O Conhecimento De Deus
De Silvio Dutra
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O Conhecimento De Deus - Silvio Dutra
Saber como é que Deus conhece todas as coisas faz parte do nosso conhecimento do próprio Deus, porque está intimamente ligado à sua essência divina tanto o conhecimento quanto a sabedoria que ele possui.
Se é assim, como de fato é, então é totalmente vital para o nosso próprio benefício e interesse quanto ao bem-estar eterno de nossas almas, que busquemos este conhecimento, porque conforme declarado nas Escrituras, a nossa justificação que nos dá acesso à vida eterna é por meio do nosso conhecimento de Deus Pai e de Jesus Cristo.
Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficará satisfeito; o meu Servo, o Justo, com o seu conhecimento, justificará a muitos, porque as iniquidades deles levará sobre si.
(Isaías 53.11).
"1 Tendo Jesus falado estas coisas, levantou os olhos ao céu e disse: Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que o Filho te glorifique a ti,
2 assim como lhe conferiste autoridade sobre toda a carne, a fim de que ele conceda a vida eterna a todos os que lhe deste.
3 E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste." (João 17.1-3).
O conhecimento aqui referido em ambas passagens da Bíblia é o conhecimento pessoal, real, espiritual de Jesus Cristo, por uma relação íntima com ele, pela revelação que é feita pelo Espírito Santo e que nos conduz à justificação e conversão.
Não se trata, portanto, de conhecimento nocional, de algo que seja adquirido por mera leitura ou por se ouvir falar de, ainda que a pesquisa e audição da Palavra seja muito importante para nos conduzir ao conhecimento do Deus verdadeiro.
O apóstolo João apresenta uma forma simples para reconhecermos se conhecemos de fato o Senhor:
"3 Ora, sabemos que o temos conhecido por isto: se guardamos os seus mandamentos.
4 Aquele que diz: Eu o conheço e não guarda os seus mandamentos é mentiroso, e nele não está a verdade." (I João 2.3,4).
O conhecimento que produz o novo nascimento do crente leva-o a amar a Jesus, e este amor é evidenciado pelo seu desejo de santificar-se agradando-o em tudo, e isto se faz por guardar os Seus mandamentos. Onde falta isto, o apóstolo afirma que há autoengano quanto ao conhecimento real de Deus.
Mas como Deus é infinito, não podemos almejar ter aqui neste mundo um conhecimento infinito e perfeito da Sua pessoa divina. Isto é impossível. Mas, por ser infinito somos chamados a ter um conhecimento pleno, ou seja, cheio, e não superficial, de quem Ele seja de fato, e de como opera por seus atributos, de modo que ajustemos o nosso pensamento e comportamento a isto. (Romanos 3.20, Efésios 1.17,18; 4.13; Filipenses 1.9,10; Colossenses 1.9,10; I Timóteo 2.3,4; Tito 1.1; Hebreus 10.26; II Pedro 1.1-8).
Nosso Senhor Jesus Cristo também deixou muito claro para nós, em seu ensino, que ninguém que permaneça num comportamento mundano e amando o mundo, não pode receber a habitação do Espírito Santo, e nem tampouco a manifestação do Pai e do Filho em sua vida.
A razão disto é que os que chegam ao conhecimento de Deus por crerem em Cristo não são mais do mundo, apesar de ainda permanecerem no mundo. A mente deles é renovada para conhecerem a vontade de Deus, e eles não tomam mais a forma do mundo para ser o padrão do seu procedimento. Estas verdades podem ser vistas em muitos textos bíblicos, mas especialmente nos seguintes:
"16 E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, a fim de que esteja para sempre convosco,
17 o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o conhece; vós o conheceis, porque ele habita convosco e estará em vós.
18 Não vos deixarei órfãos, voltarei para vós outros.
19 Ainda por um pouco, e o mundo não me verá mais; vós, porém, me vereis; porque eu vivo, vós também vivereis.
20 Naquele dia, vós conhecereis que eu estou em meu Pai, e vós, em mim, e eu, em vós.
21 Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele.
22 Disse-lhe Judas, não o Iscariotes: Donde procede, Senhor, que estás para manifestar-te a nós e não ao mundo?
23 Respondeu Jesus: Se alguém me ama, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos para ele e faremos nele morada.
24 Quem não me ama não guarda as minhas palavras; e a palavra que estais ouvindo não é minha, mas do Pai, que me enviou." (João 14.16-24).
"18 Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim.
19 Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; como, todavia, não sois do mundo, pelo contrário, dele vos escolhi, por isso, o mundo vos odeia.
20 Lembrai-vos da palavra que eu vos disse: não é o servo maior do que seu Senhor. Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós outros; se guardaram a minha palavra, também guardarão a vossa.
21 Tudo isto, porém, vos farão por causa do meu nome, porquanto não conhecem aquele que me enviou." (João 18.15-21).
"1 Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.
2 E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus." (Romanos 12.1,2).
Qual a razão de tudo isto, senão que sendo Deus puro espírito, somente pode ser conhecido espiritualmente, e isto não será possível se temos apenas uma mente natural, carnal, mundana, ligada às coisas visíveis do mundo e não àquelas que são espirituais, celestiais e divinas, que nos são comunicadas pela habitação do Espírito Santo, e conforme as palavras de Jesus, até mesmo do Pai e do Filho (João 14.23).
