Contos sobre Verdade
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Sobre este e-book
Contém os seguintes contos de fadas:
- A roupa nova do imperador
- A rainha da neve
- João bobo
Hans Christian Andersen (1805–1875) era um autor, poeta e artista dinamarquês. Consagrado na literatura infantil, seus contos mais conhecidos são "A roupa nova do rei", A pequena sereia", "O rouxinol", "O soldadinho de chumbo", "A rainha da neve", "O patinho feio" e "A pequena vendedora de fósforos". Seus livros foram traduzidos para todos os idiomas. Nos dias de hoje, não há quem não conheça os fantásticos personagens de Andersen. Seus contos foram adaptados aos palcos e às telas inúmeras vezes, com maior destaque nos filmes de animação da Disney "A pequena sereia", em 1989, e "Frozen", que foi livremente baseado no livro "A rainha da neve" em 2013.
Graças à contribuição que Andersen fez à literatura infantil, o Dia Internacional do Livro Infantil é comemorado no dia do seu aniversário: 2 de abril.
Hans Christian Andersen
Hans Christian Anderson (1805–75) was a Danish writer, best known for his universally recognised children’s fairy tales, of which there are over 150. He also wrote plays, novels, poems and travel essays.
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Contos sobre Verdade - Hans Christian Andersen
Contos sobre Verdade
Original title:
Eventyr om sandhed
Translated by Pepita de Leão
Copyright © 2019 Hans Christian Andersen, 2021 Saga Egmont, Copenhagen.
All rights reserved
ISBN 9788726353853
1st ebook edition, 2021.
Format: Epub 3.0
No part of this publication may be reproduced, stored in a retrieval system, or transmitted, in any form or by any means without the prior written permission of the publisher, nor, be otherwise circulated in any form of binding or cover other than in which it is published and without a similar condition being imposed on the subsequent purchaser.
www.sagaegmont.dk
A roupa nova do imperador
Houve, há muitos anos, um imperador que não pensava senão em vestir roupas novas, e gastava tudo o que tinha em panos finíssimos. Não se importava com o exército, nem com o teatro; mas passar as suas tropas em revista, ouvir uma peça de teatro, ou dar um passeio de carro — tudo para ele eram pretexto para estrear novos trajes. Tinha uma casaca para cada hora do dia; e assim como se diz de um rei: Está na sala do Conselho
. O que se dizia dele era: O imperador está no seu toucador.
A grande cidade em que ele vivia era muito alegre e movimentada; todos os dias chegavam forasteiros. Um dia apresentaram-se dois malandros, dizendo que eram tecelões, e declararam que podiam tecer a tela mais fina que se possa imaginar. E não só as cores e os padrões eram de beleza fora do comum, mas — diziam eles— as roupas feitas daquele tecido tinham uma virtude extraordinária: tornavam-se invisíveis para toda e qualquer pessoa que ocupasse um cargo de que não entendia, ou que fosse irremediavelmente estúpida.
— Mas seria uma roupa admirável! — pensou o imperador. — Usando-a, eu posso descobrir os homens do meu império que ocupam cargos imerecidamente, e posso distinguir os sábios dos tolos. É assombroso! Preciso de uma roupa desse tecido imediatamente!
Deu, pois, aos dois meliantes, grande soma de dinheiro, para que se pusessem sem tardança ao trabalho. Os dois tecelões instalaram-se com seus teares, e fingiam-se muito atarefados. Pediam dinheiro, e mais dinheiro, para comparar a seda mais fina, o ouro mais precioso, e metiam tudo no bolso; punham-se então a fingir que trabalhavam com empenho nos seus teares, nos quais, entretanto não havia nada, nada! E assim entravam pela noite adentro,
— Ora, eu gostaria bem de saber em que pé vai o meu vestuário — disse consigo o imperador.
Mas imediatamente acudiu-lhe à lembrança que quem não fosse apto para o cargo que exercia não podia ver o tecido, e sentiu-se muito inquieto. Não que receasse não ver o pano, não! Por sua parte nada temia. Contudo, pareceu-lhe mais prudente, pelo sim, pelo não, mandar que um outro fosse lá ver como ia o trabalho. Todos na cidade sabiam que o tecido possuía aquela estranha propriedade; e cada um estava ansioso por ver até que ponto ia a inépcia ou a estupidez do vizinho.
— Vou mandar meu honrado primeiro ministro — disse consigo. — Poderá julgar da qualidade do pano, porque é inteligente, e ninguém desempenha melhor seu ofício do que ele.
E o bom velho ministro lá foi ter à sala onde dois cavalheiros de indústria manejavam os teares vazios.
— Louvado seja Deus! — disse consigo o velho ministro, arregalando os olhos. — Não vejo nada!
É claro, porém, que não o confessou.
Pediram-lhe os dois meliantes que chegasse mais perto, e desse sua opinião para os teares vazios. O coitado do ministro continuava a arregalar os olhos: não via nada, nada, porque nada havia ali, naturalmente.
— Misericórdia! — pensava lá consigo o velho servidor. — Serei assim tão estúpido? Sou pois indigno do meu cargo? Nunca imaginei tal coisa! E agora... não! Ninguém há de saber que não vejo o tecido!
E um dos tecelões, vendo que ele sacudia a cabeça perguntou:
— Então, senhor! Não diz nada a respeito do tecido?
— E... é muito lindo... é um encanto! — disse então o velho ministro, examinando o tear através dos vidros dos óculos. — O desenho é muito bonito, e... que cores! Sim, vou dizer ao imperador que estou encantado com o que vi.
— Estimamos muito que lhe agrade — disseram logo ambos os tecedores.
E iam indicando as cores, e explicando o estranho desenho. O velho ministro ouvi-os atentamente, para poder repetir aquelas minúcias ao imperador. E assim foi.
Os patifes pediram então mais dinheiro, para comprar seda e ouro. Meteram tudo no bolso e o tear continuava sem um fio — mas eles continuavam a trabalhar. Alguns dias depois despachou o imperador outro cortesão, para examinar o trabalho e ver se faltava ainda muito para estar pronto. E, como acontecera ao primeiro ministro, aquele nada