Encontre milhões de e-books, audiobooks e muito mais com um período de teste gratuito

Apenas $11.99/mês após o término do seu período de teste gratuito. Cancele a qualquer momento.

Política, Xenofobia e Islamofobia em Nicolas Sarkozy (2002-2012)
Política, Xenofobia e Islamofobia em Nicolas Sarkozy (2002-2012)
Política, Xenofobia e Islamofobia em Nicolas Sarkozy (2002-2012)
E-book197 páginas2 horas

Política, Xenofobia e Islamofobia em Nicolas Sarkozy (2002-2012)

Nota: 0 de 5 estrelas

()

Ler a amostra

Sobre este e-book

O livro Política, Xenofobia e Islamofobia em Nicolas Sarkozy (2002-2012) joga luzes sobre como Nicolas Sarkozy fez da imigração e do imigrado temas centrais do seu projeto de conquista e de exercício do poder, seja por meio do Ministério do Interior ou da Presidência da República. O autor demonstra em qual medida esse projeto de poder contribuiu diretamente para a consolidação de uma representação estigmatizada da figura do imigrante, visto, por exemplo, como a fonte de todos os males e riscos à identidade nacional, à segurança pública, à seguridade social, à laicidade do Estado, enfim, à integração social. Ao se dedicar ao estudo do discurso político e das inúmeras ações institucionais de Sarkozy, a obra coloca em evidência que os imigrantes de confissão muçulmana ocupam aí lugar de destaque, sejam eles provenientes do continente africano ou não. Além do peso da questão religiosa, o autor revela a preponderância do preconceito e da discriminação para com os imigrantes vindos das ex-colônias francesas da África e para com aqueles que se deslocam internamente à União Europeia, em especial provenientes da Romênia e da Bulgária, por Sarkozy denominados como "roms". A partir de um diálogo profícuo entre a História e as Ciências Sociais, o livro traz à tona uma discussão de absoluta contemporaneidade. Demonstra que a maior parte dos países da Europa que acolheram imigrantes durante o último decênio respondeu a esse fenômeno por meio de um "processo de integração" às suas regras jurídicas e culturais. Mas revela também que muitos adotaram medidas severas com o objetivo de encerrar a imigração, dado considerarem-na uma ameaça à sua história, à sua concepção de identidade nacional e ao seu território. Voltando o seu olhar analítico para o caso da França, o autor explica como as contradições da sociedade francesa se revelam complexas, como são instrumentalizadas politicamente por partidos de direita e extrema direita e como atuam enquanto fatores que dificultam o processo de integração do imigrante à sociedade. Coloca na ordem do dia a reflexão sobre uma forte tendência nacionalista que pretende promover a assimilação dos imigrantes, despersonalizando-os e desconsiderando-os em suas diferenças culturais.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento23 de nov. de 2021
ISBN9786525009490
Política, Xenofobia e Islamofobia em Nicolas Sarkozy (2002-2012)

Relacionado a Política, Xenofobia e Islamofobia em Nicolas Sarkozy (2002-2012)

Ebooks relacionados

Ciências Sociais para você

Visualizar mais

Artigos relacionados

Avaliações de Política, Xenofobia e Islamofobia em Nicolas Sarkozy (2002-2012)

Nota: 0 de 5 estrelas
0 notas

0 avaliação0 avaliação

O que você achou?

Toque para dar uma nota

A avaliação deve ter pelo menos 10 palavras

    Pré-visualização do livro

    Política, Xenofobia e Islamofobia em Nicolas Sarkozy (2002-2012) - Cândido Moreira Rodrigues

    Candido.jpgimagem1imagem2

    COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO CIÊNCIAS SOCIAIS

    Para Daniela, Sofia e Thales,

    por me acompanharem em mais esta jornada pela História!

