Léon Denis na intimidade
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Léon Denis na intimidade - Claire Baumard
CIP - BRASIL - CATALOGAÇÃO-NA-FONTE
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ.
B341L
Baumard, Claire, 1872-1961.
Léon Denis na Intimidade / Claire Baumard; [tradução Albertina Escudero Sêco]. — 1.ed. - Rio de Janeiro : CELD, 2016.
240 p.; 14 x 21cm.
ISBN: 978-85-7297-563-6
1. Denis, Léon, 1846-1927. 2. Espíritas - França - Biografia. 3. Espiritismo - História. I. Título
CDD: 920.91339
11-5066.
CDU: 929:133.9
LÉON DENIS NA INTIMIDADE
Título do original francês: Léon Denis Intime
Claire Baumard
1ª Edição: junho de 2016;
1ª tiragem, do 1º ao 3º milheiro.
Tradução:
Albertina Escudero Sêco
Capa e diagramação:
Marcelo Domingues
Revisão:
Teresa Cunha
Arte-final:
Luiz de Almeida Junior
Produção de ebook:
S2 Books
Para pedidos de livros, dirija-se ao
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Remessa via Correios e transportadora.
Todo produto desta edição é destinado à manutenção das obras sociais do Centro Espírita Léon Denis.
Sumário
Capa
Ficha catalográfica
Folha de rosto
Créditos
Olhares discretos sobre a Intimidade de Léon Denis
Prefácio
Introdução
Primeira Parte
1. O homem, sua casa
2. Suas lembranças de infância, sua devoção filial
3. Seus dons
4. O escritor, o moralista
5. Sua correspondência
6. Seus visitantes
7. Suas distrações: a leitura, as viagens, a música
Segunda Parte
8. Algumas sessões na casa de Léon Denis
9. 1925: o Congresso de Paris
10. 1926-1927: O Gênio Céltico... Os últimos dias da vida do Mestre
Anexo de fotos
Anexo de fotos
•———————— • • • • • • • • • • • • • • • • • • •
Olhares discretos sobre a Intimidade de Léon Denis
Amigos leitores,
É um privilégio poder estar aqui participando da chegada às mãos de novos e velhos amigos do mestre de Tours, o relato delicioso que Claire Baumard faz da intimidade de Léon Denis em seus últimos anos, aqueles dos quais ela participou na qualidade de sua secretária.
Como os leitores poderão perceber, mademoiselle Baumard nos convida a adentrar a casa de Denis e presenciar, respeitosamente, alguns momentos da intimidade do velho mestre. São momentos delicados, escolhidos pelo aspecto inspirador e edificante, contados com transbordante ternura.
Aceitemos o seu convite, sua intenção carinhosa de aproximar os leitores do ser humano por trás do filósofo, do poeta, e lancemos, de nossa parte, alguns olhares discretos sobre a figura do nosso patrono, compartilhando também um pouco do que temos aprendido e vivido em nossa
intimidade com Denis...
Primeiro Olhar — Nossa Intimidade com Léon Denis
A intimidade de Léon Denis com o CELD remonta ao grupo inicial, fundador da Casa Espírita, que, este ano, comemora seu cinquentenário, quando, então, já se manifestava através da mediunidade de nosso inesquecível presidente.
Anos depois da fundação do CELD, há bons 25 anos, fui apresentada pelo Altivo a Léon Denis nos seguintes termos: Estudando Léon Denis você irá fazer um poderoso amigo na espiritualidade
.
Não sabia na época o que isso significava, mas gostei da promessa, afinal, quem não quer um poderoso amigo na espiritualidade?
Dada a minha insuficiência, àquela época, de conhecimentos sobre Denis, para dar conta da tarefa, reuni um grupo interessado e partimos em busca de estudar a vida e a obra do Patrono de nossa Casa.
