Os diferentes atores sociais e suas percepções na construção de um sistema de monitoramento da governança das águas
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Os diferentes atores sociais e suas percepções na construção de um sistema de monitoramento da governança das águas - Angelo José Rodrigues Lima
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Revisão: Taíne Barriviera
Capa: Matheus de Alexandro
Diagramação: Bruno Balota
Edição em Versão Impressa: 2021
Edição em Versão Digital: 2021
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Conselho Editorial
Profa. Dra. Andrea Domingues (UNIVAS/MG) (Lattes)
Prof. Dr. Antonio Cesar Galhardi (FATEC-SP) (Lattes)
Profa. Dra. Benedita Cássia Sant’anna (UNESP/ASSIS/SP) (Lattes)
Prof. Dr. Carlos Bauer (UNINOVE/SP) (Lattes)
Profa. Dra. Cristianne Famer Rocha (UFRGS/RS) (Lattes)
Prof. Dr. José Ricardo Caetano Costa (FURG/RS) (Lattes)
Prof. Dr. Luiz Fernando Gomes (UNISO/SP) (Lattes)
Profa. Dra. Milena Fernandes Oliveira (UNICAMP/SP) (Lattes)
Prof. Dr. Ricardo André Ferreira Martins (UNICENTRO-PR) (Lattes)
Prof. Dr. Romualdo Dias (UNESP/RIO CLARO/SP) (Lattes)
Profa. Dra. Thelma Lessa (UFSCAR/SP) (Lattes)
Prof. Dr. Victor Hugo Veppo Burgardt (UNIPAMPA/RS) (Lattes)
Prof. Dr. Eraldo Leme Batista (UNIOESTE-PR) (Lattes)
Prof. Dr. Antonio Carlos Giuliani (UNIMEP-Piracicaba-SP) (Lattes)
Paco Editorial
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Esta publicação é resultado direto da Tese de Doutorado defendida em março de 2018 no Instituto de Geociências da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) tendo como Orientador: Jonas Teixeira Nery.
Dedico este livro aos meus pais, Alfredo de Oliveira Lima (in memorian) e Therezinha Rodrigues de Oliveira Lima (in memoriam); à minha esposa Marinês Carneiro de Almeida; às minhas filhas Ana Maria Roland Rodrigues Lima e Helena Roland Rodrigues Lima; ao meu filho Francisco de Almeida Lima; ao neto Davi; à minha enteada Isabela Ito; à amiga Elizabeth Maldonado Roland; aos meus irmãos Antenilson Franklin Rodrigues Lima, Alexandre Lincoln Rodrigues Lima e Aguinaldo Rodrigues Lima. Por último, quero dedicar a todos que me acompanharam nesta trajetória de vida, não somente na vida profissional, mas também em todos os momentos de minha vida social e política. Finalmente, dedico ao povo brasileiro.
AGRADECIMENTO
Agradeço a todos que acreditaram nos meus sonhos e em especial às instituições que colaboraram para que esta obra se realizasse: WWF-Brasil, Observatório da Governança das Águas (em construção), Fundação Getúlio Vargas, Agência Nacional de Águas (ANA), Itaipu Binacional, Fórum Nacional de Comitês de Bacias Hidrográficas, O Nosso Vale! A Nossa Vida.
Agradeço aos colegas e amigos(as) do WWF-Brasil; Samuel Barreto, que abriu as portas para o tema da governança e ao Glauco Kimura de Freitas, que compreendeu e manteve esta discussão. Aos amigos, Gadelha Neto, Michel Santos, Fernando Caminatti, Tatiane Oliveira, Josiane Oliveira, Therezinha (in memoriam), Ivens Teixeira Domingues, Michael Becker.
Agradeço também ao grande amigo Marco Aurélio Rodrigues, que me ajudou muito na escolha da Unicamp, especialmente a Geografia para realizar esta obra.
Aproveito para agradecer à Geografia pela acolhida de um biólogo. Lamento não ter tido a oportunidade de aproveitar ainda mais o mundo acadêmico, pois foi desafiante trabalhar e ao mesmo tempo escrever este livro.
