O Tesouro Da Ilha Escondida
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O Tesouro Da Ilha Escondida - Sérgio Toffoletto
O TESOURO DA ILHA ESCONDIDA
Autor: SERGIO TOFFOLETTO
SUMÁRIO
PRIMEIRA PARTE .......................................................... 3
SEGUNDA PARTE ........................................................ 37
TERCEIRA PARTE ......................................................... 80
QUARTA PARTE ........................................................ 116
QUINTA PARTE ......................................................... 166
SEXTA PARTE ............................................................ 197
SÉTIMA PARTE .......................................................... 238
OITAVA PARTE .......................................................... 262
NONA PARTE ............................................................ 269
DÉCIMA PARTE ......................................................... 297
DÉCIMA PRIMEIRA PARTE......................................... 303
O TESOURO DA ILHA ESCONDIDA
PRIMEIRA PARTE
Esta história é sobre um bando de piratas aventureiros e
ladrões, que a bordo de um navio de nome Tormenta, cruzam
os mares de um lado a outro à procura de uma ilha no meio
do oceano; depois de navegarem pra lá e pra cá a encontram
e ao desembarcarem do navio e ao pisarem no solo da ilha,
defrontam-se com cinco rapazes, que por um mero acaso
também estão nessa ilha; a história conta as aventuras de
gatunagens desse bando de piratas aventureiros; conta
também sobre a vida dos cinco rapazes com seus familiares,
seus amigos, suas andanças; até que num determinado ponto
conta sobre o encontro dos cinco rapazes com o bando de
piratas aventureiros.
Esses piratas aventureiros encontram a ilha não por um mero
acaso, mas sim por obra de um ser superior, um ser todo
poderoso, POSEIDON, o deus dos mares e de todas as águas,
que dera a si mesmo a incumbência de proteger esse bando
de ladrões em suas gatunagens; o porquê dessa deliberação
somente ele, POSEIDON, sabia. Esses piratas aventureiros
tinham à sua frente comandando-os um homem cujo nome
era Licurgo, mas mais conhecido por todos como capitão Li;
era alto, musculoso, ombros largos, risonho, calmo, porém
enérgico; era muito respeitado e estimado por seus
subordinados; tinha como seu primeiro imediato um negro,
natural da Abissínia, um país da África, estatura também alta,
que ombreava com o capitão Li, cabeleira de cabelos lisos que
desciam abaixo dos ombros, ele os conservava presos por um
laço de fita vermelha, num coque; um segundo imediato,
3
chamado Ted, era um ruivo, cabeleira avermelhada
abundante, mas cortada curta.
O capitão Li e seus homens a bordo do Tormenta seguiam
em direção à uma cidade situada para o lado leste quando de
um modo imprevisto, súbito, inesperado, o navio sob o
impacto de fortes ondas contra o seu costado, e
impulsionado por fortes ventos, começou a desviar- se do seu
curso, tomando o rumo para o lado norte, fazendo com que o
capitão Li interpelasse o homem que tinha sob o seu
comando o timão.
-Conrad, nós vamos para leste, e não para o norte, por que
você mudou o rumo?
-Eu não mudei o rumo capitão, o leme é que não obedece ao
comando!
-Se o leme não atende então que se usem os remos e vamos
levar o navio para o leste! disse o capitão.
Mas tudo em vão, apesar de os homens acionarem os
remos, o navio continuava o seu rumo para o norte.
-Capitão, os remos não vencem a força das ondas, falou o
Ted.
-Mas que diabo está acontecendo com este navio, não
podemos contar nem com o leme e nem com os remos, e
agora? exclamou o capitão.
-Como vamos fazer, hein capitão? falou o Ted.
-Agora, Ted, vamos deixar o navio ir ao sabor das ondas, e
ver aonde ele vai parar, disse o capitão.
O que ele e os homens não sabiam e nem sequer
imaginavam, era que essa mudança de rumo do Tormenta, se
dera e fora provocada pelo poderoso deus dos mares,
Poseidon, que agitando o seu tridente fez com que as fortes
ondas, chocando-se contra o costado do navio, e o vento
inflando as velas, o levassem para um lado contrário daquele
ao qual o capitão Li pretendia!
