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Por Todo O Universo
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E-book209 páginas2 horas

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Sobre este e-book

A viagem de um homem sem esperança através de uma das regiões mais gélidas do planeta vai dar início a uma cadeia de eventos que irão revelar a origem da vida na terra e os segredos escondidos nas mais distantes fronteiras do cosmo. Uma jornada que vai levar o ex-fuzileiro Marcos Donovan Russel a lutar contra a natureza e contra os homens, em busca de redenção e do direito de viver. Uma caçada sem precedentes na atual história da humanidade, que poderá trazer o homem até um passo mais próximo de Deus.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento29 de jun. de 2015
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    Pré-visualização do livro

    Por Todo O Universo - Ivan Anderson

    Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo–lo teria dito. Pois vou preparar–vos lugar.

    João 14:2

    História e arte de capa: Ivan Anderson

    TODOS OS DIREITOS RESERVADOS – 2014

    1

    POR TODO O UNIVERSO

    I – O FRIO TEM UMA VOZ

    Era uma tarde de dezembro na capital russa quando aquele jovem claro de cabelos e olhos castanhos atravessou mais uma vez num caminhar lento a lendária Praça Vermelha. Ele contava calmamente cada paralelepípedo que calçava o chão para ajudar a passar o tempo. Rapaz forte e de estatura alta, poderia facilmente ser confundido com o povo nativo daquela terra distante.

    Olhava ao seu redor de um jeito tímido e desconfiado. Sentia-se um pouco inquieto, pois aquele marco no centro da velha Moscou não era apenas um belo cenário turístico, mas também um ponto de encontro. Significava o início de uma nova fase na vida do estrangeiro, que acostumado ao calor dos trópicos sofria pela primeira vez com o frio europeu.

    As pessoas caminhavam freneticamente de um lado para outro. Cidadãos locais e turistas. Celulares e máquinas fotográficas. Sacolas, mochilas e chocolates quentes em meio ao frio que a cada meia hora se tornava mais sensível à pele. No corpo uma velha calça jeans, uma camisa branca e sapatos surrados combinando com o sobretudo preto, que sozinho já não aquecia as costas cansadas do assento do avião.

    No estômago apenas uma salada de legumes e a sopa de peixe que lhe serviram de café da manhã naquela pensão onde passou a noite. Desjejum estranho, porém era só o que serviam naquele lugar o qual ele não conseguia pronunciar o nome. Na mochila preta de pano o seu agasalho, documentos e papéis importantes, duas trocas de roupa, uma garrafinha de água e sua escova dental, junto com o livro guia da cidade. Havia também uma carteira velha de couro com uma parte do seu dinheiro. Lucros da venda da sua casa, de seu modesto carro e dos direitos trabalhistas de um breve emprego como paramédico. O restante das suas reservas financeiras estava seguro em uma conta bancária, capital suficiente para começar uma nova vida.

    Havia um imponente palácio colorido na sua frente. Uma placa enorme com o nome escrito em vários idiomas; Kremlin era o que ele compreendia. Admirava as torres, com suas cores e formas. Redomas estilosas e multicoloridas que testemunham há séculos as decisões políticas e militares do país outrora comunista que agora adotaria como lar. A tarde chegava e os holofotes e postes daquele templo gigantesco se acendiam em resposta à escuridão que já se estabelecia. Uma olhada rápida no relógio... Dezoito horas. Era essa a hora.

    – Marcos... Marcos Russel – ele ouviu no meio da multidão.

    – Marcos! – mais uma vez e lá estava a tal garota, seu contato.

    – Sou eu... Natasha Sokolova. Venha aqui me dar um abraço, camarada!

    Um rosto amigo no meio de tantas pessoas estranhas, um sinal de segurança, pensava Marcos...

    A moça se aproxima dele devagar, contando os passos. Um sorriso brilhante naquela boca pequena, a pele rosada lisa como uma pétala de flor e um esvoaçante cabelo louro e liso partido ao meio, com pontas propositalmente tingidas de castanho escuro. Seria uma deusa grega, não fosse russa. Responder ao seu sorriso era inevitável, e seria hipocrisia não reparar em formas tão bonitas, principalmente o busto, generoso e em perfeita

    2

    simetria. Mesmo dentro daqueles agasalhos típicos a amiga que ele conheceu pela internet se mostrava dona de uma rara beleza. Uma miss do Cáucaso.

    Natasha era ainda a dona de um abraço forte e aconchegante. Era carinhosa, passava as mãos no rosto de Marcos enquanto tentava compreender que aquelas imagens da tela do computador haviam se tornado carne e transpiração. Agora tinham cheiro, textura... Era um rapaz que estava ali na sua frente, e havia viajado quase meio mundo para tal encontro. Ainda incrédula, a doce menina exclamava em paralelo à nuvem de vapor quente que expelia pela boca:

    – Amigo como é bom ver você. Que bom que eu cheguei a tempo. Optei por passar pelo Parque Gorky e não contava com tamanho movimento no final do outono. Eu te encontrei na hora marcada.

    – Eu estou feliz em ver você e em estar aqui. Agradeço por me oferecer a sua hospitalidade e a sua ajuda. – respondeu Marcos ainda anestesiado.

    Eles se reapresentavam enquanto minúsculos flocos de gelo começavam a dançar no entorno de toda a Praça Vermelha. O início do inverno parecia estar chegando mais cedo naquele ano, e as baixas temperaturas se anunciavam severas.

    Natasha não era de muitas cerimônias. Sabia que seu amigo tinha fome e que estava cansado, então tratou de pegar a sua mão e conduzi-lo para o lugar onde haviam de comer e passar a noite antes da longa viagem que os aguardava. A casa de sua avó.