Não havia, então, no CELD, nossa querida Editora, e alguns livros importantes achavam-se esgotados. Íamos conseguindo, aos poucos, velhos exemplares com os amigos, em sebos e até exemplares em espanhol. Claire Baumard foi nossa companheira naqueles tempos, agora longínquos, através do seu livro cuja edição antiga exibia, na capa, um velho portão de ferro que se abria para um campo de girassóis, e nós, por ele entrávamos e nos encantávamos com seus relatos.
O curso inicial, que abrangia a vida e a obra de Léon Denis, foi se multiplicando em novos grupos de estudos de obras específicas como o Depois da Morte, O Problema do Ser..., Cristianismo e Espiritismo, No Invisível, O Grande Enigma e Espiritismo na Arte. O círculo dos primeiros amigos foi se ampliando mais e mais, envolvendo todos os que iam chegando esperançosos, já conhecedores ou não da obra do Patrono.
Depois dos cursos vieram os Encontros sobre a vida e a obra de Léon Denis, os chamados EEVOLD. Este ano de 2011, tivemos nossa 24ª edição do EEVOLD e mais uma vez pudemos ampliar o círculo inicial, de amigos dos dois planos da vida, reunidos em torno do pensamento denisiano. Nos Encontros, amigos novos e antigos se reúnem, a cada ano, em torno de textos preciosos que nos ensinam a ampliar nosso olhar, nossa inteligência, nosso sentimento, nos elevam o espírito a alturas inesperadas com suas palavras cheias de entusiasmo e energia.
• • •
A criação de nossa Editora tornou possível transformar em livros os estudos dos Encontros. Os livros, assim como as transmissões pela Internet, nos permitiram ir mais além, ampliando o círculo que agora cresce a cada dia, alcançando mais e mais amigos, que chegam, encantados, de todos os lugares do mundo.
Bom, se o objetivo de mademoiselle Claire era nos tornar íntimos de seu mestre, posso dizer, por experiência pessoal, que ela foi bem-sucedida.
Hoje me delicio ouvindo os companheiros falarem o Léon pra cá, o Léon pra lá, ou então, o velhinho
, todas formas muito carinhosas de chamá-lo! Tenho uma sensação de missão cumprida e acredito que Claire Baumard e Altivo também tenham.
E o que nos faz falar em Denis, o grave apóstolo, o filósofo, o poeta do Espiritismo assim com tanta sem-cerimônia? Em parte porque ele faz em seus textos este movimento direto, afetivo, em direção aos corações de seus leitores, em parte porque o vamos sentindo presente em nossos trabalhos e até na vivência dos nossos problemas pessoais quando sua voz, cheia de amor e energia, ecoa em nossos espíritos dizendo:
Oh! Homem. Oh! Meu Irmão! Tu que me ledes!
(...)
Como me anunciara Altivo ganhei, de fato, um poderoso amigo na espiritualidade. Todos ganhamos!
Segundo Olhar — A Intimidade de
Denis e Kardec
Muitas pessoas poderão estar iniciando sua intimidade com Denis ou com a própria Doutrina Espírita, por este livro. Certamente, será um belo começo, e muitas poderão pensar, como eu pensei um dia, que o nome Léon Denis se tratasse de mais um pseudônimo do professor Hippolyte Léon Denisard Rivail, uma vez que como o leitor pode observar, seu nome está incluído no de Kardec. Não é. Trata-se, talvez, de um sinal da intimidade existente entre estes dois espíritos que, membros atuantes de valorosa equipe espiritual, vêm atuando pela evolução da alma humana, encarnando de tempos em tempos em missões solidárias.
Vejamos alguns paralelos...