4
Após o Tormenta ter percorrido um bom trecho de mar, as
águas se aquietaram e voltaram ao seu normal, e o navio
continuou o seu rumo em direção ao norte, seguindo sem a
agitação e o impacto das fortes ondas, quando o vigia,
chamado Ralph, avisou:
-Capitão, cidade à vista!
-Para que lado, Ralph?
-Estibordo! ele falou.
Após alguns minutos, o capitão empunhando a luneta
divisou o porto e os contornos da cidade, e então perguntou
ao Conrad:
-Conrad, o leme já responde?
-Positivo capitão, o leme já obedece ao comando, ele
respondeu.
-E os remos como estão? ele perguntou ao Ted.
-Aqui com os remos já está tudo bem, sem problemas, o Ted
respondeu.
-Muito bem, ótimo, estávamos indo para o leste, e viemos
parar no norte, sem querermos, como se o Tormenta tivesse
vontade própria, até parece coisa do outro mundo, hein Rod?
disse o capitão.
-É mesmo capitão, do jeito como o Tormenta foi
arremessado para estes lados, parece mesmo, disse o Rod.
-Vamos ver o que de bom nos aguarda por aqui, falou o
capitão.
O Tormenta foi se aproximando da cidade, e o capitão Li
disse:
-Conrad, conduza o navio até a ponta do porto!
Acionado lentamente pelos remos, o navio foi chegando ao
porto, e atracou.
O Tormenta possuía dois equipamentos que o diferençavam
de outros navios.
5
Os remos eram um deles, dois na proa e dois na popa,
tinham as pás bem largas, e ao serem movidos davam grande
impulso ao navio; foram adaptados por um amigo do capitão,
que lidava com equipamentos náuticos e a quem o capitão
consultara sobre o caso.
-Durval, será que é possível adaptar um navio com remos
que lhe dêem bastante ligeireza?
-É possível sim, eu tenho um projeto sobre isso, disse o
Durval.
-E como é esse projeto, eu posso saber? perguntou o capitão.
-Pode sim, é o seguinte: é um remo grande e com pás largas
que fica fixo na quilha, e é acionado por manivela, que
movimenta correntes que passam por roldanas, correntes
que se prendem a barras de aço, e estas se prendem no cabo
do remo, fazendo com que o mesmo vá para frente em
sentido horizontal e volte em sentido vertical, puxando um
grande volume de água, e dando ao navio uma grande
rapidez; esse remo movimenta-se em baixo da água,
causando curiosidade pela ligeireza com que o navio se
desloca, sem que se veja a movimentação do remo abaixo da
superfície, disse o Durval.
-É um remo assim que eu quero para o meu navio, eu vou
querer quatro remos, quando você pode fazê-los? perguntou
o capitão.
-Um remo desses, viu Licurgo, eu vou confeccioná-lo com
uma madeira especial, que lhe proporciona grande
resistência, só que essa madeira custa caro, e no momento eu
estou com pouco capital, se você puder me financiar eu
começo hoje mesmo, disse o Durval.
-Me diga o quanto você vai precisar, que eu lhe dou o
dinheiro!
E após certo tempo, o Tormenta ficou equipado com quatro
grandes remos, que lhe davam uma ligeireza fora do comum.
6
Após o Tormenta atracar, o capitão Li, o Rod e mais três dos
homens desembarcaram e ficaram andando pelo cais, para
averiguarem que tipo de cidade era aquela, e qual a
possibilidade que ela poderia oferecer para os seus
interesses, dos quais pudessem tirar proveitos.
O movimento no cais, apesar de ainda ser cedo já começava
a se intensificar; os vendedores em suas barraquinhas, ou
apenas em tabuleiros, aos gritos apregoavam as suas
mercadorias, como o faziam outros vendedores em outros
cais de outros portos; o capitão Li achando que nada por ali
valia a pena, resolveu que voltariam ao navio para ver o que
fazer, quando assestando a luneta para dar uma última
olhada em derredor, parou, e falou:
-Esperem um pouco!
A atenção dele foi voltada para um navio, que separado dos
demais, estava ancorado numa ponta do porto, e do qual
eram descarregadas algumas caixas tipo baú, e transportadas
por homens que eram escoltados por outros portando
espingardas, e isso o deixou curioso quanto ao conteúdo das
caixas, e pensou o que será que há nessas caixas?
, então
passou a luneta ao Rod dizendo:
-Dê uma olhada naquele navio lá naquela ponta e me diga o
que você acha.