Agradeço muito especialmente ao meu orientador, Professor Dr. Jonas Teixeira Nery, que sempre me estimulou a continuar e sempre preocupado com o término de meu prazo.
Como esquecer de agradecer alguns amigos que durante um bom tempo estiveram presentes em minha vida e por isso agradeço aos amigos e amigas como Luiz Carlos Sérvulo de Aquino, Flávio Antônio Simões, Edilson de Paula Andrade, Cláudio Serrichio, Virgínia Arbex, Vera Lúcia Teixeira, Elio Gouveia (in memoriam); Ninon Machado de Leme Franco (in memorian), Mauri Pereira, Rosa Mancini, Rosana Garjulli, Fátima Casarin, Andrea Carestiato, Cacá Pitombeira e Viviane Nabinger.
Agradeço à instituição WWF-Brasil por ter me dado esta oportunidade de pesquisa e de compreender a importância da governança das águas.
Agradeço imensamente a toda rede de amigos e amigas dos Comitês de Bacias, uma das principais motivações deste livro, que é buscar colaborar com o aperfeiçoamento do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, para que ele tenha cada vez mais resultados.
"Essa água brilhante que escorre nos riachos não é apenas água, mas o sangue de nossos antepassados. Se lhes vendermos a terra, vocês devem lembrar-se que ela é sagrada e devem ensinar as suas crianças que ela é sagrada e que cada reflexo nas águas límpidas dos lagos fala de acontecimentos e lembranças da vida de meu povo. O murmúrio das águas é a voz de meus ancestrais.
Os rios são nossos irmãos e saciam nossa sede. Os rios carregam nossas canoas e alimentam nossas crianças. Se lhes vendermos nossa terra, vocês devem lembrar e ensinar a seus filhos que os rios são nossos irmãos e seus também. E, portanto, vocês devem dar aos rios a bondade que dedicariam a qualquer irmão".
Trecho da resposta do Cacique Seattle escrita em 1854 ao Presidente dos Estados Unidos – Frank Pierce, relativa à proposta de se comprarem as terras indígenas.
"Quede água? Quede água?
Quede água? Quede água?
Agora é encararmos o destino
E salvarmos o que resta
É aprendermos com o nordestino
Que pra seca se adestra
E termos como guias os indígenas
E determos o desmate
E não agirmos que nem alienígenas
No nosso próprio habitat.
Quede Água?"
