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Intruso entre Intrusos, Eutro: Arnaldo Antunes
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Intruso entre Intrusos, Eutro: Arnaldo Antunes
E-book186 páginas2 horas

Intruso entre Intrusos, Eutro: Arnaldo Antunes

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Sobre este e-book

"Mesmo no silêncio e com o silêncio/dialogamos", os versos do poema "Constante diálogo", de Carlos Drummond de Andrade, são uma porta entreaberta para o incentivo à leitura deste livro de Glauber Mizumoto que deseja mediar novas leituras de poesia. Ao se debruçar sobre o livro n.d.a, do poeta e músico Arnaldo Antunes, a sensível leitura do pesquisador dialoga com silêncios e espaços em branco que compõem a poética metalinguística e lírica do autor. Mizumoto demonstra como pensar no silêncio, os não ditos, os (inter)ditos desses poemas para encontrar na ponta da recepção o conceito de eutro que ele aprofunda, desdobra, em perfeita consonância com o eu e o outro do poeta, do leitor e do mundo, desvelando o diálogo em silêncio das palavras em estado de re-dicionário, prática do poeta que investiga sentidos dicionarizados ou não das palavras, numa fruição inventiva e renovadora da poesia contemporânea.
Músico também e praticante de meditação, Glauber Mizumoto tem bom ouvido e clarividência para buscar na poética concisa e cirúrgica de Antunes, o diálogo que lhe permite o avanço nos espaços meio abertos, meio fechados, da leitura de poesia. Ao propor uma leitura da palavra-conceito eutro em finas recriações de sentidos que ultrapassaram o poema de onde ele a extraiu, o autor deste livro propõe não só um entendimento afetivo para a poesia de Arnaldo Antunes, mas uma possibilidade de releitura que se estende em exercícios parapoéticos dos leitores, cada um, auxiliado pelos poetas e por outros leitores, a ser coautor da poesia de sua própria existência.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento6 de abr. de 2021
ISBN9786558207252
Intruso entre Intrusos, Eutro: Arnaldo Antunes

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    Intruso entre Intrusos, Eutro - Glauber Mizumoto

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    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO LINGUAGEM E LITERATURA

    Para Ludmilla, minha amada esposa, principal incentivadora deste projeto. Para os meus filhos, Ravi e Narayanii, grande fonte de aprendizado e alegria. Para o caríssimo mestre

    Prabhat Rainjan Sarkar.

    agradecimentos

    Ficam aqui os meus sinceros agradecimentos à Ana Chiara, que muito enriquece essa minha jornada pela UERJ e para além dela. Ao Leonardo Davino, pelo cuidado e pelas dicas valiosas para o desenvolvimento deste trabalho e de outros. Ao Andrelino Campos (in memoriam) e Vinicius Marinho, pelo grande incentivo. À Juliane Escacela, pela paciência e por todo o suporte técnico com os originais que resultaram neste livro. Aos meus pais, Celio e Marize, e aos meus irmãos, Maurício e Raoni, pelo aprendizado existencial. À minha tia Ginga, grande apoiadora deste projeto e de muitos outros. Ao Fernando Garcia, pelas referências e por ser também uma grande referência. Aos amigos uerjianos Rodrigo e Hilda, pela esperança de um universo acadêmico mais solidário. Aos meus companheiros de longa jornada, minha família espiritual: Firmina Labre, Fabrício Labre, Anna Carolina Labre, Dada Siddhesvarananda, Léo, Bruno, e toda família QRM, Paula, Alexandre e Liz (família Pierre Menard), Marcos (Madhavajii), Natalia e toda família Satya & Satsanga.