Depois de olhar, o Rod disse:
-Eles devem estar descarregando alguma coisa de muito
valor dentro daquelas caixas, hein capitão, para os
carregadores serem acompanhados por homens armados, só
pode ser coisa de muito valor!
-E que coisas de valor poderiam ser? será que é ouro?
precisamos dar um jeito de descobrir, falou o capitão.
-O diabo é que o navio não tem bandeira, mas eu acho que
naquelas caixas deve haver mesmo ouro, roubado de povos
7
do Novo Mundo e do Caribe, ou de algum navio que vinha de
lá, e pode ter sido saqueado por eles, disse o Rod.
-É pode ter sido isso mesmo, falou o capitão.
-O que eu não entendo, é porque estão neste porto
descarregando, por quê será? disse o Rod.
-Talvez para se abastecerem, ou fazer algum reparo no navio,
e para isso terão que deixar aquelas caixas em um lugar
seguro, e o que nós temos que fazer é discretamente segui-
los e ver aonde vão colocar as caixas, e darmos um jeito de
saber o que elas contêm, falou o capitão.
Os que carregavam as caixas e os que os escoltavam saíram
da zona portuária, indo até uma rua deserta, desprovida de
casas em toda sua extensão, uma rua sem saída no final da
qual havia apenas um barracão todo de madeira, telhado de
zinco, uma janela lateral do lado esquerdo, uma porta que
estava entreaberta; os homens entraram, empilharam as
caixas num canto e saíram, ficando apenas dois deles,
armados com espingardas um dentro, e o outro fora, de
guarda; o capitão Li que acompanhava, através da luneta,
toda a movimentação dos homens desde o porto até o
barracão, disse para o Rod:
-Ficaram só dois deles de guarda, um dentro e outro fora, o
resto deve ter ido até a taberna, beber.
-Tomara que bebam bastante, se embriaguem, para facilitar
nosso trabalho, falou o Rod.
-Isso, que bebam até caírem, falou o capitão, rindo.
-E como faremos para entrar nesse barracão? disse o Rod.
-Ainda não sei, parece não haver brecha nenhuma ou alguma
tábua solta por onde pudéssemos entrar, precisamos
encontrar uma maneira de entrarmos sem que seja
necessário usar a força, os dois de guarda estão armados e se
houver tiros, vai alertar os que estão na taberna, e aí a coisa
engrossa, falou o capitão.
8
-Tiago, vá até o Tormenta e diga para o Ted mandar para cá o
Dog, o Urso e o Dois Pontos; venham com dois barcos,
deixem-nos naquela foz à direita deste barracão, e para o
Conrad vir com o navio e atracá-lo próximo daqui, e tudo isso
o mais rápido possível!
O Dog, o Urso e o Dois Pontos eram os homens que o capitão
Li acionava quando havia necessidade do uso da força e da
violência; o capitão pensava em achar uma maneira de entrar
naquele barracão sem que fosse necessário o uso da força,
mas em todo caso, é como se diz, prevenção nunca é demais.
O Dog era um sujeito muito forte, de estatura um tanto
baixa, atarracado, musculoso, ombros largos, e numa briga
era implacável, quem o desafiava saia muito ferido, ou até
sem vida; o Urso, como próprio apelido sugere, era um
camarada grandão, espadaúdo, encorpado, e o que o
caracterizava eram os braços e as mãos, grandes, muito
fortes, e quando num acesso de fúria agarrava alguém,
consequentemente esse alguém não escapava de ficar todo
quebrado, ou até morto; quanto ao Dois Pontos, este era o
inverso aos seus dois outros companheiros no aspecto físico,
magro, não muito alto, dando a impressão de ser destituído
de força muscular, o próprio apelido não ajudava, muitos o
consideravam motivo de chacota; ao contrário do Dog e do
Urso, ele tinha um sorriso fácil, parecia estar sempre
sorrindo, o que reforçava a impressão de ser um sujeito
pacífico, manso, porém ele possuía uma rara habilidade em
matéria de armas brancas, facas,punhais, sabres, espadas, e
outras mais, tinha as mãos, tanto a direita quanto a esquerda,
privilegiadas no uso e no arremesso dessas armas, aptidão
que adquirira desde os tempos de garoto, quando pedia para
marcarem num alvo dois pontos próximos um do outro, e
perguntava em qual dos pontos queriam que acertasse, no de
cima, ou no de baixo, ele então arremessava a faca, e para
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assombro de todos, acertava bem no meio do ponto
escolhido, e às vezes alguém o provocava dizendo querer vê-
lo acertar nos dois pontos ao mesmo tempo, e ele não
titubeava, num relance, com as facas uma em cada mão,
atirava-as cravando-as nos dois pontos, no de cima e no de
baixo ao mesmo tempo e foi daí que veio o seu apelido "Dois
Pontos".
