Corre-mundo
De Ruy Sarno
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Sobre este e-book
A obra, de caráter regional, foi conduzida e referida ao que se praticou, e se pratica, no modernismo brasileiro. São utilizadas formas tradicionais - fixas, com esquema rímico definido e condução isométrica – e, no estilo por assim dizer Moderno, foram adotadas estruturas livres, mas totalmente calcadas no ritmo e sonoridade intensa, conduzidas de forma equilibrada.
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Corre-mundo - Ruy Sarno
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1 Baluartes
Velho Tião
Velho Tião. Brincadeira de adivinho, nunca deixou claro quando por aqui chegou. No corpo, carregou a cor com orgulho. Orgulho maior na vida foi ter nascido em ventre-livre – momento de intenso viver a liberdade. Morreu com um grande segredo.
A infância e adolescência não foram fáceis. Muitas dificuldades vencidas. Já taludo, a sorte sorriu pro seu lado. Época de vida rica, de prazeres e amores. Foi engraxate, entregador de feira, moleque de recados, ajudante de anão no circo e, por conhecimento e amizade com o Português Joaquim, ajudante de padeiro – A Flor do Tejo era a maior e melhor padaria da região. Foi caminho pra conhecer diversas mulheres: Mira, Joana, Nena, Ana, Ninha e Lindaura. Mas foi a mulata Jacyra que tocou, e roubou, seu coração.
Endoidou!
Só queira ficar no rastro e no cheiro, de flor-de-laranjeira, da mulata, apreciando seu corpo moreno e malemolente deslizando pela rua que nem sucuri, pronta pra encantar e engolir a vítima todinha. Abandonou a Camulaia e o pito – tinha que ficar cheiroso. Quando começava a pensar na mulata, o corpo esquentava e até se esquecia de comer – sonhava acordado, amava dormindo e chorava