Navegando pela Psicologia
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Navegando pela Psicologia - João Marcel Ferreira Lopes
COMITÊ CIENTÍFICO DA COLEÇÃO MULTIDISCIPLINARIDADES EM SAÚDE E HUMANIDADES
Aos meus pais, Marise de Fátima Albertim e Silva e Joaquim Ferreira Lopes, pelo amor, pelo carinho e pela dedicação.
À minha esposa, Isabel Cristina Domingues Aguiar, pelo amor, pelo incentivo,
pelo carinho e pela paciência.
Agradecimentos
À minha esposa, Isabel Cristina Domingues Aguiar, por me acompanhar nesta jornada, sempre me apoiar e incentivar.
Ao meu irmão, Joaquim Ferreira Lopes Júnior, que de uma forma ou de outra sempre esteve comigo.
Ao professor e orientador, Danilo Silva Guimarães, por suas orientações, paciência, puxões de orelha
e pela luminária companheira de várias madrugadas.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), por financiar esta pesquisa quando era uma dissertação de mestrado e, mesmo tão atacado nos últimos tempos, financia várias pesquisas científicas no Brasil.
Aos professores Marília Muylaert, Lívia Mathias Simão, Adriana Marcondes, Marlene Guirado, Nelson Coelho Júnior, Luis Claudio Figueiredo, Pedro Godinho, Eduardo Galhardo, Silvio José Beneli, Luis Rocha -Lu
, José Luis, Nelson Pedro, Mario Sergio Vasconcelos Serginho
-, Hélio Cardoso Júnior e a todos os outros professores com que tive aula, desde o jardim de infância até a pós-graduação, os quais não cabem nesta folha.
Aos colegas que dividiram as agruras e as alegrias do percurso, Djalma Freitas, Suara Bastos, Kleber Nigro, Juliano Casemiro, Hernán Sanchez, Larissa Laskoski, Paula Franciulli, Hercules Morais, William Azevedo, Eduardo Gomes, Douglas Ramos, Ademar Magi.
Aos colegas de trabalho que tive antes de entrar na pós-graduação, os quais, mesmo não tendo muita ideia do que se tratava minha pesquisa, sabiam que era difícil de fazer. Aos colegas de trabalho que vieram depois da pós e me incentivaram a continuar fazendo estudos e escrevendo.
A minha felicidade
Depois de sentir-me cansado em procurar
Aprendi a encontrar.
Depois de um vento ter-me feito resistência
Navego com todos os ventos.
(Nietzsche, A gaia ciência)
Prefácio
Pesquisa como movimento, a pé, de barco ou de avião
Este livro é resultado de uma pesquisa desafiadora, na qual, a partir da reflexão de Marcel Lopes, foi trazida a imagem do rio e suas margens, lançando mão de reflexões de Bruno Latour (2008). O antropólogo está tratando do grande divisor das ontologias naturalistas que sustentam as ciências modernas, marcadamente a dualidade Natureza-Cultura. Neste livro, porém, sem excluir o debate ontológico fundamental, a imagem dos rios e das margens é utilizada para pensar o processo de pesquisa, a diferença que faz conceber o fazer pesquisa como o transitar no curso de um rio, em vez de visar, exclusivamente, a construção de pontes entre campos de conhecimento distintos.
A Psicologia emergiu como campo de conhecimento, no interior do próprio rio revoltoso que nasce das margens entre grandes divisores que se desdobram do grande divisor N-C, as dualidades psyché-physis, corpo-mente, materialismo-espiritualismo, individual-social, dentre tantas outras, se expressam como correntezas que tentam nos conduzir para muitos lados possíveis, mais ou menos instáveis, sempre transitórios. Por mais turbulento que o curso do rio chamado pesquisa em Psicologia – sempre multi, inter ou transdisciplinar – possa ser ou parecer, conseguir lidar com tais turbulências, sem submergir, pode ser promissor na direção de trazer conhecimentos a respeito de aspectos da experiência pouco observáveis desde outras posições. Desde as reflexões aqui iniciadas, tais imagens vêm contribuindo para o debate teórico-metodológico de nosso grupo de estudos em Psicologia Cultural, no Instituto de Psicologia da USP.
A imagem do rio e suas margens para descrever uma forma de construir conhecimento, em que a construção de uma ponte não é necessariamente a melhor maneira de viabilizar o trânsito de ideias, coloca-nos também em relação à noção de fluxo da consciência de William James (1890), para quem os rios que frequentou em seu período de juventude na Amazônia brasileira e os diálogos com os indígenas ribeirinhos (cf. MACHADO, 2010) parecem ter conduzido muitos de seus insights a respeito de processos psicológicos fundamentais.
Assim como na navegação, o processo de conhecimento se faz com o corpo em movimento. A pé, de barco ou de avião. Conhecer é um processo vital, realizado no curso das ações humanas, que se efetivam com o corpo inteiro (cf. VALSINER, 2007). As trajetórias de cada pessoa passam por eventos nos quais outras pessoas, autores, sistemas e conceitos podem se configurar como superfícies mais ou menos instáveis, barreiras ou fronteiras (BOESCH, 1991) mais ou menos nebulosas ou ambíguas, no trânsito de cada pessoa em disposição de conhecer alguma coisa.
