Sobre(viventes): Sete histórias de amor e superação
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Sobre este e-book
Normalmente têm raízes deformadas e sobrevi- vem em condições extremas, mas as origens não as impedem de formar flores únicas e delicadas. Às vezes onde não se herda o amor e o cari- nho, herda-se o talento de fazer das adversidades um caminho e chegar onde os outros não ousa- riam acreditar.Superar-se é a prova de que a fé e a resiliência podem ser meios de edificar uma vida.
O amor pode vir de muitos lugares, mas só um coração grande o recebe sem reservas, genuína ecompassivamente. A mesma forma que permite que o fracasso dê lugar ao sucesso!A vida não é trágica, o que pode ser trágico é o que pensamos e fazemos dela. Estas são "leis" universais partilhadas em todas as histórias destes sobreviventes!
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Sobre(viventes) - Susana Gaião Mota
Agradecimentos e Dedicatória
Este livro passou de um projeto a uma realidade graças à vontade, empenho e perseverança da Isabel Miguéns. Ao voto de confiança da minha amiga Rossana Appolloni e à dedicação e conhecimento da Cecília Abecasis. A elas, o meu muito obrigada!
Dedico-o a todas as crianças do mundo, que merecem ter um teto, comida, saúde, paz e amor para crescerem em segurança.
Santa Casa Da Misericórdia De Cascais
Prefácio
Isabel Miguéns
Provedora Santa Casa da Misericórdia de Cascais
Estas são palavras que nos interpelam, SEMPRE.
São o testemunho de sofrimento e de ausências que desconhecemos.
São histórias verídicas de crianças que não o puderam ser.
São também um raio de alvorada um abraço de partilha e um tempo de acreditar.
A estas crianças, hoje jovens adultos teremos sempre de dizer obrigado.
Porque nos ensinaram que apesar de tudo e de todos, com eles e por eles, foi possível encontrar um caminho, que só eles poderão percorrer.
A nós técnicos, dirigentes e Instituição, resta-nos continuar a ser humildes e capazes de ouvir, de partilhar e de acreditar.
Que este testemunho possa ser uma semente e esta semente possa vir a ser uma árvore.
Quem sabe, um dia teremos uma floresta.
A toda a equipe e voluntários que acompanharam e continuam a acompanhar esta CASA
o nosso reconhecimento.
Ao Centro Distrital de Segurança Social de Lisboa, o nosso obrigado pela confiança e por aceitar que partilhemos alguns dos grandes desafios do nosso tempo.
A Instituto da Segurança Social de Lisboa e aos seus dirigentes o nosso obrigado pela confiança e pela partilha.
Introdução
Armando Leandro
Juiz Conselheiro jubilado e ex-Presidente da Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Proteção das Crianças e Jovens
Agradeço a honra e o privilégio de escrever breves palavras introdutórias desta publicação da Santa Casa da Misericórdia de Cascais, tão rica de significados e mensagens, explícitos e implícitos, bem sintetizados no inspirado título -Sobre(viventes) Sete histórias de amor e superação.
A sua divulgação – que muito merece e se deseja o mais ampla possível – pode proporcionar o aprofundamento da interiorização da variedade e complexidade das situações lesivas dos direitos das crianças, dos jovens e das famílias, e da essencialidade de conjugar as intervenções, preventivas e reparadoras, do ponto de vista técnico, científico e organizacional, com a palavra e a participação ativa de todos eles, num ambiente que gera o amor, a compreensão e a confiança na superação dessas situações de sofrimento e de exclusão ou limitação da realização pessoal, familiar e comunitária.
Creio que é essa a mensagem essencial que poderá resultar dos «milagres» tão bem descritos nas histórias de amor e superação.
De salientar a justa ênfase dos «heróis» Sobre(viventes).
Ênfase conjugada com a revelação dos atores pessoais e institucionais. Atores que tiveram o admirável mérito de sensibilidade, humanismo, saber, sabedoria, «sentido do Outro», fé inquebrantável na persistência do amor que ultrapassa barreiras aparentemente intransponíveis.
Esta publicação poderá ainda constituir estímulo significativo para uma indispensável generalizada «cultura de prevenção», sistémica e integrada, das situações lesivas dos direitos das crianças, dos jovens e das famílias. Cultura de prevenção ainda não suficientemente expressa na intervenção comunitária concreta.
Seja-me permitido uma sentida homenagem, expressa na crença de que presentes e futuros mais justos, progressivos e felizes, de crianças, jovens e famílias, muito continuarão a depender de admiráveis personalidades como «Cecília Abecasis», «Isabel Migueis» e Colaboradores.
Essas personalidades, capazes de corresponder ao apelo de «Sobrevivência» realizada, de cada criança, jovem ou família, merecem o apoio e a admiração devidos aos que,recordando Torga, não têm vazios de existência, por os encherem todos de amor, esforço sábio e esperança.