Sabe-se que o espírito que encarnou em Lyon, recebendo o nome de batismo Hippolyte Léon Denizard Rivail, tornou-se aluno de Pestalozzi de quem recebeu o treinamento didático que mais tarde se mostraria fundamental à monumental obra da Codificação da doutrina dos espíritos. Certa feita, em conversa com seu amigo espiritual Zéfiro, o professor Rivail, teve a revelação de ter sido um druida, entre os celtas da Escócia onde teria se chamado Allan Kardec, nome que passa a adotar em suas obras e à frente do movimento espírita. Algum tempo depois, estando já a Doutrina Espírita codificada em suas obras básicas, entra em cena Léon Denis, amante fervoroso dos estudos célticos, que se revela um verdadeiro bardo, ou seja, aquele dentre os druidas, particularmente, hábeis na conversão dos princípios da doutrina em textos poéticos, que recitavam de memória para o conhecimento de todos. Assim, Denis, o bardo, passa a usar a sua veia poética para divulgar a amada Doutrina Espírita em suas palestras e livros.
Denis, reencarna na Alsácia-Lorena, descobre a doutrina aos 18 anos e torna-se espírita de pronto e na sequência, seu apaixonado propagandista. No decorrer de sua missão depara-se com o anúncio da presença espiritual junto a ele de Jerônimo de Praga, denunciando a associação existente entre eles para o esclarecimento das almas, nos movimentos que precederam a Reforma Protestante, que surgiu em oposição à corrupção que se instalara na Igreja de Roma, pondo em perigo os princípios ensinados pelo Cristo.
Jerônimo havia ido à Inglaterra onde conheceu os escritos entusiásticos de John Wicliffe bem como os relatos de seus discursos veementes, contra os excessos da Igreja de Roma, que ainda ecoavam em Oxford. Contagiado pelas ideias de Wicliffe volta ao seu país, a Boêmia, onde compartilha suas ideias com Jan Huss seu amigo de infância.
Revelações que constam de documentos particulares da Sociedade Espírita de Paris dão conta de que os espíritos teriam revelado a Kardec que além de sua encarnação como druida, teria vivido como Jan Huss na Boêmia. Tal revelação nos permite, olhando para estas vidas interligadas, concluir que Léon Denis, pelos dons indiscutíveis da oratória e da escrita veemente, tenha sido, naquele momento da pré-Reforma, ninguém menos que John Wicliffe!
Ampliemos um pouco mais nosso olhar na intimidade do Denis missionário da verdade. Os biógrafos de Denis nos darão notícia de que além de Jerônimo, Denis tinha outro guia espiritual, que se ocultou por longo tempo sob os nomes de Sorella e Espírito Azul, que afinal se revelou como Joana d’Arc. Joana cuja pequena imagem Denis mantinha em sua mesinha de cabeceira e que se mostrava já desgastada no ponto em que ele costumava pousar as mãos.
Será que poderíamos perceber — a presença de Kardec, Denis e Jerônimo de Praga — no momento da missão de Joana d’Arc? Vamos ousar um pouco? Afinal, estamos entre amigos!
Joana d’Arc, jovem pastora analfabeta, ergue-se como líder guerreira que viria a garantir a continuidade da herança cultural francesa indispensável ao posterior advento do Consolador prometido. Na obra de Léon Denis e nos relatos de seus biógrafos acham-se registrados de forma enfática, a forte ligação entre Joana, Denis e a Doutrina Espírita. Ele mesmo intui ter estado presente junto à Joana, no plano físico, na Guerra dos Cem Anos. Tal momento tão crucial para o futuro do Consolador, com Denis encarnado, certamente foi acompanhado, de qualquer plano de existência, por Kardec e Jerônimo sob identidades por nós desconhecidas.
Com os valores do Cristianismo e do celtismo preservados, no momento próprio, no lugar escolhido, retornam Kardec, Denis, Jerônimo de Praga, Joana d’Arc, e numerosa falange. Kardec vem com a missão de reunir num corpo de doutrina as mensagens espirituais que se multiplicavam e que sem o seu concurso didático teriam ficado sem-proveito. Denis vem bem mais tarde, com uma finalidade estratégica clara: ficar no leme após a partida de Kardec para o plano espiritual, a fim de garantir que a Doutrina Espírita chegasse ao maior número possível de pessoas, preservada em sua pureza original. Jerônimo e Joana apoiam do plano espiritual. Kardec vem para codificar e Léon Denis para divulgar e conduzir.
