BELAS HISTÓRIAS, SUBLIMES LIÇÕES
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BELAS HISTÓRIAS, SUBLIMES LIÇÕES - Aldir Donizeti
O Sábio e o Monge
O Monge vivia em um mosteiro distante da cidade, para entregar-se tão somente às orações e aos jejuns diariamente, afastando de tudo que levasse ao pecado, no intuito de santificar-se, sendo esse o seu santo objetivo. Nas proximidades, morava um sábio, o qual vivia em uma fenda de uma caverna, para se abrigar das intempéries. Havia anos que lá passava seus dias e suas noites, distante da civilização, onde se entregava aos estudos astronômicos e observações de autoconhecimento. O primeiro isolara do mundo, para não se contaminar; o segundo, buscava-se a solidão para se encontrar.
Certa tarde, o sábio e o monge, vindo do vilarejo em direção as suas moradas, encontraram-se no caminho, e passaram a dialogar.
O Monge falava de seu temor sobre os pecados e do medo de ser condenado ao inferno. O Sábio passou a contar para ele a luta dos dois lobos travada no interior do ser humano, um representando o bem e o outro o mal.
E o Monge curioso lhe perguntou:
— Qual dos dois lobos sai vencedor?
Respondeu-se o Sábio:
— Sairá vencedor aquele que for mais alimentado!
— E continuaram a caminhar...
Para seguir o caminho, eles tinham que atravessar um rio para chegarem aos seus abrigos que fica do outro lado. Nas margens daquele rio, depararam-se com uma bela mulher, quase nua, toda molhada pelas águas, com sua roupa, que se tornara transparente, colada em seu corpo, por estar tentando atravessar a algum tempo aquele rio, e não conseguindo, devido à correnteza que estava forte.
Suas roupas coladas a seu corpo pela água, marcavam a esbelteza daquela mulher, mostrando toda sua sensualidade.
O Monge e o Sábio ficaram pasmados diante daquela cena. O Monge, sem pensar na necessidade que exigia o caso, ocultou seu rosto com suas mãos, para não ver aquele corpo seminu, que poderia despertar seus desejos. De imediato, o Sábio se dirigiu àquela mulher, tirando-a do perigo, pegou-a nas costas, com firmeza, segurou suas coxas e, com dificuldade, a atravessou-a sobre as fortes correntezas das águas daquele rio, deixando o monge abismado, imaginando ele mil pensamentos maliciosos, julgando que o Sábio tinha cometido um grave pecado por ter tocado no corpo daquela mulher.
Já do outro lado do rio, o Monge dirigiu a palavra ao Sábio, proferindo o seguinte.
— Oh, Sábio, não sabes que cometestes um grande pecado em ter pegado no corpo daquela mulher, aproximando-a do seu corpo.
E o sábio, com um semblante sereno e humilde, por ter praticado uma boa ação, respondeu-lhe:
— Oh, monge, pecado não foi a aproximação do meu corpo ao corpo daquela mulher, para salvá-la de um infortúnio, o pecado consiste em alimentar o mal na malícia que sai do coração. -Eu realmente peguei naquela mulher para atravessá-la com segurança sobre a correnteza forte dessas águas; pois, se aquela mulher não recebesse ajuda, poderia ser levada e morta pela correnteza. Mas, logo que eu a coloquei em terra firme, dela nem lembranças tenho, mas você Monge, até agora, está com ela em seus pensamentos, com cenas de sensualidade, alimentando o lobo do mal. Após a travessia do Sábio e do Monge no rio, despercebida, a bela natureza que cantava em festa, mostrava-se a quem à avistava com os olhos do coração, a melodiosa sinfonia dos pássaros, o borborejar das águas sobre as cascatas, os ventos uivantes, balançando as copas das árvores e toda cabeleira do campo, sob um céu anil que prendia as grandes abóbodas suspensas. Assim, cada um seguiu seu caminho.
O Monge, recluso em seus pensamentos, obscuros e temerosos, retornou para seu mosteiro, para entregar-se aos jejuns e aos suplícios que seus próprios pensamentos conflitantes impunham, por falta de harmonia. Cada vez que pensava na cena da mulher seminua, auto castigava-se, com açoites e penitências, para sufocar seus desejos.
O Sábio com o dever cumprido por ter realizado uma boa ação mantinha-se sereno. Retornara ao seu recanto de paz, para dar continuidade as suas experiências e meditações, em busca de seu autoconhecimento, mesmo sendo incompreendido e julgado como louco pelos homens daquela cidade.
Sócrates — o filósofo
Era um homem de aspecto cômico, com uma grande calva em forma de cúpula. Possuía uma cara relativamente pequena, tendo um nariz redondo e arribitado, com uma longa barba ondulada. Era pobre e artista de cantaria, uma espécie de escultor semiespecializado. Trabalhava apenas o necessário para sustentar sua mulher e três filhos. Seu maior prazer era conversar, mas como sua mulher sempre estava descontente e lamuriante, apreciava mais do que tudo, estar longe de casa. Levantava-se cedo antes do amanhecer, tomava um pequeno café, a base de pão e vinho, vestia uma túnica, punha por cima um grosso manto e saia em busca de uma loja, um templo, a casa de um amigo, dos banhos públicos onde encontrasse com alguém para discutir. Nunca faltava ocasião para satisfazer os seus desígnios, pois, toda a cidade em que vivia fervia de discussões e debates. A cidade era Atenas, o berço da filosofia, e o homem a quem mencionamos era Sócrates, o homem que veio servir de marco para separar os períodos históricos, antes e depois dele.
