Do Conto ao Reconto: Estratégias Lúdicas no Percurso da Autoria

De Maria José Paiva Moreira

Do Conto ao Reconto: estratégias lúdicas no percurso da autoria lança um novo olhar para o trabalho com literatura infantil, mais especificamente, uma gama de jogos orais com os contos de fadas que se norteiam na escuta atenta e ativa das crianças e suas preferências literárias.
Trata-se, portanto, de uma atividade de linguagem essencial nas diversas etapas da produção oral com destino escrito, pois propicia uma interessante gama de atividades lúdicas que instigam processos que envolvem o pensamento, a reflexão, as emoções, a imaginação e o conhecimento, além da oportunidade de estar em contato com um modelo de leitor experiente (o professor), sugerindo práticas de letramento literário para crianças em processo de alfabetização.
Este livro desvenda algumas possibilidades de se atuar precocemente na formação do leitor com bons textos literários no rico terreno da educação infantil e séries iniciais, adequando, assim, as aprendizagens à Base Nacional Comum Curricular, especificamente aos eixos estruturantes: interações e brincadeiras e o campo de experiência: escuta, fala, pensamento e imaginação, que traz como objetivo para essa faixa etária "recontar histórias ouvidas para a produção de reconto escrito, tendo o professor como escriba"[1]. Tem como premissa que o ser humano não nasce escritor ou leitor, mas ouvinte e falante de sua língua materna. Portanto, a escrita não faz parte da natureza, mas é produto da cultura imposta ao ser humano, assim, aproximar as crianças da cultura letrada por meio de brincadeiras com recontos orais, por meio de bons textos literários, amplia suas capacidades linguísticas e culturais, tornando-os capazes de recontar as histórias tantas vezes e de diferentes modos, inserindo marcas de sua própria autoria, enquanto se apropriam da estrutura narrativa do conto.
A análise dos recontos orais produzida nesta obra permitiu observar a apropriação dos recursos linguístico-textuais presente nos textos-fonte, evidenciando que quanto mais elaborado o texto-fonte oferecido às crianças, maior a apropriação e elaboração oral apresentada por elas, o que rompe com o velho paradigma de que, para crianças pequenas e não alfabetizadas, deve-se oferecer leituras curtas e simplificadas.

• Idioma: Português
• Editora: Editora Appris
• Data de lançamento: 17 de mai. de 2021
• ISBN: 9786558203667

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COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO LINGUAGEM E LITERATURA

Dedico este livro a todos os meus alunos, pelas ricas trocas no interstício do ensinar e aprender.

Agradecimentos

Primeiramente, a Deus, que enviou seu paráclito santo e muitos anjos em forma de pessoas para me inspirar e me acompanhar nos caminhos sinuosos rumo à escrita acadêmica.

Aos meus filhos: Ana Lara, companheira de toda jornada e sempre disposta a me dar suporte técnico nas transcrições dos vídeos, e Tomas, por compreender minhas presenças ausentes e me revigorar com beijinhos, abraços e massagens nos momentos de desânimo e cansaço.

À minha família, responsável por tudo que sou e almejo ser. Meu maior tesouro, o mover de toda a minha existência!

Aos meus professores, pelas valiosas partilhas de seus saberes, ao longo de toda minha trajetória estudantil, que ampliaram e ressignificaram o valor das relações humanas na construção do conhecimento.

Apresentação

As escolas públicas de educação infantil, a partir de 2008, foram inseridas no Plano Nacional Biblioteca na Escola (PNBE) e passaram a receber títulos infantis do Fundo Nacional de Desenvolvimento Educacional (FNDE), o que contribuiu e ampliou as possibilidades para se desenvolver o gosto e o prazer pela leitura, mas isso não é suficiente. Nem sempre basta o acesso a obras infantis para formar leitores, é preciso ir além: há a necessidade da intervenção de um leitor experiente nas proposições de leituras, traduzidas em atividades significativas e de acordo com cada faixa etária, como um grande diferencial na formação do leitor em processo.

Nesse sentido, ressalto a importância de proporcionar às crianças muitas rodas de história, com intervenções pontuais do professor, desde a escolha prévia e cuidadosa dos textos até o planejamento de ações para antes, durante e depois da leitura, considerando sempre as características da faixa etária trabalhada. É consenso nos documentos oficiais norteadores das práticas da educação infantil que a leitura faz parte do cotidiano das salas de aula desde o berçário, mas o foco deste livro está no planejamento sistemático das atividades de rodas de histórias, considerando o significado e os efeitos das intervenções do professor na formação do leitor na educação infantil e séries iniciais – alunos entre 5 e 6 anos.

O objetivo deste livro é compartilhar estratégias lúdicas, prazerosas e instigantes que potencializam a formação leitora, a ampliação do vocabulário e a apropriação dos elementos estruturantes da narrativa por parte dos alunos, mediante a produção de recontos orais, gravados e transcritos pelo professor, trazendo contribuições acerca de um trabalho significativo para as salas de aula ou salas de leitura da educação infantil rumo à formação de leitores na infância.

Coelho¹ afirma que os contos de fadas têm a capacidade de não só encantar crianças da faixa etária abordada, mas também ser capaz de despertar a vontade de ler e reler uma mesma obra diversas vezes, até recontá-la com elementos próprios da estrutura de sua narrativa.

Na educação infantil e séries iniciais, costuma-se proporcionar o contato das crianças pequenas com histórias. Esse contato nem sempre é mediado de forma a potencializar o aprendizado linguístico e cultural da criança, frente à força da obra literária junto à mente imaginativa dos educandos, bem como a necessidade de se encontrar estratégias lúdicas que potencializam a formação leitora e a apropriação dos elementos estruturantes da narrativa.

