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Ensaio para pisar no céu
Ensaio para pisar no céu
Ensaio para pisar no céu
E-book166 páginas2 horas

Ensaio para pisar no céu

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Sobre este e-book

Esta obra narra situações vividas num reles cotidiano, mas que não cabem numa única existência. Assim, urgências plenas de lucidez questionam a consciência que se tem. Os embates se dão em lutas e provações de realidade ou irrealidade que pouco importa, mas que torna a estada no mundo palatável. Dos pequenos prazeres e das grandes dores, se mesclam família, sexo, dinheiro, fé e realização pessoal.
IdiomaPortuguês
EditoraViseu
Data de lançamento14 de set. de 2020
ISBN9786556741994
Ensaio para pisar no céu

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    Ensaio para pisar no céu - VILL MARK UNN

    deliberados.

    Agradecimentos

    Agradeço a todos aqueles que tornaram possível a existência de nossas relações e aprendizados.

    I

    Ávido por criar a vida que desejo a partir do nada. Detalhes de um destruidor de esperanças por muito viver delas. Olhos brilhantes diante da fogueira ardente ao lado do pai, é proteção para alma que queima. É daí que conto. Donde espanto e transitoriedade aguardam para ceifar certezas. Avidez, esperança e incerteza esperam na esquina para guiar.

    Quando olhava aquele horizonte, e o fazia todo dia ao passar pelo vidro quebrado da janela, manobrava a hélice que possibilitava voar. Viver de horizontes apenas vistos, preso a um cubículo e sentindo prazer na pele.

    Na solitária, buraco de fechadura descortina o universo. Olho na fronteira das possibilidades vindouras realizantes. Até aqui remanescente de longo remoinho. Imensa caminhada pelos pensamentos revoltos. Refinações inúteis do que poderia ter sido. E não foi. E completamente possível de ser.

    Matéria decorada depois da prova feita em lições de irrealidade. Nem sempre conseguiu o que avidamente buscou. Já que inteligente, por que não tinha dinheiro? Por que não passava nas provas sem estudar? Por que ainda espiava a vida por um buraco de fechadura?

    A relação em que fracasso e vontade se apoiam mutuamente. Uma enroscando-se a outra e ambas fazendo o mecanismo de voar mais potente a ponto de modelar imensos projetos nas nuvens. Engrenagens devem ser lubrificadas e então tudo era fato introspecto.

    Repete-se o tempo em que das pesadas certezas restaram nenhuma e, mais uma vez, leve no voo.

    Não era o estado desejável, mas ponte quebrada para a queda inevitável e o adeus ao familiar costumeiro presente. Raspar com unhas no fundo desse rio seco para encontrar sedes que não deixam torrado nem matam de vez. Andança por muito de nada. Pernas fortes, agora sedentárias, por isso.

    Ruminou muito sobre nada, mas alguma musculatura ainda sustenta. Vejamos se não é isso um estado absoluto de nada ser e a nada estar preso?

    Desprezível ódio aos que não saem de seu conforto para serem melhores um dia. Para não enlouquecer nem ser enlouquecido na rejeição é que se torna produto caro para o mercado. Se sou produto que dura uma vida, como vou me vender sempre? Adicionam-se formações inúteis e que pesam quando se quer planar.

    Num mundo a contestar e pedir visibilidade, pergunta-se o óbvio. Estudando e ganhando dinheiro se vê cada dia mais empobrecido e miserável. Ainda lúcido é ter esses sonhos todos que enchem os pensamentos e esvaziam a despensa da casa.

    Lucidez para ter essas vontades todas como guia. Para realizá-los, dormir ouvindo orações na televisão, pensar noutra língua para treinar idiomas que jamais falou. Claro que se arrisca confrontar o Infinito dizendo: Faça-se presente! Dê tudo que prometeste! Materialize-se já!.

    Perigo é perder o instinto fervoroso que vem jogar água na brasa ardente. Preciso confessar então, em meio a tantos e ao menor perigo: Sou quem centra a consciência dos sentidos neste átimo de segundo.

    A serviço estão tato, visão, audição, gustação, olfato e a intuição, e viver de sentidos apenas é não ser molde senão de si próprio.

    Estêncil da existência a copiar presente possível e assegurar futuro incerto. Assume verdadeira mentoria de todos os estados e, se agora se perdem, não há outro responsável por tudo o que vive de presente.

    Assim é que hoje caminha nas ruas da cidade e pelo que pensa com a mesma utopia da criança indecisa que procura colo ou explora o mundo.

