Histórias infantis e o lúdico encantam as crianças: atividades lúdicas baseadas em clássicos da literatura infantil
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Histórias infantis e o lúdico encantam as crianças - Maria Luiza Kraemer
criatividade.
PARTE 1
Orientação para os professores
Fundamentação
pedagógica
Contos de fadas são transmitidos de geração em geração de forma mágica: são elos entre as gerações. A criança que um dia fomos se encontra com as nossas crianças de hoje, nossos filhos, nossos alunos.
Na sua origem, os contos de fadas eram parte do folclore europeu. As histórias compostas em narrativas breves eram contadas e recontadas pelo povo. Eram adaptadas em cada região e a cada geração, de forma que suas características básicas sempre existissem e fossem ajustadas somente em seus detalhes.
Escritores recolheram esses contos e compilaram-nos em obras. Hoje, conhecemos esses autores como criadores das histórias encantadas, mas eram, na verdade, somente aqueles que as colocaram no papel
. Entre os autores mais famosos estão Charles Perrault, da França do século XVII, e Jacob e Wilhelm Grimm, mais conhecidos como Irmãos Grimm, na Alemanha do século XIX. Foi na França que apareceu o primeiro livro de contos de fadas, em 1697, obra de Charles Perrault. Encontramse nesse livro muitas histórias como A Gata Borralheira
e A Bela Adormecida no bosque
. Hans Christian Andersen também escreveu contos de fadas, mas, diferentemente de Perrault e dos Grimm, ele criou suas histórias.
Perrault e os Irmãos Grimm registraram no papel as histórias contadas oralmente pelo povo. Com o passar do tempo, esses livros foram destinados ao público infantil, mas na sua origem eram destinados ao público em geral independente da faixa etária. Andersen escreveu seus contos de fadas para as crianças, pensando nelas. Por isso, é considerado o pai da literatura infantil.
Os contos de fadas foram analisados por pesquisadores e estudiosos, que exploraram tanto características de sua forma como sua mensagem. Como exemplo, é possível citar Propp, que analisou a morfologia dos contos de fadas e chegou à sua estrutura básica, sempre presente: os elementos constantes, o número de funções, a seqüência das funções. Ele afirma que nos contos há sempre o herói, a busca, os obstáculos, a conclusão baseada nas suas ações.
Contos de fadas foram chamados pelo autor Vladimir Propp de contos maravilhosos por ter a presença de algum elemento mágico ou fantástico nessas narrativas. Nem sempre há nos contos de fadas a fada propriamente dita, mas há de haver necessariamente um elemento encantado. Os contos maravilhosos têm origem oriental e, diferentemente dos contos de fadas, lidam com uma temática social. O herói é uma pessoa de origem humilde ou que passa por um período de privações e chega ao poder, como acontece no conto Aladim e a lâmpada maravilhosa
.
Outro pesquisador, Bruno Bettelheim, analisa a psicanálise nos contos de fada. Aponta que essas histórias ajudam a criança a lidar com seus próprios dramas ao passo que permite que elas se imaginem na história e aprendam a lidar com seus conflitos interiores. A criança vê como pode lidar com seus medos, com suas pequenas falhas, como resolver as questões que se colocam como obstáculos. Bettelheim em seu livro apresenta ainda as histórias da forma como eram em seus primeiros registros: a presença da violência quase brutal e tabus, como incesto. Ele explica que essa violência é inerente ao ser humano e que por esse fato atraem tanto a atenção. É por isso, por exemplo, que o lobo fascina tanto os pequenos.
O conto de fadas expõe a saga do herói: a busca, o enfrentamento de problemas, a superação dos obstáculos e a glória do sucesso. Essa jornada pode ser interpretada como nossa própria jornada interior e, até mesmo, como rituais de passagem.
Na interpretação da psicanálise, o simbolismo dos contos maravilhosos está ligado aos dilemas que as pessoas enfrentam ao longo de seu amadurecimento emocional; eles revelam os conflitos e apontam as formas de superá-los.