Quede água, Lenine
SUMÁRIO
Folha de rosto
Dedicatória
Agradecimento
Lista de abreviaturas e siglas
Introdução
1. Objetivo
1. Cronologia da gestão de recursos hídricos no Brasil e no mundo
2. Compreendendo o que é governança
1. O que é governança das águas
3. A construção da política nacional de recursos hídricos
1. A bacia hidrográfica como unidade de planejamento
2. Os comitês de bacias hidrográficas: elemento-chave na governança das águas
4. A construção de um sistema de monitoramento da governança das águas por meio do observatório das águas
1. A construção de indicadores
2. O que são observatórios?
3. Observatório do Código Florestal
4. Observatório de Favelas
5. Observatório Socioambiental de Barragens
6. Observatório do Clima
7. Observatório Agricultura e Territórios
8. Observatório das Águas na Espanha
5. Resultados e discussão
1. Uma análise diferenciada por segmento – setor privado, poder público e sociedade civil
2. Análise global das respostas
6. Considerações finais e recomendações
Referências
Página final
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABRH – Associação Brasileira de Recursos Hídricos
ANA – Agência Nacional de Águas
Aneel – Agência Nacional de Energia Elétrica
APP – Áreas de Preservação Permanente
CAB – Programa Cultivando Água Boa
CAR – Cadastro Ambiental Rural
CBH-Doce – Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Doce
CBH-Paranapanema – Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Paranapanema
CBH-PCJ – Comitê das Bacias Hidrográficas dos Rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí
CEEIBH – Comitê Especial de Estudos Integrados de Bacias Hidrográficas
CEEIG – Comitê Executivo de Estudos Integrados da Bacia do Guaíba
Ceigram – Centro de Estudos e Pesquisa de Gestão da Agricultura e Riscos Ambientais da Universidade Politécnica de Madrid
CERH – Conselho Estadual de Recursos Hídricos
CI – Conservação Internacional
Cifal – Centro Internacional de Formação de Atores Locais
CIRSS – Congresso Internacional de Responsabilidade e Sustentabilidade Socioambiental
CNRH – Conselho Nacional de Recursos Hídricos
Codesvasf – Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco
COGERH – Companhia de Gerenciamento de Recursos Hídricos do CEARÁ
CPRM – Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais
CRH – Conselho Estadual de Recursos Hídricos
DGER – Direção-Geral de Educação e Pesquisa
DNAEE – Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica
DNOCS – Departamento Nacional de Obras contra Secas
DNPM – Departamento Nacional de Produção Mineral
ENCOB – Encontro Nacional de Comitês de Bacias Hidrográficas
FBOMS – Fórum Brasileiro de ONGS e Movimento Sociais para o Meio Ambiente e Desenvolvimento
Firjan – Sistema das Indústrias do Rio de Janeiro
Fonasc.CBH – Fórum Nacional da Sociedade Civil nos Comitês de Bacias Hidrográficas
GEE – Gases do Efeito Estufa
GWP – Parceria Mundial da Água
ICV – Instituto Centro de Vida
IDWA – Index Of Drinking Water Adequacy
IETS – Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade
Ifocs – Instituto Federal de Obras Contra as Secas
Igam – Instituto Mineiro de Gestão das Águas
ILA – Associação Internacional de Direito
IMF – Fundo Monetário Internacional
Ipam – Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia
Ippur – Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano Regional
ISA – Instituto Socioambiental
IWRA – International Water Resources Association
MAP – Ministério da Agricultura e da Pesca
Medad – Ministério do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
Minfra – Ministério da Infra-Estrutura
Minter – Ministério do Interior
MMA – Ministério do Meio Ambiente
MME – Ministério de Minas e Energia
OA – Observatório da água
OAT – Observatório Agricultura e Territórios
OCDE – Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico
ONU – Organização das Nações Unidas
OSCIP – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público
OTPA – Observatório Territorial das Práticas Agrícolas e Sistemas de Produção
PERH – Plano Estadual de Recursos Hídricos
PGRH/AP – Política de Gerenciamento de Recursos Hídricos do Estado
PNRH – Política Nacional de Recursos Hídricos
PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
PRAs – Programas de Regularização Ambiental
RAE – Repartição de Águas e Esgotos da Capital do Estado de São Paulo
Semad – Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável
Semam – Secretaria do Meio Ambiente da Presidência da República
SIGERH – Sistema Integrado de Gestão de Recursos Hídricos
SINGREH – Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos
SNDD – Estratégia Nacional de Desenvolvimento Sustentável
SRH – Secretaria de Recursos Hídricos
TCA – Tratado de Cooperação Amazônica
TNC – The Nature Conservancy
UFRJ – Universidade Federal do Rio de Janeiro
Unesco – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
WWAP – United Nations World Water Assessment Programme
WWC – Conselho Mundial da Água
ZEE – Zoneamento Econômico e Ecológico
INTRODUÇÃO
A ideia da Terra como um sistema vem sendo tratada desde os primórdios da civilização, porém esta visão só se tornou possível a partir das primeiras viagens espaciais, na década de 1960 (Lovelock, 1991). Atualmente, ainda existem resistências, teoricamente e pragmaticamente falando, sobre a ideia chave da Teoria de Gaia (Lovelock, op. cit.), que mostra um estreito entrosamento entre os elementos bióticos – as partes vivas do planeta (plantas, microorganismos e animais) e os elementos abióticos – as partes não vivas (rochas, oceanos e atmosfera).
Porém, vale ressaltar que a aplicação prática desta teoria ainda é insuficiente para dar conta dos desafios ambientais, mesmo considerando toda a história do homem, que está passando por mudanças na forma de ver o mundo. De uma abordagem mecanicista e cartesiana da realidade, vem evoluindo de forma bastante lenta para uma visão sistêmica e holística do ambiente no qual habita, onde em alguns casos existe uma visão que considera de forma interligada os fenômenos biológicos, sociais, econômicos e ambientais (Capra e Luisi, 2014).