    Roteiro pronto, mas a indecisão entre subir a Bias Fortes para pegar a Rua da Bahia já na metade, sem tempo a perder: Praça da Liberdade, ler na biblioteca pública, no Palácio das Artes, "deve ter exposição de algum artista, com sorte, um espetáculo de entrada franca".

    Por entre obras centenárias se coloca um "Eu, em dia de existência". E basta este momento para construir o tal futuro incerto, com início, meio e fim, pois do futuro planejado os deuses mangam.

    Só chega em casa à noite. Tempo de inverno seco. Sol no dia, frio depois. Carregar blusa amarrada à cintura até escurecer. Alguns desenhos para xerocar, mas dinheiro só da passagem apalpado de vez em quando no fundo do bolso para ter certeza da volta para casa. Cópias a cinco centavos só na Rua Tupis, ainda fora de mão.

    Sandálias suando correias e escorregando nos dedos. Melhor do que o sapato descascador de calcanhares do dia anterior no mesmo trajeto.

    Ouvindo vozes iguais às conversas de casa. Será presença demais e tentativa de ter presente a família que ficou na expectativa de que conseguisse emprego? Impressão de que o seguem. Querem convencer de alguma coisa. Enlouquecido pela imitação do modo de falar de familiares interioranos mineiros e zombam de conduta pessoal e de seus amores mais íntimos. "Conhecem meus dilemas mais próprios? Talvez pessoas de bem? A maçonaria? A ku klux klan? O que teria de perigo em um caminhante por nada?".

    Ainda mantém o orgulho na fome sem jamais precisar pedir esmolas. Se sua existência ameaça alguns, há gozo disso por dentro. Mas o regozijo acaba em desespero. O coração louco por entender e espernear gritando impropérios capazes de assassinar violentamente. Tirar sangue e extrair dentes a murros esfregando caras no asfalto. Xingar a mãe e toda a geração de antepassados, pôr maldição naqueles que nunca viu e nem conhece ...

    Olha em trezentos e sessenta graus e ninguém para revidar ofensas sentidas. Mas ódio põe fogo na casa e queima a quem se ama. Não há lugar para atirar a bomba TSAR.

    Vítima de covardia e perguntas mortais esticando nervos. Homens de pé nas calçadas, com uma viatura da polícia parada junto ao meio fio. É o chefe da quadrilha. Vai ser pego!.

    Acostumado à provocações deste tipo, uma resiliência impede o colapso total. Ânsia de voltar? Jamais arredou o passo ao longo desse tempo em que estragou planos e buscas dando ouvidos às vozes do medo.

    Escudo de defesa é criar no chão e carregar verdades sobre os ombros. Ainda que arqueiem as costas e baixem o olhar para varrer o chão se protegendo da chicotada no lombo.

    Arrastando essas verdades, vivia o terror de abandoná-la ali mesmo e partir sozinho. Puxavam-se ambas, mentiras e verdades, a passos lentos demais para o destino distante.

    Rechaça insistentemente fantasmas reais a pouco criados. Por que não revistam, interrogam e respondem a tudo que sufoca? Porque a estes interessa a frieza instalada e mãos amarradas. Apertava o passo e passava bem rente como se fosse trombar com eles. Algo que concretizasse tanta perseguição hipotética. Desviava rapidamente. Engraçado depois de acontecido. A curiosidade em virar o pescoço trai, mas se esforça em seguir adiante, porque Pasárgada está a espera.

    Era a barreira possível, mas há necessidade de olhos na nuca. Ainda não sabia que Pasárgada é o presente, e buscava. Ver o que a passos mais firmes deixa para trás, mas sabe que encontrará nas curvas.

    Mesmo temor ao lembrar quantas vezes se preparou para empregos e no ônibus era cercado por críticas e chacota... Desistiu. Gente jamais vista dizendo com quem transou, o que comeu de manhã, os maus hábitos da mãe idosa em casa cuidando de avó centenária no banho, a casa fedendo. No local da entrevista era tratado com desdém, como se conhecessem cada um dos absurdos que praticou em algum lugar e da ousadia de ainda querer trabalho.

    O que teria feito? Durante bastante tempo isso foi tudo o que desejava saber espiando por pequena fresta da clausura sentida. Havia também medo de saber e não se perdoar. Desistiu dos remoinhos, do muito saber e da culpa. Inclusive de procurar emprego.