    AGRADECIMENTOS

    Esta obra é fruto de estudos entre a França e o Brasil, primeiramente durante o estágio pós-doutoral com Alexandre Fernandez na Universidade Bordeaux-Montaigne, realizado com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Em seguida, naqueles desenvolvidos na Universidade Federal de Mato Grosso. Na Bordeaux-Montaigne, agradeço a hospitalidade de Michel Figeac, Jean-Pierre Moisset e Nicolas Champ.

    O gérmen do que viria a se tornar este livro foi fruto dos diálogos com o mestre e amigo Milton Carlos Costa, a quem devo muito profissionalmente.

    Pelo percurso dos debates travados e pela leitura rigorosa dos originais, agradeço à amiga e historiadora exemplar Isabelle Clavel.

    Para além de todos aqueles que um dia estiveram, ou ainda estão, na condição de imigrantes, registro aqui um agradecimento especial aos companheiros de viagem em solo francês, Sylvain, Françoise, Vinícius, Susan, Fred, Mércia, Luis, Felipe, Mariana, Damien, Daniela e Aline.

    Nada é mais simples para as pessoas do que tratar o que é diferente o apresentando como perigoso e aterrorizante e o reduzindo finalmente a certos clichês.

    (Edward W. Said)

    PREFÁCIO

    É de longa data a cooperação franco-brasileira no domínio da pesquisa universitária. Talvez possamos demarcar os primeiros contatos entre os dois países em meados dos anos 1930, quando um conjunto de professores franceses cooperam com a criação da Universidade de São Paulo¹. O historiador Fernand Braudel, herdeiro da Escola dos Annales, participa dessa missão tal qual o grande etnólogo estruturalista Claude Lévi-Strauss. O primeiro descreve o Brasil como um paraíso para a reflexão ². Ele sente-se, então, livre dos pensadores acadêmicos franceses cuja escola metódica de Langlois e Seignobos³ impede-o de bem desenvolver o seu projeto de tese sobre o Mediterrâneo⁴, por isso ele considera então escrevê-lo como uma síntese de história total. A anedota nos demonstra não somente que as trocas entre o Brasil e a França foram sempre fecundas cientificamente, mas igualmente que o historiador, e com ele a ciência histórica, beneficiam-se em descentralizar, deslocalizar e desnacionalizar o seu olhar.

    Este livro, produto de uma pesquisa que tive o prazer de acompanhar a evolução, inscreve-se, sem dúvida alguma, nessa longa história das colaborações fecundas entre o Brasil e a França. O olhar de Cândido Rodrigues sobre o tempo inacabado⁵ da história política da França contemporânea nos obriga a nos olharmos no espelho e a vermos as coisas como realmente são. Como lembra Paul Ricoeur, a história do tempo presente é exigente, pois obriga a um diálogo com as outras ciências sociais e à prática da comparação. O historiador sabe, também, a que ponto a sua objetividade é frágil. Mesmo não se reduzindo a história do tempo presente a um empreendimento subjetivo, o eu do historiador entra forçosamente em ressonância com o seu objeto de estudo e obriga-o a conhecer-se a si próprio. Este conhece-te a ti próprio, que poderíamos tomar emprestado de Sócrates, não é a propósito uma precaução que somente os historiadores do très contemporain devem tomar. Cada pesquisador deve se interrogar a respeito do que é, de onde fala e das razões pelas quais escolheu trabalhar sobre determinado objeto de estudo e não outro. Quanto ao historiador do tempo próximo, ele deve inevitavelmente se interrogar sobre a parte nacional ou mesmo continental de sua visão histórica. Aqui, o empreendimento de Cândido Rodrigues possui a virtude de ser desnacionalizado e de não estar envolvido diretamente na vida política francesa como cidadão ou eleitor.

