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Medo de mim
Medo de mim
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E-book42 páginas35 minutos

Medo de mim

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Sobre este e-book

O autor filipe-ricardo escreve um conto que é breve, vagaroso, mas que por vezes tem o poder de nos dilacerar e ferir pela sua inocente verdade. Ele narra o corte brutal que a sociedade faz aos nossos sonhos, à nossa capacidade de fugir e sonhar. Perdem-se os sonhos; perde-se a solidão perscrutante, e perdem-se as centelhas da vida. Francisca perdeu-se a si própria e perdeu tudo aquilo que a distinguia dos outros que tinha à sua volta. de vez. numa só vez. a terra engoliu-a.
IdiomaPortuguês
EditoraGato-Bravo
Data de lançamento24 de set. de 2020
ISBN9789898938107
Medo de mim
Autor

filipe-ricardo

filipe-ricardo nasceu em 1978, um tempo de recordações, de lembranças radiantes, que tantas e tantas vezes insiste em sonhar e trazer para a frente. Hoje corre, brinca, cresce, é feliz, é infeliz, estuda, ama letras, adora palavras, estuda línguas e literaturas, ama, ama, e ama a vida.

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    Medo de mim - filipe-ricardo

    terra fria

    sinto-me casta, estéril,

    agarrada a este verde pasto sem presto.

    tolhida, apagada e colada, e até quando ensopada

    neste verde prado já desgasto e indigesto.

    tomba-me um contador da vida, parco, funesto

    e que não para de me soprar. fico agitada, irritada,

    até que vontade me dá de o largar mil,

    deitá-lo fora ou rasgá-lo como doce til.

    sei que acabar vou por ir,

    um dia, num dia sem dias,

    onde já nem as forças terão nome para fugir

    e quando já ninguém tiver vontade de me bulir.

    e parto sem pernas nem braços.

    para cima só de tronco firme

    e para outro verde pasto, onde minha árvore

    preta que me espeta se deseja encontrar verde como vime. vaguearei e acordarei nua, mas sublime,

    e gelada, mas contigo, para ver as minhas flores de árvore preta desabrochar a cantar aos laços,

    a mim, só contigo, em teus regaços.

    dentro. dentro da luz

    a minha amiga francisca é aquela que ali está. é aquela que está sentada mesmo ali à frente, ali, naquele banco de jardim. não sei se a consegues ver daqui, mas ela está perto daquelas árvores muito altas. aliás, estupidamente altas, diria mesmo gigantescas. não sei se a consegues ver, mas ela está na direcção daquele hibisco vermelho ali ao fundo, perto daquelas enormes faias. é aquela que está de costas voltadas para nós, sentada naquele banco de jardim verde que está mesmo ao lado daquelas faias de tronco grosso. grosso e tão tosco que adivinho que terão certamente mais anos que a sabedoria do meu velho avô.

    ela está sentada ali para aqueles lados. e por sinal, até vejo que ela repousa tranquilamente naquele verde banco de jardim. bom, que de verde, em boa verdade se diga, já quase que nada tem, de tantas navalhadas que os miúdos da escola ali ao lado lhe vão dando. e no verde dos bancos ficam riscavalhados, é uma mistura de riscados com navalhados, para sempre, os seus nomes abreviados, como se fossem um código secreto de restrito entendimento, corações, setas que furam os perfeitos corações de um lado ao outro, os nomes das suas inocentes namoradas e muitos, mas mesmo muitos, amo-te. até que tudo passa. até que o tempo passa. até que tudo muda.

    este jardim é gigantesco. é um imenso bosque de intensa cor azul metido aqui mesmo no meio desta grande cidade. tem dezenas, talvez centenas de árvores muito grandes, algumas delas já centenárias, como estas faias que estão perto do banco verde onde francisca está a descansar. tem pequenas ruelas, muito estreitas, lá pelo meio. ruas e mais ruas, um emaranhado de ruas tão grande que mais parece um pequeno labirinto. e tem recantos com relva. e tem bonitos canteiros com muitas espécies de árvores, de flores, de arbustos e, até de cactos de toda a espécie e feitio. até tem um pequeno lago com peixes. e ainda um outro com uns patos brancos que por

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