125 árvores para conhecer no campus da UFSCar em Araras-SP
De Ricardo Augusto Gorne Viani, Eduardo Bermudes, Israel Henrique Buttner Queiroz e Ricardo Toshio Fujihara
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125 árvores para conhecer no campus da UFSCar em Araras-SP - Ricardo Augusto Gorne Viani
125
árvores para conhecer
no campus da UFSCar em Araras-SP
Logotipo da Universidade Federal de São CarlosEdUFSCar – Editora da Universidade Federal de São Carlos
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125
árvores para conhecer
no campus da UFSCar em Araras-SP
Ricardo Augusto Gorne Viani
Eduardo Bermudes
Israel Henrique Buttner Queiroz
Ricardo Toshio Fujihara
Logotipo da Editora da Universidade Federal de São Carlos© 2022, Ricardo Augusto Gorne Viani, Eduardo Bermudes, Israel Henrique Buttner Queiroz e Ricardo Toshio Fujihara
Imagens da capa
Ricardo Augusto Gorne Viani e Eduardo Bermudes
Capa/Projeto gráfico
Vitor Massola Gonzales Lopes
Preparação e revisão de texto
Marcelo Dias Saes Peres
Livia Damaceno
Karen Naomi Aisawa
Editoração eletrônica
Alyson Tonioli Massoli
Editoração eletrônica (eBook)
Alyson Tonioli Massoli
Coordenadoria de administração, finanças e contratos
Fernanda do Nascimento
Este livro foi aprovado pelo Edital 2019.
Ficha catalográfica elaborada pelo DePT da Biblioteca Comunitária da UFSCar
C397c 125 árvores para conhecer no campus da UFSCar em Araras - SP / Ricardo Augusto Gorne Viani ... [et al.]. - Documento eletrônico. -- São Carlos: EdUFSCar, 2022.
ePub: 113.6 MB.
ISBN: 978-65-86768-63-3
1. Árvores. 2. Botânica. 3. Arborização. 4. Paisagismo. I. Título.
CDD – 581 (20a)
CDU – 58
Bibliotecário responsável: Ronildo Santos Prado – CRB/8 7325
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônicos ou mecânicos, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema de banco de dados sem permissão escrita do titular do direito autoral.
Agradecimentos
Aos alunos do Laboratório de Silvicultura e Pesquisas Florestais (LASPEF) do CCA/UFSCar, que participaram das atividades de campo, e a Marcelo Pinho Ferreira, Luís Vicente Brandolise Bufo e Vanessa Terra pelo auxílio com identificações e/ou comentários.
Este livro é resultado do projeto ProEx UFSCar Catálogo de Árvores do CCA/UFSCar, Araras-SP: é preciso conhecer para valorizar
(Processos 23112.000968/2016-40 e 23112.000921/2017-67).
Todas as fotografias são de autoria de Eduardo Bermudes ou de Ricardo A. G. Viani, exceto o fruto do pau-viola e a flor de jenipapo, de autoria de Crislaine de Almeida, e o aspecto geral da pequena palmeira-azul, a folha do jacarandá-mimoso e o aspecto geral da árvore e da flor de tarumã, de autoria de Liniker Rotta.
Sumário
Apresentação – A importância das árvores
A escolha da espécie para plantar
O guia
Os ícones
As árvores e as músicas
Adansonia digitata L.
Baobá, embondeiro, imbondeiro
Aegiphila integrifolia (Jacq.) Moldenke
Tamanqueiro, pau-de-tamanco, papagaio
Anacardium occidentale L.
Cajueiro, caju, acaju, acajaíba
Apeiba tibourbou Aubl.
Pau-jangada, pente-de-macaco
Araucaria angustifolia (Bertol.) Kuntze
Pinheiro-do-paraná, araucária
Araucaria columnaris (G.Forst.) Hook.
Pinheiro-de-natal, pinheiro-de-cook
Archontophoenix alexandrae (F.Muell.) H.Wendl. & Drude
Palmeira-real-australiana, palmeira-alexandra, seafórtia
Bauhinia variegata L.