    Nome Não

    (Arnaldo Antunes)

    PREFÁCIO

    Na canção Eu e mim, Rita Lee (2003) canta no espelho não é eu, sou mim / não conheço mim, mas sei quem é eu, sei sim, e conclui com eu e mim se dividem numa só certeza / alguém dentro de mim é mais eu do que eu mesma. No poema por mim, Arnaldo Antunes (2010) escreve talvez / ali / ou além // alguém / seja eu / por mim. É nesta encruzilhada, nesse jogo de espelhos metalinguístico que o livro Intruso entre intrusos, eutro: Arnaldo Antunes de Glauber Mizumoto se fundamenta.

    Os versos de Arnaldo Antunes estão em n.d.a. livro que Glauber usa como corporeidade para defender com cuidado e competência o conceito eutro, título de um poema do mesmo livro e também máquina performática, método da poética arnaldiana, acesso sensível ao mundo. Da tríade eu-outro-mim, Glauber compreende o eu-signo, que por sua vez torna-se também a máscara do eutro da poética de Arnaldo Antunes; e afirma que "é pois, na palavra, na linguagem, e na poiesis que se encontra a voz performática deste eu lírico, que se desdobra em diversos ‘eutros’ sem deixar pistas de que haja um único ‘eu’ no trabalho artístico de Antunes".

    O mim dito por um falante que não compreende a convencional distinção entre o eu e o todo-outro interessa ao tribalista Arnaldo, autor do ensaio Origem da poesia (Outros 40, 2014), onde escreve: No seu estado de língua, no dicionário, as palavras intermediam nossa relação com as coisas, impedindo nosso contato direto com elas. A linguagem poética inverte essa relação pois, vindo a se tornar, ela em si, coisa, oferece uma via de acesso sensível mais direto entre nós e o mundo (p. 25). Esse gesto em direção a um passado tribal, pré-escriturado interessa ao Glauber leitor de planeta placenta – poema da última parte do livro n.d.a. – não à toa chamada nada de DNA – que, segundo Mizumoto, numa síntese crítica sobre a fixidez dos discursos científicos perde aqui, portanto, a sua rigidez pelo fato da poesia trazer à linguagem referencial o tom aquoso integrador/desintegrador a ressoar, paradoxalmente, uma lira dissonante.

    Como sabemos, antes de ser manifestada na escrita, a poesia já requeria uma forma de representação das ideias e dos fatos, pela codificação e consequente reconhecimento dos ouvintes-leitores. O poeta inscreve, arquiteta e diagrama sobre a superfície plana da página, da tela ou parte para suportes como o disco sonoro, o cinema, o vídeo, a performance, os recursos multimídia. Glauber sabe que para entender a produção da poesia agora urge investigar o contexto no qual ela está inserida, além da sua trajetória histórica. Entre o advento da Modernidade e o movimento cultural do século XX, definido como Modernista, o mundo ocidental passa a defrontar-se com transformações, em que se acentuam tanto a fragmentação das ideias e de suas objetivações materiais, quanto à perda da força aurática benjaminiana (BENJAMIN, 1994) com os valores até então predominantes da estética. Diante desse processo, o eutro ensaiado por Arnaldo Antunes e lido por Glauber Mizumoto parece assumir o exercício proposto nos versos de Age de Carvalho (2017), quando este escreve Eu, intimo-me / a reconher- / me em / mim-mesmo.

    A tentativa de superar a superfície da página sempre foi uma obsessão dos poetas experimentalistas, e teve seu marco inicial com o poema Um lance de dados, de 1897, de Mallarmé. Desde então, ocorreram as importantes contribuições de Pound, Joyce e Cummings, bem como a tradição das vanguardas europeias, da antropofagia oswaldiana e da tropicália. O papel da imprensa, dos recursos tipográficos e mais recentemente da informática passa a ser fundamental na produção poética. Arnaldo Antunes e sua inserção de experimentos de vanguarda na indústria do entretenimento, por suas propostas se pautarem no diálogo artístico intersemiótico das linguagens, é tratado por Glauber como um descendente que atomiza a automatização do que sobra dessas heranças. Os nós no nó tempoespaço. Antunes propõe também a superação dos pronomes.

