Hermenêutica da Angústia: frequências existenciais através da poética de Nauro Machado
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Hermenêutica da Angústia - Marco Rodrigues
Para Kadja Xavier e Sophia Valentina
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, agradeço ao Lógos, ao Verbo que se faz carne, verso, poesia.
Aos professores do Programa de Pós-graduação Mestrado em Letras – UEMA, em especial ao meu orientador Emanoel Cesar Pires de Assis, pelo acolhimento, e aos professores José Henrique de Paula Borralho e Maria Iranilde Almeida Costa, pela contribuição intelectual e apoio.
Aos colegas de turma, pelas interlocuções e trocas de experiência e conhecimento.
Aos meus familiares, pelo apoio, em especial a minha esposa Kadja Xavier e a minha filha, Sophia Valentina, e também a minha mãe, Aneide Rocha, pelo apoio incondicional.
Aos meus amigos, pelo apreço fiel.
Aos meus alunos, pela confiança.
Para que poetas em tempos de penúria?
Friedrich Hölderlin
NOTA DO AUTOR
O título do presente livro, Hermenêutica da Angústia: frequências existenciais através da poética de Nauro Machado, é uma versão resultante da minha dissertação de mestrado enquanto discente do Programa de Pós-graduação stricto sensu em Letras – Teoria Literária da Universidade Estadual do Maranhão – UEMA, no período de 2018 a 2020, cujo título original é Hermenêutica da Angústia: análise filosófico-literária da obra O Anafilático Desespero da Esperança
de Nauro Machado, sob a orientação do Prof. Dr. Emanoel Cesar Pires de Assis – UEMA, o qual compôs a banca com o Prof. Dr. José Henrique de Paula Borralho – UEMA e com o Prof. Dr. Luizir de Oliveira – UFPI.
A obra tem por meta apresentar, de forma concisa, uma hermenêutica da angústia através de uma análise filosófico-literária das categorias anafilático
, desespero
e esperança
, as quais formam o título de uma das obras do poeta Nauro Machado: O Anafilático desespero da esperança.
Desse modo, através dessas categorias de referência, selecionou-se, dentre os 100 poemas que compõem o livro, aquelas que correspondem e com elas dialogam mais diretamente.
Para essa tarefa, a ideia de angústia, aqui compreendida, refere-se a uma dimensão existencial onde a realidade da existência se nadifica e arroga, dessa forma, o desvelamento inaudito da palavra que possa suplantar os sentidos de uma mundanidade prosaica, desvigorada e ordinária.
Para tanto, a metodologia utilizada é o modelo hermenêutico, teoricamente fundamentado a partir da perspectiva heideggeriana para análise poética, em interlocução com as perspectivas filosóficas contemporâneas e com a teoria literária, destacando-se os autores Maurice Blanchot, Antônio Cândido e Alberto Pucheu.
Os resultados contemplam, previamente, uma apreciação inteligível da ideia de angústia através das dimensões da esperança
em seu desespero anafilático
.
PREFÁCIO
Li em primeira mão o mais novo trabalho do filósofo, professor e escritor Marco Rodrigues. Trata-se do livro intitulado Hermenêutica da angústia: análise filosófico-literária da obra ‘O anafilático desespero da esperança’, de Nauro Machado
.
A partir de uma primeira leitura, por isso mesmo carecedora de aprofundamento ainda maior, decidi escrever o presente ensaio, cuja natureza, além de reflexivo-especulativa, é de apresentação do conteúdo de ineditismo do seu texto, dentro daquilo que penso trazer de relevante ao campo de estudos em literatura e filosofia. Razão essa pela qual deixei de lado, pelo menos por agora, críticas pessoais a possíveis déficits de fundamentação teórica, contrapontos argumentativos, posições antagônicas à visão do autor, bem como de fazer referência a suas próprias ressalvas e críticas a teóricos que estudam a obra do poeta, objeto de atenção da citada produção acadêmica. De modo que, faço tais destaques a fim de que não venham a cometer o equívoco de taxá-lo de promover a apologia pura e simples do autor da pesquisa ou daquele que é seu objeto de interesse.
O presente livro, o qual primeiramente fora apresentado como dissertação ao Mestrado em Letras (Teoria Literária) da Universidade Estadual do Maranhão, o professor Marco Rodrigues propôs-se a apresentar uma hermenêutica da angústia através da análise filosófico-literária das categorias anafilático
, desespero
e esperança
, retiradas da obra acima referida. Categorias que não trabalho aqui, visto que demandaria descer às minúcias necessárias, alargando por demais o espectro e a proposta desta análise, mas que, por serem centrais ao desenvolvimento da tese ali sustentada, que merecem a leitura atenta no próprio texto da obra.
A verdade é que, para dar cabo a essa empreitada, que julgo metaforicamente similar às epopeias, às jornadas heroicas, ou mesmo a alguns dentre os doze trabalhos hercúleos, Marco Rodrigues ousou descobrir na ideia de angústia uma dimensão existencial onde a realidade do existir nadifica-se, arrogando, como ele mesmo diz, o desvelamento inaudito da palavra que possa suplantar os sentidos de uma mundanidade prosaica, desvigorada e ordinária.
