Resiliência - Desenvolvendo E Ampliando O Tema No Brasil
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Resiliência - Desenvolvendo E Ampliando O Tema No Brasil - George Barbosa
RESILIÊNCIA:
Desenvolvendo e ampliando o tema no Brasil
George Barbosa
RESILIÊNCIA:
Desenvolvendo e ampliando o tema no Brasil
Todos os direitos desta edição reservados à SOBRARE - Sociedade
Brasileira de Resiliência.
É exigido que se faça a devida referência desse material ao duplicar ou
reproduzir este conteúdo, ou parte do mesmo, sob qualquer meio.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Resiliência: Desenvolvendo e ampliando o tema no Brasil / George Barbosa,
(Organizador) - 1° edição - São Paulo : SOBRARE, 2014. [Barbosa, GS]
357 p.
Bibliografia.
ISBN: 978-85-66312-04-1
1. Resiliência. 2. Pesquisa de resiliência. 3. Teoria da resiliência. 4. Aborda-
gem resiliente. 5. Resiliência para adultos. 6. Resiliência para adolescentes. 7.
Resiliência para atletas.
SOBRARE - Sociedade Brasileira de Resiliência
Rua Tenente Gomes Ribeiro, 57 - Conj. 25
Vila Clementino, São Paulo (SP)
www.sobrare.com.br | (11) 5549 2943
DEDICATÓRIA
Quero e preciso dedicar esse livro para um grande número
de pessoas importantes.
À Dra. Professora Ceres Araújo, que me convidou para par-
ticipar de seu primeiro grupo de estudo sobre resiliência na PUC-SP.
O impacto que tive com a temática da resiliência foi tão forte que,
em 2004 e 2005, eu já estava fazendo a minha pesquisa com os 120
professores e 2374 adolescentes de cinco grandes escolas públicas.
Ela me acompanhou até a defesa da tese. A sua participação na aqui-
sição do conhecimento foi fundamental. A exata percepção histórica
do conceito, a amplitude das aplicações e, principalmente, o desafio
de uma produção para o contexto brasileiro.
Ao colega Dr. Professor Esdras Vasconcellos, que, quando
foi meu orientador no mestrado e doutorado não teve receio de
apoiar-me nas possibilidades de se fazer muitas coisas na psicologia
acadêmica. Nesse período pude com seu incentivo expor meus qua-
dros na PUC, produzir dois espetáculos de flamenco, participar das
jornadas científicas, e, minha tese foi escolhida como a melhor tese
da psicologia em 2006. Sua companhia e sua influência acadêmica
foram extremamente produtivas para mim. Durante todo o percurso
do doutorado ele percebendo que o tema da resiliência havia me
encantado, me orientou para que tivesse desdobramentos e não fi-
casse simplesmente em uma tese. Dessa caminhada é que vem minha
admiração por ele.
Além de tudo isso, o bom mesmo de ter trabalhado com
esses dois grandes professores foi o fato de que sabem fazer a coisa
séria de modo leve, alegre e divertido. Qualidades absolutamente
fascinantes em orientadores.
Por todos os anos de PUC-SP também convivi de perto e fui
impactado pela amizade, pensamento, método e visão de Mathilde.
Com certeza a minha produção atual e o modo como faço psicologia
tem a ver com Dra. Profa. Mathilde Neder. Para ela as relações com
a psicologia e a vida são simples, diretas, honestas, alegres, vibrantes
e produtivas.
Também quero muito dedicar àqueles que intensamente me
questionaram sobre as razões de já não ter publicado um material
como esse.
Ao colega de pensamento e reflexão na psicologia e na vida
– João Marcos Varella. À amiga Edna Bedani que caminhou comigo
desde 2008 e sempre me incentivou nesse sentido. A colega Vera
Martins que determinada me apresentou para editores.
À Soraya Oliveira que se comprometeu em organizar e siste-
matizar o material se eu produzisse o conteúdo. Para as solicitações
da Elenir Fagundes que vivia me pedindo material para ler e conhe-
cer mais da Abordagem Resiliente.
À Dra. Professora Rosana Rodrigues que inúmeras vezes me
desafiou a ter o material das pesquisas divulgado na forma de texto
referencial.
E às professoras Dra. Denise Sória e Dra. Sonia Souza da
UFERJ que muito me incentivaram no sentido de produzir um texto
de referência para os alunos.
Ao Marco Barbosa que, desde o início da SOBRARE em 2009,
vem desenvolvendo o olhar do pesquisador, produtor para a resili-
ência e durante esses anos tem sido parceiro essencial na gestão da
comunicação entre os associados e na produção de eventos de opor-
tunidades para centenas de outras pessoas.