    O livro Intruso entre intrusos, eutro: Arnaldo Antunes justapõe o poeta, o cancionista, o artista plástico, o ensaísta num gesto de leitura que rastreia a eutridade verbivocovisual de Arnaldo Antunes. E se, como escreve Roberto Correa dos Santos (2014) no poema Nova sobras, o contemporâneo no campo da literatura venha ocorrendo somente talvez e de modo raro / na ordem do ensaio teórico-crítico-experimental, / quase poema – poema expandido, Glauber mostra ao leitor de poesia que o eutro é o talvez, a manutenção da dúvida, da incerteza, da proliferação de imagens, da saturação de punctuns. Ele mostra ainda que a poética de Arnaldo Antunes, inserida nestes saberes e quereres entre o sim e o não, o eu e o mim, ensaia uma humanidade resistente possível, porquê est-ética, em que o cotidiano estimula mergulhos profundos no espelho-de-si-mais-outros.

    Como leitor performer, Glauber Mizumoto expande e irradia luz global sobre a obra de Antunes, mirando o entorno, o contorno, a torção da linguagem. Antro, intro, entro, retro, outro – tro em sueco é pensar, Glauber assume esse tro que se une ao eu para formar o conceito e o gesto eutro. No percurso especulativo, Augusto dos Anjos, Décio Pignatari e Torquato Neto se unem a Arnaldo numa tentativa de decodificação da linguagem que é núcleo da construção e enunciação do eutro.

    Em suas Galáxias, Haroldo de Campos (2004) escreveu no senão do sim ponha o não no im de mim ponha o não o não será tua demão; noutro poema de n. d. a. Arnaldo Antunes fragmenta: o sim / e si / m ao s / eu mim; por sua vez, continua cantando Rita Lee: eu é cara-metade, mim sou inteira. O livro de Glauber Mizumoto afirma que tem gente no meio das mais avançadas das tecnologias. Se eu e/ou mim, pouco importa. Importa que tem gente no eutro.

    Leonardo Davino de Oliveira

    Professor de Literatura Brasileira na Uerj.

    Desenvolve pesquisa sobre poesia e vocoperformance.

    Autor do blog Lendo canção (lendocancao.blogspot.com).

    REFERÊNCIAS

    ANTUNES, Arnaldo. n. d. a. São Paulo: Iluminuras, 2010.

    ANTUNES, Arnaldo. Outros 40. São Paulo: Iluminuras, 2014.

    BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. Tradução de Sergio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1994.

    CAMPOS, Haroldo de. Galáxias. São Paulo: Ed. 34, 2004.

    CARVALHO, Age. Coleção postal. Rio de Janeiro: Azougue Editorial; Editora Cozinha Experimental, 2017.

    LEE, Rita. Balacobaco. Rio de Janeiro: Som Livre, 2003.

    SANTOS, Roberto Corrêa. Novas sobras. In: VIRIATO, Lucas (org.). Plástico Bolha: antologia de poesia. Rio de Janeiro: OrganoGrama Livros, 2014.

    APRESENTAÇÃO

    A palavra na poesia de Arnaldo Antunes assume um caráter tão conciso e material quanto versátil e dinâmico, e, ao mesmo tempo, tão técnico e conceitual quanto lírico, a questionar a existência humana, as coisas e/ou apenas sinalizar o próprio processo em que a língua, e a palavra se realizam – potencialmente – como poiesis, revitalizando possibilidades semânticas e significantes.

    Para falar sobre o conceito de poiesis, creio que as palavras de Arnaldo Antunes sejam aqui apropriadas: o espaço criativo – como um espaço de potência diante do mundo (ANTUNES, 2006, p. 348). Essa potência transformadora (ANTUNES, 2006, p. 348) talvez encontre na sua poesia, o refúgio, ou melhor, a sintonia elementar para uma dissonância própria da linguagem em relação ao senso

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