Depois que o Tiago voltou com o Dog, o Urso e o Dois Pontos
juntando-se ao capitão Li, ao Rod, ao Fred e ao Hugo,
aproximaram-se um pouco mais do barracão a fim de verificá-
lo melhor, e ver se não haveria um jeito de entrarem
despercebidos sem que para isso fosse necessário usar da
violência, o capitão comentou com o Rod:
-Se houvesse algum jeito de entrarmos nesse galpão,
enquanto o guarda aqui de fora fosse rendido, dominaríamos
o lá de dentro, antes que ele desse o alarme, mas não tenho
idéia de como isso poderia ser, você tem?
-Eu também não, capitão, acho que temos mesmo que forçar
a entrada, ele respondeu.
-Isso seria ruim, o guarda lá de dentro daria o alarme e
alertaria os outros na taberna, e teríamos que enfrentá-los, e
estaríamos em desvantagem, disse o capitão.
-E é uma pena, se tivermos que desistir desse ouro, isto é, se
for ouro mesmo que tem nessas caixas ai dentro, não é? disse
o Rod.
-Eu acho que é mesmo ouro, mas deixe-me pôr o
pensamento em ordem e ver se acho um jeito de
contornarmos esse problema! disse o capitão.
Enquanto o capitão Li cogitava em encontrar uma maneira de
solucionar aquele impasse, os outros também davam tratos à
bola, e um deles, o Hugo, exclamou:
-Capitão, e se nós matarmos o guarda aqui de fora e
pusermos fogo na porta, o guarda de dentro vai ter que sair,
10
nós o matamos também, e ai entramos nesse galpão, o que o
senhor acha?
-O que eu acho? acho que isso só complicaria a situação, o
fogo poderia se alastrar pelo barracão todo, chamando a
atenção dos que estão na taberna, e nós teríamos que fugir
de mãos abanando, ele falou.
-Capitão, eu tenho uma sugestão que talvez dê certo sem
que seja preciso usar de violência, de maneira silenciosa,
falou o Tiago.
-E que sugestão é essa, Tiago? perguntou o capitão
(esperando ouvir mais uma idéia maluca).
-Lá onde eu morava, uma vez eu estava andando pelo cais do
porto, e vi uns homens carregando umas gaiolas e dentro
delas havia macacos que estavam desacordados, nem se
mexiam, e um dos homens dizia "esse tal de sonífero é bom
mesmo, hein?, a droga faz com que esses macacos durmam, e
fica mais fácil carregá-los, não é?" e agora quando
voltávamos para cá, eu reparei que uns homens aí no porto,
saiam de uma sala carregando umas gaiolas nas quais havia
também macacos desacordados, naturalmente deviam estar
drogados, disse o Tiago.
-Vai ver que os macacos lá de onde você morava, assim como
os macacos daqui, devem servir para algum experimento, e o
que tem isso a ver com o nosso caso? perguntou o Rod.
-É que se aqui também dão droga para os macacos
dormirem, nós podíamos arranjar um pouco dessa droga e
dar para os guardas ai do galpão, e assim que eles dormirem,
podemos entrar sossegados, sem precisar usar a força, e fazer
o que pretendemos, não é mesmo? disse o Tiago.
-É isso mesmo, bem pensado, vamos ver se conseguimos
arranjar um pouco dessa droga, damos para os guardas, e
assim que dormirem nós entramos nesse galpão! disse o
capitão.
11
-Tudo bem capitão, e como é que vamos fazer para dar a
droga aos guardas, isto é, se nós a conseguirmos? perguntou
o Rod.
O capitão refletiu um instante e disse:
-Primeiro vamos ver se a conseguimos, depois pensaremos
num jeito de dá-la para os guardas!
-Certo capitão, e de que lugar do porto você viu saírem esses
macacos, hein, Tiago? perguntou o Rod.
