Claro enigma
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Sobre este e-book
"E como ficou chato ser moderno. / Agora serei eterno", escreveu Drummond em um poema do livro Fazendeiro do ar, de 1954. Mas esse distanciamento da atitude poética modernista – com tudo que ela continha de euforia, rebeldia e otimismo – vinha de antes. Mais precisamente, deste Claro enigma, publicado em 1951, quando o autor se aproximava dos 50 anos de idade.
Os recursos da poesia moderna passam a conviver com formas fixas, entre elas os sonetos, e com esquemas de rimas e metros clássicos na língua portuguesa, como a redondilha, o decassílabo e o alexandrino. O tom jocoso, muitas vezes presente nos livros anteriores, se torna aqui predominantemente grave e elevado.
Como a contradição dos termos no título do livro já sugere, Drummond não buscava um simples retorno à ordem. Um sentido de incompletude, de insolvência, presente em vários poemas, corrói qualquer ilusão de estabilidade. Claro enigma demonstra, acima de tudo, que a maturidade, longe de representar um ponto de vista fixo e seguro, recoloca em outro patamar as inquietações e angústias da juventude.
As novas edições da obra de Carlos Drummond de Andrade têm seus textos fixados por especialistas, com acesso inédito ao acervo de exemplares anotados e manuscritos que ele deixou. Em Claro enigma, o leitor encontrará um posfácio do vencedor do prêmio Camões Mia Couto, e também bibliografias selecionadas de e sobre Drummond; e a seção intitulada "Na época do lançamento", uma cronologia dos três anos imediatamente anteriores e posteriores à primeira publicação do livro.
Bibliografias completas, uma cronologia de vida e obra do poeta e as variantes no processo de fixação dos textos encontram-se disponíveis por meio do código QR localizado na quarta capa deste volume.
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Pré-visualização do livro
Claro enigma - Carlos Drummond de Andrade
POSFÁCIO DE
MIA COUTO
nova edição
Editora Record. Rio de Janeiro, São Paulo.2022
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
A566c
Andrade, Carlos Drummond de, 1902-1987
Claro enigma [recurso eletrônico] / Carlos Drummond de Andrade; posfácio Mia Couto. – 1. ed. – Rio de Janeiro: Record, 2022.
recurso digital
Formato: epub
Requisitos do sistema: adobe digital editions
Modo de acesso: world wide web
ISBN 978-65-5587-500-3 (recurso eletrônico)
1. Poesia brasileira. 2. Livros eletrônicos. I. Couto, Mia. II. Título.
22-76495
CDD: 869.1
CDU: 82-1(81)
Meri Gleice Rodrigues de Souza – Bibliotecária – CRB-7/6439
Carlos Drummond de Andrade © Graña Drummond
www.carlosdrummond.com.br
Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, armazenamento ou transmissão de partes deste livro, através de quaisquer meios, sem prévia autorização por escrito.
Texto revisado segundo o novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
Direitos exclusivos desta edição reservados pela
EDITORA RECORD LTDA.
Rua Argentina, 171 – Rio de Janeiro, RJ – 20921-380 – Tel.: (21) 2585-2000.
Produzido no Brasil
Cópia não autorizada é crime. Respeite o direito autora. ABDR Associação brasileira de direitos reprográficos. Editora filiada.ISBN 978-65-5587-500-3
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SUMÁRIO
i. entre lobo e cão
Dissolução
Remissão
A ingaia ciência
Legado
Confissão
Perguntas em forma de cavalo-marinho
Os animais do presépio
Sonetilho do falso Fernando Pessoa
Um boi vê os homens
Memória
A tela contemplada
Ser
Contemplação no banco
Sonho de um sonho
Cantiga de enganar
Oficina irritada
Opaco
Aspiração
ii. notícias amorosas
Amar
Entre o ser e as coisas
Tarde de maio
Fraga e sombra
Canção para álbum de moça
Rapto
Campo de flores
iii. o menino e os homens
A um varão, que acaba de nascer
O chamado
Quintana’s Bar
Aniversário
iv. selo de Minas
Evocação mariana
Estampas de Vila Rica
Morte das casas de Ouro Preto
Canto negro
Os bens e o sangue
v. os lábios cerrados
Convívio
Permanência
Perguntas
Carta
Encontro
A mesa
iv. a máquina do mundo
A máquina do mundo
Relógio do Rosário
Posfácio, por Mia Couto
Cronologia: Na época do lançamento (1948-1954)
Bibliografia de Carlos Drummond de Andrade
Bibliografia sobre Carlos Drummond de Andrade (seleta)
Índice de primeiros versos
A Américo Facó
Les événements m’ennuient.
P. Valéry
I. ENTRE LOBO E CÃO
DISSOLUÇÃO
Escurece, e não me seduz
tatear sequer uma lâmpada.
Pois que aprouve ao dia findar,
aceito a noite.
E com ela aceito que brote
uma ordem outra de seres
e coisas não figuradas.
Braços cruzados.
Vazio de quanto amávamos,
mais vasto é o céu. Povoações
surgem do vácuo.
Habito alguma?
E nem destaco minha pele
da confluente escuridão.
Um fim unânime concentra-se
e pousa no ar. Hesitando.
E aquele agressivo espírito
que o dia carreia consigo,
já não oprime. Assim a paz,
destroçada.
Vai durar mil anos, ou
extinguir-se na cor do galo?
Esta rosa é definitiva,
ainda que pobre.
Imaginação, falsa demente,
já te desprezo. E tu, palavra.
No mundo, perene trânsito,
calamo-nos.
E sem alma, corpo, és suave.
REMISSÃO
Tua memória, pasto de poesia,
tua poesia, pasto dos vulgares,
vão se engastando numa coisa fria
a que tu chamas: vida, e seus pesares.
Mas, pesares de quê? perguntaria,
se esse travo de angústia nos cantares,
se o que dorme na base da elegia
vai correndo e secando pelos ares,
e nada resta, mesmo, do que escreves
e te forçou ao exílio das palavras,
senão contentamento de escrever,
enquanto o tempo, e suas formas breves
ou longas, que sutil interpretavas,
se evapora no fundo de teu ser?
A INGAIA CIÊNCIA
A madureza, essa terrível prenda
que alguém nos dá, raptando-nos, com ela,
todo sabor gratuito de oferenda
sob a glacialidade de uma estela,
a madureza vê, posto que a venda
interrompa a surpresa da janela,
o círculo vazio, onde se estenda,
e que o mundo converte numa cela.
A madureza sabe o preço exato
dos amores, dos ócios, dos quebrantos,
e nada pode contra sua ciência
e nem contra si mesma. O agudo olfato,
o agudo olhar, a mão, livre de encantos,
se destroem no sonho da existência.
LEGADO
Que lembrança darei ao país que me deu
tudo que lembro e sei, tudo quanto senti?
Na noite do sem-fim, breve o tempo esqueceu
minha incerta medalha, e a meu nome se ri.
E mereço esperar mais do que os outros, eu?
Tu não me enganas, mundo, e não te engano a ti.
Esses monstros atuais, não os cativa Orfeu,
a vagar, taciturno, entre o talvez e o se.
Não deixarei de mim nenhum canto radioso,
uma