Porém, ainda hoje impera o modelo de pensamento que ao longo dos séculos mantém o homem em relação a natureza como o ente predador e dominador. Por isso, atualmente ainda se vive a maior crise ambiental, um dos maiores desafios do Planeta, que é resultado deste modelo de desenvolvimento econômico predador que se tomou como paradigma, no qual os recursos naturais vêm diminuindo e comprometendo qualidade de vida e os sistemas econômicos.
A conexão entre a degradação do meio ambiente e o desenvolvimento econômico tem instigado um amplo debate na literatura acadêmica, principalmente, após a publicação do relatório The limits to growth (Meadows et al., 1972), no qual se destaca o fato de que a expansão contínua das economias capitalistas é, por hipótese, inconciliável com a sustentabilidade ambiental (Georgescu-Roegen, 1971).
A crítica que emergiu com a questão ambiental
na abertura da década de 1970, dirigiu-se ao modelo de desenvolvimento econômico vigente à civilização industrial
, apontando para um conflito entre crescimento econômico e preservação dos recursos ambientais.
De acordo com Leff (2010), uma das principais causas da problemática ambiental encontra amparo no processo histórico que insere a ciência moderna e a Revolução Industrial. A ecologia demanda ao materialismo histórico para explanar a produção de valores como decorrência do que é produzido de forma natural. É necessária uma reestruturação no que tange ao conceito de valor, renda diferencial e forças produtivas para que o processo produtivo entre em consonância com o meio natural.
Nesse cenário, assinalam Pereira e Horn (2009, p. 57), os limites ambientais devem ser vistos como parâmetros para que se gere um novo modelo de desenvolvimento – sustentável. Esse modelo deve afastar a premissa de que desenvolvimento sustentável se resume à simples economia de recursos naturais. Logo, esses limites não podem ser entendidos como decorrentes da insuficiência natural dos recursos para o atendimento das necessidades humanas. Eles devem ser entendidos na percepção de que a falta de tais recursos conduz ao indevido e destrutivo relacionamento do homem com a natureza, principalmente, quanto à produção de bens econômicos.
Nossos problemas relacionados à gestão das águas e do ambiente não se resumem somente aos políticos e epistemológicos. Segundo Leff (2010), também é a forma como se lida com os processos.
Os problemas relacionados com a água, um dos mais importantes recursos ambientais, não estão dissociados das relações históricas entre o homem e o meio ambiente e suas atividades produtivas, o que tem resultado uma grave crise ambiental no nosso planeta. Esta crise em que os recursos hídricos estão inseridos é decorrente do modelo de desenvolvimento adotado, no qual os recursos naturais estão escasseando, seja em qualidade, como em quantidade. Neste sentido, torna-se necessária uma mudança de concepção no modelo de desenvolvimento.
O Fórum Econômico Mundial que sempre trata dos riscos globais e a cada ano apresenta um relatório sobre os riscos mais significativos e de maior impacto a longo prazo em todo o mundo, baseando-se nas perspectivas de especialistas e tomadores de decisão globais. No relatório de 2015, aproximadamente, 900 especialistas participaram da Pesquisa de Percepção de Riscos Globais. Eles classificaram a crise de abastecimento de água como o maior risco de maior impacto que se anuncia no mundo atual. Além deste, outros grandes riscos relacionados a seus conflitos e conflitos interestatais, em termos de impacto, são: propagação rápida de doenças infecciosas, armas de destruição massiva e a falta de adaptação às mudanças climáticas (World Economic Forum, 2015).
Com um universo de pesquisados diferentes, em 2016 outros entrevistados colocaram a questão da água como o terceiro maior desafio para o desenvolvimento econômico, social e ambiental (World Economic Forum, 2016). Portanto, a gestão da água deve ganhar cada vez mais um caráter estratégico por parte dos tomadores de decisão, senão pelo menos dos setores privados, já que a escassez da água pode afetar diretamente os negócios de grandes grupos empresariais. Assim, a água é o recurso estratégico do século XXI e, acima disso, deveria ter sido de todos os séculos.