Ao Eduardo Moralles que provê a arquitetura necessária em
TI para que todo o banco de dados e o sistema na internet estejam a
serviço de todos os associados e envolvidos com a SOBRARE.
À Vera Lígia que de modo amiga e carinhosa dá incentivo em
toda caminhada.
À Paula Assis que, desde 2010, administra e conduz toda essa
vivência rica que é a SOBRARE. Suas habilidades e comprometimen-
to simplesmente alavancam a todos nós envolvidos nessa caminhada.
E olha que hoje já somos mais de 800 associados.
Por fim, dedico com carinho o livro aos pesquisadores que
além de darem autorização para que suas pesquisas fossem publica-
das, também preparam os artigos das mesmas: Luciana Silva Zanela-
to, Sandra Leal Calais, Cristina Masiero, Maria de Lourdes Dias Leiva,
Marisa Ferrari do Nascimento, Ana Priscila Souto Duck, Camila de
Souza Monteiro, Érica Ferreira, Josineide Gonçalves Silva Abrantes,
Edileuza Maria Lima Belmont, Tiago Sudol, Felipe Weidlich, Rosana
Trindade Santos Rodrigues, Lucienia Libania Pinheiro Martins e Mar-
co A. Barbosa. A todos esses colegas o meu reconhecimento pela
parceria e a importância que possuem por participarem do grupo dos
pioneiros da resiliência no Brasil.
APRESENTAÇÃO
O estudo da resiliência no Brasil é recente. Em termos de
teses havia antes de mim as teses dos dois Job, da Cecconello e da
minha amiga Denise Sória. De autores nacionais apenas poucos ar-
tigos como o publicado por Renata Pesce e seus colegas validando
a primeira escala de resiliência no Brasil. E também poucos livros
como o de Debora DellÁglio, Silvia Koller, Maria Yunes, ou o de
Haim Grünspun. E, com isso, muitos me questionaram sobre os mo-
tivos de eu não publicar as pesquisas que estavam sendo produzidas
já em 2007 ou 2008. Para todos eu expliquei que a razão da publi-
cação já não ter sido realizada, era que havia a preocupação de que
os procedimentos, técnicas e resultados estivessem consolidados em
pesquisas. Essa conduta evitou que praticássemos uma divulgação
afoita de conceitos e definições sobre a resiliência no Brasil.
Eu e o grupo da SOBRARE vimos vários livros serem lan-
çados entre 2006 e 2010. A sua grande maioria vinha ampliando a
conceituação e consolidando a definição da resiliência. Esses autores
expandiram a aplicabilidade em novos campos, como na educação,
nos cuidados com família ou crianças e nas organizações, como é o
caso de Eduardo Carmello. Embora de grande relevância, não se fo-
cavam na realização e descrições de suas pesquisas. Por outro lado,
diversos outros livros, quando líamos o texto, víamos que possuíam
conteúdo de autores que definitivamente não entendia de resiliência.
Esses autores, em geral consultores da área de marketing e
gestão de pessoas, fizeram um apanhado do que se escreveu sobre
resiliência nas últimas décadas. E, sem o cuidado de atentarem para a
evolução do conceito, independente de realizarem uma pesquisa ou
revisão científica, publicaram os seus apanhados na forma de livros.
Com isso, foram os responsáveis por vários conceitos equivocados
serem disseminados, em particular, na Internet.
Os blogs e as mídias sociais disseminaram conceitos como o
de resistência
. A ideia de que resiliência é a resistência à adversida-
de é da década dos anos 60 e 70. Nesses anos se conceituava resiliên-
cia como a capacidade de resistir firmemente ao trauma e sofrimento.
A literatura desde o início dos anos 2000 já reporta que quanto mais
resistir de peito aberto, mais se torna vulnerável e corre sério risco de
sucumbir.
Erros epistemológicos foram propagados devidos ao fato
desses autores se referirem apenas às pesquisas efetuadas antes dos
anos 2000, e assim, estruturadas em pressupostos já renunciados nas
novas pesquisas. Por exemplo, ter o bom humor como fator que
origina resiliência. Viu-se que o bom humor não está associado à
resiliência e sim aos traços da personalidade. O que está vinculado à
resiliência é o otimismo na forma de ver a vida e, essa característica
propicia, por vezes, a experiência do bom humor. Outro erro foi di-
vulgar tenacidade como construto da resiliência. A dificuldade é que
aquele que é tenaz não é flexível. Essa ideia se espalhou muito ligada
ao jargão Sou brasileiro e nunca desisto
. Esse tipo de argumentação
tem produzido no tecido social brasileiro a cultura de ser tenaz até o
fim. Aguentar até o fim. Sofrer até morrer. Jamais desistir! Daí, logo
algumas empresas mobilizaram as suas áreas de RH para começarem
a buscar por colaboradores que fossem pau pra toda obra
, "donos
do negócio,
hands on, ou
líderes comprometidos, que entram às
08h00 e saem às 21h00 do trabalho. Pessoas assim são
pés de boi",
mas muito pouco vinculados à resiliência.