Com apenas 18 anos, o jovem operário, encontra o Codificador em pessoa quando este visita Tours para fazer uma palestra. Terão se reconhecido como missionários de uma causa comum?
Não sabemos. Sabemos apenas que estes espíritos e suas missões em prol da Verdade, se solidarizam ao longo de suas vidas e de nossas vidas, em momentos gloriosos que o nosso olhar míope
apenas consegue vislumbrar.
Terceiro Olhar — A Intimidade de
Denis e Tours
Um belo dia, bons 20 anos depois do início dos meus estudos denisianos, me vi em Tours, procurando pelas ruas as marcas do mestre. Devido ao pouco tempo e ao meu francês sofrível quase nada encontrei. Mas o que encontrei me encheu o coração e me fez perceber a presença dele, alegre e indulgente com as minhas limitações. Cada hora em Tours foi um presente.
Contemplar o rio Loire correndo lento sob a velha ponte, como ele mesmo deve ter feito. Quando entrei na catedral medieval, onde ele, certamente, muitas vezes deve ter estado meditando, sentei-me e respirei profundamente o ar frio. Deixei-me ficar lá sentada, deliciando-me com os reflexos do vitral colorido no piso de pedras que ele, certamente, pisou, com a sensação de que o mestre me mandaria algum sinal de sua presença quase palpável. Quase desmaiei de emoção quando alguém começou a tocar o órgão e os sons solenes encheram o ambiente.
Saí dali em busca de mais sinais...
Entrei na Gare, a bela estação ferroviária na qual Léon Denis, entre tantas outras oportunidades, na sua vida de propagandista da Doutrina Espírita, embarcou aos 79 anos para presidir o Congresso Espiritualista em Paris, na companhia de seu filho espiritual Gaston Luce. Foi na Gare, olhando encantada e tirando fotos de cada recanto que me ocorreu o pensamento sobre como teria sido aquele lugar ao tempo de Denis. Foi pensando nisso, caminhando a esmo sob a cúpula envidraçada, que me deparei com uma banca de jornais, na qual estavam em exposição fotos de Tours, da época em que Léon Denis lá viveu. Comecei a pensar que definitivamente tinha um companheiro invisível de viajem e passei a perguntar aonde mais ele queria me levar.
Procurei visitar lugares onde ele teria estado em suas andanças pela cidade.
Assim abandonei o mapa e fui caminhando, apreciando a arquitetura dos prédios, as árvores..., aí cheguei ao jardim Probendes D’Oe, que era próximo à sua residência, visível de sua janela ( a casa não existe mais) . Lá, ele passeava nas estações amenas e conversava com velhos amigos. Pareceu-me o jardim mais bonito do mundo. Lá fiquei horas esquecidas contemplando as hortênsias de todas as cores, os tanques de patos e cisnes, as esculturas e parecia que ia vê-lo entrar a qualquer momento e sentar-se ao meu lado. Mas onde a experiência de sua presença na cidade foi mais tocante foi quando visitei o túmulo no cemitério La Salle. Eu e meu marido subíamos, com esforço, a íngreme ladeira sob o sol quente, depois de havermos já caminhado muito pela cidade. A cada curva da ladeira esperávamos ver a entrada do cemitério, mas víamos uma nova extensão de rua e mais uma curva adiante. Estávamos pensando em desistir quando surgiu à nossa frente (literalmente surgiu), uma senhorinha, magrinha, baixinha, os cabelos como um halo branco em torno da cabeça, que parecia ter saído de um filme francês : calças fuseu, écharpe no pescoço, exalando sofisticado perfume e o