Coisa pouca e outras coisas
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Coisa pouca e outras coisas - Elizabeth J. S
Contos
Maresia
Admito que, ao longo destes anos, nunca me dediquei a escrever nada muito extenso, porém senti necessidade de relatar a vocês algo que aconteceu comigo, dois anos atrás. Uma história que penetrou fundo na minha cabeça, cujos detalhes ainda me parecem vívidos quando relembro.
Entrei na faculdade para cursar Biologia tão rápido o quanto pude. Acabei por me enturmar com algumas pessoas que faziam cadeiras de anatomia comigo: Simon, Flora e Átila. Simon e Flora eram um casal ingênuo e querido. Flora fazia jus ao seu nome, falando sobre flores por grande parte do tempo, enquanto Simon era mais introvertido e focado em estudar aves silvestres. Átila tinha um fascínio inestimável pela vida marinha, e seu hobbie favorito era ler e investigar a respeito de criaturas que poderiam ou não existir, como crakens e sereias. Pelo fato de Simon e Flora estarem sempre juntos, Átila passava mais tempo comigo, compartilhando suas histórias.
— Quando eu era pequeno, gostava de visitar um lago perto da minha casa e ficar olhando para a água. Às vezes, eu encontrava sapos, libélulas... — ele me contava.
A sua companhia era um alívio entre os intervalos de uma aula e outra. Apesar de eu gostar das matérias estudadas, sempre foi muito maçante para mim estar dentro de uma sala durante horas. Eu precisava conversar, caminhar, interagir.
Comíamos com Simon e Flora pelo menos uma vez por semana no Campus e tomávamos café só nós dois sempre que arranjávamos tempo para tal.
Todos nós tínhamos amigos fora da faculdade, no entanto o decorrer dos dias nos aproximava cada vez mais.
No final do semestre, saímos de férias e concordamos em fazer uma pequena viagem. Todos acreditamos que seria uma boa ideia passar alguns dias na praia.
Simon, o mais velho de nós, cuidou das coisas mais burocráticas: pegou o carro do pai emprestado, alugou uma casa para ficarmos, e lá fomos nós. Viajamos após o almoço e chegamos na cidade litorânea perto do anoitecer.
Largamos nossas malas na casa provisória, comemos alguns pastéis e decidimos ver o mar. Já eram mais de 8h da noite quando saímos de casa.
Átila estava muito empolgado em caminhar na praia, ele gostava de admirar todos os tipos de conchas e crustáceos.
Era frio e, mesmo estando a 1 km de distância do mar, já havia areia em nossos calçados. Muita areia, por todos os lados.
Conforme chegávamos mais perto, o céu parecia mais nítido, mais estrelado. No entanto uma sensação esquisita tomava conta do meu corpo. Sentia uma espécie
de enjoo misturado com ansiedade.
Caminhamos até a beira, onde ondas pequenas batiam na areia, trazendo pedras e restos de moluscos. Meus amigos viram uma cabana improvisada a uns 700 metros dali e decidiram andar até lá.
Fiquei um pouco para trás, admirando a maré subir. Uma onda veio até mim e quase beijou os meus pés. Ela deixou para trás dezenas de pequenos peixes, mortos e fétidos. Peixes com seus olhos esbugalhados, olhos de quem viu a morte recentemente.
Acelerei o passo até meus amigos. A cabana velha de madeira ficava em um local onde a água já podia alcançar, mas era possível ir até lá quando as ondas se recolhiam. Ela ficava suspensa por algumas madeiras, para que a água não entrasse dentro dela. Meus amigos entraram lá, mas eu decidi ficar do lado de fora, quer dizer, na verdade achei