Esses autores também mantiveram a compreensão limitada
do conceito da década de 60 para o público atual. Um exemplo dis-
so foi perpetuarem a metáfora de que o resiliente é como o bambu.
Enverga até o máximo e volta à condição original. Com o passar das
décadas aprendemos que os humanos e animais quando se vergam
ao máximo, retornam com o quadro de hipertensão, úlcera estoma-
cal, alergias, alterações na rotina do sono, arritmia e outros efeitos de-
letérios de estresse, entre outras consequências. Outro aspecto ruim
dessa metáfora, é que o bambu não tem frutos devido à sua complei-
ção. Na resiliência aprendemos que o bom mesmo é sermos árvores
e, de preferência, frondosas. No Canadá e África do Sul, há lindos
trabalhos sobre resiliência ensinando as crianças a desenharem e se
verem como bonitas árvores frutíferas. Quanto mais enraizada for a
árvore, maior a sua condição de florescer e dar frutos. O conceito de
dobrar-se como o bambu é inadequado para a compreensão atual
da resiliência, por ela ter como finalidade maior criar alternativas de
escape ou de superação ao estresse e não mais de enfrentamento
pelo simples envergar-se (submissão) à fonte ou consequência do
estresse. Aconteceu também que esse conceito veio ligado a outro
erro epistemológico gravíssimo, que é afirmar que flexibilidade é
fator gerador de resiliência.
Flexibilidade é o produto, o resultado que se obtém com
treinamento ou a experiência da resiliência. Quando capacitamos
alguém nas áreas vinculadas à resiliência, vamos obtendo como re-
sultante uma maior flexibilidade na pessoa, e, por conseguinte, me-
nor tenacidade face ao estresse. Quanto maior plasticidade, obtemos
maior repertório e enriquecimento das possibilidades de alternativas
no enfrentamento. Nada de rigidez ou forte tenacidade.
Outro exemplo foi que o conceito de autoeficácia foi divul-
gado em instrumentos de avaliação como um fator para gerar resili-
ência. Eu mesmo o utilizei em 2006 em minha tese. No entanto, logo
constatei nas pesquisas que a autoeficácia se adequa a situações de
perícia como nas competições, jogos e tarefas técnicas. Mas não sus-
cita resiliência.
A autoeficácia é causa e não origem. A área na qual se deve
trabalhar para resultar em autoeficácia é a autoconfiança. É bom res-
saltar aqui que eficácia é algo diferente de eficiência. Embora, por
vezes, as duas se interconectam. Porém, sempre dependendo da au-
toconfiança.
Veja o exemplo de um jogador. Seu técnico buscando treinar
autoeficácia faz com que o atleta treine diariamente por três horas.
Após um mês de treino seu desempenho em chutes a gol é de 95%
de acerto e, portanto, adquiriu sua eficácia.
No próximo jogo esse mesmo jogador está diante de 70 mil
pessoas e em um jogo em outro país. Ele se aproxima da bola, pega-a
como fez em seus treinos de eficácia. Prepara-a com o mesmo cui-
dado. Então, o atleta olha para o lado e vê as setenta mil pessoas em
silêncio, observando-o cuidadosamente. O atleta escuta a respiração
da plateia. Seu coração acelera. Suas pernas sentem uma agitação di-
ferente. Sua confiança se abala e a dúvida se instala. A pergunta é se
ele deve bater na bola como treinou exaustivamente ou se busca agir
com sua habilidade de ser criativo. Após enormes pequenos segun-
dos ele parte para a bola ainda indeciso e, vê-se o atleta, a esperança
do futebol, chutar a bola cerca de vários metros distante da trave.
O que houve com a autoeficácia obtida até instantes antes
daquele chute? A resposta que identificamos em nossas investigações
é que ela - a autoeficácia, não estava alicerçada em uma consistente
autoconfiança.
Assim, para se obter resiliência investimos na autoconfiança.