Pata-de-vaca, pata-de-boi, unha-de-vaca
Beaucarnea recurvata Lem.
Pata-de-elefante
Bismarckia nobilis Hildebrandt & H.Wendl.
Palmeira-azul
Camptotheca acuminata Decne.
Xixu, árvore-feliz
Carica papaya L.
Mamoeiro, mamão
Cariniana estrellensis (Raddi) Kuntze
Jequitibá-branco, jequitibá
Cariniana legalis (Mart.) Kuntze
Jequitibá-rosa, jequitibá
Caryocar brasiliense Cambess.
Pequizeiro, pequi
Cassia leptophylla Vogel
Cássia, falso-barbatimão, grinalda-de-noiva
Casuarina equisetifolia L.
Casuarina, pinheiro-casuarina
Cecropia pachystachya Trécul
Embaúba, embaúba-vermelha
Cedrela fissilis Vell.
Cedro, cedro-rosa
Ceiba speciosa (A.St.-Hil.) Ravenna
Paineira, paineira-rosa
Cenostigma pluviosum (DC.) Gagnon & G.P. Lewis
Sibipiruna
Centrolobium tomentosum Guillem. ex Benth.
Araribá, araruva
Chloroleucon tenuiflorum (Benth.) Barneby & J.W.Grimes
Tatané, tataré, jurema
Citharexylum myrianthum Cham.
Pau-viola, tucaneiro, pombeira
Clitoria fairchildiana R.A.Howard
Sombreiro, sobreiro, palheteira
Cordia glabrata (Mart.) A.DC.
Claraíba, louro-branco
Cordia myxa L.
Cordia-africana, guanhuma
Cordia superba Cham.
Babosa-branca
Cordia trichotoma (Vell.) Arráb. ex Steud.
Louro-pardo, louro
Corymbia maculata (Hook.) K.D.Hill & L.A.S.Johnson
Eucalipto, eucalipto-manchado
Croton urucurana Baill.
Sangra d’água, urucurana, licurana
Cryptocarya aschersoniana Mez
Canela, canela-batalha
Cybistax antisyphilitica (Mart.) Mart.
Ipê-verde, ipê-de-flor-verde, caroba-verde
Delonix regia (Bojer ex Hook.) Raf.
Flamboyant, flamboiã
Dictyoloma vandellianum A.Juss.
Tingui-preto
Dypsis decaryi (Jum.) Beentje & J.Dransf.
Palmeira-triangular
Dypsis lutescens (H.Wendl.) Beentje & J.Dransf.
Areca-bambu
Dypsis madagascariensis (Becc.) Beentje & J.Dransf.
Areca-de-locuba, locuba
Eriobotrya japonica (Thumb.) Lindl.
Nêspera, nespereira, ameixa-japonesa
Erythrina falcata Benth.
Corticeira, corticeira-da-serra
Eucalyptus deglupta Blume
Eucalipto, eucalipto-arco-íris, eucalipto-de-nova-guiné
Eugenia myrcianthes Nied.
Pessegueiro-do-mato, ubajaí
Eugenia pyriformis Cambess.
Uvaia
Eugenia uniflora L.
Pitangueira, pitanga
Ficus benjamina L.
Figueira, figueira-benjamin
Ficus elastica Roxb. ex Hornem.
Falsa-seringueira, figueira, seringueira
Ficus eximia Schott
Figueira, figueira-brava, gameleira
Ficus luschnathiana (Miq.) Miq.
Figueira-mata-pau, gameleira-vermelha
Gallesia integrifolia (Spreng.) Harms
Pau-d’alho, guararema, ibirarema
Garcinia brasiliensis Mart.
Bacupari
Genipa americana L.
Jenipapo, jenipapeiro
Grevillea robusta A.Cunn. ex R.Br.
Grevilha
Guarea guidonia (L.) Sleumer
Marinheiro, carrapeta
Handroanthus albus (Cham.) Mattos
Ipê-amarelo, ipê-amarelo-da-serra
Handroanthus chrysotrichus (Mart. ex DC.) Mattos
Ipê-amarelo, ipê-amarelo-cascudo
Handroanthus heptaphyllus (Vell.) Mattos
Ipê-roxo, ipê, ipê-roxo-de-sete-folhas
Handroanthus impetiginosus (Mart. ex DC.) Mattos
Ipê-roxo, ipê
Handroanthus serratifolius (Vahl) S.Grose
Ipê-amarelo
Holocalyx balansae Micheli
Alecrim-de-campinas
Hovenia dulcis Thunb.