Ele era astuto e de uma grande simplicidade, que fazia que sua persuasão derrubasse quaisquer pontos de vistas errôneos de seus adversários sem que eles alterassem, dando abertura para o surgimento da verdade em suas discussões, conhecida como maiêutica ou parto de ideias.
Um dos seus amigos, perguntou, um dia, ao oraculo de Delfos, quem era o homem mais sábio de Atenas. Perante a admiração geral, a sacerdotisa proferiu o nome de Sócrates. Depois comentou Sócrates: O oráculo, elegeu-me como o mais sábio dos atenienses porque sou o único que sabe que nada sabe.
Sócrates foi o desbravador do pensamento claro. Caminhava pelas ruas de Atenas pregando a lógica, o questionamento, ensinando aos jovens e a quem o ouvia, o caminho da verdade e a essência do Ser, como, quatrocentos anos mais tarde, ensinou o Mestre nazareno, percorrendo as aldeias da Palestina, pregando amor, a busca da verdade e a essência do Ser — a alma.
Grande era a persuasão lógica que conduzia os seus debates com sua indagação, levando o outro a encontrar a própria resposta, como vemos num discurso de um orador quando falava sobre a arte da coragem, tendo Sócrates dele se aproximado, e perguntou-lhe:
— Desculpa a minha intromissão, mas o que entendes por coragem?
— Coragem consiste conservarmos no nosso posto mesmo perante o perigo.
— Mas supõem que a estratégia aconselha a retirada?
-Bem, então, isso já é diferente. Claro que nessas circunstancias, é aconselhável a retirada.
-Desse modo, a coragem não consiste nem na permanência, nem na retirada, não é verdade? Como definirás então a coragem?
O orador, enrugara a sua testa, e dissera:
-Deixaste-me um tanto confuso e receio não ti saber responder.
— Também eu não — dizia Sócrates — Mas pergunto a mim próprio, será algo mais do que saber fazer uso da inteligência, quer dizer, agir de um modo racional, e sem pensar no perigo.
-Parece-me que será mais isso.
-Devemos então admitir — em hipótese, pois se trata de um problema muito complexo , que a coragem é a determinação de atuar de acordo com um juízo firme e sereno? Coragem, é o mesmo que presença de espirito? E o oposto, neste caso, seria a presença de emoção, por vezes tão forte que turva o próprio entendimento?
Sócrates sabia, por experiência pessoal, o que era coragem, e aqueles que ouviam tinham conhecimento disso. O seu comportamento frio e resoluto na batalha de Delium, durante a guerra de Peloponeso, tornara-se, tal com a sua resistência física, notório. A sua resistência moral era igualmente, elevada, e todos recordam como ele tinha enfrentado sozinho, a histeria pública, quando foram condenados a morte — após a batalha naval de Arginusas, no mar Egeu, dez comandantes que não tinham socorrido alguns de seus soldados que estavam a afogar-se. Sócrates sustentou, firmemente, que injustos ou não, era injusto condenar homens em grupo.
Vivemos ainda um mundo repleto de ignorância e mediocridade, em que, a maioria dos homens, ainda se encontram aprisionados nos vícios da matéria, permanecendo com a consciência adormecida, estando os valores morais e espirituais sufocados.
A hipocrisia, em todos os tempos, em cada geração, em cada País, tenta impedir que a verdade transpareça e se desenvolva. É como se fosse uma eterna luta entre a luz e as trevas. A verdade é como o tempo, não deixa de seguir em frente, sempre caminha, mesmo que no momento, pareça, a primeira vista, uma infamante derrota, como vemos, nas condenações de Sócrates, em Atenas, por veneno, e Jesus, por crucificação, mas, com o decorrer dos séculos, tanto o idealismo de Sócrates, como o amor de Jesus, tem conduzido muitas inteligências e muitos corações, em busca da perfeição e do autoconhecimento.
SABEDORIA PARA GOVERNAR
As cidades-estados floresciam por toda Grécia. Atenas destacara-se entre as demais cidades, tanto culturalmente quanto economicamente. Era o famoso século de Péricles, idade de ouro da civilização ateniense. Havia findado as guerras médicas, as guerras de Peloponeso, chegando Atenas a época de seu apogeu filosófico e cultural do mundo antigo.
Em 470 a. C., em Atenas, nasce Sócrates, o idealista de uma corrente histórica que marcou época na Grécia, destacando os fatos que aconteceram antes e os fatos históricos posteriores a ele, que aconteceram no início daquela cultura ocidental.
Como verdadeiro filosofo, viveu despreocupado com os bens materiais, buscava sempre a verdade e a essência das coisas. Através do diálogo com as pessoas, levava-as a refletirem sobre suas virtudes, e