Para se conquistar êxito e a perícia no desempenho traba-
lhamos na autoeficácia. Inverter essa ordem pode significar muito
dinheiro jogado fora com preparação, treino, pessoal de apoio e sem
os resultados esperados.
Por fim, os motivos de eu não publicar as pesquisas que es-
tavam sendo produzidas já em 2007 ou 2008, foi que eu não me senti
confiante para divulgar na forma de livro, o conteúdo dos achados
nas pesquisas que realizávamos entre os anos de 2006 a 2008. Por
entre esses anos, eu já havia identificado em revisões mais recente as
dificuldades que havia com o argumento de que "alguém é resilien-
te e, portanto, há um
índice geral de resiliência". E essas primeiras
pesquisas traziam essa compreensão.
Esses fatos todos foram cruciais para eu realizar os desdobra-
mentos em pesquisas que se seguiram ao "Questionário do Índice
de Resiliência: Adultos – REIVICH - SHATTÉ / BARBOSA" de 2006,
e que resultaram em 2009 na elaboração da teoria que chamo de
Abordagem Resiliente e na publicação da escala de resiliência que é
conhecida como Quest_Resiliência
.
Dessa forma, estamos disponibilizando diversos textos que
contemplam dois momentos de pesquisas. No primeiro, um registro
histórico de pesquisas ainda com o enfoque teórico até 2006. No
segundo, os trabalhos já apresentando a visão contemporânea da
resiliência.
Boa leitura!
SUMÁRIO
PARTE I: PANORAMA EM 2006 ............................................................ 21
George Barbosa ..................................................................................... 23
PARTE II: AS PESQUISAS NA FASE INICIAL ..... .................................. 55
Edna Rodrigues Bedani .......................................................................... 57
Luciana Silva Zanelato e Sandra Leal Calais ......................................... 77
Cristina Masiero ...................................................................................... 87
Maria de Lourdes Dias Leiva e Marisa Ferrari do Nascimento .......... 115
Edileuza Maria Lima Belmont ............................................................. 129
Ana Priscila Souto Dunck, Camila de Souza Monteiro, Érica Ferreira, Josi-
neide Gonçalves Silva Abrantes .......................................................... 139
Tiago Sudol .......................................................................................... 153
PARTE III: DESDOBRAMENTOS PARA O QUEST_RESILIÊNCIA: ADULTOS .. 165
PARTE IV: DESDOBRAMENTOS DA PESQUISA PARA ADULTOS ....... 183
Felipe Weidlich ..................................................................................... 185
Rosana Trindade Santos Rodrigues ..................................................... 209
Maria Emília Grassi Busto Miguel e Namie Okine Sawada ............... 223
Lucienia Libania Pinheiro Martins ....................................................... 251
PARTE V: DESDOBRAMENTOS DA PESQUISA PARA ATLETAS ........... 305
George Barbosa e Marco A Barbosa ................................................... 307
NOTA AO LEITOR
Com o intuito de facilitar e enriquecer o material de pesquisa
para o leitor, eu optei por publicar todas as referências bibliográficas
dos trabalhos originais dos autores.
Os textos representam extratos das publicações dessas pes-
quisas. Ficariam muito pobres em termos de referenciação dos assun-
tos abordados em cada artigo se viessem somente com as referências
dos extratos. Daí a decisão de preservar o todo dos originais.
Os autores foram escolhidos por representarem o aspecto
histórico da resiliência entre nós. São pioneiros. Também por pes-
quisarem temas amplos e representativos para diferentes campos do
conhecimento e da aplicabilidade da resiliência. Lamentavelmente
tive que deixar para outra iniciativa a publicação de outras pesquisas.
Os interessados poderam acessar várias dessas outras pesquisas na
página PUBLICAÇÕES da SOBRARE.
PARTE I
Panorama em 2006
Este texto inicial se refere à tese de doutorado de 2006 e que
originou toda a trajetória de investigação da resiliência em diferentes
idades e contextos. Inicialmente era para ser validada a escala de
adultos, na qual trabalhei com o público dos professores e, validar
também a escala para adolescentes. No entanto, devido às dificulda-
des que a universidade estava passando por aquela época, foi possí-
vel apresentar somente a escala de adultos.