    Nossas nações, por vezes estreitas em suas lógicas, têm todo interesse em deixar ao olhar estrangeiro o cuidado de se revelarem algumas verdades, mesmo e especialmente as perturbadoras. Foi o que fez em 1966 o historiador americano Roberto Paxton em sua tese Parades and Politics at Vichy. The French officers Corps under maréchal Pétain, a qual somente vem a público na França em 1972 sob o título La France de Vichy. No momento da publicação, o trabalho de Paxton provoca um pequeno terremoto, pois ele demonstrava que fora o regime do Marechal Pétain que havia procurado colaborar com o III Reich, e não que esta colaboração houvesse sido uma exigência alemã. Os historiadores franceses não haviam abandonado o estudo do regime de Vichy, mas o clima nacional não os havia permitido serem tão audaciosos em seus propósitos. Paxton havia conseguido, por seu turno, sem pudor, sem medo de trair sua nação ou em razão de qualquer processo de reconciliação nacional, fornecer um retrato justo desse período. Assim, o tratamento do tempo próximo necessita, por vezes, de desnacionalizar o processo histórico, o que o autor desta obra faz com inteligência.

    Além de uma vasta e rica bibliografia que permite um olhar em perspectiva teórica sobre a imigração na França, Cândido Rodrigues dedicou atenção à ascensão de Nicolas Sarkozy ao poder e às condições que permitiram tal percurso até a presidência da República em 2007. Este estudo revela como o tema da imigração, aliado ao da segurança e do islã constituíram-se em pedras angulas da eleição de Nicolas Sarkozy. Esse fato certamente não foi por si só condição suficiente, mas constituiu uma das receitas do seu sucesso eleitoral. Nesta pesquisa, o foco sobre um período relativamente curto⁶ (2002-2012) tem a virtude de analisar as características da direita francesa e as complexas recomposições do cenário político. É preciso observar que, apesar dos sucessos eleitorais e políticos de Nicolas Sarkozy, ao ponto de identificarmos um sarkozysmo, ele não reuniu condições para se reeleger a função maior da V.a República, contrariamente à grande parte dos seus predecessores: o General de Gaulle, François Mitterrand ou Jacques Chirac. Muito além do período das funções governamentais e do mandato presidencial, esta obra questiona a respeito da natureza do sarkozysmo dentro do quadro das direitas francesas teorizadas por René Rémond, mas utilmente complementadas pelos trabalhos de Zeev Sternhell et Michel Winock. O autor teve sucesso em demonstrar que as temáticas da direita fascista penetraram amplamente os discursos políticos contemporâneos. Por estratégia eleitoral e pela cultura política, Nicolas Sarkozy contribuiu para tornar muito porosa a barreira que existia entre a direita republicana e a extrema-direita. Se ele conseguiu canalizar o voto dos potenciais eleitores do Front national⁷ em 2007, ele igualmente erigiu as temáticas da imigração e do islã como centrais no discurso político. Mas o que resta hoje do sarkozysmo ? Qual a sua importância no cenário político francês ? A série de derrotas de Nicolas Sarkozy, da disputa presidencial de 2012 contra o candidato socialista François Hollande, passando por sua perda de poder no seio do partido Les Républicains⁸ contra o seu antigo ministro François Fillon (que o impede de apresentar-se à corrida presidencial de 2017⁹), incluindo os diferentes processos judiciais em andamento¹⁰, parecem tê-lo definitivamente deixado de fora da corrida às eleições presidenciais. Dificilmente há sarkozysme sem Nicolas Sarkozy, mesmo que alguns tentem imitar o antigo mentor¹¹. Por outro lado, as temáticas da imigração e do islã persistem como questões centrais das futuras disputas eleitorais num contexto extremamente tenso desde 2015. Alvo de atentados terroristas cometidos em nome do islã¹², uma parte da sociedade francesa se tornou mais receptiva às teorias islamofóbicas defendidas pelo Rassamblement national¹³ e sua banalização penetrou de certo modo nos discursos políticos da direita conservadora.

