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A Coruja E O Corvo
A Coruja E O Corvo
A Coruja E O Corvo
E-book268 páginas3 horas

A Coruja E O Corvo

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Sobre este e-book

Não quero pensar no que se passa em minha consciência neste instante, mas sei que nada será como antes. Nem mesmo a dor, nem mesmo a saudade, nem mesmo a vontade. Nada será como antes. Estou prestes a chegar ao Castelo de Pedra e tudo, absolutamente tudo, em mim está diferente. O que estou fazendo? Também não sei; sou apenas a alma de uma mulher. Zelo pela minha existência e pela existência do corpo que habito, tanto quanto um bom guardião o faria. Mas existe algo além, algo que, ainda, fico sem saber como definir. Talvez as respostas para todas as perguntas que faço ao meu próprio ser estejam entre as muralhas de pedra. Se estiverem lá, quero encontrá-las. Não há como viver sem as respostas que anseio. Não há como viver sem mostrar-me, de verdade. Preciso mostrar o que há por trás das muralhas que construí em torno de mim, protegendo-me, defendendo-me de mim mesma. Não sei o que me espera, mas espero encontrar o que espero: o meu lugar. E ficar, e permanecer, e apenas ser. A chegada de Stella Maia ao Castelo de Pedra havia sido planejada desde seu primeiro sopro. Sua própria alma lutava há anos para trazê-la de volta ao lar, mas cabia à Stella, e somente a ela, aceitar o convite para estar entre eles, aceitar o convite para viver a sua verdadeira história. Uma história difícil, marcada por muitas dores, muitos sacrifícios, muitas provações, mas que poderia vir a ser a mais bela história de amor, caso Stella percebesse a grandeza daquele sentimento, em sua essência, e tivesse fé, muita fé. A CORUJA E O CORVO, primeiro romance escrito por Lydia Gomes, promove o verdadeiro encontro entre êxtase e agonia, luz e sombra, espírito e matéria, revelando, através de personagens de rara beleza, a intensidade dos amores eternos de maneira simples e surpreendente.
IdiomaPortuguês
Data de lançamento26 de jul. de 2020
A Coruja E O Corvo

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    A Coruja E O Corvo - Lydia Gomes

    LYDIA GOMES

    A CORUJA E O CORVO

    A CORUJA E O CORVO

    Lydia Gomes

    Todos os direitos reservados.

    Nenhuma parte deste livro pode ser utilizada ou reproduzida sob quaisquer meios existentes sem autorização prévia da autora.

    Romance escrito em 2002, com 1ª edição publicada em 2010.

    4ª edição

    Ano de publicação desta edição: 2020

    Conceito de capa e arte final: Lydia Gomes

    Dados bibliográficos

    GOMES, Lydia [Lydia Martha de Mendonça Gomes]. A Coruja e o Corvo. Romance. 4ª edição. Nova Friburgo, 2020.

    Dedico este livro a todos que ainda fazem um pedido quando a primeira estrela surge no céu.

    A CORUJA E O CORVO

    PARTE I

    CAPÍTULO 1

    Não quero pensar no que se passa em minha consciência neste instante, mas sei que nada será como antes.

        Nem mesmo a dor, nem mesmo a saudade, nem mesmo a vontade. Nada será como antes.

        Estou prestes a chegar ao Castelo de Pedra e tudo, absolutamente tudo, em mim está diferente.

        O que estou fazendo? Também não sei; sou apenas a alma de uma mulher. Zelo pela minha existência e pela existência do corpo que habito, tanto quanto um bom guardião o faria. Mas existe algo além, algo que, ainda, fico sem saber como definir.

        Talvez as respostas para todas as perguntas que faço ao meu próprio ser estejam entre as muralhas de pedra.

        Se estiverem lá, quero encontrá-las.

        Não há como viver sem as respostas que anseio. Não há como viver sem mostrar-me, de verdade. Preciso mostrar o que há por trás das muralhas que construí em torno de mim, protegendo-me, defendendo-me de mim mesma.

        Não sei o que me espera, mas espero encontrar o que espero: o meu lugar. E ficar, e permanecer, e apenas ser.

        O cocheiro guia rápido demais, aproximando-me de meu destino.

        Entramos em um campo florido, enorme e lindo. Quase tão lindo quanto o que vejo: o Castelo de Pedra.

        Finalmente está à minha frente.

        Mas o cocheiro guia rápido demais.

        Rápido demais até mesmo para o corpo que habito: a simples menina de um vilarejo, que também cresceu rápido demais.