Uva-japonesa, uva-do-japão, cajueiro-japonês
Hymenaea courbaril L.
Jatobá, jatobazeiro
Hyophorbe lagenicaulis (L.H.Bailey) H.E.Moore
Palmeira-garrafa
Jacaranda mimosifolia D.Don
Jacarandá-mimoso, jacarandá
Jacaratia spinosa (Aubl.) A.DC.
Jaracatiá, mamoeiro-bravo
Jatropha mollissima (Pohl) Baill.
Pinhão-bravo
Joannesia princeps Vell.
Boleira, cutieira, andá-açu
Koelreuteria bipinnata Franch.
Árvore-da-china
Lafoensia pacari A.St.-Hil.
Dedaleiro
Lecythis pisonis Cambess.
Sapucaia
Leucaena leucocephala (Lam.) de Wit
Leucena
Libidibia ferrea var. leiostachya (Benth.) L.P.Queiroz
Pau-ferro
Ligustrum lucidum W.T.Aiton
Alfeneiro, alfeneiro-do-japão
Livistona chinensis (Jacq.) R.Br. ex Mart.
Palmeira-leque, palmeira-leque-da-china
Lophanthera lactescens Ducke
Chuva-de-ouro
Macadamia integrifolia Maiden & Betche
Macadâmia
Maclura tinctoria (L.) D.Don ex Steud.
Taiúva, amora-branca
Malpighia emarginata DC.
Acerola, aceroleira
Mangifera indica L.
Mangueira, manga
Melaleuca leucadendra (L.) L.
Árvore-da-bíblia, melaleuca, cajepute
Morus nigra L.
Amoreira, amora
Murraya paniculata (L.) Jack
Falsa-murta, murta, murta-de-cheiro
Myracrodruon urundeuva Allemão
Aroeira, aroeira-verdadeira
Myroxylon peruiferum L.f.
Cabreúva, pau-bálsamo
Nectandra megapotamica (Spreng.) Mez
Canelinha, canela
Nerium oleander L.
Espirradeira
Opuntia cochenillifera (L.) Mill.
Palma, palma-forrageira
Pachira aquatica Aubl.
Monguba, munguba
Pachystroma longifolium (Nees) I.M.Johnst.
Canchim, canxim, mata-olho
Pandanus utilis Bory
Pinhão-de-madagascar, pândano
Parapiptadenia rigida (Benth.) Brenan
Gurucaia, guaracaia, angico-vermelho
Paubrasilia echinata (Lam.) Gagnon, H.C.Lima & G.P.Lewis
Pau-brasil, ibirapitanga
Persea americana Mill.
Abacateiro, abacate
Phoenix roebelenii O’Brien
Tamareira-anã
Physocalymma scaberrimum Pohl
Pau-de-rosas, pau-rosa
Piptadenia gonoacantha (Mart.) J.F.Macbr
Pau-jacaré
Pleroma granulosum (Desr.) D.Don
Quaresmeira
Plinia cauliflora (Mart.) Kausel
Jabuticaba, jabuticabeira
Poecilanthe parviflora Benth.
Coração-de-negro
Psidium guajava L.
Goiabeira, goiaba
Psidium rufum Mart. ex DC.
Araçá-roxo, araçá
Pterogyne nitens Tul.
Amendoim-bravo
Pterygota brasiliensis Allemão
Pau-rei, maperoá
Rauvolfia sellowii Müll.Arg.
Casca-d’anta
Ravenala madagascariensis Sonn.
Palmeira-dos-viajantes, árvore-dos-viajantes
Roystonea oleracea (Jacq.) O.F.Cook
Palmeira-imperial
Ruprechtia exploratricis Sandwith
Pele-de-velho
Schinus molle L.
