Graça Sobre Graça
De Silvio Dutra
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Graça Sobre Graça - Silvio Dutra
1 - Graça
Há um grande paradoxo no entendimento relativo à graça divina, uma vez que se costuma considerar como sendo graça exatamente o oposto daquilo que a graça que nos foi dada em Cristo é na verdade; pois os dons naturais e comuns de Deus para toda a humanidade são buscados por pessoas religiosas como se fossem o grande propósito da vida cristã.
Geralmente, visa-se tão somente ao que é externo, e não propriamente o que seja espiritual, celestial e divino, para ser aplicado à transformação do próprio caráter e vida, segundo o propósito de Deus na concessão da Sua graça que nos foi dada em Cristo.
Todavia, a Bíblia não nos deixa cegos quanto a este importantíssimo assunto, conquanto podemos observar na grande maioria das passagens bíblicas referentes à graça, qual é o propósito de Deus quanto à sua concessão.
Antes de tudo a graça não é dogma, mas o poder de Deus para o atingimento do objetivo da fé, a saber, a nossa salvação. E é no conhecimento da mesma graça que devemos crescer com vistas ao nosso aperfeiçoamento espiritual.
O maior dom que temos recebido da graça de Deus é a vida do próprio Cristo e a habitação do Espírito Santo em nós. As demais graças são consequência desta referida e gravitam em torno da mesma.
Quando estamos na graça, esta produz um bom estado na alma que pode ser discernido em espírito tanto por nós, quanto por aqueles que estiverem na mesma condição.
A graça divina é o maior poder operante neste mundo, pois somente ela é mais forte do que o poder do pecado.
O nosso acesso a esta graça, na qual estamos firmes pela fé, e sem correr o risco de sermos rejeitados por Deus, custou um alto preço a nosso Senhor Jesus Cristo – o preço do seu sofrimento e derramamento do seu sangue numa terrível morte de cruz.
É impróprio, por conseguinte, o pensamento associado à palavra graça, de ser algo fácil ou barato.
A salvação é de fato gratuita, mas custou o preço de morte para Cristo, carregando os nossos pecados, e para nós, ela exige o pagamento do preço da nossa consagração a Deus, uma vez tendo sido convertidos mediante a simples fé no Senhor.
Fomos comprados por preço para vivermos para Deus.
Com o advento de Jesus Cristo foi inaugurada uma nova dispensação para substituir a antiga que vigorou desde os dias de Moisés. Daí ser chamada de dispensação da graça, enquanto a antiga era chamada de dispensação da Lei.
Deus está sendo longânimo nesta dispensação em relação a todos os pecadores, concedendo-lhes assim a oportunidade de se arrependerem e crerem em Cristo, de modo a serem livrados da condenação eterna. Esta é uma das características essenciais da citada dispensação.
Você pode ler os versículos bíblicos contendo destacada a palavra charis (no original grego) – graça; acessando o seguinte link:
http://www.recantodasletras.com.br/mensagensreligiosas/5390645
2 - Todo Mérito é da Graça
Temos de fato um viver abençoado quando obedecemos a Deus, dedicando-nos à prática das boas obras.
Mas, é preciso não confundir que a graça, que se manifesta num viver obediente, nunca é decorrente dos nossos méritos pessoais, mas sempre dos méritos de Jesus.
De fato, se não há disposição para obedecer à verdade, já não há qualquer graça para operar.
Quem busca acha. Ao que bate se lhe abre a porta. Ao que pede se lhe é dado.
A nós cabe agradecer e dar não apenas o nosso esforço, mas a nossa própria vida para o serviço de Deus, para que Ele a use como for do Seu inteiro agrado.
A consagração pessoal é necessária para que o Espírito Santo possa realizar a sua obra em nossas vidas, afinal Ele mesmo é uma das preciosas e grandes promessas da Nova Aliança, para todo o que crê (Gál 3.24).
Não podemos esquecer que a própria lei prescrevia a fé, o amor, a justiça e a misericórdia.
A lei não é contrária à graça e à fé. Mas, a lei de si mesma, nada pode fazer além de afirmar o amor, pois não pode gerá-lo; de afirmar a vida eterna com Deus, mas não pode também gerá-la; de apontar a necessidade da salvação para o pecador, mas, não pode produzi-la. Somente a graça pode operar tudo isto, pela fé, e tudo o mais que se relacione à vontade de Deus.
Apesar de ser santa, justa, boa e espiritual, a lei não pode, no entanto, nos salvar (Rom 7.12,14).
A graça não é, portanto, contrária à lei e nem a descumpre, antes é o potencial necessário para o cumprimento da lei.
Anulamos, pois, a lei pela fé? De modo nenhum; antes estabelecemos a lei.