-Ali aonde tem os armazéns, de uma sala com a porta toda
pintada de vermelho, ele respondeu.
O capitão então disse para o Rod.
-Eu e você vamos até lá, e vocês (para os homens) nos
esperem na taberna.
Eles então foram até o porto onde ficavam os armazéns, e
identificaram a sala com a porta pintada de vermelho, era a
única sala com a porta pintada com aquela cor, ao lado da
qual havia um aviso, pregado na parede, em letras
maiúsculas: "TERMINANTEMENTE PROIBIDA A ENTRADA AOS
ESTRANHOS". Eles ignoraram o aviso, e como a porta estava
só encostada, entraram, passaram por um corredor no fim do
qual havia uma sala onde num canto estavam empilhadas
várias gaiolas vazias, e num outro canto um homem sentado
num caixote e fumando, que assim que os viu levantou-se
exclamando, um tanto brusco.
-Ei! Ei! vocês dois não leram o aviso lá fora? que é proibida a
entrada de estranhos? podem dar meia volta, e vão dando o
fora vão!
-Calma, calma, não precisa ficar nervoso, falou o capitão,
sorrindo.
-Eu não estou nervoso, só estou falando para vocês darem o
fora, saírem daqui, voltarem para o mesmo lugar por onde
entraram, é só isso, vocês não podem ficar aqui, é proibido,
só isso, falou o homem, num fôlego só.
12
O capitão então resolveu entrar direto no assunto.
-Nós só queremos que você nos arranje um pouco dessa
droga que faz os macacos dormirem, ele falou (e ficou
observando a reação do homem).
-Que conversa besta é essa? aqui não tem nenhuma droga
que faz macacos dormirem, vocês estão loucos? ele falou.
O capitão então tirou algumas moedas de ouro do bolso,
dizendo:
-Nós podemos pagar!
O homem ao ver as moedas, arregalou um pouco os olhos,
mostrando-se um tanto mais amistoso, mas ainda mostrava-
se um pouco relutante, o capitão então tirou mais algumas
moedas pondo-as junto com as outras na palma da mão,
estendida, o homem então perguntou:
-Quem disse para vocês que aqui tem droga que faz dormir?
-Foi um sujeito aí no porto, respondeu o capitão.
-Suponhamos que tenha mesmo, para que vocês a querem?
ele perguntou.
O Rod deu uma olhadinha de esguelha para o capitão, e
pensou consigo e agora capitão, o que vamos alegar?
O capitão nesse meio tempo já havia pensado em como dar
uma desculpa, e respondeu:
-É que nós temos no nosso navio um cachorro que é muito
querido por todos, muito estimado, um ótimo animal, mas ele
está com uma doença que se não for operado logo poderá
morrer, mas para isso precisa ficar desacordado, por isso
queremos essa droga!
-Você tem algum cachorro? perguntou o Rod.
-Tenho sim, lá em casa tenho três.
-Então, você sabe como deve ser triste ter que perder um
cachorro que é amigo de todo mundo, que é muito estimado,
quando se tem a possibilidade de salvá-lo, não é mesmo?
falou o capitão, num tom pesaroso.
13
-Sei mesmo, disse o homem.
Com esse argumento, e com as moedas que o capitão
colocou em suas mãos, o homem disse:
-Tudo bem, se é para salvar o cachorro eu vou arranjar um
pouco dessa droga, mas vocês têm que jurar não contar a
ninguém, por que senão eles me matam, disse o homem (sem
explicar quem eram eles
).
-Pode ficar sossegado, nós juramos por quem você
quiser,que ninguém vai ficar sabendo, falou o capitão.
O homem abriu um armário de onde tirou um embrulho em
papel, e entregou ao capitão, dizendo:
-Este pó deve ser misturado na água ou na comida, não
precisa ser muito, um pouco só e num minuto o cachorro vai
ficar desacordado, o efeito é rápido, e dura algumas horas.
O capitão Li pôs o pacote no bolso de dentro do casaco, de
maneira que não dava para se perceber nada, e ele e o Rod
estavam saindo quando um camarada que ia entrando,
interpelou-os de modo ríspido:
-Ei! vocês dois, o que estavam fazendo ai dentro, por acaso
não leram o aviso que é proibida a entrada de estranhos, ou
será que não sabem ler,hem?