Aroeira-salsa
Schinus terebinthifolia Raddi
Aroeira-pimenteira, aroeirinha, pimenta-rosa
Schizolobium parahyba (Vell.) Blake var. parahyba
Guapuruvu, ficheiro
Senna spectabilis (DC.) H.S.Irwin & Barneby
Cássia-do-nordeste, cássia, canafístula
Solanum granulosoleprosum Dunal
Fumo-bravo
Spathodea campanulata P.Beauv.
Espatódea, bisnagueira, tulipeira, mijadeira
Spondias dulcis Parkinson
Cajá-manga, cajarana
Spondias macrocarpa Engl.
Cajá-redondo, cajá, cajazeiro
Spondias purpurea L.
Ciriguela, seriguela
Swietenia macrophylla King
Mogno, mogno-amazônico
Syagrus oleracea (Mart.) Becc.
Guariroba, gueirova, gueiroba
Syagrus romanzoffiana (Cham.) Glassman
Jerivá
Syzygium jambos (L.) Alston
Jambo-amarelo, jambo, jambeiro
Tabebuia rosea (Bertol.) Bertero ex A.DC.
Ipê-rosa
Tabebuia roseoalba (Ridl.) Sandwith
Ipê-branco
Terminalia catappa L.
Chapéu-de-sol, sete-copas
Triplaris americana L.
Pau-formiga
Vitex megapotamica (Spreng.) Moldenke
Tarumã, azeitona-do-mato
Washingtonia robusta H.Wendl.
Palmeira-de-saia
Glossário de termos técnicos usados no livro
Mapa para localização das espécies no campus da UFSCar em Araras-SP
Referências
apresentação
a importância das árvores
Existentes em todos os continentes, com exceção da Antártida, as árvores nos trazem muitos benefícios e, por isso, são presenças importantes em paisagens rurais e urbanas, mesmo em regiões onde elas não existiam originalmente ou onde não são as dominantes na vegetação natural. Elas geram sombra, regulam a umidade e a temperatura local, amenizam ilhas de calor urbano, interceptam água da chuva, conservam o solo e a água, atenuam ventos e ruídos, fornecem alimento e corredor de circulação para uma diversidade de animais silvestres e fixam carbono, contribuindo para mitigar as mudanças climáticas. Além disso, as árvores são repletas de simbolismo e proporcionam contemplação e bem-estar humano.
Muitas árvores atuam como ornamentos nas cidades e no campo, e não são poucos os exemplos de árvores que fazem parte da história e das tradições culturais de um país, sendo referenciadas, inclusive, em rituais religiosos. Elas também são citadas em várias passagens da Bíblia e de outros livros sagrados e emprestam seus nomes a monumentos, ruas, parques, cidades e países, dado que muitos povos tiveram ou têm ciclos econômicos relacionados à exploração de uma árvore específica. Um exemplo disso é o nosso Brasil, cujo nome se originou do pau-brasil, o primeiro produto de nossas terras a ser explorado pelos colonizadores.
Por fim, árvores produzem frutos, sementes, madeira e vários outros produtos derivados que são praticamente essenciais à vida humana, o que as coloca, por vezes, na posição de motores da economia, como se pode observar mundo afora, nas regiões produtoras de eucalipto, de pinus ou de árvores frutíferas diversas.
A grande importância das árvores e a rica biodiversidade do nosso país contrastam com o conhecimento incipiente que boa parte da população brasileira tem sobre as nossas espécies arbóreas e aquelas que foram introduzidas no país para fins diversos. Em geral, a população, cada vez mais urbana, desconectada da natureza e acometida pela cegueira botânica,[1] dificilmente reconhece as espécies de árvores, e, se não as reconhece, não sabe sobre as suas características, sobre os seus usos e sobre a sua importância, tampouco nutre apreço pelo assunto.