        Vejo um bosque e uma linda ponte. Vejo o fosso de água cristalina. Vejo as bandeiras nos tons azul claro, amarelo, verde, vermelho e branco, por sobre as torres de vigilância. Vejo carruagens, cavaleiros, damas, pajens, vassalos, aias e vejo além. Vejo muito mais.

        Não sei dizer o que meus olhos, os lá de fora, sentem ao vê-lo. Para mim nada é igual, nada se compara.

        É a mágica sensação de estar pleno dentro de si.

        Não senti isso antes, nesta existência, nem estou certa se sentirei depois; mas sinto agora.

        Olhar o Castelo de Pedra traz de volta ao meu coração a luz. É a certeza de que, mesmo nos piores momentos, mesmo se houver uma dor maior que eu possa suportar, o sentimento desse instante voltará à memória, fazendo com que eu siga adiante, fazendo seguir também o corpo que habito, apesar de.

        Não por sua beleza ou magnitude.

        Não por sua grandeza ou força.

        Não por sua excelência ou verdade.

        Pela sensação de amor que invade o meu ser ao olhar o Castelo de Pedra.

        Amor pelo homem.

        Amor pelo próximo.

        Amor pela vida.

        Amor por mim, finalmente.

        Amor pelo ser que também habita em mim. E se em mim habita, quero olhar, reconhecer e gostar, para então novamente amar.

        Amor verdadeiro é o que quero provar.

        Talvez esteja provando dele agora, enquanto meus olhos me concedem a certeza de estar aqui, diante do Castelo de Pedra.

        Não é fácil descer da carruagem.

        Não é fácil entender que por detrás das muralhas do Castelo de Pedra está a minha verdade.

        Não é fácil fazer o corpo que habito olhar a verdade.

        Mas, em algum momento da vida, nem mesmo as pernas de um corpo comandam o seu andar, o seu seguir, o seu percorrer.

        Há uma vontade maior que a própria vontade.

        E apesar da insistência tola do medo da dor querendo voltar, querendo fechar e matar o que há em mim, sigo, porque, enquanto alma que sou, sei que é preciso.

        – Stella Maia, eu suponho – disse o homem, abrindo a porta da carruagem e estendo a mão de modo cortês.

        – Sim, sou Stella Maia – revelou, ainda encantada com a visão do Castelo. – Eu agradeço a gentileza de me receber e

        – Aconteceu algo?

        Aconteceu, ela pensou.

        Stella estava diante do homem mais belo que seus olhos ousaram ver ou sonhar.

        O dono do sorriso farto, e das mãos mais macias que já pôde sentir, usava vestes finas e caras, como as de um nobre, um fidalgo. Tudo nele inspirava elegância: da bota à túnica, do gesticular ao falar.

        E a alma de Stella gritava na tentativa de fazê-la entender a importância de estar ali, diante daquele ser.

    Amo-te desde o primeiro instante.

    Amo-te pela certeza de estar em paz face à tua imagem.

    Amo-te sem precisar conhecer-te.

    Amo-te mesmo antes de ver-te.

    Em meus sonhos, amo-te por toda a eternidade,

    e hei de amar-te ainda mais.

    Amo-te pelo amor, enfim.

        – Algum problema? – ele insistiu. – Algo que tenha esquecido?

        – Perdão, não, não há nada – Stella tentava disfarçar. – Tudo é muito novo para mim. Estou fascinada pelo Castelo.

        – Esta é a sua primeira vez?

        – Sim, ao menos que eu saiba – ela declarou. – Mas, estranhamente, tenho a sensação de ter estado diversas vezes nesse lugar. Algo aqui me é familiar. Talvez possa ter sido em meus sonhos...

        Ele parou diante de Stella e olhou bem no fundo de seus olhos em busca de sua alma. Havia tanto o que dizer... Mas ainda não era a hora. Ainda não.

        – Sonhos ou não, o tempo se encarregará de mostrar a verdade a você. – E o homem se apresentou: – Sou Adam Nicholau, seu mestre.

        O olhar de Stella havia mudado. Não imaginava ser recebida diretamente por seu mestre que, segundo ela, deveria ter assuntos mais importantes a tratar do que a chegada de uma novata ao Castelo de Pedra.

        Stella era curiosa feito criança e, na maioria das vezes, falava o que lhe vinha à mente.

        – Pensei que os mestres fossem, pelo menos, senhores de meia idade. Você é muito novo – e belo, pensou. – Como aprendeu tudo em tão pouco tempo?