O capitão e o Rod ficaram por um momento um tanto
indecisos, mas logo se refizeram, e o capitão falou.
-Nós quase nem entramos, um camarada que estava lá
dentro nos expulsou aos berros, eta sujeito esquentadinho,
hein!
-Pois ele fez muito bem, e o que vocês queriam ai dentro?
-Simples curiosidade; estamos dando umas voltas, enquanto
nosso navio está sendo carregado, respondeu o Rod.
-Pois então voltem lá para o seu navio, saiam daqui, por que
por aqui não há nada que lhes interessa, disse o homem, com
a mesma rispidez.
14
-Sim senhor! Sim senhor! já estamos saindo! já estamos indo
embora! exclamou o capitão (com uma voz dissimulada, num
tom como se estivesse amedrontado, e dando uns passinhos
apressados, encenando uma ligeira corridinha, como se
estivesse assustado) com o Rod se segurando, para não cair
na gargalhada, enquanto o camarada lá dentro ria de toda
aquela pantomima, e acariciava as moedas de ouro no seu
bolso.
O capitão e o Rod tomaram o rumo da taberna, onde os
outros os aguardavam, e nesse trajeto o capitão arquitetava
um plano de como fazer a droga chegar até os dois que
davam guarda no barracão.
Ao chegarem à taberna se juntaram aos outros, e o Tiago
quis saber:
-Então capitão, tinha mesmo droga naquela sala?
-Tinha sim, você acertou em cheio, ele disse.
-E o senhor conseguiu um pouco dela? o Tiago perguntou.
-Consegui sim, agora é preciso achar um jeito de fazê-la
chegar aos dois lá no galpão, ele falou.
Na taberna o ambiente era igual ao de outras tabernas de
outras cidades, um ar enfumaçado, o zunzum de um vozerio
entrecortado por risadas e exclamações como puxa!
, "não
diga,
esta é muito boa mesmo!", principalmente das
mulheres, que como em outras tabernas eram presença
obrigatória para entreter os homens, fazê-los gastar o
máximo possível com as bebidas; o capitão viu vários homens
reunidos em algumas mesas, entre eles alguns tendo
espingardas encostadas ao lado, e todos consumiam muita
bebida, sempre incentivados pelas mulheres que os
entretinham, e todos eles já davam indícios de embriaguez, o
que fez o capitão comentar com o Rod:
15
-Aqueles devem ser os que guardam aquelas caixas naquele
barracão, e já estão bêbados, tanto melhor, assim podemos
agir com mais tranqüilidade.
Nisso uma moça trajando um vestido cuja barra descia um
pouco abaixo dos joelhos, de cor azul, e uma fita larga, de cor
vermelha, nos cabelos, chegou à mesa onde o capitão estava
e perguntou:
-Vocês vão querer o quê?
Era a garçonete, cuja função, assim como também das suas
colegas, era tão somente servir às mesas, enquanto as outras
mulheres se encarregavam de entreter os homens, fazendo-
os gastarem o mais que possível em bebidas.
-Pode trazer cerveja, disse o capitão.
Ela trouxe as cervejas, depositou-as na mesa, e disse com um
sorriso:
-Se quiserem mais alguma coisa além da cerveja, é só me
chamarem.
-Nós vamos querer sim, disse o capitão.
-Se vocês quiserem comida, nós temos, ela disse.
-Comida vai bem, mas queremos também um favorzinho
seu, falou o capitão, sorrindo.
-Um favorzinho?
e que favorzinho
, vocês vão querer?
-Você está vendo aqueles homens ali naquela mesa? o
capitão falou.
-Estou sim, e o que tem isso? ela perguntou.
-Eles estão comendo e bebendo e se divertindo, mas tem
dois companheiros deles que estão trabalhando, montando
guarda numas coisas que estão num barracão, e talvez estes
aqui se esqueçam deles, e eles naturalmente vão ter sede e
fome, não é mesmo? disse o capitão.
-Pode ser que sim, mas o que é que vocês têm a ver com isso,
e qual o favorzinho
que vocês querem de mim? ela
perguntou.
16
-É que nós somos muito religiosos, e nossa religião ensina
que uns se divertem enquanto outros trabalham, e os que
trabalham têm um merecimento maior, por isso nós
queremos mandar um pouco de comida e uma bebida para
eles, você não quer fazer esse favorzinho
pra nós, levar
comida e bebida para eles, fazer essa caridade para com
aqueles coitados? falou o capitão, num tom pesaroso.