É como se o conto de fadas, admitindo que é humano sentir raiva, esperasse apenas dos adultos o autocontrole suficiente para não serem arrebatados por ela, já que seus desejos raivosos e grotescos tornam-se fatos – mas os contos frisam as conseqüências maravilhosas para uma criança se ela se empenha num pensamento ou desejo positivo. A desolação não induz a criança, no conto de fadas, a ter desejos vingativos. Ela deseja apenas boas coisas, mesmo quando tem amplas razões para desejar coisas ruins para os que a perseguem. Branca de Neve não abriga desejos raivosos contra a rainha malvada. Cinderela, que tem bons motivos para desejar castigar as irmãs, deseja, ao contrário, que elas compareçam ao grande baile.
Quando fica sozinha por algumas horas, a criança pode sentir-se tão maltratada como se tivesse sofrido um abandono ou rejeição de uma vida inteira. Então, subitamente, sua existência se alegra quando a mãe aparece na porta, sorrindo, talvez até lhe trazendo um presentinho. O que pode ser mais mágico do que isso? Como poderia algo tão simples ter o poder de alterar sua vida, a menos que houvesse mágica envolvida? [BETTELHEIM, 2004, p. 89].
Para Bettelheim, os contos de fadas exibidos em filmes e desenhos inibem a imaginação infantil, porque recebem elementos do ilustrador, tornando-se assim uma experiência pessoal do ilustrador. A ilustração e a imagem quando apresentadas prontas para a criança a impedem de criar. Portanto, os contos de fadas deveriam ser lidos ou narrados para dar oportunidade de a criança imaginá-los a partir de sua experiência pessoal.
Quando a estória só existe na tradição oral, é o inconsciente do narrador que determina em ampla escala qual estória ele relata, e o que lembra dela. Isso fazendo, ele é motivado não só pelos sentimentos conscientes e inconscientes quanto à estória, mas também pela natureza de seu envolvimento emocional com a criança a quem narra. Em muitas dessas repetições orais de uma estória, por muitos anos, por várias pessoas, para ouvintes diferentes, chega-se a uma versão tão convincente para o consciente e inconsciente de tantas pessoas, que não parece haver mais modificações a serem feitas. Com isso, a estória atingiu sua forma clássica
[idem, ibidem].
Hoje, a tradição de contar os contos de fadas está sendo substituída em parte pelo hábito de se ligar a televisão, de deixar as crianças assistindo intermináveis horas de desenho animado ou filmes. Não podemos impedir que as crianças assistam à televisão, aos desenhos animados e a filmes, mas podemos e devemos delimitar o tempo e reservar algumas boas horas para o convívio pessoal e o cultivo da narração e da tradição oral.
O professor pode usar os contos de fadas em sala de aula de forma que explore toda a sua riqueza e a transporte para as atividades e habilidades que pretende desenvolver.
Considerações gerais sobre o livro
Neste livro são apresentadas sugestões de como explorar em sala de aula diferentes narrativas acompanhadas de atividades lúdicas educativas indicadas para crianças que freqüentam a educação infantil.
As sugestões apresentadas não estão relacionadas entre si, nem apresentam uma seqüência de pré-requisitos. O professor deve usá-las de acordo com as necessidades e a realidade de seus alunos.
Para a realização das atividades lúdicas educativas, a autora sugere o uso de cartolina, retalho de cartolina, elástico, cola, tesoura, giz de cera, caneta hidrográfica, ficha, cartela, papel de cor neutra, tinta para pintar papel, pote de água, azulejo, papelão, argila, jornal velho, papel de embrulho, roupa e objetos velhos, caixa de papelão grande, placa de isopor, palito de fósforos usado, grãos de arroz, grãos de milho, grãos de feijão, massas alimentícias não cozidas, lã grossa, pedras de vários tamanhos, caixinha, cone, fitas de várias cores, papel colorido, cordão, sarrafo, palito de picolé, algodão, retalho de tecido, canudinho, papel celofane, tampinha de vários tamanhos, dado, bola de tênis, bolinha de pingue-pongue, lenço de tecido, cartola, bichinho de pelúcia, folha de desenho, gravura de revista, botão velho.