A posição de quem faz pesquisa e constrói conhecimento no fluxo infinito, irrepetível, das ciências individuais, coletivas, impregnadas nos seres e ambientes encontrados em sua circulação, demanda atividade: movimentar-se, cuidar para não perder o fôlego, aproveitar correntezas e as calmarias, flutuar, mergulhar, nadar e descansar quando, por ventura, algum tronco ou pedra permite apoio. A depender da turbulência do rio dos conhecimentos – sempre inacabados, em construção –, da profundidade que se quer atingir, da distância ou velocidade que se deseja percorrer, alguns instrumentos se tornam necessários: cordas, esnórqueis, pés de pato, cilindros de mergulho, lanternas, barcos, balsas, canoas, caiaques, navios, bússolas, âncoras etc.
Em sua navegação, Lopes se aproximou da noção de multiplicação dialógica (cf. GUIMARÃES, 2020), tomando-a como um instrumento teórico-metodológico elaborado no campo do Construtivismo Semiótico-Cultural em Psicologia (cf. SIMÃO, 2010) a partir de um diálogo com a teoria antropológica do perspectivismo Ameríndio em Antropologia (cf. VIVEIROS DE CASTRO, 2006). Apoiado na noção de multiplicação dialógica, foi possível, em sua pesquisa, observar tensões no fluxo indefinido entre áreas de conhecimento distintas por ele selecionadas (Construtivismo e Esquizoanálise). A posição de desequilíbrio entre essas margens foi por ele sustentada sem que o pesquisador tivesse que se apressar em estabelecer pontes e articulações frágeis, como seria frágil uma tábua de salvação em mares tão revoltosos.
A noção de multiplicação dialógica vem se desdobrando em suas potencialidades para construção de conhecimentos em campos diversos da Psicologia (cf. VALSINER, 2019). No campo de estudos do qual a presente pesquisa faz parte, buscamos não homogeneizar diferenças entre teorias e sistemas psicológicos, estabelecendo rápidas equivalências entre termos. Compreendemos que cada noção participa de um sistema integrado com identidades mais ou menos definidas e operacionalizáveis. Assim, o diálogo com a Esquizoanálise, aqui empreendido não tem um propósito de diluir suas especificidades e excedência desse campo de estudos em relação ao ponto de ancoragem na Psicologia Cultural em que a pesquisa se apoiou. Pelo contrário, Marcel Lopes apostou na celebração da diversidade, mas também, na possibilidade de parceria, implicação e colaboração a partir da diferença.
O livro nos convida a pensar sobre as áreas de conhecimento nomeadas Construtivismo Semiótico-Cultural em Psicologia e Esquizoanálise como margens do fluxo da experiência de um pesquisador. Desafiado pelas turbulências entre as margens selecionadas, Lopes se desviou das correntezas do dogmatismo, que o aproximaria de uma das margens e não permitiria enxergar a outra, e das correntezas do ecletismo, que levaria a uma confusão não diferenciadora das margens que pretendeu observar. Após realizar sua travessia, conta-nos sobre o percurso neste livro, que convida a novas articulações e aprofundamentos a partir do ponto em que chegou.
Prof. Dr. Danilo Silva Guimarães
Universidade de São Paulo
Referências
BOESCH, E. E. Symbolic action theory and cultural psychology. Berlin-Heidelberg: Springer-Verlag, 1991.
LATOUR, B. What is the Style of Matters of Concern? In: Spinoza Lectures. Amsterdam: University of Amsterdam, Van Gorcum, 2008.
MACHADO, M. H. P. T. O Brasil no olhar de William James: cartas, diários e desenhos, 1865-1886. São Paulo: Edusp, 2010.
SIMÃO, L. M. Ensaios Dialógicos: compartilhamento e diferença nas relações eu outro. São Paulo: HUCITEC, 2010, 286p.
VALSINER, J. Human Development as Migration: Striving Towards the Unknown. In: SIMÃO, L. M.; VALSINER, J. Otherness in question: labyrinths of the Self. Charlotte: Information Age Publishing, 2007.
VALSINER, J. Culture & Psychology: 25 Constructive years. Culture & Psychology, v.25, n.4, p.429-469, 2019b.
VIVEIROS DE CASTRO, E. B. [2002]. A inconstância da alma selvagem e outros ensaios de antropologia. 2. ed. São Paulo: Cosac Naify, 2006.
Apresentação
Este livro é fruto de uma viagem, uma viagem como percurso de vida, agenciamentos que levaram à composição de algo. Viagem que procura conhecer a Esquizoanálise e o Construtivismo Semiótico-Cultural; claro que em apenas uma obra é impossível alcançar todos os meandros dos dois campos de conhecimento, isso demandaria pelo menos uma vida para cada campo. Para fazer esse percurso, usei como ilustração uma