É notável como há nas cidades uma tendência a não querer árvores no quintal ou na calçada, preferindo a pavimentação e a impermeabilização dos terrenos. Curiosamente, quando questionadas sobre o assunto, as mesmas pessoas que adotam tal tendência geralmente declaram ser a favor do plantio de árvores nas cidades, mas talvez elas não se deem conta de que muitos dos benefícios esperados das árvores são de alcance local, e só poderão ser usufruídos caso a árvore esteja lá, no seu próprio quintal, na sua calçada ou no máximo na praça do quarteirão ao lado. E essa tendência não é exclusividade urbana, já que as árvores também são inexistentes na área rural, em especial nos principais sistemas de produção agrícola brasileiros, onde são tratadas, por vezes, como vilãs.
Mesmo no caso de pessoas dispostas a plantar e a conviver com as árvores ao redor, o conhecimento sobre o assunto pode ser ampliado, dado que se vê, com frequência, plantios feitos com a espécie errada, de modo e em locais inapropriados, o que gera inconvenientes e prejuízos. Erros desse tipo devem ser evitados, pois são tão ou mais danosos que a ausência das árvores no local. Por isso, o desejo de plantar uma árvore é louvável, mas o plantio deve ser planejado previamente. Na escala de municípios, os plantios devem ser discutidos e projetados tecnicamente – com base no conhecimento já disponível sobre as espécies e suas características e sobre os objetivos almejados com a arborização, e devem estar alinhados a planos de arborização e aos documentos oficiais que os guiam – que deveriam existir em todas as cidades.
Conhecer e interagir com as árvores que nos cercam é um dos caminhos para a reconexão das pessoas com a natureza. A elaboração de guias visuais e informativos contribui nesse sentido, pois ajuda a difundir o conhecimento existente sobre as árvores, permitindo que sejam reconhecidas, apreciadas e usadas e manejadas pela população de modo apropriado. A ideia de um guia surgiu com o projeto de extensão da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) intitulado Catálogo de Árvores do CCA/UFSCar, Araras-SP: é preciso conhecer para valorizar
(ProEx UFSCar), que tinha como objetivo elaborar um catálogo visual e informativo das árvores empregadas no paisagismo do campus da UFSCar em Araras-SP, visando propiciar às comunidades interna e externa maior contato e conhecimento sobre as árvores do local. Coincidentemente, Araras é conhecida como a cidade das árvores
, embora sejam poucos os que sabem disso, mesmo entre os habitantes. Foi em Araras que aconteceu o primeiro Arbor Day
[2] no Brasil, em 1902. O evento, idealizado pelo renomado botânico Alberto Löfgren, contou com a participação de personagens e de políticos famosos da época, mas, infelizmente, nenhuma das árvores plantadas nessa ocasião existe mais, e o município não é mais referência em arborização urbana.
O nosso projeto de extensão original ganhou corpo e culminou neste livro, que traz, em um primeiro momento, informações gerais sobre as árvores e sobre os critérios para a seleção delas, visando ao uso em cidades e em áreas verdes em geral. Na sequência, apresentamos detalhes e fotos de 125 espécies arbóreas, a maioria delas comuns no paisagismo de muitas cidades brasileiras. Por isso, o guia transcende o campus da UFSCar em Araras-SP e se mostra útil a todos que, de algum modo, se interessam por árvores, como técnicos, professores e alunos das áreas de botânica, de ecologia, de arborização urbana e de paisagismo, ou mesmo àqueles que simplesmente querem aprender mais sobre esses seres fascinantes.
A escolha da espécie para plantar
Há mais de 60 mil espécies de árvores no mundo e o Brasil é o país com a maior diversidade, com mais de 8 mil espécies nativas. É verdade que grande parte delas nunca foi plantada, mas, ainda assim, temos milhares de espécies notadamente diferentes entre si sendo cultivadas mundo afora.
As árvores são a forma de vida vegetal mais complexa que existe e, embora compartilhem algumas características gerais entre si, distinguem-se em muitos aspectos de espécie para espécie. Cada espécie tem seu conjunto de características: o porte, o formato de copa, a densidade da folhagem, a perda das folhas ao longo do ano, o ritmo de crescimento, a época e a duração da floração, o tamanho e a cor das flores e dos frutos etc. Essas características morfológicas e funcionais, ou simplesmente biológicas, definem as vantagens e as desvantagens oferecidas por cada tipo de árvore plantada.
