – limpei as palmas das mãos nas calças e sorri, mas no fundo, estava preocupada. Não porque tinha tocado, eu tinha um sentimento vago de que havia feito isso antes sem problemas. Mas apesar da minha memória melhorar a cada dia, Beth lembrava muito pouco. Eu só esperava que fosse porque eu havia recebido menos do medicamento dado a nós no C.E.C.I.L.

    – O que há com você e coceiras? – Beth revirou os olhos e seus lábios se abriram em um meio sorriso.

    Eu ri e balancei minha cabeça. A pergunta me fez pensar na picada de mosquito e cocei o braço.

    Uma súbita rajada de ar fresco soprou e uma mecha do meu cabelo castanho-claro acariciou minha bochecha. Levantei meu queixo e olhei para o céu. Nuvens cinzentas com bordas brancas flutuavam em um plano de fundo azul-prateado. Ao longe, o céu escurecia.

    – Com certeza, vai chover daqui a pouco; é melhor decidirmos.

    Beth olhou para cima e depois para mim. Seus olhos azuis cintilaram como se um raio de luz reluzisse em seu rosto. – Cara ou Coroa? – ela questionou.

    – Você se lembra disso?

    – Um jogo pode ajudar a decidir. Agora, cara ou coroa? – repetiu.

    – Não temos uma moeda.

    A testa de Beth franziu. Depois de alguns segundos, ela se agachou e buscou uma pequena pedra do chão. Ela a mostrou na palma da mão. – Cara ou Coroa?

    – Qual é qual? – Eu cutuquei a pedra redonda e plana na mão dela.

    Beth suspirou como se eu tivesse feito uma pergunta estúpida. – Este lado está limpo – Ela apontou para a rocha. – Este lado – ela virou a pedra. – Está sujo. Limpo é cara, sujo é coroa.

    – Ok. Cara, esquerda, coroa, direita? – Minhas sobrancelhas se levantaram para encontrar minha linha do cabelo.

    – Isso. Agora cara ou coroa?

    – Cara.

    Beth jogou a pequena pedra no ar. Ela caiu em câmera lenta, girando e rolando enquanto a gravidade a puxava de volta à terra. A pedra chata caiu na palma da mão estendida de Beth e ela logo fechou a mão. Desenrolou os dedos, um de cada vez, até revelar o

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