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O Mistério de Warburg
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E-book101 páginas1 hora

O Mistério de Warburg

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Sobre este e-book

Acordou bem cedo, era o dia em que iria morrer. Honório, inconscientemente sentia isso. Destino? Sorriso amargo em tessitura! O que revela as entrelinhas do protagonista de O Mistério de Warburg? Neste novo romance leve, dramático e envolvente o autor questiona o cotidiano da vida.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento25 de nov. de 2021
ISBN9786588676172
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    O Mistério de Warburg - Vander Lima Silva de Góis

    Com carinho, por todo o amor desse caminho... 

    Dedico a ternura, nessa tentativa de humanidade.

    PRELÚDIO

    Na verdade... 

    A vida é feita de muitos caminhos tênues.

    Enxergar esses caminhos é uma parte do sentir do mundo.

    TÊNUE 

    A

    cordou bem cedo, era o dia em que iria morrer. Honório, inconscientemente sentia isso. Abriu os olhos verdes. Enxergava tudo em tons preto, cinza e branco, isso era comum, exceto, nos dias em que se encontrava com o seu tio Antoni, já velho e sisudo, mas de uma bondade imensurável e portador de um sorriso afável como pão doce com mel. Homem crítico e de poucas conversas, Honório, não conseguia entender qual o motivo de sua cidade ser tão melancólica, suja, diferente dos tempos em que era criança. Gostava de contar causos com o seu tio aposentado, bom homem; e adorava conversar sobre as piadas e a política do cotidiano.  Riam, até dar uma dor no bucho, como diz o matuto.

    Nesse dia, tinha sonhado que era um grilo-flor, pulava cantando e dançando na brisa, pouco se importando com as intempéries do tempo, tomando banho nas águas que espraiavam e alegravam o chão como vagalumes da terra... E também que corria nas ruas de uma cidade de sol iluminado, com campos e pompas arquejantes, com o cheiro de mato molhado inigualável.

    Naquele dia, sentia algo realmente diferente, apesar do sorriso amargo e de receber, como sempre, em todas as manhãs e manhãs, o beijo doce de sua amada mulher Hortência. Sempre dizia para as pessoas que não tinha o que reclamar da sua amada mulher; mesmo assim, trazia um sorriso amargo. Dualidade; tristeza e alegria, como tudo na vida.

    Sempre trazia esse sorriso amargo, excetuando-se aos domingos, dia em que recebia um pouco da alegria de Antoni e de sua família.

    Ao acordar, ainda em jejum, beijou Hortência com a boca esturricada e levantou-se rápido; abriu a janela, era a mesma janela, mas agora com uma paisagem emoldurada menos triste, entretanto, ainda de doer as costelas. Cidade indiferente é essa, falava Honório.  Tudo na garantida normalidade. Naquele dia, a manhã era escaldante, até os passarinhos hesitavam em cantar; verão torto esse! Blasfemou; se bem que onde moravam era bem raro os dias em que os passarinhos cantavam. Despiu-se, pegou uma toalha limpa e bem branquinha com cheiro de eucalipto; sua amada esposa deixava-a sempre dobrada como papel higiênico em cima da cadeira do banheiro. Ligou o chuveiro. A água era quente, escassa e barrenta, tempos pósmodernos; falou baixinho! Droga de água com nitrato. Sentia uma coceira, era pior do que uma surra de pulga. Mesmo assim tomou seu banho. A água era rala, prélio da natureza com a tecnologia. Algo como presságio do coração com o horizonte.

    Honório ainda languido como a maré mansa ao beijar as praias dos azulejos do chão do banheiro, avistou o sorriso passivo e manso de Hortência. Ela, suavemente, lhe disse que tomasse o seu café quentinho para ganhar uma nova energia já que o dia irradiava. O dia nasceu bem lindo meu amor. Poucas palavras, grandes gestos de ternura. Abraçou o corpo de Honório ainda molhado com cheiro de cloro, o enxugou e disse, até parece que tens 40 anos; ele com uma expressão mais maleável, como estrela triste em céu acidentado, sorriu, ainda de forma amarga, mas como lua crescente em manhã de verão aparente. Logo ele, que havia sonhado mais e dormido menos. Havia tido um sono muito tumultuado; muitos sonhos e pesadelos naquela noite! Mesmo assim, ainda entediado, foi fazer o desjejum e ansiava pela visita que faria ao seu tio, pois era domingo.