    Marcos foi muito bem recebido na pequena e suburbana casa de madeira. Um sobradinho simples, com uma já depreciada cerca de tábuas à frente. Um modesto jardim com grama amarelada e tulipas ante as escadas da varanda. As paredes, outrora brancas já tinham o tom cinza predominante, embora descascadas pela ação do tempo. Aquecedores enferrujados em todos os quartos e portas que rangiam como as dos castelos dos contos de terror. Era uma casa triste.

    Breves cerimônias e logo o esperado convite para jantar. A fome foi abafada com um belo guisado de cordeiro, arroz e muita maionese. Ainda causava espanto a quantidade desse condimento que os russos consumiam quando o frio se aproximava, mas ele já havia lido sobre o assunto e sabia que esse era um hábito secular que eles ainda mantinham na intenção de acumular energias para enfrentar o rigor do inverno. Um rápido jantar com poucas palavras à mesa. A avó de Natasha era hospitaleira, mas não conhecia uma só palavra do português. Uma senhora de olhar arredio e gestos curtos. Testemunha ocular do comunismo e da guerra fria. Hora ou outra Natasha traduzia uma pergunta, uma resposta ou um elogio à refeição.

    O banho após o jantar foi breve, uma vez que a velha e oxidada banheira não mantinha a água aquecida por muito tempo. Era estranho um banheiro sem janelas e sem uma pia, mas aquele era o padrão do lugar.

    Uma música no rádio embalou o cair da noite e o sofá decorado com seis cobertores ficou aconchegante e convidativo a uma longa noite de sono. No criado ao lado, uma garrafa térmica cheia de chá quente e uma bandeja repleta de biscoitos de aveia estavam à disposição. Ainda como parte do cenário, a linda jovem russa sentada na poltrona ao lado lhe passava as seguintes instruções:

    3

    – Vovó já dormiu e eu vou pra cama também. Amanhã nós três partiremos bem cedo pra Vorkuta, temos que chegar lá em três dias para que você e eu possamos assumir os nossos novos empregos dentro do prazo combinado. O carro que meu finado avô nos deixou é um pouco velho, mas suporta bem as estradas da Sibéria. Com o salário daquele emprego e com a sua ajuda, eu vou poder cuidar direito da vovó.

    – Vai dar tudo certo menina – respondeu ele. – A viagem vai correr bem e estaremos lá no prazo combinado.

    – Você tem certeza de que é isso mesmo o que você quer? – questionou Natasha ainda insegura quanto à escolha do brasileiro. – Deixar a sua terra ensolarada e ganhar a vida comigo numa cidade gelada da Sibéria?

    – Foi o que eu escolhi, não foi menina?

    – Você escolheu me ajudar, pois sabia que eu não conseguiria sozinha. Vovó e eu temos passado períodos muito difíceis por causa da recessão econômica que assola a Europa. Além do mais, as prestações desta casa estão atrasadas e se ficarmos aqui seremos despejadas em breve.

    – Eu vou mesmo trabalhar perto de você, e dividir a mesma casa... Vai dar certo tanto para mim quanto para você e sua avó. Não se preocupe.

    – Marcos... Eu sei que ambos faremos o nosso melhor, você como paramédico e eu como secretária. Mas e quanto a nós?

    – Como assim?

    – E se a gente não se acertar da forma como pretendemos? Quer dizer... Nós nunca vivemos juntos e só estamos nos conhecendo pra valer agora.

    – Não se preocupe com isso – respondeu ele agora em meio a um discreto sorriso. – Eu precisava começar uma nova vida e você precisava de alguém aqui e agora. Se a gente não se acertar, o mundo não vai acabar por causa disso. Precisamos de tempo, nada mais.

    – Estamos fazendo uma loucura.

    – Loucura é não correr riscos, Natasha. O que começamos pela internet pode se tornar concreto. Depende apenas de nós dois e de como vamos conduzir as coisas.

    Natasha concorda com o amigo apenas com o olhar. Ela já morou em Vorkuta e sabe que os mais de vinte graus negativos que congelam a cidade durante a maior parte do ano podem ser um bom alento para a dor daquele garoto que viu muitas mortes e se considera culpado por elas.

    A condição daqueles dois jovens corações ainda assustava. Eles se conheceram por acaso em uma rede social e se identificaram um com o outro rapidamente.

    Trocaram fotos, e-mails, histórias e confidências. Tornaram-se próximos e mais do que amigos, aprendendo a contar um com o outro. Quando a recessão tornou escassa a comida dos seus armários e os remédios da sua estante, Marcos deixou o Brasil rapidamente para ajudar a jovem russa a se reerguer. Ela gostava muito dele e reconhecia o seu valor, mas tinha medo de dar o passo errado e machucar o coração do amigo.

    Marcos tinha um bom coração. Estava ferido, magoado por tantas coisas que ele queria deixar para trás e Natasha sabia disso, por isso era cautelosa. Ela queria ser alguém mais do que especial para ele.

    4

    Dar-lhe um carinho a mais e compartilhar com ele o seu calor naquela noite fria esteve por diversas vezes em forma de um convite na ponta de sua língua, mas ela acabou por desistir na última hora.

    (Talvez em um momento mais oportuno)

    Natasha acabou optando por passar a noite sozinha. Antes de se despedir, ela segurou as mãos de Marcos e beijou-as reforçando os laços de lealdade entre os dois: – Quando meus pais morreram no desastre de trem eu ainda era pequena. Meu avô me buscou num abrigo em Vorkuta dias depois e me trouxe para Moscou. Eu nunca mais voltei à minha cidade natal. Só irei agora porque além de precisar do emprego, eu tenho a sua companhia. Eu quero ver o túmulo dos meus pais outra vez e quero que esteja

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