Mais algumas notas
Catarina Marcelino
Vogal do Instituto de Segurança Social
Nesta obra é-nos apresentado um olhar de adultos que vivenciaram situações de perigo, enquanto crianças e jovens, tendo beneficiado da medida de promoção e proteção de acolhimento residencial, no âmbito do sistema de promoção dos direitos e proteção de crianças e jovens em perigo.
Nestes testemunhos encontramos os efeitos concretos da Proteção destas crianças e jovens, do processo de Promoção dos seus projetos de vida, da sua capacitação, do reforço e ativação das suas competências, que, por ter sido proporcionado um ambiente reparador e fomentada a criação de laços afetivos de qualidade, foram determinantes para a sua estruturação e desenvolvimento integral.
A permanência das crianças e jovens em casa de acolhimento residencial deseja-se transitória, devendo ser pelo período estritamente necessário, enquanto medida de promoção e proteção, que tem como finalidade afastar o perigo em que se encontra e salvaguardar os seus cuidados básicos essenciais de saúde, segurança, formação, educação, bem-estar e desenvolvimento integral.
Assim foi, nestas situações. E é com um enorme sentimento de missão cumprida
que o Instituto da Segurança Social, I.P. se congratula e emociona ao ler estes relatos.
Há histórias que nos fazem acreditar.
Cecília Abecasis
Assistente social e antiga diretora
da Casa de Acolhimento
Cresceram numa casa a que chamaram sua, uma casa com alma, onde se sentiram amados e protegidos. Pertenceram a uma comunidade que os acolheu como um dos seus, que teve a sabedoria de valorizar os seus talentos e onde encontraram oportunidades de carreira e de afirmação.
Nela cresceram, estudaram, praticaram desporto, fizeram amigos e, de crianças desprotegidas, tornaram-se jovens e adultos confiantes, sempre disponíveis para os outros.
Aquela que foi a sua casa continuou sempre atenta ao seu percurso e a ela voltaram vezes sem conta, apenas para conversar, para dar notícias dos seus sucessos, para pedir conselhos, para trazer os seus filhos, para participar na Ceia de Natal! Laços que o tempo não apagou… São uns heróis!
Notas da autora
Quando recebi o convite para escrever estas histórias aceitei de imediato. Antes de mais porque me é grato falar de casos de superação e vidas com estórias felizes.
Gosto de testemunhar e mostrar aos outros que o nosso destino não nos escolhe, mas nós podemos escolher o nosso destino.
Sou jornalista há mais de 15 anos e por isso adoro uma boa história. Sou psicoterapeuta há menos tempo, mas os estudos nesta área levaram-me a ter vontade de aprofundar e compreender melhor a mente humana.
Com interesse por ambas as temáticas, ter a oportunidade de escrever um livro como estes é uma dádiva, da qual estou muito grata.
Mas tenho de sublinhar que, mais do que as boas histórias ou as pessoas complexas que encontrei, o melhor foram as lições de vida e de humanidade que estes jovens adultos me deram e certamente darão aos leitores.
Tentei encontrar-lhes denominadores comuns, e identifiquei alguns que irei referir mais à frente, mas o maior de todos, sem qualquer dúvida, é a generosidade com que olham a vida, apesar de ela já ter sido tão dura com eles.
São pessoas com grandes corações e uma capacidade de perdão incomum.
Todos tiveram infâncias trágicas, famílias disfuncionais, no seio das quais tantas vezes se esqueceram de que eram crianças para garantirem a própria sobrevivência ou para cuidarem dos pais, de irmãos, de sobrinhos, dos que se autodestruíam à sua volta.
Tudo indiciava que não teriam capacidades físicas nem emocionais para lidarem com tamanhas missões. Mas tiveram, resistiram, e assim que a tempestade acalmou desabrocharam mais bonitos e maduros numa espécie de renascimento.
Quando penso nestes jovens, vem-me à cabeça a minha flor favorita — a flor de lótus. Ela é especial, pela sua simbologia e pela sua história. Uma espécie de lírio de água que simboliza a criação, a fertilidade e, sobretudo, a pureza, porque emerge das águas turvas e estagnadas mantendo a sua beleza sempre intacta. Com distanciamento e proteção, consegue crescer sem se sujar nas águas que a envolvem (a raiz está na lama, o caule na água e a flor ao sol).
Na crença hindu, o lótus simboliza a beleza interior: viver no mundo sem se ligar com aquilo que o rodeia
. No Egipto representa a origem da manifestação
, ou seja, o nascimento e o renascimento, visto que abre e fecha consoante o percurso da luz do sol.
A flor de lótus tem por isso a capacidade de enfrentar a escuridão de noite e