RESILIÊNCIA EM PROFESSORES DO ENSINO
FUNDAMENTAL DE 5° A 8° SÉRIE - VALIDAÇÃO E
APLICAÇÃO DO "QUESTIONÁRIO DO ÍNDICE DE
RESILIÊNCIA: ADULTOS REIVICH-SHATTÉ /
BARBOSA"
George Barbosa1
INTRODUÇÃO
A resiliência é um tema intimamente relacionado com a con-
dição político-social de uma cultura. A realidade brasileira expressa
em dados demográficos e econômicos é a maior fonte de nosso en-
gajamento no estudo da compreensão e promoção de resiliência. Tais
dados nos conduziram aos objetivos de, em particular neste projeto
de tese, pesquisar um instrumento para mensuração e compreensão
dos índices de resiliência entre adultos para o Brasil. Viabilizamos
esse ideal através de uma tese de caráter lógico. Partindo do levanta-
mento teórico bibliográfico espera-se obter dedutivamente subsídios
para a transposição à prática, através da adaptação e validação de
um instrumento de medida dos Fatores Constitutivos de resiliência.
Nesse propósito, recorremos à obra de Edna Rother e Maria Braga
1
Organizador do texto
23
(Rother, Braga, 2005) para estruturar e referenciar o texto no padrão
Vancouver.
Buscar contribuir com instrumentos relacionados com a im-
plementação de resiliência, para nós, tem a esperança de contribuir
para a melhoria das condições de vida do povo brasileiro.
O Brasil, com suas inúmeras diferenças sociais, raciais, cultu-
rais e religiosas é um gigante a ser descoberto em diversos aspectos.
Tem um território de 8,5 milhões de quilômetros quadrados e uma
população estimada para o ano de 2006 de 185.529.671 habitantes. O
que significa ser uma das maiores populações do planeta. Cada uma
das suas cinco regiões apresenta variedade cultural tão diversificada
que a ideia de o Brasil ser descoberto, mesmo na atualidade, não nos
parece anacrônica. Em 2000, de acordo com informações do IBGE, a
média populacional por Km2 era de 19,8 habitantes. Portanto, quan-
do trabalhamos com um grupo de aproximadamente 110 pessoas
significa que estamos abordando apenas 5,5 Km2 de seu território.
O Brasil é um país que também carece ser descoberto em
termos de potencial resiliente.
A longevidade no Brasil é outra face que nos convida a pen-
sar sobre resiliência. O fato de em 2000 – último ano disponível no
endereço do IBGE – a esperança de vida ao nascer ser de apenas
64,8 anos para os homens e 72,6 para as mulheres nos chama a
atenção. Nos países do chamado primeiro mundo, esses índices são
consideravelmente mais elevados: 72,0 para os homens e 82,0 para
as mulheres.
A temática da resiliência se torna crucial ao examinarmos o
24
fato de a taxa do crescimento econômico brasileiro – mesmo o país
sendo tido como nação emergente – em 1996 ter sido de 2,70%. Em
1997 ela terminou em 3,60% e, no ano seguinte, pifiamente – em
apenas 0,12%. Em 1999 se marcou 0,80% e para 2000 houve uma
alentadora taxa de 4,20%.
Os novos dados e as projeções elaboradas pelo próprio IBGE
para o triênio seguinte – estão disponíveis em documentos do Insti-
tuto –, nesse tópico e naqueles relacionados ao crescimento da con-
dição econômica e melhora de vida, foram números lamentados por
toda a sociedade.
Embora tais realidades estejam presentes no cenário brasilei-
ro, e se imiscuem no âmbito da resiliência, a pesquisa e a produção
científica em torno desse tema, no que concerne à psicologia, estão
circunscritas apenas à última década.
O estudo de resiliência relacionado ao âmbito da saúde do
adulto brasileiro é outra necessidade premente. Por exemplo, os ho-
mens no Brasil com idade entre o final da adolescência e os 59 anos
têm, de acordo com o IBGE, a altíssima taxa de mortalidade de 471
por 100.000. Sendo necessário considerar que esse valor é superior
ao dobro da taxa de 209 por 100.000 das mulheres. São homens que
morrem cedo. Tais cenários nos mobilizam a promover caminhos
resilientes, particularmente pelo significado dessa área.
No cenário, de modo geral, a pesquisa e os projetos de in-
tervenção no campo da resiliência, têm tido de acordo com Edith
Grotberg, os seguintes contornos:
25
• Compreendê-la como associada às fases do desenvolvimen-
to humano;
• Entendê-la como peculiar quanto ao gênero;
• Não se subordina ao nível sócio econômico;
• Se difere dos fatores de risco e dos fatores de proteção;
• É possível de ser mensurada;
• Trata-se de um dos atributos da saúde, em consonância com
a saúde mental e a qualidade de vida;
• Tem no seu bojo os conceitos de prevenção e promoção;
• Trata-se de um processo que pode ser entendido com seus
Fatores de resiliência, Comportamentos de resiliência e Re-
sultados