A água é um recurso vital e estratégico para o abastecimento humano e para o ecossistema aquático. Em alguns países, como a Austrália, em relação à prioridade da alocação de água, primeiro vem o abastecimento humano e em segundo o ambiente. A indústria e agricultura são os últimos.
A água pode ser considerada no âmbito de diversas funções, seja como solvente universal, componente bioquímico dos seres vivos, meio de sobrevivência para várias espécies vegetais e animais, elemento de valores sociais, culturais e estéticos, insumo na produção de bens e serviços de consumo intermediários e finais. Todo processo depende da água na sua mais ampla acepção, da indústria de produção de equipamentos à produção de alimentos, da produção de energia ao abastecimento da população.
Na gestão de recursos hídricos, são considerados dois tipos de usos: Usos Consuntivos e Usos não Consuntivos. Usos Consuntivos são aqueles que se referem aos usos que retiram a água de sua fonte natural diminuindo suas disponibilidades quantitativas, espacial e temporalmente. Já os usos não consuntivos são aqueles que se referem aos usos que retornam à fonte de suprimento, praticamente a totalidade da água utilizada, podendo haver alguma modificação no seu padrão temporal de disponibilidade quantitativa (Ana, 2011).
O ciclo todo da água é caracterizado por um fluxo permanente de energia e de matéria, estando ligado ao substrato e à vida. Essa visão sistêmica reúne Geologia, Geografia, Hidrologia, Biologia, Neurologia, Física, Química e outras disciplinas. Demonstra-se, dessa forma, que para entender o funcionamento do ciclo das águas necessita-se de uma diversidade de conhecimentos, assim como o caso da gestão das águas, que é complexa e requer, além do conhecimento técnico, o social, político, econômico e ambiental (Capra e Luisi, 2014).
Considerando a distribuição da água no planeta, a partir da Figura 1 é possível ter uma dimensão da quantidade de água existente.
Figura 1. Distribuição da ÁGUA DOCE no mundo
Fonte: EcoBebate (2015).
Contudo, mesmo verificando-se que há disponibilidade de água no planeta, os resultados da ação do homem, questões naturais e ausência de gestão, fazem com que algumas regiões enfrentem escassez. A Figura 2 demonstra a escassez de água no mundo.
Figura 2. Distribuição da escassez de água no mundo
Fonte: UOL Educação (2015).
As imagens apresentadas (Figuras 1 e 2) enfatizam a seriedade com que o mundo deve tratar a gestão das águas, já que a distribuição desse recurso não se apresenta de forma igual para todos os países, havendo locais onde a escassez é nítida. É fato que, por vezes, bacias chegam à escassez hídrica por ausência absoluta de gestão e de implementação de ações.
Devido à escala da Figura 2, apresentada uma escala macro, não aparecem os problemas de escassez no semiárido brasileiro e mesmo problemas de criticidade em outras regiões hidrográficas do Brasil, contudo sabe-se que esses problemas existem e são críticos.
Segundo Rebouças (1999), nos últimos 500 milhões de anos a quantidade de água na Terra se manteve praticamente a mesma. Porém, é possível dizer que sua distribuição se altera ao longo do tempo, especialmente por conta das variações climáticas. Exemplo disso é que, segundo os especialistas em mudança de clima, para cada 1º grau centítgrado de aumento na temperatura da Terra, a evaporação aumenta em 7%. Totalizam-se 1.386 milhões de km³, sendo que 97,5% dessas águas são salgadas. O restante, aproximadamente 2,5%, são de águas doces. Com relação a esta última tem-se que: 69,0% de toda a água doce é composta por geleiras glaciais, calotas polares e neves eternas, portanto não está disponível para o consumo humano; o restante disso, apenas 31,0% das águas doces, estão disponíveis nos rios e lagos para uso e consumo imediato e futuro, assim como compõem a umidade dos solos, vapor e águas dos pântanos. Ademais, acredita-se que menos de 1,0% de toda a água doce seja potável (Rebouças, 1999).
O Brasil possui uma área de 8.511.965 km², sendo um país rico em água, pois dispõe de 177.900 m³/s de descarga de água doce em seus rios, o