-Ué! e por que vocês mesmos não fazem isso? ela perguntou.
-Por que se for você, uma moça tão bonita a levar comida e
bebida para eles, eles vão ficar muito contentes, e vão comer
e beber com muito mais gosto! respondeu o capitão,
sorrindo.
-E me diga uma coisa, essa sua religião permite que vocês
bebam? ela perguntou,com uma risadinha marota.
-Só um pouquinho, sem exagerar, ela ensina que devemos
apreciar as coisas que Deus pôs no mundo, e a cerveja é uma
delas, mas só um pouquinho, disse o capitão, muito sério.
-Você pode nos fazer esse favorzinho?
perguntou o Rod à
moça.
-Vocês vão me desculpar, mas eu não posso sair daqui
durante o serviço, o homem ali não deixa, e eu só termino à
noite, ela disse.
-É uma pena, será que não haveria alguma outra garota,
bonita como você, que você conheça, e que poderia fazer
isso? perguntou o capitão.
-Eu estou pensando na minha irmã, talvez ela possa fazer
esse favorzinho
pra vocês, vocês podem falar com ela, a
moça falou.
-E onde é que nós podemos falar com ela? o capitão
perguntou.
-Lá em casa, ela respondeu.
-E ela é tão bonita quanto você? o Rod perguntou.
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-É muito mais bonita do que eu, ela exclamou, com
vivacidade.
-Então ela é maravilhosa, hein? ele disse, sorrindo.
-E você acha que ela vai nos atender? o capitão perguntou.
-Eu escrevo um bilhete dizendo o que vocês querem, e vocês
entregam para ela lá em casa, ela respondeu.
-E como vamos fazer para achar a sua casa? aonde é que
você mora? o capitão perguntou.
Ela então indicou o caminho, dizendo:
-É perto daqui, uma casa com um pequeno jardim na frente,
toda pintada de branco, com janelas pintadas de verde.
-E como é que você se chama? perguntou o capitão.
-Joana, ela disse.
-E sua irmã? ele perguntou.
-Naralúcia, mas todos a tratam por Lú, ela respondeu.
-Tudo bem, então Joana, você pode mandar preparar um
lanche, que nós vamos entregar para a sua irmã levar para
aqueles dois, e olha, não precisa dizer nada para esses
companheiros deles que estão aqui se divertindo, viu? nós
não queremos agradecimentos, só queremos fazer o bem,
cumprir nosso dever para com o próximo, falou o
capitão,sorrindo.
-Vocês são muito bons! ela disse.
Depois que ela se afastou, o Tiago disse, rindo:
-Capitão, muito boa essa sua conversa, hein!
-Tudo por uma boa causa! o capitão falou, também rindo.
A Joana voltou trazendo um embrulho com o lanche, o
bilhete para sua irmã, e a conta de tudo e dizendo:
-Pode pagar ali no caixa.
O capitão tirou umas moedas de ouro do bolso, e pondo-as
na mão da Joana, disse:
-Isto é pelo seu bom atendimento, e sua simpatia.
-Ah! muito obrigada.
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Antes de saírem, o capitão deu uma olhada para onde
estavam os homens das caixas, e disse para o Rod.
-Aqueles ali já nem se agüentam de pé, de tão bêbados que
estão!
-Que continuem assim, melhor para nós, falou o Rod.
Lá fora, sem serem observados, o capitão e o Rod
misturaram a droga nos lanches, e o capitão disse para os
homens:
-Vocês nos esperem nas proximidades do barracão, que
daqui a pouco estaremos lá.
Então ele e o Rod foram até a rua indicada pela Joana, e
localizaram a casa, pintada toda de branco, com janelas
pintadas na cor verde, uma construção simples, modesta, de
madeira, com um pequeno jardim na frente, aonde naquele
momento duas crianças brincavam de pular corda, com dois
cachorros aos saltos, latindo, tentando pular também, e ao
verem o capitão e o Rod parados junto ao portão, tanto as
crianças como os cachorros pararam de brincar, e ficaram
olhando sérios para eles, então o capitão perguntou:
-É aqui que mora a Lú?
-É sim, por quê? perguntou uma das crianças, uma
menininha.