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Chuva de Flores
Chuva de Flores
Chuva de Flores
E-book96 páginas1 hora

Chuva de Flores

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Sobre este e-book

Leopoldo tem seu mundo arruinado, quando sua mãe o deixa sozinho, numa noite, na Praça da República no centro do Rio de Janeiro.Acostumado aos mimos de Dora, ele agora luta para arranjar a própria comida. Enquanto tenta se adaptar à sua nova realidade, conhece a belíssima Vina, com quem tem a chance de construir uma nova vida, mas é pela simplória Clara por quem se apaixona perdidamente. Lutando pela sobrevivência e tentando vencer seus bloqueios, ele terá que tomar uma difícil decisão: Fazer o que é certo ou ser feliz ao lado de uma 'galinha'.Baseada em fatos reais, a história de Leopoldo e Clara vem nos mostrar que o amor é capaz de superar todos os preconceitos e contrariar até as leis da natureza.
IdiomaPortuguês
EditoraM-Y Books
Data de lançamento6 de jul. de 2021
ISBN9788582211489
Chuva de Flores
Autor

Cristina Caldas

Cristina Caldas nasceu na pequena cidade de Álvaro de Carvalho, cresceu na Capital de São Paulo e se mudou para o Rio de Janeiro no início de 1999Onde reside atualmente.Trabalha na área da saúde.Nas horas vagas Não abre mão de uma boa leitura e de apreciar a natureza.

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    Chuva de Flores - Cristina Caldas

    Aqui está bom, doutora? O parque já está fechado, é tarde, o trânsito está um horror e eu estou louco pra voltar pra casa.

    Dizendo isso, o motorista colocou a gaiola no chão, abriu-a e puxou a ave para fora.

    – O senhor poderia nos deixar a sós um instante, por favor? Pediu Dora, sentindo as lágrimas aflorarem em seus olhos.

    – Claro, doutora. Sei que é um momento difícil pra senhora, mas não demore. O trânsito está muito ruim hoje e ainda tenho que deixá-la no Jardim Botânico, antes de ir pra casa.

    Ele se afasta e Dora se abaixa para acariciar a cabeça da ave que, assustada, tentava aconchegar-se a ela.

    – Sei que está assustado e com medo, meu querido, mas saiba que isto é o melhor que podemos fazer por você. Aqui você poderá começar uma nova vida e dar continuidade à sua espécie. Ah! Meu Deus, como isso dói... Leopoldo, eu tentei chegar mais cedo, para você ir se adaptando ao seu novo lar, mas não deu. O trânsito está ruim. Eu queria ficar com você, mas não consegui, me perdoe. Eu prometo vir vê-lo sempre que possível, vou acompanhar sua fase de adaptação e...

    Dora seca as lágrimas:

    – O parque é lindo, tem bastante espaço, muitas árvores, muitos animais herbívoros e nenhum predador. Você vai ser muito feliz aqui! Meu pequeno, seja corajoso, seja sempre gentil com todos e quando você encontrar o seu grande amor, dance para ela. Não esqueça os passos que eu te ensinei: é uma dança muito especial.

    – Fooommm, vamos doutora!

    – Vá meu querido, vá procurar um poleiro para dormir, amanhã você verá em que lugar lindo você está...

    Dora empurra Leopoldo delicadamente, mas a ave tenta agarrar suas pernas parecendo implorar que não a deixe.

    – Vá Leopoldo! Vá meu filho! Oh Deus...

    – Vamos doutora!

    Dora vira as costas e corre para o portão. Atravessa-o sem olhar para o guarda, torcendo para que ele não visse suas lágrimas. Entra na van, não querendo ver seu amigo correndo com as asas abertas, tentando alcançá-la. Fecha os olhos e tampa os ouvidos para não ouvir os gritos do pavão que, desesperado, tentava atravessar as grades. Seus gritos ainda ecoavam nos ouvidos da veterinária, quando o carro dobrou a esquina.

    – Mãe, não me deixe, não me abandone!

    Ninguém no mundo poderia entender a intensidade de sua dor naquele momento. Nem mesmo a Doutora Dora. Nem poderia, pois era humana. O carro dobra a esquina e se perde no aglomerado de veículos da Avenida Presidente Vargas.

    Com o coração acelerado e o peito arfando, Leopoldo sente as pernas enfraquecerem.