    As poucas pessoas que o encontrariam, disseram que ele estava alegre; desde que saiu de sua residência, pontualmente às 07h35 minutos, até parar teso e de forma tênue no maior hospital da cidade, justamente o hospital que trabalhara por mais de vinte anos; lembravam-se dele um pouco tenso e com um sorriso melódico, era a seriedade do real, bem visível aos olhos dos que veem, como um soneto ausente de ideais...

    Gostava de sua cidade e se indignava com as injustiças locais; não havia metafísica nenhuma que o iludisse.

    Ainda sonolento, mordeu uma maçã, a sua fruta preferida, incrível como a maçã tem um sabor diferente em cada mordida. Ia comentando o que havia pensado e sonhado; Hortência que tomava banho, já conhecia a acidez do seu marido, só escutava e tentava aproveitar ao máximo o sabonete que se misturava com a espuma do nitrato da água. Hortência, bela morena, esposa plena, pensava Honório, enquanto a espiava tomando banho e conversavam; dialogava também com as paredes e com os livros de sua enorme estante, mania que herdara da ciência. Hortência havia tomado banho e já se arrumava. Com a pele ainda molhada, passou primeiro, em seus belos seios, e depois em todo o seu corpo um perfume com forte aroma de canela, o seu preferido; já havia deixado tudo pronto, bem cedo, para o passeio render mais; pontualmente às 05h30 minutos havia acordado, hora diária do bater do martelo, tempos fugidios.

    Honório sempre conversava sobre política e fazia críticas construtivas. A corrupção escandalosa desse País e as infelicidades da cidade, eram os seus assuntos favoritos, disseme o seu sobrinho, anos depois de seu falecimento, retalhando os sentimentos efêmeros.

    Com bom humor, degustou a maçã, tomou um copo de suco de tamarindo, o seu suco favorito, ainda guardou espaço no estômago para mais um pouquinho, torradas quentes com geléia de amora. Delícia, delícia, delícia, supimpa, dizia... Esperava sua esposa para comer as torradas molhadas com geléia e ainda ganhar um beijo enlaçado que se acostumara a receber. Naquele dia o beijo havia demorado muito mais do que o normal, diferente do comum dos dias. Ligou a televisão e a desligou rapidamente.  Não aguentava aquela repetição nojenta das notícias falaciosas da cidade. Foi ao seu depósito de cartas, pegou todo o acumulado, especialmente o jornal que já estava ali. Sentou-se em sua cadeira de balanço. Lembrou que tinha apenas sessenta anos e já apresentava dificuldades na leitura; Poxa! Justamente ele, médico renomado, tratou desses problemas e outros mais com os seus pacientes impacientes; serviço público de saúde é cruel e o privado ainda mais! Dizia ele. Por anos a fio laborou cuidando da cegueira física e intelectual das pessoas amigas e desconhecidas; fazia o possível e o impossível para ajudá-las!

    Abriu o jornal, sentiu um já esperado cheiro de sangue; tocou na primeira página ainda tenso, as letras vivas revelavam apenas o de sempre: violência, insegurança e fatalidades. Interessa? Só uma coisa despertava o seu entendimento, a crise econômica que enfrentava o mundo. Foi direto ao assunto, as páginas rasas e ausentes. Lia com voracidade, apesar de já aposentado; gostava e muito das notícias da cultura alternativa, oração do dia; mesmo sendo ateu ele tinha de conversar com as pessoas e também olhava as orações e tentava decorar alguns trechos para Hortência. Dicas literárias e novidades científicas lhe faziam bem. Fugia do tédio... Mesmo

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