Caminhando rumo ao ponto mais profundo das veredas abertas pela perspectiva fenomenológico-hermenêutica de Martin Heidegger, e numa interlocução muito próxima àquela da passagem poética assumida pela dicção filosófica de um Benedito Nunes, por exemplo, o pensador, na autenticidade destemida de uma reflexão sem tréguas, avança ao encontro das brenhas, desertos e trevas da alma real do poeta estudado.
Obviamente que em Nauro Machado não existem autoestradas, infinitas highways, avenidas largas, com sinais luminosos, semáforos, sensores, luzes e faixas horizontais. Não há guardas, fiscais, vigias ou vigilantes. Não! Não esperem por isso.
Pelo contrário, para atravessar as dimensões da esperança
em seu desespero anafilático
, como propõe o autor, devemos contemplar uma apreciação que busque a inteligibilidade da noção de angústia. E os caminhos que nos restam são apenas os de algumas veredas, clareiras abertas entre miragens. Passagens subentendidas e camufladas nas matas das nossas percepções acerca do que escreveu o autor de obras seminais de nossa literatura.
Em três capítulos geneticamente encadeados o pesquisador-filósofo, em caminhada solitária, como só os que assumem para si o destino de um investigar seria capaz de fazer, avança em direção ao centro nervoso de um potencial cataclismo: aquele funestamente encartado nas páginas da obra eleita e em seu âmago incendiário.
No percurso estruturado, tendo em mira os intentos da análise, apresenta-nos três estágios decisivos para o pretendido atingimento de seu objetivo: os versos do anafilático, o desespero poético do esperar e a esperança luminosa da angústia. Nesse avançar em meio ao fogo (e suas brumas), depara-se com as dificuldades inerentes ao percurso. Porém, como podemos aduzir da tríade divisória da obra, algo de luz, ao fim, deve brotar de uma caminhada em terras tão inóspitas.
Desvelando o espírito de uma poesia da existência inspirada no cotidiano de nossa ilha-cidade, tecida com criterioso esmero, que ressignifica o passado para dizer o contemporâneo por meio de linguagem pouco acessível (e para muitos hermética), Rodrigues parece querer nos mostrar o beco sem saída da vida-poema de Nauro Machado, mergulhada em violenta angústia e conflitos ontológicos.
Talvez por isso, desde Campo sem Base (1958)
, tenha-me ficado na boca o amargo sabor do medo; da posição que, à primeira e juvenil leitura, não tive coragem de assumir, qual seja, a de que ele (Nauro Machado) não a escreveu para que o compreendessem, para que dessem fortuna crítica a seus poemas ou que a gente comum (dos muitos de nós sozinhos) pudesse lê-lo e decifrá-lo, quiçá os seus pares. Afinal, de que importaria a vida se houvéssemos de passá-la inteira a escrever para poetas?
E é nesse canto primeiro, no prelúdio do poeta Nauro (nele e a partir dele) que Marco Rodrigues nos aponta o anúncio de uma saga. A saga naureana na verdade de sua obra poética, subscrita no poema-gênese O parto
, presente em seu primeiro livro. Algo como o Alfa do alfa da existência do poeta. Ente parido no campo sem base de uma pedra fundamental da angústia, a qual aspira solidificar dentro de um trajeto de realização poética (outra vez aí a noção de saga). Nesses termos, como bem disse o filósofo, manifesta-se num plano "cujos livros formam um único e mesmo poema, a ecoar num ‘grito de alarma e alarde’.
Eis, portanto, um retrato que a minha mente fértil absorve, fixa em instantâneo e coloca na parede de sua sala interior. Esse bojo-todo-amalgamado que é (e são) a obra (e os poemas e versos) do escritor ludovicense. Um Alfa e Ômega de cantos múltiplos e arquitetados com meticuloso fervor, prontos para serem o uno-múltiplo de um microuniverso em que habita a soma de todos os livros de Nauro Machado, para constituírem um castelo (ou fortaleza-complexo) onde seu rei morará pela eternidade, ao término da última linha do último verso, em suspiro agônico. Portanto, início e fim de uma criação de monta salvífica.
E aqui o que salva (se salva!!!), salva da angústia; verdadeiro leitmotiv que em Nauro estabelece a tensão sustentada e retomada a cada passo de sua saga-jornada, retroalimentando-se a cada novo construto literário.
A angústia, na obra do poeta, penso eu, é a condição de possibilidade que garante a subsistência e a própria continuidade ao corpus da obra naureana. Para mim, aliás, numa condição hipotética, retirada fosse toda a angústia do bojo de suas ricas composições, parte essencial de sua poética estaria fatalmente inviabilizada. O que, por sua vez, resultaria no fim da saga, em sua derrocada e sucumbência.
Ainda em seu trabalho, o