        Apesar de ter gostado do elogio, Nicholau não demonstrou a alegria que tomava conta de seu coração. Outra vez respondeu como um mestre diante de um novo aluno.

        – Não sou tão jovem quanto pareço.

        Adam Nicholau estava sendo sincero. O mestre de Stella trazia consigo a imortalidade que somente as almas em mentes libertas conseguem enxergar.

        – Mas você, em parte, está certa. Muitos de nossos mestres aqui no Castelo têm a aparência que você imagina – ele sorriu, ainda sentindo o gosto do elogio. – Quanto ao aprender tudo, nem mesmo os mais sábios tudo sabem. A graça da existência é saber que ainda temos muito o que aprender.

        Stella repetiu a frase mentalmente para gravá-la bem.

        Sem perceber, já agia feito uma discípula aplicada, entendendo que ensinamentos são passados de diversas formas a todo momento.

    A graça da existência é saber que ainda temos muito o que aprender.

        É... Ele tem razão.

        E eu tenho tanto a aprender e a rever.

        Posso ver e reaprender sobre tudo: línguas, ciências, culturas, plantas, poesias; mas, antes de querer ensinar minha mente a entender o Cosmos e seus tantos Universos – que bela ousadia –, sei que preciso fazê-la aprender sobre mim; quem sou, de onde venho, o que espero.

        O saber vem de dentro.

        E se assim, com esse pensamento, com essa certeza, eu permanecer, sei que de tudo poderei ensinar e aprender.

        O Castelo de Pedra era, internamente, maior ainda do que se poderia supor – como se um outro reino existisse entre suas muralhas –. E apesar de sua grandeza e importância, apesar dos muitos mestres e discípulos, dos muitos nobres e vassalos, a paz e o silêncio reinavam naquele lugar.

        Adam Nicholau conduzia Stella pelo Castelo, atravessando jardins, pátios e alas.

        – Você ficará na ala sul, próxima à Torre de Regulus. Os aposentos são individuais e dispõem de todo o conforto necessário ao bem-estar e ao bom aprendizado.

        – Há regras quanto a horários ou dependências do Castelo? – perguntava atenta.

        – Regras não. Mas todos aqui seguimos uma disciplina, um ritmo natural. O Castelo de Pedra, apesar de receber discípulos e mestres, não é uma escola. Aqui é a residência da Rainha e do Rei. Todos os que moram ou transitam pelas dependências do reino só o fazem porque têm o consentimento.

        – E quanto a nós? – indagou Stella, quase que atropelando as palavras de Nicholau.

        Nós?!, ele estranhou. Uma onda de calor tomou conta de todo seu ser e ele temeu a possibilidade de Stella saber mais do que deveria para um primeiro momento. Não. Não pode ser, pensou. Afinal, ele mesmo havia sido orientado sobre a importância do silêncio.

        Mas, em segundos, todas as dúvidas – e um misto de receio e alívio – passaram pela alma de Nicholau.  Será que ela sabe de nós?, questionou-se outra vez o mestre, sempre contido, sempre correto, sempre preocupado com as consequências que um simples ato impulsivo poderia trazer a todos, principalmente ao verdadeiro amor.

        – Nossas aulas acontecerão em algum horário específico?

        Não. Ela ainda não sabe de nós.

        – As aulas também são individuais e sem horários predeterminados. Elas acontecem conforme a evolução de cada um. A harmonia e o bom entendimento, ou empatia, se preferir chamar assim, entre discípulo e mestre são fundamentais. São esses fatores que ditam o ritmo dos estudos.

        – Eu não vejo outros discípulos. Onde eles estão? – Stella estava curiosa.

        – Raramente você irá se deparar com outro aluno ou mestre. Esse é um dos cuidados que tomamos aqui.

        – Eu não entendo...

        – Imagine uma grande estrada, com muitas pessoas caminhando por ela. Sem perceber, você vai começar a comparar passos, ritmo, gestos, distância entre um e outro... E vai esquecer do principal, vai esquecer de focar toda a sua atenção no seu próprio caminhar.

        – Desde que cheguei, essa é a terceira vez que você menciona a palavra ritmo.

        Ele gostou do que ouviu.

        Bonita, alegre, de uma energia quase infantil... O brilho da alma nos olhos, iluminando tudo ao redor... Curiosa e atenta. Valeu a espera!, Nicholau pensou. Vou prepará-la com todo carinho e cuidado.