    Há um ano das eleições presidenciais de 2022, os diques republicanos parecem bem frágeis. A eleição de Emmanuel Macron em 2017 de certa forma recompôs a paisagem política francesa, relegando a um segundo plano os antigos grandes partidos republicanos, o Partido Socialista para a esquerda, e os Républicains para a direita, que se haviam até então sucedido no poder numa clássica alternância democrática. Posicionado à centro-direita, Emmanuel Macron fez de Marine Le Pen sua principal adversária. As últimas sondagens não vislumbram outros duelos entre ambos. Desde 2002 e a primeira irrupção do Front national ao segundo turno da eleição presidencial, o eleitoral francês sempre se mobilizou dentro de um front republicano cujo objetivo era, sob todas as circunstâncias, o de fazer frente à extrema-direita. Tendo como pano de fundo uma crise sanitária ligada à pandemia de coronavírus, somada a uma crise econômica e social que fragiliza toda a sociedade francesa, esse front conseguirá resistir? Enquanto as experiências populistas multiplicaram-se no mundo há alguns anos: de Viktor Orbán na Polônia, passando por Donald Trump nos Estados Unidos, até Jair Bolsonaro no Brasil, a ameaça de uma inclinação da França à extrema-direita nunca foi tão forte.

    A obra de Cândido Rodrigues nos permite um olhar mais claro e global sobre os demônios da França e sobre a fragilidade das democracias no mundo.

    Isabelle Clavel

    Doutora em História Contemporânea

    Université Bordeaux Montaigne

    REFERÊNCIAS

    BRAUDEL, F. La Méditerranée et le monde méditerranéen à l’époque de Philippe II. Paris: A. Colin, 1949.

    LEFEBVRE, J. P. Les professeurs français des missions universitaires au Brésil (1934-1944). Cahier du Brésil contemporain, [s. l.], n. 12, 1990.

    RICOEUR, P. Temps et récits. Paris: Seuil, 1983-1985.

    Sumário

    INTRODUÇÃO

    CAPÍTULO I

    UM RECUO NECESSÁRIO: A DIMENSÃO HISTÓRICA DA IMIGRAÇÃO NA FRANÇA

    CAPITULO II

    A TENTAÇÃO FASCISTA: SARKOZY ENTRE A DIREITA E A EXTREMA DIREITA

    CAPÍTULO III

    ENRAIZAMENTO HISTÓRICO: O IMIGRANTE VISTO COMO AMEAÇA À IDENTIDADE NACIONAL E À SEGURANÇA

    CAPÍTULO IV

    O PRESENTE E A SUA ESPESSURA HISTÓRICA: SARKOZY E HORTEFEUX NO MINISTÉRIO DO INTERIOR (2002-2012)

    CAPITULO V

    O CONTEMPORÂNEO NA DURAÇÃO:

    OS ESTEREÓTIPOS DO IMIGRANTE NOS DISCURSOS DE DAKAR E DE GRENOBLE

    CONSIDERAÇÕES FINAIS

    REFERÊNCIAS

    INTRODUÇÃO

    Mas a verdade é que muitos franceses vêem na imigração uma ameaça para sua segurança, seu emprego, seu modo de vida, para a preservação dos valores aos quais são vinculados, para a unidade e a coesão nacional. Seria absolutamente irresponsável ignorar está angústia. Temos o dever de dar uma resposta, pela palavra e pelos atos. (Nicolas Sarkozy, 11/12/2006)¹⁴

    Para Serge Wolikow, a história do tempo presente constitui-se uma forma de fazer história que ocupa há tempos um lugar de destaque na historiografia e que já produziu resultados notáveis, com destaque para o crescimento progressivo da competência da disciplina histórica desde fins dos anos 1980. Wolikow sugere caminhos e possibilidades a serem seguidos pelo historiador contemporâneo face aos desafios do seu métier, com a necessidade de levar à frente as pesquisas para além das aparências, estudando também as representações e os fenômenos subjetivos. Recomenda igualmente o recorte e a análise de variadas fontes de informação e, sobretudo, evitar estar preso numa visão linear da história¹⁵.

    René Rémond, igualmente, demonstrou que

    Está gostando da amostra?
    Página 1 de 1