E não se pense que haja qualquer dificuldade que o crente tenha também a morada do Pai e do Filho em si, porque isto é possível pelo fato de tanto o Pai e o Filho, assim como o Espírito Santo, terem o atributo da onipresença. Jesus, apesar de ter um corpo glorificado no céu, pode estar em espírito onde quer que lhe agrade, sem deixar de estar também em espírito em seu corpo glorificado no céu. Ele apareceu a Paulo não somente na visão em que ele caiu do cavalo em cegueira, como também quando lhe ensinou pessoalmente o evangelho. Ele não estará em corpo na terra até a Sua segunda vinda, mas nada impede que esteja em espírito.
Assim, podemos adquirir o conhecimento verdadeiro de Deus, ajustando-nos ao modo como ele próprio conhece todas as coisas.
Vejamos então a seguir, verdades relativas ao conhecimento que há no próprio Deus, destacando também para este propósito citações de Stephen Charnock que traduzimos sobre este assunto e que traduzimos pioneiramente para língua portuguesa.
Grande é o Senhor nosso e mui poderoso; o seu entendimento não se pode medir.
(Salmo 147.5)
É incerto quem foi o autor deste salmo, e quando foi escrito; alguns pensam que foi depois do retorno do cativeiro babilônico.
É um salmo de louvor e é feito de louvor desde o princípio até o fim: os benefícios de Deus para a igreja, sua providência sobre suas criaturas e a excelência essencial de sua natureza.
O salmista duplica sua exortação para louvar a Deus (ver. 1): Louvai o Senhor louve ao nosso Deus
para louvá-lo por seu domínio como Senhor
, da sua graça e como nosso Deus
, da excelência do próprio dever, é bom, é gracioso:
alguns interpretam, que é agradável, adorável ou desejável, das várias derivações da palavra. Nada encanta tanto uma alma graciosa como uma oportunidade de celebrar as perfeições e a bondade do Criador. Os deveres mais elevados que uma criatura pode render ao Criador são agradáveis e deleitáveis em si mesmos.
O louvor é um dever que afeta toda a alma. O louvor a Deus é uma coisa decente; a excelência da natureza de Deus merece isso, e os benefícios da graça de Deus exigem isso. É agradável quando feito como deveria ser, com o coração, bem como com a voz; um pecador canta mal, embora sua voz seja boa; a alma nele deve ser elevada acima das coisas terrenas.
Um motivo para o louvor é o fato de Deus erigir e preservar sua igreja (ver. 2): O SENHOR edifica Jerusalém e congrega os dispersos de Israel.
Os muros da Jerusalém demolida são agora reedificados; Deus trouxe de volta a Judá do cativeiro, e libertou seu povo do seu exílio babilônico e os que foram dispersos em regiões estrangeiras, ele restaurou ao seu território.
Ou então, pode ser profético do chamado dos gentios e da reunião dos excluídos do Israel espiritual, que estavam antes sem Deus no mundo e estranhos ao pacto da promessa. Que Deus seja louvado, mas especialmente por edificar a sua igreja, e reunir os gentios, antes contados como dispersos (Is 11:12); ele os reúne neste mundo para a fé e depois para a glória.
Obs. 1. Dos dois primeiros versos, observe: 1. Todas as pessoas estão sob o cuidado de Deus; mas ele tem uma consideração particular à sua igreja. Isto é um sinete na mão, como uma pulseira no braço; este é o seu jardim que ele se deleita em visitar; se ele o podar, é para purificá-lo; se ele arar a sua videira, e limpar os ramos, é para torná-la bonita com novos cachos e restaurá-la a um vigor frutífero.
2. Todas as grandes libertações devem ser atribuídas a Deus, como o principal Autor, quem quer que sejam os instrumentos.
O Senhor constrói Jerusalém, ele reúne os excluídos de Israel. Esta grande libertação da Babilônia não deve ser atribuída a Ciro ou Dario, ou ao resto de nossos favorecedores; é o Senhor quem faz isso; nós tínhamos a promessa dele, agora temos a realização dela. Não vamos atribuir o que é o efeito de sua verdade, somente para a boa vontade dos homens; é o ato de Deus, não por força, nem por poder, nem por armas de guerra, ou força de cavalos, mas pelo Espírito do Senhor. Ele enviou profetas para nos confortar enquanto éramos exilados; e agora ele estendeu o próprio braço para trabalhar libertação de acordo com sua palavra. O cego olha tanto para instrumentos, que ele dificilmente toma conhecimento de Deus, seja em aflições ou misericórdias, e esta é a causa que rouba a Deus tantas orações e louvores no mundo. (ver. 3). Ele cura os quebrantados de coração, e liga as suas feridas.
Ele agora restaurou aqueles que não tinham esperança senão em sua palavra; ele lidou com eles como um terno e hábil cirurgião; ele aplicou seus curativos e seus bálsamos soberanos; ele agora forneceu nossos corações desmaiados com refrescantes consolos, e confortou nossas feridas com o fortalecimento de ligaduras. Quão gracioso é Deus, que restaura a liberdade aos cativos, e faz justiça ao penitente! A miséria do homem é a oportunidade mais adequada para Deus tornar sua misericórdia ilustre em si mesma.
Ele prossegue (ver. 4), não admira que Deus chame os excluídos, e os destaque de todos os cantos por um retorno; por que ele