Serão lidas as seguintes histórias: A Bela Adormecida
(Hans Christian Andersen), A Bela e a Fera
(Hans Christian Andersen), A galinha dos ovos de ouro
(Esopo), Aladim e a lâmpada maravilhosa
, A Pequena Sereia
(Hans Christian Andersen), Branca de Neve e os Sete Anões
(Irmãos Grimm), Chapeuzinho Vermelho
(Charles Perrault), Cinderela
(Charles Perrault), Dona Baratinha
, Festa no céu
(Câmara Cascudo), João e Maria
(Irmãos Grimm), João e o pé de feijão
, O flautista mágico
(Irmãos Grimm), O Gato de Botas
(Charles Perrault), O mágico de Oz
, O rouxinol e o imperador
(Hans Christian Andersen), Os três porquinhos
(Charles Perrault), Os três ursinhos
(Irmãos Grimm), O patinho feio
(Hans Christian Andersen), Pinóquio
(Carlo Collodi), Rapunzel
(Irmãos Grimm) e Soldadinho de Chumbo
(Hans Christian Andersen).
Aqui, neste livro, serão trabalhados elementos próprios dos alunos que freqüentam a educação infantil, como atenção, coordenação motora, interpretação de texto, expressão oral, seqüência lógica, noção de tamanho no papel, noção de limite no papel, vocabulário, ortografia, interpretação de texto através do desenho, expressão corporal, mímica, leitura de horas, números, cores, consoantes, vogais, sílabas e leitura.
Cada conto de fadas analisado nesta obra apresenta breve consideração sobre a história
, como contar a história
, resumo
, dica para o professor
, faixa etária
, série
, número de participantes
, principais elementos trabalhados
, objetivos
, como apresentar o material
, atividade sugerida
e sugestões de atividades educativas
.
Breve consideração sobre a história
apresenta temas trabalhados nas histórias, como amor, ódio, inveja, família, relação entre pais e filhos, rejeição, beleza física, desobediência, filhos adotivos e outros próprios das crianças. Assim se espera auxiliar o professor a escolher o melhor momento para trabalhar determinada história.
Como contar a história
apresenta sugestões simples para o professor observar ao ler as histórias e alcançar com mais facilidade os seus objetivos propostos.
Resumo
é apresentado para o professor ter noção do tema da mensagem, antes de escolher a história para trabalhar com os alunos.
Dica para o professor
são sugestões para o professor aprofundar mais o assunto apresentado.
Faixa etária
, série
, número de participantes
, e principais elementos trabalhados
são apresentados de forma objetiva para facilitar a pesquisa do professor. Somente os principais objetivos
são descritos.
Como apresentar o material
é uma proposta de apresentação da atividade para o professor.
Atividade sugerida
apresenta as atividades detalhadamente para tornar mais eficiente a aplicação em sala de aula.
Sugestões de atividades educativas
apresenta sugestões de atividades que partem da história lida envolvendo conceitos de artes, convivência e afetividade, lazer e esporte, linguagem e comunicação, meio ambiente e saúde, noções em matemática e um item chamado pode e não pode
em que são colocadas questões de comportamento.
As sugestões de atividades lúdicas educativas apresentadas neste livro podem ser enriquecidas de acordo com a criatividade e a necessidade de cada professor. Ao mesmo tempo, o professor pode usar as mesmas sugestões de atividades lúdicas educativas, porém substituindo o conteúdo por outro que necessite trabalhar com os seus alunos.
Os materiais são de fácil confecção, que se torna ainda mais simples com a ajuda do computador. Além do computador e da impressora, o professor pode usar carimbos e gravuras. O papel a ser utilizado é o da preferência do professor.
É aconselhável o professor usar a sala de aula para desenvolver as atividades lúdicas educativas apresentadas neste livro. Caso o professor opte por um outro ambiente, deve favorecer a aprendizagem tanto quanto na sala de aula.
Observações gerais para contar histórias
A arte de contar histórias é um valioso instrumento no processo educativo. Além de favorecer a socialização, quando os alunos sentam em roda, eles ouvem a história, comentam, recontam, opinam. Aprendem