        – Vejo que está atenta, gosto disso. Muitas coisas serão ensinadas a você. Muito está por vir. É fundamental que você comece desde já a dar importância ao seu próprio ritmo e ao ritmo natural de cada ser. Ritmo, tempo, cada um tem o seu.

        A voz de Adam Nicholau era forte – e a presença dele também –. Stella mal percebeu a enorme distância que percorreram juntos dos portões, entre as Torres de Fomalhaut e Aldebaran, à ala sul. Ele tomava conta de sua atenção. E, além de todo o magnetismo que imperava ali, ela não sabia quanto tempo poderia permanecer no Castelo de Pedra. Em seu íntimo, algo lhe dizia que ela precisava daqueles conhecimentos, e Stella estava disposta a absorvê-los de verdade.

        – Estes são os seus aposentos – revelou Nicholau, abrindo a pesada porta de madeira. – Acredito que encontrará tudo o que necessita.

        Os olhos de Stella se encantavam com cada detalhe.

        Ah, Deuses, se for um sonho, não permitam que alguém me acorde agora, por favor.

        A pequena menina do vilarejo, moradora de um casebre simples como tantos outros, já havia sonhado com castelos e príncipes encantados, mas nenhum de seus sonhos se comparava àquela realidade.

        Ao lado do belo Adam Nicholau, ela observava cuidadosamente seus aposentos.

        Na saleta para estudos, havia um enorme balcão com pesados e antigos livros de diversos temas.

        Fixadas às paredes de pedra, arandelas com muitas velas para iluminar o local.

        Tapetes e almofadas se espalhavam por toda parte.

        Uma chaise longue e dois grandes pufes emprestavam seu charme ao canto esquerdo da saleta, enquanto que, no quarto, a imensa cama de casal parecia convidar Stella a lindas noites de descanso.

        A lareira, aberta para os dois ambientes, aquecia as paredes, aquecia o ar, aquecia a alma de Stella, que fazia valer sua própria vontade revelando, à mente consciente, pequenos pedaços ocultos do ser. As chamas e o som da madeira crepitando transportavam Stella para um mundo distante dali.

        Era evidente para Nicholau o que acontecia naquele instante.

        Mais que qualquer outro ser, ele conhecia bem o efeito que o fogo poderia causar em Stella, e as lembranças que esse mesmo fogo traria. Lembranças que também eram suas.

        – Perdida entre tempo e espaço? – ele indagou, trazendo Stella de seu passeio.

        – Perdoe-me, mas... Não sei como acontece. Sempre que estou diante do fogo, vejo uma cena em minha mente. É como se eu estivesse naquele lugar, naquele momento, assistindo a tudo.

        – Algumas pessoas estão em volta de uma fogueira; são guerreiros e comemoram uma vitória – Nicholau revelava em detalhes. – Aos poucos, eles se levantam, pegam suas peles e se distanciam para dormir. Apenas um homem e uma mulher permanecem à beira do fogo e começam a lutar com suas espadas. Mas não é uma luta, no sentido exato da palavra. Parece mais uma linda dança de amor. Os dois gargalham bastante, estão felizes, de verdade.

        Atônita com tamanha fidelidade às suas visões, ela questionou:

        – Como você consegue? Como sabe o que vejo?

        – O que é o Castelo de Pedra, Stella?

        É sábio responder a uma pergunta com outra: a alma ganha tempo – e o tempo é o agente condutor da compreensão.

        – A Escola dos Mestres – respondeu apenas.

        – Também – afirmou Nicholau. – O Castelo de Pedra é o lugar onde somente as almas em mentes libertas, ou em busca de conhecimento para alcançar essa libertação, têm permissão de estar.

        Ele segurou as mãos de Stella entre as suas.

        – Você precisa aprender a pensar como alma, não como Stella Maia. Ao pensar como alma, a mente liberta comunga do Todo! Essa é a resposta à sua inquietude: minha alma, em comunhão com a sua, traz à luz os seus pensamentos na minha mente.

        Stella ficou rubra, lembrando-se das coisas que pensou ao vê-lo pela primeira vez.

        – Mas não acontece o tempo todo – ele esclareceu (talvez lendo de novo seus pensamentos?).  – Agora vou deixar você descansar um pouco. A viagem até o Castelo de Pedra é muito bonita, mas desgastante, eu reconheço. Duas aias permanecerão à sua disposição para os cuidados com a toillete e alimentação. Se precisar de algo mais, basta me falar.

        Ele já saía quando a voz de Stella fez com que parasse.

        – Adam – disse, caminhando

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