Além disso, características como o solo, o clima, o espaço livre para o crescimento da planta, o fluxo de pessoas e de veículos ao redor etc. definem o ambiente para o plantio de uma árvore, e é natural que, em função de suas características biológicas, algumas espécies não se aclimatem, ou seja, não se adéquem ao ambiente inicialmente pensado para o plantio.
Posto isso, antes de plantar qualquer árvore, deve-se responder à pergunta: por que plantá-la? Como mencionado no início do livro, árvores trazem diversos benefícios e podemos utilizá-las para termos sombra, frutos comestíveis e/ou belas flores, para atrairmos a fauna, para barrarmos o vento ou para combinarmos alguns desses propósitos num único plantio. Enfim, são vários os objetivos possíveis, mas dadas as características biológicas muito variáveis e específicas, via de regra, cada espécie de árvore atende melhor a um propósito específico, e quanto mais objetivos são almejados, mais difícil se torna a tarefa de encontrar a espécie mais apropriada. A melhor opção para gerar sombra pode não ser – e provavelmente não será – a melhor para atrair a fauna, que, por sua vez, não será aquela com as flores mais bonitas e duradouras, e assim por diante. Isso pode parecer frustrante e ruim, dado que não há uma espécie perfeita para a arborização, que serve para todos os fins, mas traz algo positivo: torna a arborização mais diversa, fazendo com que as áreas verdes, as vias públicas, os parques e os jardins sejam compostos de plantas de diversas espécies, cores, formas e tamanhos.
Ainda assim, até mesmo a espécie ideal para alcançar o benefício almejado possivelmente terá inconvenientes. A mangueira, por exemplo, tem uma copa grande e densa, ótima para sombrear, e tem frutos grandes que atendem ao possivelmente desejado propósito de gerar saborosos frutos comestíveis, mas seu plantio é inconveniente e não recomendado para locais com fluxo de pessoas e/ou de veículos. Esse é um exemplo simples e óbvio, mas muitos outros não são, e dependem, primeiramente, do reconhecimento de determinadas características biológicas das árvores – que deve ser feito a partir de uma observação mais criteriosa e técnica –, e, depois, da compreensão do modo como algumas dessas características interferem na interação das árvores com o ambiente. Assim, escolher uma espécie de árvore para plantio em um dado local consiste em analisar os benefícios que ela gerará e seus potenciais inconvenientes, colocando-os na balança. Esse método de tomada de decisão serve para quase todas as decisões do dia a dia, e para plantar uma árvore não seria diferente.
Adicionalmente, vale mencionar que o manejo, isto é, as ações que executamos antes, durante e após o plantio, pode afetar algumas características biológicas das árvores e alguns atributos do ambiente ao redor da planta. Com o manejo, podemos tornar o ambiente mais favorável ao crescimento, adubando o solo, fornecendo água à planta em períodos de seca e removendo estruturas que possam vir a ser um obstáculo ao livre-crescimento, como a calçada pavimentada ao redor da muda ou a fiação elétrica sobre ela numa área urbana.
Em relação à arborização urbana, há aqueles que defendem que o ambiente deve ser sempre manejado para que se torne plenamente favorável às árvores, principalmente no tocante ao espaço livre acima e abaixo do solo para o crescimento da copa e das raízes, respectivamente. De fato, só assim maximizaríamos os benefícios da arborização nas cidades, porém, por questões compreensíveis, o que temos visto é, geralmente, o inverso: árvores escolhidas (ou descartadas) em função das restrições impostas pelo ambiente urbano. Desse modo, sabendo das restrições do espaço livre (calçada estreita, pequeno canteiro livre de pavimentação ao redor da muda e/ou presença de fiação elétrica sobre a copa), escolhemos espécies que, em função de suas características biológicas, principalmente no que diz respeito ao porte e à arquitetura de copa e de raízes, toleram e não geram inconvenientes. Essa é uma das razões que tem levado à priorização de árvores de pequeno porte e até mesmo de arbustos na arborização de vias públicas de muitas cidades, fenômeno que alguns denominam arbustização
urbana.
Se, por um lado, trocar árvores grandes por pequenas e por arbustos minimiza