Olá Vizinhos!: ou mais um conto distópico
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Olá Vizinhos! - Luiz Lebre Bezerra
A casa da Frente
Luiz Lebre Bezerra
1
– Obrigado a ficar em casa. Mas que porcaria. – Da janela da cozinha de seu apartamento, ele via uma pessoa andando despreocupadamente na rua.
Os pratos usados no almoço pela família iam sendo retirados um a um da lava-louças. Um movimento fez seu olhar foca na grande sacada da casa da frente. Ela ficava no segundo andar. No primeiro andar daquela casa havia dois comércios: um açougue que até essa quarentena absurda tentava sobreviver, mas que agora estava fadado a extinção e uma pequena loja de artigos para presente, também fechada.
– Será que é a família do açougueiro que mora lá em cima? – Ele olhava uma mulher me aproximadamente cinquenta anos, que andava de um lado para o outro, carregando roupas recém-retiradas da máquina de lavar e pendurando em varais esticados naquela varanda.
– Olha, se for eu teria medo. Eles que trabalham com carne, sendo que todo mundo está achando que a culpa dessa pandemia maldita é da carne… – Ele próprio terminou sua tarefa e foi para a sala, onde estavam entediados vendo aquelas novas séries holográficas, que estão disponibilizadas de graça, devido ao isolamento social.
Roberto não aguentava mais. Já estava a quinze dias sem ir ao menso num supermercado, uma semana sem sequer botar o pé para fora de seu prédio. Sua esposa Laura estava em pânico, já não conseguia trabalhar, distraia-se por alguns minutos com alguma diversão eletrônica e depois voltava a andar de um lado para outro como uma leoa enjaulada.
– Amor. Eu estou surtando. Você sabia que o número de casos aqui nesta cidade aumentou para 300 mil? – Ela o encarava com os olhos arregalados e ele se perguntava o que ela esperava que ele dissesse.
– Essa crise não é tão séria, veja, o que conversamos lá no meu setor, é que esse novo administrador mundial está perdendo a mão…
– Quieto. – E ela apontou para o quanto deles, entraram e ela fechou aparta apoiando-se na porta. Continuou falando baixinho… – Você pode ser preso por propagar discurso de ódio.
– Mas eu não estou propagando nada. – Ele sacudia a cabeça, furiosos com a mulher – Eu estou falando com a minha esposa, dentro de minha própria unidade habitacional.
– Roberto. Você lembra quando decidimos vir voluntariamente para esta cidade no meio do nada?
– Sim lembro. Decidimos participar do programa para quem sabe no futuro termos as colônias…
– Não só isso. – Interrompeu Laura. – Era um recomeço para nós, depois que você fez o que fez.
– Não precisa ficar me lembrando disso. Perdoe-me amor. Tenho que pedir perdão sempre. Mas preciso que você se acalme. Vai dar tudo certo! Não tema este vírus pois é só mais um. – E começou a falar mais baixinho – E embora eu pense que o governo está agindo errado não vou meter-me em encarentas comentando isso com alguém…
Abraçou sua esposa e deixou que ela ficasse lá, protegida em uma espécie de casulo protetor como ela chamava. Seu queixo sobre a cabeça da esposa, os braços em volta dos ombros e o peito apoiando o seu rosto. Sentiu o fluxo quente e úmido de suas lágrimas. Sentiu também impaciência, mas já passara do horário de seus suplementos.
2
– Olha só, eles colocaram moveis contra os vidros da varanda. – Roberto não os viu fazendo, mas agora reparava que o tampo de duas cabeças apareciam do lado direito. – Estariam entrincheirados?
– O que está olhando ai pai? – Olhou para trás e viu seu filho Daniel, mais alto, olhando por cima de seus ombros para a rua. – Lá em cima filho. – Apontou para o paredão de mesas viradas de lado, armários baixos intercalados com outras coisas impossíveis de se reconhecer.
– Hum. Janela indiscreta? – Sugeriu maldosamente o Daniel.
– Filho, você conhece esse filme? É de antes do meu tempo… Só conheço de ouvir falar.
– Ah, é um daqueles filmes remakes atualizados para a linguagem padrão. – Pedro era um menino perspicaz. Muito