    – Vá dormir, amiguinho, amanhã você vai estar bem menos assustado. – disse o guarda.

    Leopoldo escuta o barulho do portão sendo trancado, porém não sai do lugar. Olha os carros que passam na esperança de ver Dora voltando, com aquele rosto tão conhecido, tão amado, sua voz suave, suas mãos acariciando seu penacho. Como ela podia abandoná-lo daquela forma? Os carros vão seguindo cada vez mais rápidos e a ave ainda continuava agarrada às grades. Horas depois, eles vão rareando e Leopoldo continua na mesma posição, com esperança de que Dora volte para buscá-lo. Alheio a tudo à sua volta e exausto, adormece.

    – Bom dia, senhor Jorge!

    – Bom dia!

    – Seu Jorge, aquela garça está morta? – pergunta um senhor idoso, vestindo uma velha bermuda e camiseta, se alongando para iniciar a sua caminhada diária.

    – Não é garça não, é um pavão, chegou ontem à noite. O danadinho dormiu ali junto às grades. Bichinho danado! – responde o guarda, abrindo o portão.

    – Bom dia, Jorge!

    – Bom dia! Caiu da cama, Ney? Você nunca vem as seis, chega sempre às sete.

    – Foi o Juno quem me acordou. – responde um senhor calvo, de meia-idade, atravessando o portão, seguido de Juno, que usava seu velho boné do Flamengo.

    – Vamos parar de conversa e caminhar, seus molengas!

    Leopoldo desperta com a conversa dos homens. Lentamente se levanta, recolhe as asas doloridas, sentindo o papo doer.

    – Olha aí, seus barulhentos, acordaram até a garça.

    – Rá, rá, rá, você precisa trocar de óculos urgente, Lelo. Rá, rá, rá, não está vendo que é um pavão?

    – Vamos caminhar seus molengas, deixem o passarinho em paz. – dizendo isto, eles adentram o parque.

    Leopoldo demora um pouco para entender o que estava acontecendo.

    – Estou no Campo de Santana onde Dora me deixou. O que julgou ser o melhor para mim. Onde há somente herbívoros e nenhum predador.

    O pavão olha em volta e vê que, à luz do dia, o parque não parece tão assustador, suas ruas estreitas, por onde passavam somente pedestres, eram bem tranquilas, ao contrário da avenida ao lado, que parecia um pandemônio com milhares de carros e transeuntes apressados. Leopoldo avista então um enorme relógio no topo de um prédio.

    Seis horas, preciso comer alguma coisa.

    Uma cutia apressada passa por ele seguida de outra e outra que, de tão gorda, corria desajeitadamente, ora arrastando a barriga no chão, ora dando saltinhos.

    Pessoal estranho. – pensa ele, mas resolve segui-las. Vai a princípio capengando, sentindo dores por todo o corpo, mas aos poucos recupera o equilíbrio. Segue olhando tudo à sua volta.

    O parque parecia imenso, com, muitos canteiros floridos, muitos bancos e um chafariz que jorrava uma pequena cortina de água. À sua direita, ele avista um lago e pensa em tomar um banho, mas desiste ao sentir o estômago reclamar. Vai seguindo as três cutias, quando sente o chão vibrar, como se estremecesse ou coisa parecida. Olha para trás e é quase atropelado por um exército de cutias, patos e gansos que, alvoroçados, dobraram à esquerda, atrás de um arbusto que o impedia de ver o que estava acontecendo. Ele avança uns vinte metros e se depara com centenas de animais em volta de um cocho, onde um homem, vestido com macacão jeans e botas de borracha, tentava colocar frutas, legumes e verduras. Como os animais estavam famélicos, seu esforço era inútil, os mais atrevidos subiam no carrinho de mão, no qual estava um verdadeiro banquete.

    Leopoldo, acostumado a comer sempre com a Doutora Dora, achou a cena deprimente. Ele tinha seu próprio lugar à mesa e, juntos, constituíam uma família, pelo menos ele pensava assim.

    Esperou até que a algazarra acabasse e a maioria dos animais fossem embora. Quando só restavam uns dez, movido pela fome, se aproximou e começou a comer.

    Um ganso enorme se aproximou e empurrou o cocho com o pé, assustando Leopoldo e as cutias que comiam a seu lado.

    – Quem você pensa que é

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