    De tanta pala nas garras da rejeição, descobriu que não havia nada comparado à paz e saúde dada a si. Adquiriu aquilo que faz cruzar com pessoas canalhas sem que levem nada de si. Jamais demonstrar a doideira e o desespero dessa alma. De atormentado à firmeza dos pés na correnteza do rio em lépido instante. Água fresca rolando na canela. Perigo das cobras d’água existia, mas nenhum arrepio de cócegas.

    Criança, primeira vez na cidade pequena onde fora mandado para estudar, encantado com aquela rua de pedregulho, úmida mesmo em dia seco. Portõezinhos de ferro a ranger na entrada das casas Art Nouveau. Onde moravam pequenas elites que tinham estudo e fazenda, mando e cabresto. A quem se deveria servir, em outros dizeres. Ainda assim, grades baixas e roseiras saltando para fora e oferecendo aos transeuntes flores e algum perfume. Outro aroma familiar e tranquilo ventilando. Um cheiro de carne fritando e pequi, que nunca deveria acabar nas dobras viradas de um estômago vazio. Buscava onde havia algo bom ontem vadiando hoje em grande centro.

    Fonte da Praça da Liberdade ligada ao anoitecer. Por um instante impressionado com as luzes na água esguichando cores. Acesso às viagens intergalácticas jamais realizadas.

    Não se permitia parar ali. Proibido pelo aperto no peito magro. As pessoas passeando ou correndo condenam com olhar. Tinha medo do apedrejamento. Iriam novamente dizer daquilo tudo que acostumara ouvir, mesmo que não abrissem a boca. Ir embora escorraçado pelo chicote dos olhares.

    Corre. Fugia de si atravessando avenidas a esmo. Tocado como bicho, embora saiba do infundado sentido daquilo tudo. Fugir das próprias reações até encontrar porto temporário. E por esse incômodo, o mais desprezível dos dalits ainda ganhava em dignidade.

    Por que se importar com coisas tão estapafúrdias? Se soubessem tanto deveriam ir onde mora. Lá onde vive de favores com família que há muito desistiu de seus delírios.

    Nunca conseguiu se livrar totalmente das esquisitices e fica irado toda vez que tenta. Gente que jamais viu, dizendo coisas muito pessoais e particulares. "Donde já se viu?" Duvida da sobrevivência própria. Enxerga com raiva o que outrora eram bênçãos. Vontade de morrer, vem talvez pôr culpa em deus.

    Revolta quando não deveria. Vive então nos livros e tantas histórias em que outros foram cuspidos na rua, mas não é tão importante a ponto de ser cuspido, rejeitado... Aborto de sonhos expelindo sangue e pus.

    Morte prematura do conto ainda com o pouco que narra de si. O amontoado de livros fez algum efeito, há esperança de serventia. Nas mudanças e sem lugar para colocá-los, muitos sumiram e aí teve que se virar sozinho com o que neles aprendera, retirando ensinamentos das gavetas e prateleiras empoeiradas.

    Nesta caminhada catou algumas pedras para se defender e traz nas mãos, prontas para serem atiradas. Já não são artefatos nucleares. Armas e sistema defensivo em primeiro plano, guarda e retaguarda. De doçura e humanidade engatilhadas.

    "Não me cutuque sem se esconder. Tenho ruindades no coração agora. Maldade que não pedi para ter e nem queria. Ódio flamejante de vingança em cada golpe. Meu rosto escureceu em manchas, posso ver no espelho, mas não mexa comigo e se apresente! Meu ódio é capaz de matá-lo sem usar as mãos. Há punhais afiadíssimos nas intenções de golpear a quem me fere e não estou só em nenhuma empreitada.".

    Ao atravessar a faixa de pedestres, repara nos olhares pelas janelas dos carros parados no sinal. Eram todos algozes de faca na mão. Sem rebolado a perder, corria. Entra calado na biblioteca pública e sai sem dizer nada além de obrigado, caso o funcionário olhe. Há quantos anos aparece por ali e tudo continua igual. Um lugar seu, porque público.

    Alguém permite que ali esteja. Traz a autorização nos olhos e tira a barriga da miséria dos saberes. De fofocas de celebridades aos dicionários de grego. Apenas o desejo de matar o tempo. E não há tempo. Foge confiando no fim das dores com o adiantamento das estações.

    Estabelece ficar até dezoito horas na conta para chegar em casa tarde e com menos vergonha do que saiu.

    Encontra de iguais nos livros e isso alisa o que resta de ego. Mulher negra escorada na porta do rancho olha, encostada na parede e

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