(Rom 3.31)
16 Porquanto procede da fé o ser herdeiro, para que seja segundo a graça, a fim de que a promessa seja firme a toda a descendência, não somente à que é da lei, mas também à que é da fé que teve Abraão, o qual é pai de todos nós.
(Rom 4.16)
Ora, se o cumprimento da lei só é possível pela graça, quão improcedente é, portanto, a quase aversão que muitos legalistas sentem só de ouvir falar a palavra graça.
O problema é que esta não é uma forma correta de se abordar a questão.
A vida cristã não consiste nem em se defender a graça, nem em se defender os mandamentos, mas sim em viver a vida de Jesus pela graça, para que se possa cumprir seus mandamentos, os quais confirmam muito dos que existem na própria Lei.
"23 Tu, que te glorias na lei, desonras a Deus pela transgressão da lei?
24 Assim pois, por vossa causa, o nome de Deus é blasfemado entre os gentios, como está escrito.
25 Porque a circuncisão é, na verdade, proveitosa, se guardares a lei; mas se tu és transgressor da lei, a tua circuncisão tem-se tornado em incircuncisão.
26 Se, pois, a incircuncisão guardar os preceitos da lei, porventura a incircuncisão não será reputada como circuncisão?
27 E a incircuncisão que por natureza o é, se cumpre a lei, julgará a ti, que com a letra e a circuncisão és transgressor da lei.
28 Porque não é judeu o que o é exteriormente, nem é circuncisão a que o é exteriormente na carne.
29 Mas é judeu aquele que o é interiormente, e circuncisão é a do coração, no espírito, e não na letra; cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus. (Rom 2.23-29)
Este gloriar dos judeus na Lei, referido por Paulo, não significa de modo algum a rejeição do apóstolo da Lei, mas a confiança deles de que poderiam ser salvos pela Lei à custa da rejeição da graça de nosso Senhor Jesus Cristo.
Os dez mandamentos revelados por Deus ao povo de Israel nos dias de Moisés confirmam a sua proveniência divina, e nos falam da perfeição em santidade do Senhor, uma vez que não se resumem a ordenanças morais, tal como se vê na lei dos homens.
Antes de citar os deveres morais na segunda parte dos mandamentos, com o dever de se honrar os pais, e a proibição de mentir, furtar, matar, adulterar e cobiçar, Deus fixou antes, na primeira parte, a necessidade de se lhe prestar honra, reverência e culto, pois sem isto, não é possível que o homem cumpra perfeitamente as suas obrigações morais para com Deus e para com o seu próximo.
Daí ser ordenado antes de tudo que se adore tão somente a Deus; que o Seu nome seja santificado e honrado e que se separe obrigatoriamente um dia semanal para a dedicação exclusiva à adoração e ao serviço do Senhor.
Temos assim, uma pista, já na perfeição da Lei dada a Moisés, quanto ao modo correto da santificação:
Primeiro amar a Deus, separar-se para Ele, cultuá-lo em devoção sincera, e assim sendo feito bom o coração pela Sua graça divina, a vida moral reta será uma mera consequência de tal adoração em espírito e em verdade.
E é exatamente tal ordem que encontramos no Novo Testamento, quanto ao modo da santificação, e do serviço a Deus e ao próximo.
Porque em Cristo Jesus nem a circuncisão nem a incircuncisão vale coisa alguma; mas sim a fé que opera pelo amor.
(Gál 5.6)
Pois nem a circuncisão nem a incircuncisão é coisa alguma, mas sim o ser uma nova criatura.
(Gál 6.15)
Em outras palavras: nem o judeu, nem o gentio, nem o legalista, nem o adepto da graça, têm no que se gloriar, caso não sejam novas criaturas em Cristo, e não vivam no amor que é pela fé.
Quem amará com o mesmo amor de Deus, conforme a lei exige, caso não seja capacitado pela graça para tal?
E tudo o mais que a lei exige, a qual é espiritual e santa, dada e revelada pelo próprio Deus, por acaso, não só poderá ser cumprido se formos capacitados antes pela graça de Jesus?
Quem é suficiente para isto?
Por isso Paulo dizia que a sua suficiência vinha de Deus, e que tudo o que fazia segundo a Sua vontade era conforme capacitação da Sua graça, e que tudo podia, somente porque a graça de Jesus o fortalecia.
3 - O Recebimento é Gratuito Mas é Condicional
Deus está oferecendo gratuitamente a salvação em Jesus Cristo com tudo o mais que está nela incluído com suas grandes promessas de bênçãos eternas.
Todavia, existe a condição exigida do nosso arrependimento e fé.
Não um mero arrependimento de se lamentar a nossa condição de transgressores da