Foram apresentadas para as crianças várias obras do gênero conto de fadas, e elas escolheram o conto Branca de Neve. Do acervo da escola, foram selecionadas adaptações que, gradual e propositadamente, da primeira para as demais versões, foram enriquecendo as narrativas com mais detalhes, com descrições mais apuradas das personagens, cenários e, consequentemente, narrativas aprimoradas. O percurso permitiu fazer a análise dos três recontos orais das crianças e comensurar a evolução da primeira para as demais.

Esta obra tem o propósito de contribuir com os professores, apontando experiências literárias variadas e bem planejadas, atuando precocemente na formação do leitor, pois a criança nessa etapa está em pleno desenvolvimento, formando hábitos e valores que poderá levar para a vida.

O primeiro capítulo do presente estudo traz uma reflexão sobre a temática da literatura infantil e as contribuições dos contos de fadas para a formação de leitores na infância, em que há um rol de possibilidades lúdicas para o trabalho com literatura infantil que discutem práticas pedagógicas com a finalidade de contribuir para potencializar e dinamizar as leituras. Também conta com a definição de reconto e dos elementos narrativos dos contos de fadas e sua relevância para esta pesquisa.

O segundo capítulo, por sua vez, discorre sobre o desenvolvimento da oralidade na infância, a visão do trabalho com oralidade nos documentos oficiais para a educação infantil e sobre a literatura e seu papel na formação das crianças de zero a 6 anos na visão de estudiosos de literatura e do desenvolvimento infantil nos referenciais institucionais para a educação. Também apresenta o papel das salas de leitura na educação infantil, a organização dos espaços e do tempo didático e o papel do professor na formação do leitor literário.

Já o terceiro e último capítulo evidencia o reconto oral como procedimento metodológico, desde o levantamento dos conhecimentos prévios, o confronto, a ampliação e a consolidação da apropriação dos elementos narrativos por meio de vivências lúdicas, elucidadas a partir de uma análise qualitativa sobre as produções coletivas das crianças. Ainda nesse capítulo, temos um relato do papel humanizador e de identificação da literatura pela qual as crianças, por iniciativa própria, pediram ajuda à professora e criaram uma história chamada Linda Noite e as Sete Anãs, em homenagem e respeito ao luto de uma amiga da turma que perdera sua mãe no decorrer da pesquisa.

Lista de abreviaturas e siglas

Sumário

CAPÍTULO 1

LITERATURA INFANTIL: UMA JANELA ABERTA PARA A FORMAÇÃO LEITORA 15

1.1 Um olhar para as especificidades do leitor 16

1.2 Possibilidades para a formação leitora na educação infantil 18

1.3 Leitura em voz alta: o professor como modelo 20

1.4 Da leitura de contos à elaboração de recontos orais 22

1.5 Estudando o conto: estrutura da narrativa 24

1.6 Retrospectiva histórica da literatura infantil 26

1.7 Contos de fadas 30

CAPÍTULO 2

AS SINGULARIDADES DA FORMAÇÃO LEITORA NA EDUCAÇÃO INFANTIL 33

2.1 Desenvolvendo a oralidade como prática discursiva de letramento

na infância 33

2.2 O trabalho com oralidade nos documentos oficiais 36

2.3 A literatura e a criança de zero a 6 anos 39

2.4 As implicações da formação de leitores na educação infantil 43

2.5 As salas de leitura interativas 46

2.6 O papel do professor na formação do leitor literário 49

CAPÍTULO 3

RECONTO ORAL COLETIVO: MÚLTIPLAS POSSIBILIDADES NA FORMAÇÃO LEITORA 53

3.1 Percursos da Pesquisa 53

3.1.1 A pesquisa-ação 55

3.1.2 Os sujeitos da pesquisa 56

3.1.3 A escola 57

3.1.4 Quadro-cronograma das atividades propostas 57

3.2 Proposições de atividades lúdicas para o trabalho com reconto oral 60

3.2.1 Levantando os conhecimentos prévios e descobrindo o que pensam

as crianças 60

3.2.2 Confrontando, ampliando e consolidando saberes e experiências 65

3.2.3 Vivenciando o reconto oral: estratégias lúdicas 70

3.3 Análise comparativa dos recontos orais 82

3.3.1 Comparando os recontos orais com seus textos fontes 82

3.3.2 Ampliando a reflexão: análise da progressão narrativa dos três

recontos orais 90

3.3.3 As veredas do caminho: Linda Noite – uma surpresa! 96

3.3.4 Indícios de autoria 103

CONCLUSÃO 113

REFERÊNCIAS 119

ÍNDICE REMISSIVO 123

CAPÍTULO 1

LITERATURA INFANTIL: UMA JANELA ABERTA PARA A FORMAÇÃO LEITORA

É fato que, desde cedo, muitas crianças estão imersas na cultura letrada. Assim, ainda pequenas, começam a descobrir a presença da escrita e suas funções sociais. Essas descobertas serão em maior ou menor grau, dependendo de seu meio social e de suas experiências. Nesse ponto, a educação infantil e as séries iniciais têm a grande reponsabilidade no que concerne ao oferecimento de muitas e significativas práticas de leitura.

Lerner² leva a refletir sobre a formação de leitores a partir de propostas de leitura norteadas pela construção de significados. Para a autora:

[...] é fundamental ter constantes oportunidades de se enfronhar na cultura da escrita, de ir construindo expectativas acerca do que pode dizer neste ou naquele texto, de ir aumentando a competência linguística específica em relação a língua